Plugando consciências no amplificador! Presente na web desde 2010, A Casa de Vidro é também um ponto-de-cultura focado em artes integradas, sempre catalisando as confluências.
“O silêncio eterno dos espaços infinitos me apavora.” Pascal
“Looking up at the stars, I know quite well
That, for all they care, I can go to hell,
But on earth indifference is the least
We have to dread from man or beast.
How should we like it were stars to burn
With a passion for us we could not return?
If equal affection cannot be,
Let the more loving one be me.
Admirer as I think I am
Of stars that do not give a damn,
I cannot, now I see them, say
I missed one terribly all day.
Were all stars to disappear or die,
I should learn to look at an empty sky
And feel its total dark sublime,
Though this might take me a little time.”
“Já pensei muito sobre a selvageria e a insensatez com que nossos primeiros colonos chegaram a este rico continente. Vieram como se ele fosse um inimigo, o que era mesmo. Queimaram as florestas e mudaram as chuvas; varreram os búfalos das planícies, explodiram os rios, puseram fogo no capim e passaram uma foice impiedosa na madeira virgem e nobre. Talvez sentissem que o continente era ilimitado e jamais poderia se exaurir, e que um homem poderia mudar-se para novas maravilhas infinitamente. Com certeza há muitos exemplos do contrário, mas em boa parte os primeiros a chegar pilharam o país como se o odiassem, como se o mantivessem apenas por algum tempo e pudessem ser expulsos a qualquer instante.
O impiedoso século XIX foi como uma expedição hostil de saque que parecia ilimitada. Incontáveis búfalos foram mortos, privados de seu couro e deixados para apodrecer – um reservatório de alimento permanente eliminado. Mais que isso, a terra das Grandes Planícies foi privada do esterco das manadas. Então os arados chegaram e arrancaram a proteção do capim. Sempre houvera desertos mais que suficientes na América; os novos colonos, como crianças mimadas, criaram ainda mais. As estradas de ferro trouxeram novas hordas de gente louca por terra e os novos americanos moveram-se como gafanhotos pelo continente até que o mar do Oeste impôs um limite a seus movimentos. Carvão, cobre e ouro atraíram-nos; atacaram violentamente a terra, dragaram os rios atrás de ouro até deixar o esqueleto de seixos e detritos.
Esta tendência à irresponsabilidade persiste em muitíssimos de nós hoje em dia; nossos rios estão envenenados com o lançamento impensado de esgoto e lixo industrial; o ar de nossas cidades é imundo e perigoso de respirar com a emissão descontrolada de produtos da combustão do carvão, do petróleo, da gasolina. Nossas cidades estão cercadas dos detritos e destroços de nossos brinquedos – nossos automóveis e prazeres embalados. Ao pulverizar sem inibições um inimigo, destruímos o equilíbrio natural necessário à nossa sobrevivência. Todos esses males podem e devem ser superados se a América e os americanos quiserem sobreviver; mas muitos de nós ainda se comportam como nossos ancestrais, roubando do futuro para nosso lucro atual.
Muitos, incapazes de enfrentar a disseminação universal e o perigo do tumor canceroso, isolam um fragmento do todo para preocupar-se com ele ou tentar curá-lo. Mas parece-me que devemos inspecionar a doença como um todo, porque se não pudermos desenraizá-la temos pouca chance de sobrevivência. (…) Talvez tenhamos de examinar a humanidade como espécie, não com nossa costumeira reverência à maravilha que somos, mas com a atitude fria e neutra que reservamos para todas as coisas exceto nós. A conquista mais exuberante do Homem talvez tenha sido sobreviver a seus paradoxos. O homem é agressivamente individualista, e a ainda assim enxameia e forma colméias no barulho e desconforto de suas moradias e cidades apinhadas; (…) é atraído para metrôs lotados, tráfego ululante e celas penais em prédios de apartamentos. E nos Estados Unidos esta tendência humana parece estar aumentando.
Certa vez, num romance, escrevi sobre uma mulher que disse não querer um monte de dinheiro. Só queria o bastante. Ao que o marido retrucou que só o bastante não existe. Ou não se tem dinheiro ou não se tem dinheiro bastante. Um bilionário ainda não tem dinheiro bastante. Somos envenenados pelas coisas. Ter muitas coisas parece criar o desejo de mais coisas, mais roupas, casas e automóveis. Pensem no puro horror de nossos Natais, quando nossos filhos rasgam pacote após pacote e, quando o chão está coberto de papéis e presentes, dizem: “É só isso?” E dois dias depois, as coisas amassadas e abandonadas são acrescentadas à nossa pilha de lixo nacional e talvez a criança, ao se meter em encrencas, explique: “Eu não tinha nada pra fazer.”
“As políticas econômicas aplicadas em todos os países da Europa, e que as grandes instâncias internacionais – Banco Mundial, OMC e FMI – impõe por toda a parte no mundo, invocam a autoridade da ciência econômica. De fato, elas se baseiam em um conjunto de pressupostos ético-políticos inscritos em uma tradição histórica particular, encarnada atualmente pelos Estados Unidos da América. (…) A economia que o discurso neoliberal constitui como modelo deve um certo número de suas características, pretensamente universais, ao fato de que está incrustada em uma sociedade particular.
Não se pode criticar esse modelo [neoliberal] sem criticar os Estados Unidos, que são sua forma prototípica, paradigmática: [Os EUA é uma] sociedade paradoxal que, muito avançada econômica e cientificamente, é bastante atrasada social e politicamente. Mencionaria, entre outros indícios, um conjunto de fatos convergentes:
O monopólio da violência física é muito mal gerido em razão da ampla difusão de armas de fogo: a existência de um lobby dos defensores do direito a possuir armas, a National Rifle Association – NRA – assim como o contingente de detentores de armas de fogo – 70 milhões – e de mortos a bala – 30.000 por ano em média – são indícios de uma tolerância instituída da violência privada sem equivalente nos países avançados.
O Estado desertou de qualquer função econômica, vendendo as empresas que possuía, convertendo seus bens públicos como a saúde, a habitação, a segurança, a educação e a cultura (livros, filmes, televisão e rádio) em bens comerciais, e os usuários em clientes, renunciando a seu poder de fazer a desigualdade recuar (ela tende a crescer de maneira descontrolada).
Tudo isso em nome da velha tradição liberal de self help (herdada da crença calvinista de que Deus ajuda aqueles que ajudam a si próprios) e da exaltação conservadora da responsabilidade individual – que leva por exemplo a imputar o desemprego ou o fracasso econômico em primeiro lugar aos próprios indivíduos, e não à ordem social. Através da noção equívoca de employability, exige de cada agente individual, como observa Franz Schultheis, que se coloque ele próprio no mercado, fazendo-se de certa maneira empresário de si mesmo, tratado como capital humano, o que tem como consequência redobrar, por uma espécie de culpa, a miséria daqueles rejeitados pelo mercado…
O culto do indivíduo e do “individualismo”, fundamento de todo o pensamento econômico neoliberal… não quer e não pode conhecer senão as ações ciente e conscientemente calculadas de agentes isolados, visandos fins individuais e egoístas. Quanto às ações coletivas, como as organizadas pelas instâncias de representação (partidos, sindicatos ou associações), e também pelo Estado, instância encarregada de elaborar e impor a consciência e a vontade coletivas e de contribuir para favorecer o fortalecimento da solidariedade, [a doutrina neoliberal] tende a reduzi-las a simples agregações de ações individuais isoladas. Ao fazer isso, ela exclui de fato a política, reduzida a uma soma de atos individuais que, realizados, como o voto, no isolamento e no segredo da cabine, são o equivalente exato do ato solitário da compra em um supermercado.”
A vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que seduzem a teoria para o misticismo encontram a sua solução racional na práxis humana e na compreensão desta práxis. [Karl Marx, 1845]
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