To his Coy Mistress
by Andrew Marvell (1621-1678)

Had we but world enough, and time,
This coyness, lady, were no crime.
We would sit down and think which way
To walk, and pass our long love’s day;
Thou by the Indian Ganges’ side
Shouldst rubies find; I by the tide
Of Humber would complain. I would
Love you ten years before the Flood;
And you should, if you please, refuse
Till the conversion of the Jews.
My vegetable love should grow
Vaster than empires, and more slow.
An hundred years should go to praise
Thine eyes, and on thy forehead gaze;
Two hundred to adore each breast,
But thirty thousand to the rest;
An age at least to every part,
And the last age should show your heart.
For, lady, you deserve this state,
Nor would I love at lower rate.

But at my back I always hear
Time’s winged chariot hurrying near;
And yonder all before us lie
Deserts of vast eternity.
Thy beauty shall no more be found,
Nor, in thy marble vault, shall sound
My echoing song; then worms shall try
That long preserv’d virginity,
And your quaint honour turn to dust,
And into ashes all my lust.
The grave’s a fine and private place,
But none I think do there embrace.

Now therefore, while the youthful hue
Sits on thy skin like morning dew,
And while thy willing soul transpires
At every pore with instant fires,
Now let us sport us while we may;
And now, like am’rous birds of prey,
Rather at once our time devour,
Than languish in his slow-chapp’d power.
Let us roll all our strength, and all
Our sweetness, up into one ball;
And tear our pleasures with rough strife
Thorough the iron gates of life.
Thus, though we cannot make our sun
Stand still, yet we will make him run.

Aldous Huxley: “O ópio é a religião do povo”


“Todos os narcóticos, estimulantes, relaxantes e alucinógenos naturais conhecidos do botânico e do farmacólogo modernos foram descobertos pelo homem primitivo e estão em uso desde os tempos imemoriais. Uma das primeiras coisas que o homo sapiens fez com sua racionalidade e sua autoconsciência recém-desenvolvidas foi utiliza-las para encontrar meios de atalhar o raciocínio analítico e de transcender ou, em casos extremos, obliterar temporariamente a isoladora consciência do eu.

Experimentando todas as coisas que cresciam no campo ou na floresta, eles se apegaram àquelas que, nesse contexto, pareciam boas – isto é, tudo que mudasse a qualidade da consciência e a tornasse diferente, não importava como, dos sentimentos, das percepções e dos pensamentos cotidianos.

Entre os hindus, a respiração ritmada e a concentração mental substituíram até certo ponto as drogas alteradoras da mente usadas em outros lugares. Mesmo na terra da ioga, mesmo entre os religiosos e mesmo visando objetivos religiosos especiais, a cannabis indica tem sido usada livremente para suplementar os esforços dos exercícios espirituais.

O deus hindu Shiva prepara suas beberagens sagradas

O hábito de tirar férias do mundo mais ou menos purgatorial, que nós criamos para nós mesmos, é universal. Moralistas podem denunciá-lo, mas, apesar dos discursos desaprovadores e da legislação repressiva, o hábito persiste, e as drogas alteradoras da mente estão disponíveis em toda parte. A fórmula marxista ‘A religião é o ópio do povo’ é reversível, e pode-se dizer, ainda mais verdadeiramente, que ‘O ópio é a religião do povo’. Em outras  palavras, a alteração da mente, mesmo que produzida (seja por meios devocionais ou ascéticos ou psicoginásticos ou químicos), sempre foi considerada um dos maiores, talvez o maior, dos bens alcançáveis.

Até o presente, os governos pensaram sobre o problema das substâncias químicas que transformam a mente somente em termos de proibição ou, um pouco mais realisticamente, de controle e taxação. Nenhum deles, até agora, estudou-o em seu relação com o bem-estar individual e a estabilidade social; e muito poucos (graças a Deus!) pensaram nele em termos de estadismo maquiavélico. Por causa dos interesses disfarçados e da inércia mental, insistimos em usar o álcool como nosso principal transformador da mente – exatamente como nossos ancestrais neolíticos. Sabemos que o álcool é responsável por uma alta proporção de nossos acidentes de trânsito, nossos crimes de violência, nossos sofrimentos domésticos; no entanto não fazemos esforço algum para substituir essa droga antiquada e extremamente insatisfatória por algum novo alterador da mente menos maléfico e mais esclarecedor.”

“(…) [A Experiência com mescalina] é sem dúvida a experiência mais extraordinária e importante disponível aos seres humanos no lado de cá da Visão Beatífica. (…) O fato mais extraordinário sobre a mescalina – o princípio ativo do peiote, um cacto usado pelos índios norte-americanos em suas cerimônias religiosas, e agora sintetizado – é que ela é quase inteiramente atóxica. Não há conseqüências físicas desagradáveis, exceto uma ligeira sensação de náusea no princípio, e não há queda na capacidade intelectual, e absolutamente nenhuma ressaca – apenas uma transformação de consciência de modo que a pessoa sabe exatamente o que  William Blake queria dizer quando afirmou: ‘Se as portas da percepção fossem purificadas, tudo apareceria como realmente é, infinito e sagrado’.”

ALDOUS HUXLEY.
Moksha – Classic Writings on Psychedelics
and the Visionary Experience.

OS GIRASSÓIS DE VAN GOGH

hoje eu vi
soldados cantando por estradas de sangue
frescura de manhãs em olhos de crianças
mulheres mastigando as esperanças mortas

hoje eu vi homens ao crepúsculo
recebendo o amor no peito.
hoje eu vi homens recebendo a guerra
recebendo o pranto como balas no peito.

e, como a dor me abaixasse a cabeça,
eu vi os girassóis de Van Gogh.

(MANOEL DE BARROS,
Poesia Completa, p. 36, Ed. Leya).