Filosofia e Eco-Anarquia em Tempos de Pandemia (Webdebate: A Casa de Vidro e Monstro dos Mares)

No dia 08 de Maio de 2020, sexta-feira, A Casa de Vidro, em parceria com a Editora Monstro dos Mares e o Grupo de Estudos em Complexidade, realizaram o webdebate “Filosofia e Eco-Anarquia em Tempos de Pandemia” – com Janos Biro Marques Leite, Pedro Tabio, Renato Costa e Eduardo Carli de Moraes. Assista na íntegra (2h36min):


Introdução

Combinando a crítica anarquista ao Estado e ao Capital com uma perspectiva ecocêntrica vinda do veganismo, do primitivismo, da crítica à sociedade industrial ou da ecologia profunda, a filosofia eco-anarquista tem se mostrado uma fonte valiosa de reflexões e provocações para o contínuo desenvolvimento das teorias e práticas anarquistas, desafiando os paradigmas das escolas de pensamento mais tradicionais.

São consideradas como ligadas ao eco-anarquismo as seguintes tendências: o anarco-naturismo (inspirado por Thoreau, Tolstoi e Élisée Reclus), a ecologia social (que não se limita ao movimento iniciado por Bookchin), o anarcoprimitivismo (representado por John Zerzan e os autores da revista Green Anarchy) e o veganarquismo (movimento anarquista e vegano).

O anarcoprimitivismo e o veganarquismo se destacam em tempos de pandemia pela crítica que já faziam há muito tempo à sociedade de massas e à domesticação de animais como fatores da produção de pandemias e novas doenças. (Janos Biro)

CONHEÇA OS DEBATEDORES:

PEDRO TABIO é urbanista, bioconstrutor, agricultor, inpermacultor libertário, eco-anarquista e editor na Monstro dos Mares.

JANOS BIRO é formado em filosofia pela UFG e membro do coletivo eco-anarquista Contra a civilização (contraciv.noblogs.org). Criador do site Contrafatual (contrafatual.com).

RENATO COSTA é chef vegano e estudante de jornalismo na UFG.

EDUARDO CARLI é jornalista, filósofo, mestre em Ética e Filosofia Política pela UFG, professor do IFG, fundador d’A Casa de Vidro, onde atua como agitador cultural.

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PAUTA TEMÁTICA

I) E O LOCKDOWN, ANARQUISTAS? Se observarmos as crises econômicas e políticas, os alertas climáticos, e agora a crise epidemiológica, muito do que um suposto alarmismo radical anunciava vem se concretizando. Hoje os bolsonaristas acusam a pauta do isolamento de alarmismo. Entretanto subjaz o problema da condução das medidas de isolamento por parte do Estado, amparado pelas recomendações dos organismos internacionais de saúde. Na visão de vocês, a possibilidade de isolamento total, obrigatório, conhecido como lockdown, contraria o princípio libertário defendido pelo anarquismo? O fator de controle sanitário, e consequentemente, a necessidade compulsória de isolamento legitimado pela ciência, em “defesa de vida”, contrariam as liberdades individuais e os princípios da auto-gestão coletiva? Quero dizer, o lockdown atenta, por princípio, contra a organização autônoma das comunidades? Ou seria manipulável apenas em caso de qualquer tipo de autoritarismo se valer da pandemia como álibi da repressão, no oportunismo da condução da crise em favor do Estado e do Capital?


II) TECNOFOBIA vs TECNOFILIA

Os ativistas eco-anarquistas, no que diz respeito às táticas de enfrentamento das forças sociais que causam as catástrofes ecológicas, aceitam de bom grado o uso das tecnologias digitais e das mídias sociais como ferramentas de mobilização? Percebem pautas em comum com movimentos como o Software Livre e certas vertentes do circuito hacker? Ou vocês consideram que a anarquia verde aproxima-se mais do anarco-primitivismo, da recusa diante de um cenário cibernético dominado por empresas como Facebook, Google, Apple etc.? Digo isso pois uma publicação do Comitê Invisível, Foda-se o Google (faccaoficticia.noblog.org), coloca em foco a diferença entre movimentos caracterizados por tecnofilia ou por tecnofobia, arriscando também a seguinte caracterização:

“O grosso dos marxistas e pós-marxistas juntam à sua propensão atávica para a hegemonia um certo vínculo à técnica-que-liberta-o-homem, enquanto uma boa parte dos anarquistas e pós-anarquistas se acomodam sem dificuldade numa confortável posição de minoria, ou mesmo de minoria oprimida, acantonando-se geralmente em posições hostis à ‘técnica’. Cada tendência dispõe até da sua caricatura: aos partidários negristas do ciborgue, da revolução eletrônica pela multidão conectada, respondem os anti-industriais que fizeram da crítica do progresso e do ‘desastre da civilização tecnicista’ um gênero literário bem rentável, feitas as contas, e uma ideologia de nicho onde nos mantemos quentes e aconchegados, à falta de entrever uma qualquer possibilidade revolucionária. Tecnofilia e tecnofobia formam um par diabólico unido por essa mentira central: que uma coisa como a técnica existe.” (Cap. 4)

w.capaGOOGLE-web.cleanedFoda-se o Google [Baixar PDF]

Fragmento do livro Aos Nossos Amigos do Comitê Invisível que trata da expansão tecnológica e política sobre as formas de governo e controle social. “Uma empresa que mapeia todo o planeta, enviando equipes para fotografar cada rua de cada cidade não pode ter interesses apenas comerciais. Ninguém mapeia um território sem intenções de dominá-lo. ‘Don ́t be evil’”.

1. Não existem “Revoluções de Facebook” mas uma nova “Ciência de Governo”, a Cibernética. 2. Guerra a tudo que for Smart! 3. Miséria cibernética. 4. Técnicas contra tecnologia.


III) INTEGRAÇÃO COMUNITÁRIA EM TEMPOS DE CONSUMISMO PREDATÓRIO

Considerando mais especificamente o sujeito político contemporâneo, em relação com a coletividade massificada pelas formas de consumo predatórias, estimuladas em grande parte pela hegemonia neoliberal do culto ao mercado, quais seriam as dinâmicas entre o papel do indivíduo e sua integração comunitária para fixarmos uma agenda de transformações ambientais e sócio históricas, desejáveis no futuro próximo? Mais especificamente ainda, de acordo com os aspectos sociais da atual crise do Coronavírus, interpretados pelo crítica eco-anarquista ao capitalismo em geral, quais as estratégias eco-anarquistas que permitiriam a cada um e cada uma de nós influir numa conjuntura de luta contra as opressões coletivas e a degradação ambiental? Ou seja, minha pergunta vai no sentido de buscar saber como equacionar indivíduo e sociedade, do ponto de vista da filosofia anarquista, no contexto da crise ecológica e sanitária!


IV) A BADERNA ORGANIZADA?

A coleção de livros Baderna, originalmente publicada pela ed. Conrad, depois relançada pela Veneta, trouxe ao público brasileiro a oportunidade de conhecer mais sobre grupos anarquistas e similares, como Luther Blissett, organizados mundo afora, além de propiciar contato com pensadores como Hakim Bey e Raoul Vaneigem. Qual seria, para vocês, a importância de organizações coletivas de ativistas eco-anarquistas? Quais os exemplos destas que vocês poderiam citar? O que pensam sobre certas experiências no mundo atual, citadas por Camila Jourdan e Acácio Augusto, de regiões “liberadas” onde princípios anarquistas estão presentes na prática? Os autores se referem sobretudo “À experiência zapatista no México, cujos territórios autônomos se organizam de maneira federalista libertária, sem Estado e de modo comunal, e o confederalismo libertário de Rojava, no território de ocupação majoritariamente curdo que derrotou o Daesh (Estado Islâmico) e hoje está sob ameaça militar do Estado turco.” (pg. 9)


V) CARNISMO INFECCIOSO – UMA OUTRA ALIMENTAÇÃO ANARCOVEGANA É POSSÍVEL? Em relatório da OMS, Ben Embarek, especialista em segurança alimentar, atesta-se que o novo coronavírus veio do morcego, provavelmente mediado por um outro animal “criado para fornecer alimento”. Além disso, confirmou o que Manuais Epidemiológicos chineses já atestavam: a doença pode circular entre gatos, furões e cachorros. Estes fatos colocam em destaque o risco sanitário envolvido no consumo de carne e no morticínio de animais. O Vegan-arquismo vem denunciando há muito o abandono e a domesticação dos animais – uma sendo condicionante da outra. Pergunto: como vocês trata dessas urgências éticas e ecológicas, a exemplo da necessidade de se adotar uma dieta vegetariana, ou de se representar o veganismo como orientação ao consumo, e também como filosofia em si? Como vocês vêem o papel do veganismo na crise ecológica e na crise sanitária?


VI) A ABOLIÇÃO DO ESTADO: AINDA É O CENTRO DA PROPOSTA ANARCO?

Em Marx Selvagem, Jean Tible busca um “diálogo entre as concepções marxiana de abolição do Estado” com a noção de Pierre Clastres de uma “sociedade contra o Estado”. Sabemos que Marx polemizou com grandes anarquistas de sua época – Bakunin, Proudhon e Max Stirner – a respeito do processo de abolição do estado, visto como fim tanto pelo anarquismo quanto pelo comunismo. A diferença essencial estaria na reivindicação anarquista de extinção súbita do Estado em contraste com um processo mais gradual no âmbito do marxismo que prevê uma transição – a ditadura do proletariado servindo-se do Estado como “instituição transitória, da qual nos servimos na luta durante a revolução para reprimir à força os adversários” (ENGELS, citado por Tible, pg. 192). Para Lênin, o Estado burguês é sucedido pelo Estado proletário no pós-revolução de modo a “reprimir a resistência dos exploradores” (ou seja, combater a reação contra-revolucionária) mas também para “dirigir a grande massa da população na efetivação da economia socialista” (Lenin, 1918, citado por Tible, p. 194). Como compreendem os eco-anarquistas esta questão? É preciso abolir o Estado imediatamente ou gradualmente? De que modo a preocupação com as questões ambientais, ecológicas, de sustentabilidade, justifica práticas e movimentos que visam esmagar o Estado? E como ficam os Mercados e Corporações nesta luta, considerando-se que os Estados neoliberais atuais são basicamente lacaios das mega-empresas e seus financiadores, seus banqueiros, a classe rentista?


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“CRISE & INSURREIÇÃO” – COMITÊ INVISÍVEL (2016, 288 pgs, Acesse o ebook)


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Aos nossos amigos — Crise e insurreição

(N-1 Edições)
Autor: Comitê invisível
Edição: 1a edição
Ano: 2016
No de páginas: 288
Dimensões: 12 x 17cm (brochura)
Peso: 250g
ISBN: 978-85-66943-20-7
Preço de capa: R$ 32,00
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Por Simone Paz Hernández

Queimado propositalmente num canto e apresentado como uma “modesta contribuição à inteligência de nossa época”, chega o livro Aos Nossos Amigos: crise e insurreição, do Comitê Invisível, célula anônima que surgiu na França ao publicar A Insurreição que Vem, em 2007. A nos amis, título original em francês, é traduzido e publicado no Brasil por nossa editora parceira, N-1 Edições – que se caracteriza pelos livros-objeto que produz, numa área transdisciplinar, entre a filosofia, a estética, a clínica, a antropologia e a política. O livro do Comitê Invisível é um manifesto e manual de insurreição e organização, que os próprios autores afirmam ser o início de um plano. Sua linha de frente: pensar, atacar, construir. O livro não poderia chegar em momento mais apropriado, considerando os novos movimentos de resistência anti-fascista e anti-capitalista que se articulam pelo Brasil e mundo afora, além de combinar com a linha pós-capitalista de Outras Palavras.

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Por Vladimir Safatle na Folha de S. Paulo (10/06/2016)

Aos nossos Amigos: Crise e Insurreição é um pequeno livro de um conjunto de autores anônimos chamado Comitê Invisível. Ele acaba de ser lançado no Brasil (n-1 Edições) em um momento que não poderia ser mais propício. Sua capacidade de apresentar teses sobre a natureza dos impasses da vida contemporânea é algo que há muito havia desaparecido das prateleiras das livrarias.

“Desde 2008, vivemos em constante ritmo de insurreição”, dizem os autores. Nosso maior erro é não perceber como estamos, seja no Brasil, na Turquia, na Espanha, na Tunísia ou na Grécia, em um processo mundial de contestação e desencanto. Faz parte de uma lógica de gestão de crise mundial dar a impressão de que estamos todos a lutar contra governos locais e aparatos nacionais de poder.

No entanto, esses governos são apenas repetidores de uma mesma política global, que parece saída da mesma cabeça, feita com maior ou menor intensidade. Nossas discussões são sobre intensidades da mesma política, sobre se tais direitos serão ou não desmontados, sobre qual a intensidade dos cortes, não sobre caminhos alternativos.

Essa homogeneidade mostra duas coisas fundamentais. Primeiro, que nenhuma saída será local ou nacional. Segundo, e mais importante, que apenas a perpetuação de um estado permanente de choque poderia nos levar a tamanha limitação da capacidade de pensar. O que talvez nos explique por que a crise não é algo a ser combatido pelas práticas de governo. Há muito a crise se tornou a própria prática de governo. Previne-se, por meio de uma crise permanente, toda e qualquer crise real.

O que significa que essa crise que aparece diariamente nos jornais não passará. Ela ficará continuamente como um fantasma a justificar toda “austeridade”. Haverá sempre um corte na previdência a fazer, uma restrição orçamentária a impor, gordura a cortar em uma “reestruturação permanente de tudo” que só não mudará uma coisa: a defesa da elite patrimonial, os rendimentos da oligarquia financeira.

Mas para submeter populações inteiras a tal regime de governo faz-se necessária uma verdadeira engenharia psicológica de duas mãos.

De um lado, vende-se a ideia de que a crise “é o momento vivificante da ‘destruição criadora’ que cria oportunidades, inovação, empreendedores, em que só os melhores, os mais motivados, os mais competitivos sobreviverão”. Ou seja, a crise seria o momento no qual a coragem como virtude poderia aparecer. Por isso, os que temem a crise, procurando proteção, só poderiam estar a agir como crianças. Eles não são sujeitos conscientes da falácia de uma destruição criadora que sempre poupa aqueles bem nascidos. Eles são crianças mimadas.

Não por acaso, as políticas de gestão da crise são chamadas de políticas de “austeridade”. O termo remete à lógica protestante de uma vida austera, responsável, adulta e realista contra o dispêndio, o excesso e a irresponsabilidade. Ele traz no seu bojo a ideia de que, enquanto você trabalhava, alguns “vagabundos” se aproveitavam, não precisando se impor uma vida restrita como a que você foi obrigado a suportar. É contra os “privilégios” desses mimados que todos deveriam lutar.

O raciocínio é primariamente falso. Se alguém está a procurar “vagabundos” deveria começar por olhar no topo do sistema financeiro e na casta rentista da elite brasileira, não nas classes historicamente desfavorecidas. Mas isso pouco importa, pois o discurso da austeridade não se sustenta em algum dado de realidade, mas na tentativa de impor uma ética por trás de conjuntos de práticas de governo. Por isso, é no terreno ético que o combate deve iniciar.

Daí uma compreensão decisiva: “O que acontece hoje não é apenas que alguns queiram impor uma austeridade econômica a outros que não a desejam. O que acontece é que alguns consideram que a austeridade é, em absoluto, algo bom, enquanto que outros consideram, sem de fato ousar afirmar tanto, que a austeridade é, em sua totalidade, uma miséria”.

Como essa “vida austera”, há de se impor uma outra ideia de vida, baseada na partilha em vez da economia, na conversa em vez do silêncio, no excesso ao invés da restrição. A austeridade sempre foi a forma de restringir a vida de muitos para garantir o gozo de poucos. Eis algo que aparece na base da crise como modo de governo.

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Um trecho do primeiro capítulo: 

“As insurreições chegaram, mas não a revolução. Raramente teremos visto, como nestes últimos anos, num lapso de tempo tão condensado, tantas sedes do poder oficial tomadas de assalto, desde a Grécia até à Islândia. Ocupar praças bem no centro das cidades e aí montar tendas, e aí erguer barricadas, cantinas ou barraquinhas, e aí reunir assembleias, tornar-se-á em breve um reflexo político elementar como ontem o foi a greve. Parece que esta época começou até a segregar os seus próprios lugares-comuns – como esse All Cops are Bastards (ACAB) que a cada golpe de revolta passa agora a pintalgar as paredes decrépitas das cidades, no Cairo como em Istambul, em Roma como em Paris ou no Rio. Mas por maior que seja a desordem por baixo dos céus, a revolução parece por todo o lado asfixiar na fase de motim. Na melhor das hipóteses, uma mudança de regime sacia por instantes a necessidade de mudar o mundo, para muito rapidamente reconduzir à mesma insatisfação. Na pior, a revolução serve de estribo a esses tais que, falando em seu nome, não têm outra preocupação senão liquidá-la. Noutros sítios, como em França, a inexistência de forças revolucionárias suficientemente confiantes nelas próprias abre caminho àqueles cuja única ocupação é justamente dissimular a confiança em si e de a apresentar como espetáculo: os fascistas. A impotência azeda.

Neste ponto, há que o admitir, nós os revolucionários fomos derrotados. Não porque não tenhamos perseguido a “revolução” enquanto objetivo após 2008, mas porque fomos privados, de forma contínua, da revolução enquanto processo. Quando fracassamos podemos atirar-nos contra o mundo inteiro, elaborar com base em mil ressentimentos toda a espécie de explicações, e até explicações científicas, ou podemos interrogar-nos sobre os pontos de apoio que o inimigo dispõe em nós próprios e que determinam o carácter não fortuito, mas repetido, das nossas derrotas. Talvez nos possamos questionar sobre o que resta, por exemplo, de esquerda nos revolucionários, e que os condena não apenas à derrota mas a um efeito de repulsa quase geral. Uma certa forma de professar uma hegemonia moral para a qual não dispõem dos meios é, também entre eles, um pequeno defeito de esquerda. Tal como essa insustentável pretensão a decretar a forma justa de viver – aquela que é verdadeiramente progressista, esclarecida, correta, desconstruída, não‑suja. Pretensão que enche de desejos de morte quem quer que se encontre dessa forma relegado para as fileiras dos reaccionários-conservadores-obscurantistas-limitados-campónios-ultrapassados. A apaixonada rivalidade dos revolucionários pela esquerda – a vendida, a luxuosa, a governamental – é precisamente o que os mantém no seu terreno. Larguemos as amarras!”

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Edição publicada em Portugal pelas Edições Antipáticas:

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