DITADURA vs PAULO FREIRE – Saiba o porquê da prisão e exílio do criador da Pedagogia do Oprimido

Paulo Freire propôs e praticou “um revolucionário programa de educação que prometia erradicar o analfabetismo no Brasil, mas foi abruptamente interrompido pelo governo militar após o golpe de 1964.

Dois anos antes do golpe, Paulo Freire havia lançado um movimento no Nordeste, onde 20 milhões de adultos, num total de 35 milhões, eram analfabetos e, por isso, impedidos de votar. Havia resistência feroz por parte dos proprietários de terra e dos senhores de engenho, que lucravam com a ignorância dos trabalhadores. Mesmo assim, o método de Freire – que ensinava uma pessoa a ler e escrever em 45 dias – permitiu que centenas de milhares de pessoas tirassem o título de eleitor.

O governo reformista do presidente João Goulart ficou tão impressionado com o sucesso do método de Freire que resolveu estendê-lo a todo o país. Em 1963, foram treinados coordenadores para administrar 20000 (vinte mil) círculos de alfabetização, com o objetivo de ensinar 2 milhões de pessoas a ler e escrever.

Era um tempo de grande mobilização social nas áreas rurais. Cerca de 1300 novos sindicatos rurais foram organizados. Em Pernambuco, quase 250000 (duzentos e cinquenta mil) cortadores de cana entraram em greve, pela primeira vez. A população rural aprendia a ler, escrever, votar, organizar-se, manifestar-se e fazer greve.

Esse rumo de eventos alarmou as elites conservadoras do país, e o resultado foi o golpe militar de Primeiro de Abril de 1964, ou 31 de Março, como preferiam comemorar os militares, porque a data exata do golpe era o dia mentira.

Paulo Freire foi preso e exilado, outros países beneficiaram-se de seus métodos, enquanto a educação brasileira estagnava. Quando o regime militar chegou ao fim, em 1985, contava com grandes índices de analfabetismo. Em 1988, em uma das mais importantes conquistas da nova Constituição, os analfabetos finalmente adquiriram o direito de votar.”

Sue Branford e Jan Rocha em Rompendo a Cerca. Ed Casa Amarela. Pg. 157.


BIOGRAFIAS DA RESISTÊNCIA

MEMÓRIAS DA DITADURA – Paulo Reglus Neves Freire, educador brasileiro reconhecido internacionalmente por sua práxis educativa. Ficou conhecido por ter desenvolvido um método inovador de alfabetização, que o tornou uma inspiração para gerações de professores, principalmente na América Latina e na África. Seu método conquistou muitos adeptos entre pedagogos, cientistas sociais, teólogos e militantes políticos.

A coragem de colocar em prática um trabalho de educação libertadora, que identifica a alfabetização com um processo de conscientização, fez de Freire um dos primeiros brasileiros a serem exilados pela ditadura militar. Acusado de subversão e preso em 1964, durante 72 dias, partiu para o exílio no Chile, onde trabalhou por cinco anos no Instituto de Capacitação e Investigação em Reforma Agrária (Icira) e escreveu seu principal livro: “Pedagogia do oprimido” (1968). Freire ainda passou por Estados Unidos e Suíça. Nesse período, prestou consultoria educacional a governos de países pobres, a maioria no continente africano.

Em 1980, Paulo Freire retornou ao Brasil e filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT). Em 1989, assumiu a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, na gestão de Luíza Erundina. Nos anos seguintes, escreveu dois livros considerados fundamentais em sua obra: “Pedagogia da esperança” (1992) e “À sombra desta mangueira” (1995).

Freire lecionou na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e recebeu o título de doutor Honoris Causa por 27 universidades, além de homenagens e prêmios internacionais. Em 2012, foi criada a lei que declarou Paulo Freire patrono da educação brasileira.

Casou-se duas vezes: com a professora primária Elza Maia Costa Oliveira, mãe de seus cinco filhos e falecida em 1986; e Ana Maria Araújo Freire, uma ex-aluna. Freire morreu no dia 2 de maio de 1997 em São Paulo, vítima de um infarto agudo do miocárdio.

EXPLORE MAIS EM A CASA DE VIDRO:

O esforço lúcido de Vladimir Safatle para esclarecer o imbróglio brasileiro, fornecer balizas para a refundação da esquerda e propor vias para a democracia real

Vladimir Pinheiro Safatle, “Só Mais Um Esforço”
(Três Estrelas, 2017, 144 pgs)
Disponível na livraria A Casa de Vidro: http://bit.ly/2hPuW97

Após a consumação do golpe parlamentar que expulsou Dilma Rousseff da presidência da república, em Abril de 2016, Vladimir Safatle publicou em sua coluna na Folha de S.Paulo um artigo-manifesto chamado “Nós Acusamos”. Nele, evocando Émile Zola no Caso Dreyfus, Safatle fazia uma série de acusações contra os cleptocratas que usurparam o poder: “Nós acusamos”, bradava em tom jacobino, “os representantes deste governo interino de seres personagens de um outro tempo, zumbis de um passado que teima em não morrer. Eles não são a solução da crise política, mas são a própria crise política no poder.”

Neste livro de intervenção, “Só Mais Um Esforço”, o professor de filosofia da USP – Universidade de São Paulo dá sequência à sua obra anterior “A Esquerda Que Não Teme Dizer Seu Nome”, publicando no calor da hora, à luz das ruas que queimam, palavras urgentes e contundentes numa espécie de amálgama de manifestos. São textos mais acessíveis ao grande público do que suas complexas análises de Hegel, Lacan, Adorno, Derrida, Butler, dentre outros pensadores, que marcam sua trajetória intelectual.

Na imprensa, em debates públicos, em entrevistas midiáticas e em livros como este, Safatle revela-se “um pensador comprometido com a causa dos oprimidos e explorados, um homem de esquerda autêntico, que usa sua pluma para denunciar os crimes e as injustiças do sistema capitalista e para propor alternativas radicais” – como escreve Michael Löwy no prefácio, .

Sem esconder sua admiração pelo governo de Salvador Allende no Chile (1970-1973), experimento de socialismo democrático rico em legados para o futuro da práxis utópica latino-americana, Safatle também se empolga com as insurreições recentes, pelo mundo afora, desde a Primavera Árabe e o Occupy Wall St. às Jornadas de Junho de 2013 no Brasil:


“Nada que se refere ao destino e às dificuldades da esquerda brasileira pode ser compreendido sem uma meditação a respeito das manifestações de Junho de 2013. Tais manifestações são certamente o conjunto mais importante de revoltas populares da história brasileira recente, não por aquilo que produziram, mas por aquilo que elas destruíram. A partir delas, todo o edifício da Nova República entrou paulatinamente em colapso. Mas, além disso, algo mais terminou: a primeira parte da longa história da esquerda brasileira chegou ao fim.” (p. 107)

Safatle lembra que 2013 foi o ano com “o maior número de greves desde o fim da ditadura, ou seja, 2.050 greves, sendo 1.106 apenas no setor privado. Tal fenômeno era sintomático: tratava-se de trabalhadores que não reconheciam mais suas ‘representações’ e que procuravam deixar claras sua insatisfação e precariedade.” (p. 108) A ascensão da insurreição popular que se viu em 2013, e que culminou nas mega-manifestações de Junho, manifesta o que Ruy Braga chamou de “A Revolta do Precariado”, uma insatisfação imensa da classe trabalhadora diante das condições de trabalho impostas pela hegemonia capitalista neoliberal globalizada, aquilo que Viviane Forrester – em livro traduzido pelo próprio Safatle e lançado pela Editora Unesp – chamou de “Uma Estranha Ditadura”.

Ora, Junho de 2013 foi uma “revolta que pegou a esquerda desprevenida, enfraquecida e acomodada à ilusão de perpetuação infinita no poder”, analisa Safatle. “Por isso, uma parte da esquerda preferiu abraçar o discurso da desqualificação da revolta, o que a livraria de ter de encarar sua própria obsolescência e envelhecimento.” (p. 53)

Safatle provoca-nos dizendo que, “em vista da paralisia completa do governo diante de tais revoltas e da incapacidade de todo o setor da esquerda de se constituir como intérprete qualificado das novas demandas, foi a direita que soube captar o momento, absorvendo de vez o discurso anti-institucional. Pela primeira vez desde 1984, a direita voltava às ruas, procurando mobilizar a força anti-institucional da política, enquanto a esquerda brasileira havia se transformado no mais novo partido da ordem. Com tal força, a direita, mesmo não tendo ganhado as eleições de 2014, impôs uma dinâmica acelerada de desabamento do governo e de incitação a um golpe parlamentar travestido de legalidade…” (p. 155)

Como a Revolta do Precariado e as insurreições vinculadas às demandas por um transporte público mais digno – capitaneadas pelo Movimento Passe Livre – MPL – puderam ser “colonizadas” pelas forças da Direita? O que explica que, ao fim de Junho, os “coxinhas” tivessem tomado a cena, mobilizados pela grande mídia corporativa e por entidades patronais como a Fiesp? A resposta, para Safatle, encontra-se no “circuito dos afetos”, em especial na mobilização que as forças reacionárias fizeram do medo. É o medo da desordem e da “anarquia” – brandido pelos mass media a todo momento através das imagens de vandalismo e descontrole – que permite a ascensão proto-fascista de uma ideologia que prega o autoritarismo truculento para resolver os conflitos sociais.

Em um dos capítulos mais interessantes de “Só Mais Um Esforço”, Safatle discute três fotografias emblemáticas: Vladimir Herzog, assassinado pela ditadura militar brasileira aos 37 anos de idade; o ex-presidente Lula com as mãos sujas de petróleo; e manifestantes que depredam o Palácio Itamaratyem um episódio de clímax das Jornadas de Junho. Sinais de um país que, através da anistia, deixou praticamente impunes os torturadores e assassinos do Estado de Exceção inaugurado pelo golpe militar de 1964; que não soube propor modelos de desenvolvimento alternativos à civilização industrial devoradora de combustíveis fósseis e geradora de uma hecatombe ecológica global; e que não sabe lidar com a emergência de uma contestação bruta senão mobilizando a força repressiva de um Estado ainda militarizado e que tem na PM um dos piores legados de seu passado mal enterrado.

“A foto do Palácio do Itamaraty em chamas tem sua ironia”, explica Safatle. Pouco antes, a massa estivera enfurecida diante do Congresso Nacional do Brasil, ameaçando quebrá-lo. A Polícia Militar tentou impedir, mas não conseguiu fazer nada melhor do que empurrar a massa para o lado, fazendo com que sua fúria destruísse o primeiro edifício público à frente…. A foto mostra a destruição de um substituto. Para salvar o Congresso com seus oligarcas, outro objeto é oferecido para ser sacrificado em um ritual de expiação da revolta. Essa estratégia será utilizada uma segunda vez, de maneira simbólica e bem-sucedida, no golpe de 2016.

Mas essa imagem não será apenas a expressão de uma armadilha criada de forma astuta por uma oligarquia exímia na arte de se perpetuar. Ela será o eixo dos últimos anos da história brasileira em um outro sentido, mais forte. Pois a fúria popular contra o Itamaraty era a encarnação do verdadeiro medo que sempre assombrou este país, a saber, o medo da insurreição de uma massa amorfa e descontrolada, de força negadora bruta, que encarnaria todas as décadas e séculos de revolta muda e surda. Uma força que não se submeteria mais ao poder do Estado, à lógica de suas representações. ” (p. 53)

É “o povo que diz não” subindo à cena política. “Essa insurgência, com sua negação bruta, que pareceu ser uma ferida aberta que poderia não mais parar de sangrar, foi o motor que levou parcelas da população brasileira, depois de 2013, a reagir e a abraçar de forma cada vez mais descomplexada os discursos protofascistas de ordem e de justificação da violência estatal. Pode parecer paradoxal esse resultado, mas não será a primeira vez na história que as latências de uma revolta popular dão espaço à emergência de um sujeito reativo.” (p. 55)

Junho de 2013, longe de ter tido efeitos libertários de longo prazo, causou um assanhamento das forças reacionárias e fascistas no Brasil, com o cenário preocupante que se desenha para 2018: a da candidatura, apoiada por milhões, do racista, misógino, homofóbico, militarista – amálgama de toda a estupidez desavergonhada do fascismo brazzzileiro – Jair Messias Bolsonaro. São sinais claros de que o Brasil fracassou em lidar com seu passado, que volta a assombrá-lo como um espectro horrendo:

“Nenhum outro país protegeu tanto seus torturadores, permitiu tanto que as Forças Armadas conservassem seu discurso de salvação através do porrete, integrou tanto o núcleo civil da ditadura aos novos tempos de redemocratização quanto o Brasil. Há de se lembrar que o Brasil é o único país da América Latina onde os casos de tortura aumentaram em relação à ditadura militar. Por isso, nenhum outro país latino-americano teve um colapso tão brutal de sua ‘democracia’ como o nosso, com uma polícia militar que age como manada solta de porcos contra a própria população que paga seus salários. Nenhum outro país latino-americano precisa conviver com um setor proto-fascista da classe média a clamar nas ruas por ‘intervenção militar’, a ponto de invadir o plenário do Congresso Nacional com suas bandeiras. Tudo isso demonstra algo claro: a ditadura brasileira venceu. Como um corpo latente sob um corpo manifesto, ela se conservou e a qualquer momento pode novamente emergir.” (p. 65)

É o que estamos vendo na era Michel Temer: uma cleptocracia escrota que vem massacrando sem dó os direitos trabalhistas, que vem impondo medidas de austeridade altamente impopulares, que vem enfiando-nos goela abaixo as intragáveis PECs do Fim do Mundo que ameaçam precarizar escolas e hospitais pelos próximos 20 anos – e quem protesta contra isso é considerado um inimigo público digno só do porrete, do spray de pimenta, das bombas de gás lacrimogêneo.

“Diante desse cenário, a tendência brasileira agora é a desagregação. Com uma casta política que bloqueou todo processo de renovação, com uma paralisia em relação à compreensão de processos de emergências de novas modalidades de corpos políticos, o país tende a se deslocar paulatinamente para um modelo cada vez mais autoritário e desprovido de qualquer legitimidade. Os sistemas de pactos ruíram e não é mais possível reeditá-los. Todas as ‘reformas’ apresentadas em 2016 e 2017 visam à destruição das defesas trabalhistas e ao fortalecimento das dinâmicas de produção da desigualdade, no pior dos pesadelos neoliberais.

Nesse cenário, não é surpreendente que, diante do crescimento da resistência contra a espoliação, a elite dirigente brasileira jogue todas as suas forças na brutalização do discurso social, na criminalização da oposição e no uso recorrente de seu braço armado para gerir conflitos.” (p. 117-118)

As alternativas radicais propostas por Safatle para sairmos do atual cenário catastrófico envolvem medidas que deixam nossas elites com a pulga atrás da orelha: taxação de grandes fortunas e heranças; instauração do salário máximo; restrição do direito à propriedade privada etc. O leitor atento pode ficar estarrecido com certas omissões: o filósofo não menciona em lugar algum do livro a reforma agrária, a demarcação de terras indígenas, a luta contra o agronegócio e os agrotóxicos, nem menciona movimentos sociais como o MST – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e o MTST – Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, tão esforçados na instauração de uma outra realidade, menos injusta e hedionda do que a que vivemos.

O outro mundo possível que hoje demanda nosso esforço e nossa luta também exige a refundação radical da esquerda e a construção coletiva de uma autêntica democracia direta, onde o povo não delegue sua soberania a ninguém, e onde o Estado se utilize de todas as ferramentas das novas tecnologias digitais para a instauração de uma “ágora virtual” onde proliferariam os plebiscitos e assembléias populares.

“Temos atualmente todas as condições técnicas para criar uma sociedade de deliberação contínua baseada em uma democracia digital”, opina Safatle (p. 128), propondo inovações políticas nos processos decisórios através de uma “ágora virtual” (noção contestada por Luis Felipe Miguel, cientista político e professor da UnB – Universidade de Brasília, neste artigo em Justificando).

Longe de decretar que o marxismo ficou obsoleto, Safatle busca re-avivar a chama de Karl Marx eEngels para nossos tempos, dizendo que “a teoria marxista da revolução é, mais do que uma teoria das crises, uma teoria da emergência de sujeitos políticos com força revolucionária. No caso de Marx, tais sujeitos têm nome: proletários.” (p. 102)

Safatle insiste que o conceito de proletário no pensamento marxista não é apenas uma “categoria sociológica dos trabalhadores que têm somente sua força de trabalho”, mas sim uma “categoria ontológica que diz respeito a certo modo de existência com grande força revolucionária, é um modo que depõe regimes de existência baseados na propriedade, no individualismo possessivo e na identidade, com seus sistemas defensivos e projetivos.

O século XIX conheceu uma sequência impressionante de revoltas, movimentos e insatisfação social oriundos de crises econômicas profundas em todos os lados da Europa. Tal como agora, as ruas queimaram em sequência. Mineiros da Silésia, operários ingleses, tecelões franceses: todos pararam fábricas, quebraram máquinas, montaram barricadas, desafiaram a ordem instituída. No entanto, essa multiplicidade de revoltas só se transformou em um fantasma que assombrava aquele tempo quando todas as ruas em chamas foram vistas como a expressão de um só corpo político, um só sujeito em marcha compacta pelo desabamento de um mundo que teimava em não cair.

Um sujeito político só emergiu quando os mineiros deixaram de ser mineiros, os tecelões deixaram de ser tecelões e se viram como um nome genérico, a saber, ‘proletários’, a descrição de quem é totalmente despossuído, de quem é ninguém. Foi quando a multiplicidade das vozes apareceu como a expressão da univocidade de um sujeito presente em todos os lugares, mas com a consciência de sua ausência radical de lugar, que a revolta deixou de ser apenas revolta. Pois essa força de síntese de outra ordem que aparece através da univocidade da nomeação era a condição para que a imaginação política entrasse em operação, permitindo a emergência de um novo sujeito. De certa forma, é isto que nos falta: precisamos ser, mais uma vez, proletários.” (p. 103)

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Por Eduardo Carli de Moraes
 www.acasadevidro.com

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Leia também:

ESTILHAÇOS DE INDIGNAÇÃO E ESPERANÇA – UMA SOCIOLOGIA À ALTURA DE JUNHO, POR RUY BRAGA EM “A PULSÃO PLEBÉIA” (ALAMEDA/FFLCH-USP)

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Alguns vídeos:



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BRASIL EM CHAMAS – por The Intercept Brasil, Mídia Ninja, El País, GGN, Justificando, Brasil de Fato, Ribs, Mauro Iasi, A Casa de Vidro – #ForaTemer #DiretasJá

GOVERNO QUE PEDIA UNIFICAÇÃO NACIONAL É RESPONSÁVEL AGORA POR UM PAÍS EM CHAMAS

“Brasília ficou literalmente em chamas após mais de 35 mil manifestantes se reunirem contra o governo e as reformas Trabalhista e da Previdência. Até onde se sabe, um grupo com cerca de 50 pessoas, após confusão com a polícia, promoveu quebra-quebra, incendiou os ministérios da Agricultura, da Fazenda e da Cultura e depredou outros dois prédios, segundo o UOL. Todos os prédios da Esplanada foram evacuados, e as imagens de documentos em chamas e de vidraças, persianas, paradas de ônibus, placas de trânsito, orelhões, banheiros químicos arrebentados no entorno de Brasília se espalharam como num rastilho.

Michel Temer decretou ação de garantia de lei e da ordem e, como se confirmasse o delírio de saudosos da ditadura que se multiplicaram em outras manifestações recentes pelo país, tropas federais cercaram o Palácio do Planalto e o Itamaraty.

A ação acontece no pior momento do governo Temer, que nos últimos dias parecia finalmente unificar a nação no sentido da rejeição.

Quem até ontem era chamado de revanchista por gritar “Fora, Temer” e acusar o chamado golpe parlamentar ganhava a companhia de parte da opinião pública que fatalmente acompanhou revoltada a escalada do noticiário contra um governo cercado por delinquentes de todo tipo.

Acuado e prestes a cair de maduro, Temer fatalmente usará as cenas como argumento político da ordem (a que ajudou a degringolar) contra o caos – este supostamente provocado por partidários interessados em sua queda. Sabe que, em boa parte da opinião pública, apenas o medo da “baderna”, citada há pouco pelo seu ministro da Defesa, Raul Jungmann, é maior do que a sua rejeição.

Em seu pronunciamento, o ministro justificou a convocação das tropas federais dizendo que a marcha, “prevista como pacífica, degringolou para a violência, desrespeito, ameaça às pessoas”. Segundo ele, “o presidente da República faz questão de ressaltar que é inaceitável a baderna e o descontrole. E que ele não permitirá que atos como esse venham a turbar um processo que se desenvolve de forma democrática e com respeito às instituições”.

Sem força política, Temer ganhou uma brecha para fazer o que governantes impopulares fazem nas horas de desespero: apelar para o medo. Não faltará quem veja nessa brecha a chance de alimentar o seu próprio Reichtag. O mais provável, porém, é que as cenas do incêndio e da pancadaria em Brasília sirvam como epígrafe de um governo que prometeu pacificar o país e o devolveu em chamas.”

Matheus Pichonelli em The Intercept Brasil

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“A grave crise política na qual o Brasil está mergulhado transformou Brasília num campo de batalha entre policiais e manifestantes que pedem a saída do presidente Michel Temer (PMDB) do poder e a sua substituição por meio de eleições diretas. Ao menos 49 pessoas se feriram nos confrontos ocorridos durante um dos maiores protestos que a cidade registrou desde o impeachment de Fernando Collor, em 1992. Dezenas de milhares de manifestantes caminharam pelas ruas gritando “Fora, Temer”. Diante da violência que também resultou na depredação de ao menos sete ministérios, o presidente determinou que 1.500 homens das Forças Armadas passassem a fazer o policiamento de prédios públicos até o próximo dia 31 de maio. Ainda que os militares já tenham atuado em crises estaduais e durante os Jogos Olímpicos, é a primeira vez, na democracia, que a capital federal será policiada por militares. Antes, isso ocorrera apenas durante a ditadura militar (1964-1985).” – EL PAÍS Brasil

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Mídia Ninja – “Como esperado, a truculência policial foi a resposta dada pelo poder público aos milhares de jovens, homens e mulheres, trabalhadores de todos os cantos do país que vieram dizer a Temer que seu governo golpista chegou ao fim e que o Brasil exige eleições diretas para a Presidência da República.

Aproximadamente 200 mil pessoas de todas as regiões do país foram repudiar a tentativa de destruição da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e o fim da aposentadoria representados pelas reformas trabalhista e previdenciária, que se encontram em tramitação acelerada no Congresso Nacional.

A luta por eleições diretas para a escolha de uma nova chefia do executivo ocupou lugar central na pauta do ato, especialmente após as novas e graves denúncias envolvendo Michel Temer e aliados.”

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Charge por Ribs

“O prefeito da maior cidade do país caminha em meio aos escombros. Tinha acabado de mandar demolir um prédio na crackolândia, com moradores dentro.

Do outro lado do Brasil, dez corpos se amontoam, em meio a mais um massacre de trabalhadores rurais no Pará. A polícia paraense teria promovido a matança. O uso da força, sem disfarces, sempre foi a linguagem da elite brasileira: escravocrata, ardilosa, antipopular.

Trabalhadores em marcha contra as “reformas” de Temer são atacados brutalmente pela polícia em Brasília. Bombas, porrada, tiros.

Prédios ministeriais incendiados. Brasília arde. A direita de facebook diz que há “vândalos” nas ruas…

Derrubar direitos trabalhistas e mudar a Previdência, impondo um programa econômico derrotado nas urnas: esse o verdadeiro vandalismo que ameaça o país desde que um golpe derrubou a presidenta eleita.

A Globo e os bancos querem uma semi-democracia sem povo. O mercado já decidiu: as urnas não valem, o que valem são as decisões nas mesas das corretoras e dos operadores das bolsas.

Queimaram votos, vandalizaram a democracia, colocaram meganhas pra lançar bombas contra com o povo. E o vandalismo é de quem?

A barbárie se completa com o decreto de Temer: um estado de sítio molambo, disfarçado, covarde, típico de um velhaco que pode levar o Brasil ao abismo.

O Exército está nas ruas em nome da lei e da ordem.

A Lava-Jato e a Polícia Federal podem tudo.

Enquanto isso, tucanos pisam nos pobres da crackolândia e os mortos se amontoam no Pará (também, sob governo do PSDB).

A Democracia agoniza. Parecemos às vésperas de um momento decisivo. Ou as garantias civis retornam. Ou o Brasil escravocrata, de sempre, vai impor a ordem, a morte e o terror.

Em 1 ano de golpe, caminhamos de 64 a 68. Já é possível ver o abismo que a Globo, os bancos e os tucanos cavaram com seus pés. Uma parte dos golpistas já foi tragada pelo abismo. Mas ameaçam lançar o país inteiro no buraco.

Sete dias de Exército nas ruas de Brasília, segundo o decreto criminoso de Temer. Sete dias em que o lado de cá pode virar o jogo, ou assistir ao enterro definitivo da Democracia.” – Brasil de Fato

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“As manifestações de ontem, contra o governo Temer e as “reformas” por ele patrocinadas, foram marcadas pela brutalidade da repressão policial. Em Brasília, onde ocorreu o principal ato, a multidão estimada em mais de 100 mil pessoas foi impedida de ocupar a esplanada dos ministérios. A ação policial teve como intuito evidente obstruir a realização do protesto, em violação direta do princípio da liberdade de manifestação pública. O saldo de dezenas de feridos, alguns com gravidade, é consequência direta desta decisão e da falta de comedimento da força policial na contenção dos cidadãos reunidos para protestar.

Em meio ao confronto, o ocupante da presidência da República apelou para a intervenção do exército, baixando um decreto de “Garantia da Lei e da Ordem” (GLO), por solicitação – ou não – do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. A medida é defendida como “constitucional”. De fato, a forte pressão militar sobre a Assembleia Nacional Constituinte fez com que, em seu artigo 142, a Carta incluísse, entre as atribuições das Forças Armadas, a garantia da lei e da ordem. Foi possível moderar o texto com a salvaguarda de que a presença militar só ocorreria por iniciativa de algum dos poderes constitucionais, mas a redação permaneceu infeliz. Afinal, se “lei” e “ordem” são apresentadas como entidades separadas, fica claro que há outra ordem a ser garantida além da ordem legal. E que ordem seria essa? Quem a definiria, quem identificaria uma “desordem” que não se confunde com a ilegalidade mas, ainda assim, precisa ser debelada?

Temer apelou para a GLO em descompasso com a legislação que a regula (a Lei Complementar nº 97/99 e o Decreto nº 3.897/2001, ambos do período Fernando Henrique Cardoso), tanto por não ter obtido a anuência prévia do Governo do Distrito Federal quanto por não haver esgotado o recurso às forças convencionais da segurança pública. Mas o principal é o significado político da medida. No calor de uma das manifestações mais importantes contra seu governo ilegítimo, Temer determinou a convocação do exército, em documento assinado também por um linha-dura da tropa de choque golpista (Raul Jungmann, ministro da Defesa) e um militar saudoso da ditadura ocupando cargo civil (Sergio Etchegoyen, ministro do Gabinete de Segurança Institucional), impondo um verdadeiro estado de sítio na capital da República por nada menos do que sete dias.

O recado é claro: o regime que emergiu do golpe não hesitará em usar a força contra os cidadãos que nunca o elegeram. É um movimento de graves consequências, mas que não chega a ser inesperado. Carente de legitimidade popular, incapaz de sustentar a si mesmo ou suas propostas no debate público, o governo já vinha numa escalada repressiva, invadindo e espionando movimentos sociais, batendo em manifestantes, intimidando funcionários públicos, tentando silenciar vozes dissonantes em jornais, blogs, escolas e universidades.

​A repressão é a outra face do retrocesso nos direitos. O programa do governo Temer não tem como ser implantado na democracia. Não resiste à expressão da vontade popular pelo voto – e por isso os golpistas temem tanto as eleições diretas – e também claudica se a cidadania se expressa nas ruas. É exatamente por isso que o momento é de resistir, recusar a intimidação e de ocupar as ruas, de Norte a Sul, lutando pelos direitos e pela democracia.” – por Luis Felipe Miguel em Jornal GGN

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Michel Temer tirou o ditadorzinho do armário e escancara cada vez mais sua face de tirano. O ilegítimo e inelegível golpista, há um ano travestido de presidento, caracterizou os protestos de hoje (24 de Maio) em Brasília como “baderna”. Decretou Estado de Exceção: já está publicado no Diário Oficial da União a autorização para que as forças armadas defendam as ruas da capital federal por uma semana, em defesa da “lei e da ordem”.

O “golpe sem tanques” está cada vez mais degringolando em golpe com tanques, tropas e bombas tóxicas de calar cidadania. A barbárie institucional é completa, o caos político é dos mais intensos deste a re-democratização (aquele pseudo-enterro da ditadura que deu-se de forma tão lenta, gradual e de baixa intensidade que até agora não conseguiu acontecer a contento… vide o dia de hoje!).

A popularidade deste (des)governo ameaça cair para abaixo de zero. A bandeira das Diretas Já está sendo tratada como assunto para ser calado pela truculência militar. O abismo golpista vai se desvelando como um buraco sem fundo – os crápulas conseguem sempre ampliar o seu grau de baixeza, de jogo sujo, de apego ganancioso a um poder que conquistaram pela fraude.

O usurpador agora apega-se ao seu posto com tudo o que tem – soldados e tanques, agentes contemporâneos da Arendtiana “banalidade do mal”. Triste que tantos soldados se prestem a obedecer um governo tão imprestável, que merecia das tropas apenas o abandono, a desobediência civil, a recusa em defendê-lo.

Talvez Temer chama a ajuda dos militares pois teme que, ao renunciar, possa sair direto da Presidência para o Presídio. Comprar o silêncio do gangster Eduardo Cunha, na prisão, é afinal um crime gravíssimo de obstrução da Justiça, infinitas vezes mais grave que qualquer “pedalada fiscal”…

A pressa foi tamanha para decretar esta truculência institucionalizada e este Estado de Exceção gerido por golpistas com medo da prisão que a data do documento saiu “24 de Dezembro de 2017”. Longe de manifestar a “força” e o “poderio” do regime Temer, a medida explicita que estes são os últimos estertores de Michel e sua gangue, cuja legitimidade atingiu graus tão minúsculos que só lhe resta o apelo à força bruta para defender o indefensável.

Seguimos em frente, Brasil, rumo ao fundo de um abismo sem fundo…

A Casa de Vidro

ATUALIZAÇÃO – 25-05 – Revogado o decreto; Temer, que volta atrás mais que bumerangue, parece ter usado seu poder de intimidação, bradando descontrolado que iria embrutecer ainda mais a repressão; agora volta atrás do chilique e finge-se de defensor do patrimônio público – ainda que a PEC do Fim do Mundo, do Estado Mínimo, da Precarização Máxima, tenha sido aprovada sob sua tutela…

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Temer cometeu crime de responsabilidade ao acionar Exército contra protesto, apontam juristas – “Medida autoritária, inconstitucional e ilegal. Uma afronta às liberdades públicas, claro crime de responsabilidade”. Assim definiu a coordenadora do curso de Direito da Fundação Getúlio Vargas Eloísa Machado sobre o decreto de Garantia de Lei e da Ordem (GLO) acionado por Michel Temer para repressão do protesto na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. – Justificando

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“O usurpador balança e se vê na ponta da prancha do navio pirata que pensava comandar. Cobra lealdade de seus colegas saqueadores e usurpadores e tem dificuldade em manter ao seu lado até mesmo o papagaio que vivia pousado em seu ombro. A luta intestina entre os segmentos que levaram a cabo a interrupção do mandato presidencial eleito em 2014 chega ao ponto de fritura e ameaça a estabilidade necessária para implementar as reformas contra os trabalhadores.

(…) Diante da decisão momentânea do usurpador não renunciar, outro problema se coloca. Um processo de impedimento se alastraria por um tempo considerável (a presidente eleita em 2014 teve o seu processo de impedimento aberto na Câmara dos Deputados em 2 de dezembro de 2015, foi afastada em 12 de maio de 2016 e cassada só em 31 de agosto de 2016). Uma eleição indireta ou direta teria que se dar com um intervalo de tempo que poderia variar de 90 dias até algo próximo de 150 dias. Nos parece muito tempo para um vácuo de poder na temperatura de crise política atual.

Tudo indica que se gesta uma alternativa que responda a essa variante, o tempo. No entanto, ao lado disso se apresenta o fato que a alternativa que resolva esse vetor inviabilize outro vetor essencial: a legitimidade necessária para enfrentar a instabilidade. Neste ponto, as coisas se complicam, porque todas as alternativas são problemáticas para os setores dominantes em disputa.

O presidente da Câmara, que assumiria para convocar as eleições, está envolvido na mesma denúncia que atingiu o usurpador. E pior: o Congresso que elegeria o presidente interino, em sua maioria, também está chafurdado na mesma lama que emporcalha os dois primeiros. Afastar um presidente por um crime de corrupção passiva (entre outros) e dar aos políticos envolvidos no mesmo crime o direito de nomear um sucessor é, para dizer o mínimo, complicado.

O teor da denúncia atinge 1829 candidatos e 28 partidos – dos 32 partidos registrados no TSE em 2014, somente quatro não estão envolvidos: o PCB, PSOL, PSTU e PCO. Isso significa que, dos 28 partidos com representação no Congresso, 27 estão envolvidos. Em um pais sério, as eleições de 2014 deveriam ser anuladas e os atos tomados pelos governantes e parlamentares desde então considerados nulos. Como, então, atribuir a esse Congresso o direito de indicar um sucessor para o usurpador?

Ainda que não questione a legitimidade de quem clama pela antecipação das eleições, existe um problema de fundo ignorado. Todas as distorções presentes no pleito passado estão inalteradas e, em certo sentido, agravadas pela mini reforma política imposta. Desde o financiamento privado de campanha, passando pelo poder dos meios de comunicação e a ingerência dos grandes interesses econômicos, até as máquinas partidárias e o uso do poder público (municipal, estadual e federal).

Do ponto de vista das classes dominantes, a antecipação abriria um cenário de agravamento da instabilidade – ainda que, no médio prazo, esse poderia ser o caminho para legitimar as medidas que agora se impõem com as ditas reformas. Para as classes dominantes e seus aparelhos (entre eles a Rede Globo), o central é garantir as reformas, nem que para isso seja preciso rifar o usurpador que eles tanto apoiaram.

Desta maneira, não me parece que as classes dominantes estejam, pelo menos agora, em um beco sem saída. Há pelo menos duas saídas para o atual beco…

O paradoxo, para a esquerda, consiste no seguinte problema. Os trabalhadores só têm um único caminho: a resistência contra as reformas. E o campo para isso, como se demonstrou no dia 28 de abril, é a Greve Geral e a luta nas ruas. Entretanto, ainda que valorosa e necessária, a ação de resistência pode contribuir com duas estratégias que em última instância são contrárias aos interesses dos trabalhadores: de um lado, favorecer a insolvência do governo usurpador (o que é muito bom) e propiciar a saída por cima promovida pela ordem (o que é muito ruim); por outro, criar as condições para, antecipando ou não as eleições, viabilizar a alternativa de Lula, que aponta para a tentativa de remendar o pacto social que um dia promoveu (o que não é nada bom).

Nossa alternativa deve ser criar as condições para barrar as reformas, seja por qual meio venham a se impor. Nosso dever é afirmar que a presente crise não clama por mais democracia representativa, mas indica seu mais evidente limite, o que exige urgentemente uma nova forma política. Existe uma terceira alternativa que se inscreve na medida em que a crise política se converte em crise do Estado. Mas quem a apresentou, interessantemente, a colocava como um perigo terrível a ser evitado. Sim, é aquela apresentada por Montesquieu em 1748: cada um querer ser igual ao que escolheu e comandá-lo; deliberar em lugar do Senado, executar em lugar dos governos e despojar todos os juízes. Enfim, governar a si mesmo. Chamamos isso de Poder Popular. O Barão pira… existem outros que se inquietam.” – Mauro Iasi no Blog da Boitempo

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ASSISTA:

“Melhor e Mais Justo”- Pra Onde Vai o Brasil?
Rede TVT recebe Vladimir Safatle

JORNAL TVT – 24/5/17

DOCUMENTÁRIO INDEPENDENTE – A CASA DE VIDRO:
NÃO TEMOS TEMPO A TEMER
Filmagem e narração: Renato Costa; Montagem: Eduardo Carli.

5 MATÉRIAS RELEVANTES DA IMPRENSA INTERNACIONAL SOBRE O “GOLPE DE ESTADO” NO BRASIL: The Guardian (UK), Glenn Greenwald (EUA), L’Humanité (França), Al Jazeera, CNN

I. THE GUARDIAN (Inglaterra) – Opinião de David Miranda

“A história da crise política no Brasil, e a mudança rápida da perspectiva global em torno dela, começa pela sua mídia nacional. A imprensa e as emissoras de TV dominantes no país estão nas mãos de um pequeno grupo de famílias, entre as mais ricas do Brasil, e são claramente conservadoras. Por décadas, esses meios de comunicação têm sido usados em favor dos ricos brasileiros, assegurando que a grande desigualdade social (e a irregularidade política que a causa) permanecesse a mesma.

Aliás, a maioria dos grandes grupos de mídia atuais – que aparentam ser respeitáveis para quem é de fora – apoiaram o golpe militar de 1964 que trouxe duas décadas de uma ditadura de direita e enriqueceu ainda mais as oligarquias do país. Esse evento histórico chave ainda joga uma sombra sobre a identidade e política do país. Essas corporações – lideradas pelos múltiplos braços midiáticos das Organizações Globo – anunciaram o golpe como um ataque nobre à corrupção de um governo progressista democraticamente eleito. Soa familiar?

Por um ano, esses mesmos grupos midiáticos têm vendido uma narrativa atraente: uma população insatisfeita, impulsionada pela fúria contra um governo corrupto, se organiza e demanda a derrubada da primeira presidente mulher do Brasil, Dilma Rousseff, e do Partido dos Trabalhadores (PT). O mundo viu inúmeras imagens de grandes multidões protestando nas ruas, uma visão sempre inspiradora.

Mas o que muitos fora do Brasil não viram foi que a mídia plutocrática do país gastou meses incitando esses protestos (enquanto pretendia apenas “cobri-los”). Os manifestantes não representavam nem de longe a população do Brasil. Ao contrário, eles eram desproporcionalmente brancos e ricos: as mesmas pessoas que se opuseram ao PT e seus programas de combate à pobreza por duas décadas.

Aos poucos, o resto do mundo começou a ver além da caricatura simples e bidimensional criada pela imprensa local, e a reconhecer quem obterá o poder uma vez que Rousseff seja derrubada. Agora tornou-se claro que a corrupção não é a razão de todo o esforço para retirar do cargo a presidente reeleita do Brasil; na verdade, a corrupção é apenas o pretexto.

O partido de Dilma, de centro-esquerda, conseguiu a presidência pela primeira vez em 2002, quando seu antecessor, Lula da Silva, obteve uma vitória espetacular. Graças a sua popularidade e carisma, e reforçada pela grande expansão econômica do Brasil durante seu mandato na presidência, o PT ganhou quatro eleições presidenciais seguidas – incluindo a vitória de Dilma em 2010 e, apenas 18 meses atrás, sua reeleição com 54 milhões de votos.

RATOS

Brasília: mais de 80.000 manifestantes anti-golpe nas ruas em 17 de Abril de 2016, quando a Câmara dos Deputados aprovou o processo de impeachment

Brasília: mais de 80.000 manifestantes anti-golpe nas ruas em 17 de Abril de 2016, quando a Câmara dos Deputados aprovou o processo de impeachment

A elite do país e seus grupos midiáticos fracassaram, várias vezes, em seus esforços para derrotar o partido nas urnas. Mas plutocratas não são conhecidos por aceitarem a derrota de forma gentil, ou por jogarem de acordo com as regras. O que foram incapazes de conseguir democraticamente, eles agora estão tentando alcançar de maneira antidemocrática: agrupando uma mistura bizarra de políticos – evangélicos extremistas, apoiadores da extrema direita que defendem a volta do regime militar, figuras dos bastidores sem ideologia alguma – para simplesmente derrubarem ela do cargo.

Inclusive, aqueles liderando a campanha pelo impeachment dela e os que estão na linha sucessória do poder – principalmente o inelegível Presidente da Câmara Eduardo Cunha – estão bem mais envolvidos em escândalos de corrupção do que ela. Cunha foi pego ano passado com milhões de dólares de subornos em contas secretas na Suíça, logo depois de ter mentido ao negar no Congresso que tivesse contas no exterior. Cunha também aparece no Panamá Papers, com provas de que agiu para esconder seus milhões ilícitos em paraísos fiscais para não ser detectado e evitar responsabilidades fiscais.

É impossível marchar de forma convincente atrás de um banner de “contra a corrupção” e “democracia” quando simultaneamente se trabalha para instalar no poder algumas das figuras políticas mais corruptas e antipáticas do país. Palavras não podem descrever o surrealismo de assistir a votação no Congresso do pedido de impeachment para o senado, enquanto um membro evidentemente corrupto após o outro se endereçava a Cunha, proclamando com uma expressão séria que votavam pela remoção de Dilma por causa da raiva que sentiam da corrupção.

Como o The Guardian reportou: “Sim, votou Paulo Maluf, que está na lista vermelha da Interpol por conspiração. Sim, votou Nilton Capixaba, que é acusado de lavagem de dinheiro. ‘Pelo amor de Deus, sim!’ declarou Silas Câmara, que está sob investigação por forjar documentos e por desvio de dinheiro público.”

Mas esses políticos abusaram da situação. Nem os mais poderosos do Brasil podem convencer o mundo de que o impeachment de Dilma é sobre combater a corrupção – seu esquema iria dar mais poder a políticos cujos escândalos próprios destruiriam qualquer carreira em uma democracia saudável.

Um artigo do New York Times da semana passada reportou que “60% dos 594 membros do Congresso brasileiro” – aqueles votando para a cassação de Dilma- “enfrentam sérias acusações como suborno, fraude eleitoral, desmatamento ilegal, sequestro e homicídio”. Por contraste, disse o artigo, Rousseff “é uma espécie rara entre as principais figuras políticas do Brasil: Ela não foi acusada de roubar para si mesma”.

O chocante espetáculo da Câmara dos Deputados televisionado domingo passado recebeu atenção mundial devido a algumas repulsivas (e reveladoras) afirmações dos defensores do impeachment. Um deles, o proeminente congressista de direita Jair Bolsonaro – que muitos esperam que concorra à presidência e em pesquisas recentes é o candidato líder entre os brasileiros mais ricos – disse que estava votando em homenagem a um coronel que violou os direitos humanos durante a ditadura militar e que foi um dos torturadores responsáveis por Dilma. Seu filho, Eduardo, orgulhosamente dedicou o voto aos “militares de 64” – aqueles que lideraram o golpe.

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Até agora, os brasileiros têm direcionando sua atenção exclusivamente para Rousseff, que está profundamente impopular devido a grave recessão atual do país. Ninguém sabe como os brasileiros, especialmente as classes mais pobres e trabalhadoras, irão reagir quando verem seu novo chefe de estado recém-instalado: um vice-presidente pró-negócios, sem identidade e manchado de corrupção que, segundo as pesquisas mostram, a maioria dos brasileiros também querem que seja cassado.

O mais instável de tudo, é que muitos – incluindo os promotores e investigadores que tem promovido a varredura da corrupção – temem que o real plano por trás do impeachment de Rousseff é botar um fim nas investigações em andamento, assim protegendo a corrupção, invés de puni-la. Há um risco real de que uma vez que ela seja cassada, a mídia brasileira não irá mais se focar na corrupção, o interesse público irá se desmanchar, e as novas facções de Brasília no poder estarão hábeis para explorar o apoio da maioria do Congresso para paralisar as investigações e se protegerem.

Por fim, as elites políticas e a mídia do Brasil têm brincado com os mecanismos da democracia. Isso é um jogo imprevisível e perigoso para se jogar em qualquer lugar, porém mais ainda em uma democracia tão jovem com uma história recente de instabilidade política e tirania, e onde milhões estão furiosos com a crise econômica que enfrentam.”

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II. L’HUMANITÉ (FRANÇA)

“Até recentemente golpes de estado, na América Latina, levantavam com razão uma onda de indignação. E agora. Como será? Depois de Honduras, em 2009, e do Paraguai, em 2012, agora é o Brasil que está às voltas com um golpe de estado institucional, e os motivos oficiais são mais do que obscuros.

Pode-se apostar que a ex-guerrilheira, que conheceu a prisão durante a ditadura militar (1964-1985), não renunciará às suas funções, a despeito das adversidades. E as direções dos partidos políticos que apoiam o Parido dos Trabalhadores, no poder, deverão se reunir nesta semana, da mesma forma como os movimentos sociais mobilizados nos últimos meses, em favor da democracia.

Mais de 100.000 pessoas se manifestam contra o impeachment de Dilma Rousseff no Recife, Pernambuco, em 24 de Abril de 2016.

Mais de 100.000 pessoas em manifestação no Recife, Pernambuco, em 24 de Abril de 2016.

Nada está escrito. A presidenta Dilma Rousseff “lutará ao lado de todos os que defendem a democracia no Brasil. Uma pessoa que acredita em causas como estas vai até o fim da luta para escrever uma história da qual não se afasta. Se é vítima de uma ação orquestrada (…) cabe a ela lutar com todas as forças para evitar uma brecha na democracia que foi duramente conquistada”, alertou o ministro José Eduardo Cardozo, após o voto pela remoção da inquilina do Palácio do Planalto. Cabe agora ao Senado decidir sobre este processo. Uma maioria simples será suficiente para excluir Dilma Rousseff, durante 180 dias, enquanto durar seu “julgamento” parlamentar. E o vice-presidente Michel Temer, no caso do impeachment, seria o interino. Aconteça o que acontecer, os partidários da presidenta, e da esquerda, não desistirão de dizer que a acusação é vazia.

Um voto dedicado ao sinistro carrasco Ustra

Ao contrário do que repete a direita brasileira, Dilma Rousseff não é acusada pelos escândalos de corrupção que minam a sociedade brasileira. A direita e ex-aliados do Partido dos Trabalhadores (PT), como o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) se aproveitam do mecanismo de destituição para afastar a esquerda e chegar ao poder que as urnas não lhes dá desde 2003.

Para isso, a presidenta deve ser reconhecida como responsável por um crime, ou um delito, de responsabilidade. As acusações feitas pelos detratores de Dilma Rousseff se baseiam-no fato de que ela teria falhado na execução do orçamento nacional, teria tomado medidas administrativas e financeiras excepcionais, em razão da crise econômica que sacode a oitava economia mundial, para assegurar a manutenção dos programas sociais. Seus antecessores haviam recorrido às mesmas medidas, mas com outros fins políticos, e sem despertar a mesma reprovação.

Os três dias de debate parlamentar que precederam o voto dos deputados demonstraram a grosseira farsa, sob a presidência de Eduardo Cunha, do PMDB, que é acusado pelo Ministério Público de ter contas milionárias na Suíça, depois de desviar dinheiro da companhia nacional de petróleo, a Petrobras.

As justificações dos 367 deputados que se pronunciaram pela destituição da presidenta, contra os 137 favoráveis a ela, dizem muito sobre suas motivações. Esses parlamentares falaram em nome de “Deus”, de sua “tia”, de sua “filha”, ou também em “garantias ao Brasil”. O ex-militar Jair Bolsonaro ousou dedicar seu voto ao coronel Ustra, sinistro carrasco reconhecido como tal pela justiça, pelas torturas que praticou durante a ditadura brasileira (1964-1985). Outros também votaram pela destituição achando que assim colocariam fim à “Central Única dos Trabalhadores e seus marginais”, e para “parar de dar dinheiro aos desempregados”. Para não esquecer: a maioria desses deputados são alvo da justiça, acusados de crimes de corrupção.

Bolsomitos Bolsonazi

A oposição neoliberal não digere a política de Lula

“Tenho vergonha de ser parte desta farsa, desta eleição indireta conduzida por um ladrão, chocada por um traidor e apoiada por torturadores, covardes e analfabetos políticos. Em nome dos direitos da população LGBT, pessoas negras exterminadas na periferia, os trabalhadores da cultura, sem teto, sem-terra, voto contra o golpe “, criticou o deputado Jean Wyllys, do Partido Socialismo e Liberdade, sob vaias homofóbicas da direita.

Uma semana antes, em uma manifestação de apoio a Dilma Rousseff, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva lembrou que a crise atual é parte da luta de classes no Brasil.

O jornal Zero Hora publicou uma pesquisa recente que revelou o perfil das pessoas que, nas últimas semanas, participaram de manifestações contra a presidenta. Mostrou que 91% são brancos, apenas 27% tem algum membro da família desempregado, 40 % tem renda acima de 10 salários mínimos. Enfim, 76 % votaram no candidato da direita Aécio Neves na última eleição presidencial, de 2014.

Aquela foi a quarta derrota consecutiva da direita depois da primeira eleição vencida pela esquerda desde 2002; ela está na origem do movimento golpista. A oposição neoliberal não digere mais o ciclo progressista iniciado por Lula após a vitória de 2002, a despeito de alguns aspectos controversos de sua gestão. “O que está em jogo não é o meu mandato. (…) O que está em jogo é o respeito da vontade soberana do povo brasileiro, o respeito pelas urnas. O que está em jogo são as conquistas sociais e direitos dos brasileiros “, disse Dilma Rousseff, em discurso à nação, algumas horas antes daquela votação.

Não tendo êxito em anular os resultados da eleição de 2014, depois de exigir uma recontagem dos votos, a direita recorre outra vez aos velhos demônios golpistas.

Fonte: Por Cathy Ceïbe, do L’Humanité, tradução José Carlos Ruy

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III. Glenn Greenwald, jornalista vencedor do Pulitzer Prizes:

NÃO É FÁCIL, para quem olha de fora, compreender todas as argumentações em jogo a respeito da crise política no Brasil e os esforços para depor sua presidente, Dilma Roussef, que venceu as eleições há apenas 18 meses, com 54 milhões de votos. A melhor maneira de entender a verdadeira natureza antidemocrática do que está acontecendo, no entanto, é olhar para a pessoa que os oligarcas brasileiros e suas organizações de mídia tentam empossar como Presidente: o Vice-Presidente Michel Temer, implicado em corrupção, extremamente impopular e servo fiel dos plutocratas. Dessa forma, torna-se claro o que realmente está acontecendo e porque o mundo deveria estar profundamente angustiado.

O chefe do New York Times no Brasil, Simon Romero, entrevistou Temer esta semana, e assim começa seu excelente artigo:

RIO DE JANEIRO – Uma pesquisa recente mostrou que apenas 2% dos brasileiros votariam nele. Ele está sob suspeita por conta de um depoimento que ligou seu nome a um enorme escândalo de propina. E uma alta corte da justiça decidiu que o Congresso deve considerar a abertura de impeachment contra ele. O Vice-Presidente do Brasil Michel Temer está se preparando para assumir o Brasil no próximo mês se o Senado decidir depor a Presidente Dilma Roussef em julgamento.

Como alguém, em pleno domínio da razão, pode acreditar que o sentimento anti-corrupção é o que move os esforços da elite para depor Dilma, quando estão empossando alguém com acusações de corrupção muito mais sérias que as da Presidente? É uma farsa evidente. Mas há algo ainda pior.

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A terceira pessoa na linha de sucessão presidencial, depois de Temer, foi apontada como um corrupto descarado: o fanático evangélico e presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Foi ele quem encabeçou os procedimentos do impeachment, embora tenha sido descoberto, no ano passado, por enviar milhões de dólares oriundos de suborno para contas no Swiss Bank, depois de ter mentido ao Congresso quando negou que possuía qualquer conta em bancos estrangeiros. Quando Romero perguntou a Temer sobre sua postura diante de Cunha uma vez que assumisse o poder, ele respondeu assim:

O Sr. Temer defendeu a si mesmo e seus principais aliados que estão sob uma chuva de acusações no esquema. Ele expressou apoio a Eduardo Cunha, o infame líder da Câmara que está chefiando os esforços do impeachment no Congresso, dizendo que não pediria a renúncia a Cunha. O Sr. Cunha será o próximo na linha de sucessão presidencial se Temer sair.

Isso demonstra, por si só, a farsa que está ocorrendo aqui. Como disse meu parceiro, David Miranda, hoje pela manhã em seu editorial no Guardian: “Está claro que a corrupção não é a causa dos esforços para depor a duas vezes eleita presidente; na verdade, a corrupção é um mero pretexto”. Em resposta, as elites da mídia no Brasil vão argumentar (como fez Temer) que, uma vez que Dilma seja impedida, os outros políticos corruptos serão certamente responsabilizados, mas eles sabem que isso não é verdade: e o alarmante apoio de Temer a Cunha deixa isso claro.

De fato, reportagens indicam que Temer planeja nomear, como Advogado Geral da União – cargo chave do Governo na investigação da corrupção – um político especificamente indicado por Cunha para o cargo…

Duas semanas atrás, a agência Reuters reportou que a primeira escolha de Temer para chefiar o Banco Central é o presidente do Goldman Sachs no Brasil, Paulo Leme. Hoje a Reuters reportou que “Murilo Portugal, o chefe do mais poderoso lobby da indústria bancária do Brasil” – e um antigo executivo do FMI, “surgiu como um forte candidato a assumir o Ministério da Fazenda se Temer tomar o poder.” Temer também disse que vai implementar a austeridade para a população do Brasil que vem sofrendo: ele “pretende reduzir o tamanho do governo” e “cortar os gastos.”

Enquanto isso, as organizações de mídia dominantes como Globo, Abril (Veja), Estadão – profundamente discutidas no editorial de Miranda – estão virtualmente unidas no apoio ao impeachment – como em No Dissent Allowed – e têm incitado os protestos de rua desde o início. O que isso revela? Os Repórteres sem Fronteiras publicaram ontem seu Ranking de Liberdade de Imprensa de 2016, e o Brasil aparece em 103° lugar, por conta da violência contra jornalistas, mas, também, por causa deste importante fato: “A propriedade dos meios de comunicação continua muito concentrada, especialmente nas mãos de grandes famílias ligadas à indústria que são, muitas vezes, próximas da classe política”. Não é evidente o que está acontecendo aqui?

Então, em resumo: as elites financeira e midiática do Brasil fingem que a corrupção é a razão para remover a presidente eleita duas vezes, enquanto conspiram para instalar e empoderar as figuras políticas mais corruptas do país. Os oligarcas brasileiros terão êxito em tirar do poder um governo de esquerda moderada que ganhou quatro eleições consecutivas, supostamente representando os pobres do país, e estão literalmente entregando o controle da economia brasileira (a sétima maior do mundo) ao Goldman Sachs e os lobistas da indústria bancária.

A fraude que está sendo levada a cabo aqui é tão barulhenta quanto devastadora. Mas é o mesmo padrão que vem sendo repetidamente observado ao redor do mundo, particularmente na América Latina, quando uma pequena elite trava uma guerra , em seu próprio interesse e proteção, contra os fundamentos da democracia. O Brasil, quinto país mais populoso do planeta, tem sido um exemplo inspirador de como uma jovem democracia pode amadurecer e prosperar. Mas agora, essas instituições e princípios democráticos estão sendo agredidas pelas mesmas facções financeiras e midiáticas que suprimiram a democracia e impuseram a tirania neste país por décadas.” – Glenn Greenwald

LEIA NA ÍNTEGRA

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CNN

AL JAZEERA

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MANIPULAÇÃO MIDIÁTICA & ANALFABETISMO POLÍTICO – O papel(ão) da mídia corporativa na crise política brasileira [por Eduardo Carli de Moraes]

O Brasil parece empenhado em dar provas, às mancheias, da tese de Joseph Pulitzer (1847 — 1911): “Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma”.  Vale lembrar que “pela Constituição brasileira os meios de comunicação são concessão do Estado e deveriam atender aos interesses universais e não privados”, como lembra a reportagem da Carta Maior.

Porém, o abismo entre a nossa realidade e o nosso ideal constitucional escancara-se em nosso país onde a comunicação social tradicional é controlada por mega-corporações capitalistas chefiadas por 5 ou 6 grandes famílias. Dando nome aos bois – ou melhor, aos magnatas – vivemos sob o poderio midiático excessivo (e absolutamente desproporcional aos (des)serviços prestados ao bem comum) dos Marinho, da Globo; de Edir Macedo, da Record; de Silvio Santos, do SBT; dos Civitas (do Grupo Abril, que publica a revista de maior vendagem no país, a Veja); dos Frias (Grupo Folha); dos Mesquita (O Estado de S. Paulo) (Saiba mais: BBC Brasil). 

“A imprensa empresarial privada e monopolizada é, por definição, anti democrática. Vale dizer, atende aos interesses de grupos e não aos interesses da sociedade no seu conjunto. O argumento de que o controle social da mídia é censura dissimula o caráter de censura da grande mídia empresarial ao pensamento divergente, fermento da ordem democrática. Os estudos acadêmicos sobre o caráter parcial, direcionado, seletivo da grande mídia monopolizada são abundantes. No plano internacional, as análises de um dos maiores sociólogos do Século XX, o francês Pierre Bourdieu, e do linguista e cientista político Noam Chomsky, mostram o quão parcial e demolidora dos direitos à informação livre é a mídia monopolizada mundialmente.” (FRIGOTTO, G. A Mídia Empresarial e a Corrosão dos Valores Democráticos, na Revista Carta Maior

Atual presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o sociólogo Jessé de Souza escreveu em Carta Capital um artigo notável em que desvenda um pouco da maquinaria daquilo que chama de “o golpe midiático-jurídico”, em curso e em despudorada ascensão, que conecta-se explicitamente a uma tendência social fascista:

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“O fascismo não nasce da noite para o dia. Ele vai crescendo no dia a dia contando com nosso medo, nossa ingenuidade real ou midiaticamente construída e nossa pusilanimidade.  A atuação da mídia conservadora dominante entre nós é abertamente fascista ainda que, aqui e acolá, se publique a opinião de alguém da esquerda para se tirar onda de imparcial.

(…) Ao invés de esclarecer a complexidade dos interesses sociais em disputa, a mídia conservadora os encobre e cria bodes expiatórios como a corrupção apenas estatal e de apenas um partido. É um jornalismo que não educa seu público de leitores, nem eleva sua capacidade de compreensão. Ao contrário, os mantêm cativos no mundo da repetição e da manipulação e não do aprendizado. O problema é que o povo hoje imbecilizado pode se lembrar que um dia foi inteligente e começar a pensar por si próprio. Nunca a manipulação midiática ficou tão óbvia quanto agora.

O mote desde 1954 deste mesmo jornalismo – inclusive com os mesmos órgãos de imprensa que atuaram no suicídio de Getúlio e no golpe contra Jango em 64, atuando também no mesmo sentido social e político no “lava jato” de hoje –  é a “corrupção seletiva”. Por exemplo: os esquemas de corrupção em empresas estatais existem há décadas, mas só interessam as do período recente e, assim por diante, de fio a pavio um óbvio e escancarado “interesse seletivo” no combate à corrupção.

Parece impossível que exista alguém tão imbecilizado pelo veneno midiático que não perceba o real sentido deste jogo. “Seletividade”, aliás, é a palavra chave deste golpe. Mas o desespero dos “golpistas irmanados” com a queda no seu “ibope” e no interesse do público – afinal a operação é “midiática” – os fez ultrapassar todos os limites do razoável. (…) A imprensa conservadora é o real braço partidário da ínfima elite do dinheiro que tem também “no bolso” boa parte do Congresso Nacional para a defesa de seus interesses. Mas para “legalizar” o golpe é necessário se encontrar uma “aparência” de legalidade.

Os militares cumpriram esse papel no passado. Agora são os interesses corporativos de aparatos estatais que deveriam zelar pela ordem jurídica – suprema ironia – que se travestem de supostos defensores da “higiene moral da nação” – outra óbvia ideia fascista que nunca acabou bem em nenhum caso histórico – para garantir privilégios corporativos e se apropriar da “agenda de Estado” e, assim, mandar sem voto.” (JESSÉ DE SOUZA, O golpe midiático-jurídico e sua noite dos cristais)

Fora do Brasil, alguns dos melhores analistas da geopolítica também já forneceram boas análises do “golpismo midiático”, caso de Glenn Greenwald, jornalista escolhido por Snowden para revelar ao mundo a espionagem do governo americano via NSA (National Surveillance Agency):

“A mídia corporativa brasileira age como os verdadeiros organizadores dos protestos e como relações-públicas dos partidos de oposição. (…) Para se ter uma noção do quão central é o papel da grande mídia na incitação dos protestos: considere o papel da Fox News na promoção dos protestos do Tea Party. Agora, imagine o que esses protestos seriam se não fosse apenas a Fox, mas também a ABC, NBC, CBS, a revista Time, o New York Times e o Huffington Post, todos apoiando o movimento do Tea Party. Isso é o que está acontecendo no Brasil: as maiores redes são controladas por um pequeno número de famílias, virtualmente todas veementemente opostas ao PT e cujos veículos de comunicação se uniram para alimentar esses protestos. Resumindo, os interesses mercadológicos representados por esses veículos midiáticos são quase que totalmente pró-impeachment e estão ligados à história da ditadura militar.” (GLEN GREENWALD, Leia a matéria completa em Geledés)

PIG

Ilustração: Carlos Latuff

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GLOBO

Pig 2É por essas e outras que o próximo dia 1º de Abril – data ilustre no Brasil, pois é tanto o Dia da Mentira quanto a data de início da Ditadura Empresarial-Militar de 1964-1985 – promete ser “quente” na frente das sedes da mais poderosa empresa midiática brasileira. A Rede Globo, mancomunada com outras empresas poderosas da mídia brasileira, todas elas integrantes da elite econômica e que agem de modo cada vez mais aberto como Partido de Oposição (o “P.I.G.” – ou Partido da Imprensa Golpista, satirizado em tantas charges de Latuff), querem que esqueçamos a história lamentável de autoritarismo que marcam, como nódoas de sangue, a suposta brancura dessa mídia plutocrática e manipuladora. Como lembra o artigo do Coletivo Intervozes, para Carta Capital:

 Estadao

“Ilude-se quem acredita que à imprensa coube apenas cobrir as manifestações do dia 13/03, espalhadas nos 26 estados da federação e no Distrito Federal. A mídia foi um componente central de sua própria concretização. Algo que se deu não só com a vinheta do “Vem Pra Rua”, tocada ao longo de 24 horas por dia na Rádio Transamérica de São Paulo, ou com o assustador editorial do Estadão deste domingo, que convocou “os cidadãos de bem” a “mostrar seu poder inequivocadamente”, valendo-se, para isso, de uma série de adjetivos e acusações de crimes que não apenas negava, mas destruía seus opositores.

Esses são exemplos claros da atuação midiática. A formação da opinião pública, contudo, pode ser um processo sutil. Não precisa transpirar ódio – aliás, é melhor que não o faça, senão o jogo fica muito descarado. Vale mais apostar em frases simples repetidas à exaustão e na invisibilização de opiniões divergentes – rasgando qualquer manual de bom jornalismo. Foi o que assistimos pelo menos nos últimos 15 meses, quando a mídia, de forma sistemática, colou a ideia da corrupção em apenas determinados grupos e consolidou a avaliação de que este é ‘o pior governo de todos os tempos’. Isso culminou em narrativas capazes de convencer qualquer ‘cidadão de bem’ de que sua obrigação cívica, neste dia 13, era mesmo ir para as ruas.” (Bia Barbosa e Helena Martins, na Carta Capital: http://www.cartacapital.com.br/blogs/intervozes/o-papel-da-midia-nas-manifestacoes-do-13-de-marco)

Vale lembrar, é claro, que “Cidadão de Bem” era o nome do jornal da Klu Klux Klan, organização racista que perpetrou inúmeras atrocidades contra minorias estigmatizadas nos EUA. É bastante bizarro ver uma mídia já condenada na Justiça por corrupção – como a Globo, notória sonegadora de impostos – nesta cruzada contra a corrupção onde acirra os ânimos dos “cidadãos de bem” para que destruam sem misericórdia o governo de Dilma Roussef, re-eleita com mais de 54 milhões de votos nas últimas eleições presidenciais.

Distopia que denuncia e satiriza o Totalitarismo, "1984" de George Orwell não era um manual de instruções

Distopia que denuncia e satiriza o Totalitarismo, “1984” de George Orwell não era um manual de instruções…

A desinformação propagada pela mídia corporativa tem que “responder”, inclusive criminalmente, pelos intentos golpistas e dogmaticamente partidários com que promove suas manipulações de massas de manobra e suas lavagens cerebrais ideológicas. A mídia vem agindo sobre os telespectadores um pouco como as teletelas de 1984, por toda parte espalhadas  na sociedade totalitária gerida pelo Partido do Grande Irmão, no romance de George Orwell (e bem sabemos que 1984 era um alerta em formato distopia, e não um manual de instruções!).

A mídia têm muita responsabilidade na “banalidade do mal” que já está entre nós: o de fascistas saindo do armário, defendendo abertamente o golpe de estado através da intervenção militar, a pena-de-morte pra “vagabundo”, a disseminação da posse das armas de fogo (tendo como modelo a trigger-happy-land dos Yankees), a diminuição da maioridade penal (que incidirá, é claro, somente sobre pobres e favelados…), o avanço dos presídios privados, a entrega do pré-sal aos interesses do capital internacional dos oilmen etc. Também há culpa no cartório dos paladinos da mídia na atual onda de rubrofobia, satirizada e criticada por Alceu Castilho: é uma nova encarnação da idiotia do fascismo tupiniquim, que como um touro irracional começa a atacar com agressividade qualquer pano vermelho.

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“O rubrofóbico tem intolerância aos comprimentos de onda mais longos (entre os visíveis): a cor vermelha. Fica agressivo ante à possibilidade – que ele imagina muito concreta – de a bandeira brasileira ser tingida dessa forma. Nesses poucos segundos ele decide que os jovens na Esplanada dos Ministérios, todos do movimento negro, são petistas; e que, portanto (raciocina ele), devem portar alguma assinatura cromática. “A nossa bandeira nunca será vermelha”, grita. E cospe no diretor de Combate ao Racismo da União Nacional dos Estudantes (UNE), Rodger Richer. Cospe.

A cena ocorreu no domingo (13/03/2016). E não foi a única em Brasília. Outros ativistas do movimento negro foram vítimas dessa violência específica – conjugada com o mais puro racismo. E não seria preciso mais nenhum exemplo para caracterizar a consolidação desse formato brasileiro de fascismo explícito: uniformizado (com usurpação das cores verde e amarela), uma raiva taurina de determinados oponentes (filiados a determinado partido, negros, usuários de camisetas vermelhas), um ódio espumante, a disposição à violência e à exclusão. Gente perigosa, portanto.

Esse tipo de fascismo afirmou-se em 2013, durante as manifestações que começaram reivindicando passe livre e acabaram como ponto de encontro da extrema direita. Vem se consolidando em duas frentes: a violenta e a patética. A face violenta é intrínseca, fruto de uma intolerância conhecida em setores mais extremistas das torcidas de futebol. A face patética comporta cenas que seriam risíveis, não trouxessem embutidas essa violência discriminatória e sem limites. (…) É conveniente para alguém que essa insanidade se alastre?” (CASTILHO, A. Rubrofobia: fascismo brasileiro consolida sua intolerância bruta a uma cor, In: Outras Palavras)

Quem é que ajudou a chocar o ovo da serpente deste fascismo, hoje em disseminação, senão esses oligopólios midiáticos, repletos de indignação seletiva, incitadores de linchamentos, prontos ao discurso de ódio, à difamação e à conclamação à caça-às-bruxas quando se trata de derrotar adversários políticos? Nesta perspectiva, não vejo muita diferença qualitativa entre âncoras como Raquel Sherazade e Datena, que são abertamente facínoras-de-direita, e os William Bonners deste mundo, muito polidos e engravatados em seu golpismo elitista de burgueses bem aprumados. Uma das jornalistas independentes mais relevantes e mais lidas do Brasil, Cynara Menezes – a Socialista Morena – escreve:

Aecio Safadao

“Há cinco anos venho alertando para o perigo do crescimento da extrema-direita no Brasil. A concepção de que ‘contra o PT vale tudo’ levou os meios de comunicação a alimentarem (de)formadores de opinião que, sob a desculpa da liberdade de expressão, se acham no direito de dizer barbaridades e incentivar o ódio à esquerda. Colunistas, articulistas e apresentadores reaças ganharam espaço na TV, em revistas e nos jornais. Todos eles exemplares da direita furiosa, que espuma pela boca. Perfeitos imbecis perfeitamente incorretos que acham normal justiceiros atarem menores infratores a postes ou que se acham no direito de perseguir minorias e defender as torturas na ditadura militar. São estes ‘exemplos’ que estão influenciando nossos jovens e é isso que está se refletindo nas ruas e nas redes sociais, infestadas de agressores.

A oposição, representada sobretudo pelos tucanos, uma espécie de alterego da velha mídia, faz o mesmo desde 2010, quando José Serra, desesperado para ganhar a eleição, se aliou a fundamentalistas religiosos que acusavam a então candidata Dilma Rousseff de ser ‘abortista’. No Congresso, sedentos pela volta ao poder, os tucanos se articularam com o que há de pior na política brasileira: os mesmos fundamentalistas religiosos com suas pautas da Idade Média e também os ruralistas, aquela gente que quer exterminar os índios e nos empurrar agrotóxicos e transgênicos goela abaixo. Sempre oportunista, o PSDB não teve pruridos em se juntar até mesmo ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o fundamentalista religioso homofóbico que tem contas na Suíça.

Mas, como adverti, chocar o ovo da serpente é complicado, porque periga a cobra se voltar contra o criador. Cría cuervos y te sacarán los ojos, diz um velho ditado espanhol que gosto de lembrar. Cria corvos e te arrancarão os olhos. Não deu outra. No domingo 13, o candidato derrotado Aécio Neves, o governador Geraldo Alckmin e outros políticos do PSDB foram escorraçados da avenida Paulista aos gritos de “ladrão, ladrão” pelo mesmo grupo que ajudaram a insuflar. Na quarta-feira 17, mesmo liberando a Paulista para os manifestantes, ao contrário de reprimi-los, como fez com os estudantes das escolas ocupadas, o secretário de segurança de Alckmin teve seu carro chutado e acabou expulso da manifestação.

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Desde que se anunciou a indicação do ex-presidente Lula para a Casa Civil, os ânimos se acirraram ainda mais. Nos telejornais, as emissoras regem as manifestações. Na noite em que foi divulgado que Lula aceitara o convite para integrar o governo, o canal GloboNews começou a abertamente convocar pessoas para irem às ruas. No domingo anterior, em editorial à imagem e semelhança dos publicados às vésperas do golpe de 1964, o jornal O Estado de S.Paulo dizia: “Basta!” E convocava os “brasileiros de bem” a ir às ruas para ajudá-los a derrubar a presidente legitimamente eleita.

O resultado disso tem se mostrado diante das câmeras das próprias emissoras: pessoas sendo atacadas pelos tais “brasileiros de bem” apenas por usarem camisetas vermelhas ou se dizerem favoráveis ao PT, a Lula e a Dilma. Um rapaz de bicicleta vermelha foi agredido na avenida Paulista por “ter cara de petista”; o mesmo aconteceu com um casal de namorados; também em São Paulo, um menino de 17 anos recebeu tapas na cabeça e por pouco não foi espancado por dizer “não vai ter golpe”; em Caxias do Sul, um grupo de manifestantes pró-impeachment acossou um rapaz de camiseta vermelha, acompanhado de uma mocinha, na parede; e, em Brasília, os verde-amarelos gritavam “Comunistas!” “Desocupados!” “Vagabundos!” para os apoiadores de Dilma e do ex-presidente.

Vivemos dias tenebrosos. Ninguém pode prever o que será de nosso país. Empenhado em prender Lula e derrubar Dilma, o consórcio mídia-oposição parece disposto a continuar chocando o ovo da serpente, sem a menor responsabilidade para com o futuro do Brasil. Amanhã, dia 18 de março, haverá manifestação da esquerda em todo o país. Os reacionários não foram perturbados em seu protesto do dia 13 e puderam pedir “intervenção militar” e outros absurdos tranquilamente. Saberão fazer o mesmo, respeitar a presença maciça da esquerda, vestida de vermelho, na rua? E a oposimídia, saberá controlar seus fascistas de estimação ou eles estão realmente fora de controle? Quem é mesmo que está querendo transformar o Brasil numa Venezuela, afinal?

O mais preocupante é saber que, se algo de mais grave acontecer, nem a mídia nem a oposição serão capazes de admitir sua parcela de responsabilidade no clima ruim que está nas ruas. Sempre poderão alegar que é “culpa do PT”. (MENEZES, Cynara. Mídia e oposição perderam o controle de seus fascistas de estimação. Por Socialista Morena / Cynara Menezes. [http://bit.ly/1R88BIQ])

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Este desserviço cotidiano perpetrado pela mídia contra a mente dos brasileiros submetidos ao seu besteirol imbecilizante e às suas manipulações ideológicas reducionistas e interesseiras talvez explique o grau de analfabetismo político que manifesta-se por aí, nas ruas e nas caixas de comentários. Que está lá, inclusive, em uma coluna da Folha De S. Paulo, onde o inacreditável “líder mirim da Direita”, Kim Kataguiri, compara a massa de brasileiros na Avenida Paulista com peças necessárias para montar o Super-Robô dos Power Rangers:  “Com seis anos, eu lutava contra monstros que eram derrotados e voltavam gigantes. Lula, depois de ter sido derrotado no mensalão, voltou ainda maior no petrolão. Os Rangers uniam-se e fundiam seus veículos para compor o robô gigante. Precisamos de algumas centenas de milhares de brasileiros para montar o nosso.” (FSP)

Beira o inacreditável que o, por assim dizer, “movimento Fora Dilma” possa levar a sério, e com credulidade e obediência, toda essa imaturidade e idiotismo político que vaza da boca de Kataguiris e congêneres. E o mais surpreendente é que um jornalão como a Folha de São Paulo desses permita-se o mico editorial de ter entre seus colunistas um “pensador político” (digamos assim…) deste nível – sabemos que ele não é exatamente o novo Maquiavel ou Marx… – lado a lado com alguns dos melhores pensadores do Brasil contemporâneo, como Guilherme Boulos e Vladimir Safatle. 

Há muitos exemplos tragi-cômicos desta situação: uma pesquisa realizada por Pablo Ortellado e Esther Solano, na Avenida Paulista, durante a mega-manifestação do dia 15 de Março de 2015, revelou as seguintes “opiniões”, sintomáticas do quadro endêmico de desinformação midiática e analfabetismo político de certa fatia dos paulistas (aquela gente que tomou  conta, ruidosamente, uniformizados com camisetas da CBF e agraciados com o filé mignon da FIESP, bradando contra os “petralhas” na Av. Paulista em 15/03/2015 e em 13/02/2016):

Analfabetismo Político

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Um bom comentarista do quadro desta “classe mérdia” que se aferra a seus privilégios e deseja ser elite é, novamente, o presidente do Ipea, Jessé Souza [http://bit.ly/1pk7leB], que teve um perfil interessante traçado pela seguinte matéria da Geledés – Instituto da Mulher Negra:

Os últimos seis meses foram de tormentas para o sociólogo potiguar Jessé Souza, 55 anos. Sua obra – até então festejada nos redutos acadêmicos – tem saído das estantes direto para as mãos daqueles que procuram uma explicação para o caos econômico e político em que se meteu o país. O que diz nem sempre agrada. Algumas polêmicas rendem réplicas e tréplicas nas páginas dos jornais, acrescidas de golpes baixos nas redes sociais e menções nas apaixonadas rinhas políticas da era Lava Jato. “Até agora, só me xingaram. Estou à espera de um debate de verdade”, provoca o autor de A tolice da inteligência brasileira, A ralé brasileira e de Os batalhadores brasileiros.

Entre suas teses que mexem com o juízo dos detratores está a de que o maior problema do Brasil não é a corrupção – como proclamam multidões em fúria, alguns decibéis acima do normal –, mas a desigualdade. Séculos de convivência com diferenças oceânicas entre ricos e pobres teriam naturalizado a violação de direitos mais básicos e o sistema de privilégios para o 1% de endinheirados. Nada de novo, não fosse o desdobramento de sua afirmação.

Para Souza, paralelo às redes de indignação o que pulsa é o desejo de desmanchar políticas sociais nascidas de diminuir as distâncias entre os brasileiros. Não vem de hoje. Foi assim com Vargas, com Jango e agora com Dilma. As classes médias, afirma, se rendem ao discurso moralizador sem perceber que estão sendo usadas pelos donos do capital. Julgando se diferenciar dos corruptos, nada mais estariam fazendo do que o jogo dos grupos que reivindicam um Estado que funcione a seu favor. Ao bater as panelas da moralidade, entende, os médios alimentam a ilusão de que estão mais próximos das elites, com as quais estabelecem um misto de admiração e ressentimento. “É uma relação sadomasoquista”, resume. (GELEDÉS, Leia a matéria completa em: Para Jessé de Souza, classe média é sadomasoquista ao apoiar elites @geledes on Twitter | geledes on Facebook)

Já passou da hora dos movimentos sociais focarem sua ação direta também na urgente necessidade de uma revolução nesta mídia plutocrática e estupidificante. Ela gera em seu público uma atitude de gangue e faz mal ao debate cívico nacional tornando a ágora repleta de papagaios acríticos de Constantinos e de Diogos Mainardis, de Olavos de Carvalho e de Lobões esbravejantes. A mídia golpista é uma sórdida cúmplice de nosso quadro de analfabetismo político grotesco. E é como manifestação de extremo analfabetismo político que vejo muitas das atitudes daqueles que lançam-se, fanáticos, à campanha do impeachment de Dilma Rousseff, com uma visão curta, imediatista e encegada por uma histeria midiaticamente condicionada.

Como se Dilma fosse um novo Collor – uma falsa analogia e péssima igualação histórica entre cenários completamente diferentes. Para começar, quantos brasileiros saíram às ruas para defender Collor no auge do movimento civil por sua destituição? Nem mesmo cem gatos pingados. Em 18 de Março de 2016, porém mais de 1 milhão e 500 mil brasileiros repudiaram nas ruas o golpismo paraguaiano contra Dilma e celebraram a nomeação de Lula como Ministro da Casa Civil.

Mc Sofia no palco Canto da Democracia em São Paulo!

MC Sofia, de 11 anos, faz um rap no palco @ Canto da Democracia, em São Paulo, 18 de Março de 2016, Avenida Paulista.

Recife

200 mil nas ruas em Recife/Pernambuco. 18/03/2016.

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18/03/2016: “Canto da Democracia” leva 500 mil pessoas à Av. Paulista

VÍDEO RECOMENDADO:  Juca Ferreira, Ministro da Cultura, recomenda o vídeo da Mídia NINJA: “Alta potência. O coro das ruas em defesa da democracia e do resultado das urnas.” ‪#‎VemPraDemocracia‬ASSISTA JÁ >>> Mergulhe em cenas do histórico dia 18 de Março de 2016, quando éramos mais de 1,5 milhão de brasileiros nas ruas, e ouça as palavras de Lula proferidas perante mais de 500 mil cidadãos na Avenida Paulista (não, neste dia não havia nenhum vidiota de joelhos diante do Pato da Fiesp…)

Muitos daqueles que querem o impeachment o fazem sem nem parar para pensar se há qualquer prova de desvio de verba pública ou dano ao bem comum praticado pela presidenta (não, não há nada além das comuníssimas “pedaladas fiscais”). Esbravejam de modo acéfalo em prol do impedimento, sem perceberem que são títeres de uma corja elitista de corvos corruptos, que deseja chegar ao poder e parar as investigações em que estão profundamente comprometidos: Aécio, Cunha, Serra, Renan, Temer… é esta a aristocracia ideal com a qual vocês sonham, ó Coxanato que papagueia o Califado Midiático? É essa a corja que vocês querem vocês que nos (Des)governe?!? Em texto publicado na Folha de São Paulo,  13/03/2016, Lindbergh Farias bradou, em tom destoante do establishment do jornal, que o “Golpe está fadado ao lixo da história”. Ele argumentava:

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“A peça de impeachment contra Dilma, que o Brasil inteiro viu Eduardo Cunha acolher por pura vingança, é incapaz de citar um único fato desabonador de participação direta da presidente. É público e notório, e até os juristas defensores do impeachment admitem envergonhados, inexistir comprovação de dolo ou participação direta da presidente em quaisquer crimes. (…) Dilma não cometeu crime e é muito mais honesta que seus algozes. O que existe são denúncias vazias em torno das tais “pedaladas fiscais”. Caso pedaladas acarretassem perda de mandato, a maioria dos governadores e prefeitos de todos os partidos igualmente seria cassada. Foi e é prática corriqueira.

(…)  Participei ativamente da campanha pela destituição de Fernando Collor. Posso testemunhar que a proposta de impeachment só prosperou após serem colhidas, por uma CPI Mista do Congresso, provas documentais e testemunhais de contas fantasmas administradas por PC Farias, que, entre outros delitos, repassava dinheiro para cobrir gastos pessoais, inclusive para subsidiar despesas da residência oficial. Contra Dilma não há nada. Pode-se discordar de seu governo, mas ninguém contesta sua honestidade. Não existem, portanto, parâmetros históricos de comparação entre as campanhas de impeachment de Collor, em 1992, e as tentativas canhestras de deposição de Dilma.

BolsomitosNa época, o Brasil uniu-se para afastar Collor. As provas eram claras para todos. A campanha do impeachment de hoje divide tragicamente o país, criando uma crise política permanente e paralisando a economia. Decidiu-se primeiro que Dilma não pode governar. Buscou-se depois um pretexto qualquer para o impeachment. Neste domingo (13/03/2016) ocorrerão manifestações em todo o Brasil. Respeito todas por formação democrática. Discordo democraticamente, todavia, de quem não se constrange em participar de passeatas com Bolsonaros da vida, que em pleno século 21 defendem a volta à ditadura.” (Lindbergh Farias, Folha de São Paulo)

 

Vitor Teixeira

O golpe midiático-jurídico tem até seu super-herói – e não me refiro aos Power Rangers de Kim Kataguiri. Um raio-X do “herói” das elites econômicas golpistas – que conseguiram fazer com que sua visão-de-mundo e seu “anjo exterminados” fosse compartilhada por vastas massas de telespectadores e leitores crédulos – é oferecido por Luis Felipe Miguel, professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, onde edita a Revista Brasileira de Ciência Política e coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades – Demodê:

“O juiz Sérgio Moro, por mais que em seus sonhos vista a fantasia de Mussolini de Curitiba, é apenas uma engrenagem. É um pobre coitado que fica feliz de tirar fotos ao lado de João Doria Jr. Ele é tão útil, e por isso assumiu uma posição de protagonista, por causa de sua completa falta de limites, de sua amoralidade, de seu desprezo olímpico pelos direitos; em suma, por causa de sua falta de compostura. Os tempos mudaram, as práticas são outras, mas Moro cumpre hoje uma função similar à de um delegado Fleury durante a ditadura. É o mastim que faz alegremente, balançando o rabo, o trabalho mais sujo.

O escandaloso grampo que atingiu a presidente da República, com o compadrio escancarado com a mídia que também foi revelado de forma indiscutível, mostra a depreciação final da magistratura em benefício do golpe. Moro não age como juiz, age como golpista e desistiu de fingir que não é assim. O diálogo ilegalmente gravado de Dilma com Lula não prova nada, exceto o desespero da direita com a nomeação do ex-presidente para a Casa Civil e sua vontade de acelerar o golpe. A mídia, sendo a mídia que é, não se dá ao trabalho de apresentar interpretações minimamente equilibradas. É a maquinaria do golpe em andamento. Polícia e judiciário de um lado, a mídia de outro, a massa dos novos direitistas tocando fogo nas ruas, tudo para forçar uma solução apressada, contrária à Constituição e antidemocrática para a crise.

O golpe já está na rua. É hora de ver qual será a resposta das mulheres e dos homens comprometidos com a democracia. Para a esquerda, vale o recado: é possível condenar o governo Dilma, é possível criticar Lula por todos seus vacilos e recuos. Mas se o governo cair e se Lula for vítima do cerco ignóbil armado contra ele, quem dança é a esquerda brasileira inteira, que será inviabilizada como projeto de poder por décadas. Quem dança é o horizonte de uma sociedade igualitária, é a ideia de democracia como poder do povo sem tutelas, é a noção de que as liberdades devem ser protegidas para todos. É hora de focar no que é essencial, é hora de barrar o golpe.” (Luis Felipe Miguel, É Hora de Barrar o Golpe)

Moro GOlpista

LulaEm sua “edição especial da crise”, lançada em 16 de Março de 2016, a revista Carta Capital trouxe em sua capa o seguinte: Lula e o complô – Ameaçado de prisão sem provas, o ex-presidente reage ao cerco. Mino Carta explica o que quis dizer com o termo complô em matéria onde pinta a figura de Sérgio Moro como peão fundamental do xadrez político orquestrado pela “mídia do pensamento único, porta-voz da minoria, transformada em partido de oposição”:

“Moro foi admiravelmente atendido pela polícia para montar um show carnavalesco que envergonha o País aos olhos do mundo e exibe, ao cabo, a ausência de uma Suprema COrte pronta a impor o império da lei. Duzentos policiais, armados até com metralhadoras, invadiram às 6 da manhã de sexta-feira, 04 de Março de 2016, a residência do ex-presidente da República e o Instituto Lula, e não surpreende que as reportagens dos jornalões tivessem chegado aos locais meia hora antes enquanto o helicóptero da Globo sobrevoava a área. Nada de espanto, de todos os pontos de vista: o complô é midiático-policial, e Moro aí está para atiçar o fogo. (…) O poder corrompe, a fama também. Ao longo da Lava Jato, Moro empolgou-se e engajou-se em uma operação bem maior do que a própria sob seu comando. Endeusado pelos golpistas, santificado em todas as instâncias midiáticas, Moro tripudia a se valer da insensatez geral, nutrida pela crença de que a verdade é aquela que nos convém.

(…) Está claro que o escândalo da Petrobras não foi inventado e é bom que os corruptos sejam exemplarmente punidos. Ofende os espíritos democráticos, entretanto, e exibe a precariedade e o descalabro da situação, a omissão a respeito das falcatruas anteriores, cometidas às claras, inclusive na própria Petrobras, pelo governo tucano… que tanto apraz à casa-grande. De todo modo, foi um show de truculência encenado pela Polícia Federal na sexta-feira (04/03) entre São Bernardo do Campo e as alturas do Ipiranga. Programa tão bem preparado, esmerilhado nos detalhes infinitesimais e enfim levado a cabo na exasperação magistral de uma violência adequada à caça de um Dillinger ou de um Bin Laden…” (MINO CARTA, A Origem do Complô, Carta Capital #892, p. 20 – 24)

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Post do Iconoclastia Incendiária: “O Juiz Moro já esteve presente na mídia antes, na verdade em um dos maiores escândalos de corrupção do Brasil, que foi a evasão de divisas para o exterior no famoso caso do BANESTADO. Foram 520 BILHÕES de reais evadidos ao exterior, o que deu ao Banestado o recorde mundial de lavagem de dinheiro, em toda a história da lavagem de dinheiro do mundo. Mas por que esse caso não repercutiu na imprensa? Porque justamente eram acusados muitos dos principais veículos de comunicação de massa (Plim, Plim). E qual a participação de Moro? Pouca coisa: Ele era apenas o juiz responsável por todo ̶o̶ ̶a̶r̶q̶u̶i̶v̶a̶m̶e̶n̶t̶o̶ da operação. Na época ele foi até suspeito por sua estranha condução no caso, mas… Pizza, né?”

Veja Lula

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Capas da Veja revelam facetas de uma longa batalha contra Lula. As predileções tucanas da publicação são também notórias, não importando como fatores desabonadores a relação do Tucano em Questão com o narcotráfico e os “helicocas”, muito menos com a corrupção em Furnas:

Veja Aecio

ilegalidade dos procedimentos louvados pela imprensa golpista em sua cruzada anti-petista tornou-se mais explícita do que nunca em Março de 2016. Eliane Brum soube ler bem a gravidade da ocorrência com o ex-presidente Lula, conduzido à força ao aeroporto de Congonhas, para depor na Polícia Federal, numa cena armada para o showbiz midiático satisfazer seu sadismo, como se fossem corvos na carniça:

“O que aconteceu naquela sexta-feira feira, 4 de março, em que Lula foi tirado de casa por policiais federais e levado para o Aeroporto de Congonhas, foi grave. Muito grave. O juiz e os procuradores deveriam ser os primeiros a querer evitar de todos os modos essa simbologia. A imagem de Lula preso, para o Brasil inteiro, não mostra que a lei vale inclusive para ícones populares e ex-presidentes. Mas (…) que o abuso e a violação de direitos, cuja maior representação são os milhares de presos sem julgamento atirados em penitenciárias medievais, assim como os negros humilhados pelas polícias nas periferias, são a regra para todos – ou quase todos.

O que o juiz e os procuradores estimularam nesta cena foi a vontade de linchamento. Porque levar alguém para depor dessa maneira, produzir esse tipo de imagem, também é um tipo de linchamento. E foram aplaudidos por parte da população por isso, porque atenderam à sanha, legitimaram a vontade de vingança ao dar-lhe roupagens de lei. Quando o rito da lei é substituído pela vingança, e essa substituição é permitida por quem é um agente da lei, é muito grave. É exatamente em períodos tão delicados da história que a lei precisa ser interpretada de forma mais conservadora. E seus agentes precisam ter a grandeza de abrir mão das vaidades pessoais e reprimir as paixões que também os habitam.

Sérgio Moro e os procuradores, assim como os policiais federais, não são heróis nem vingadores. São funcionários públicos. E é como funcionários públicos que precisam se comportar se quiserem estar à altura do cargo. Deles só se espera que façam bem – e discretamente – o seu trabalho. E o que dizer dos promotores do Ministério Público de São Paulo, pedindo a prisão de Lula a três dias da manifestação de domingo? E sem nenhuma justificativa razoável, para além das confusões “filosóficas” que viraram piada nas redes sociais, quando, entre outras bobagens, confundiram Hegel com Engels? Importa perceber que a manchete, com foto, foi garantida: “MP de São Paulo pede a prisão de Lula”. E a manchete é mais forte do que os editoriais e as matérias internas. Qual é a verdade que se fabrica ali, e que tem sido repetida em cada esquina do país? Lula é culpado.

Mas até ser julgado e condenado, Lula não é culpado. Ou a lei não vale. E, atenção: se a lei não vale para Lula, também não vale para você ou eu. (…) Acossado, Lula fez o que melhor sabe fazer, aquilo que o tornou um dos presidentes mais populares da história. Lula foi Lula, o Lula que fala a linguagem do povo porque compreende o povo como poucos. ” (ELIANE BRUM, no EL PAÍS Brasil[http://bit.ly/1UtBqnM])

18 03 - Lula e Starbucks

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O termo “golpismo” sintetiza bem este complô de forças que pretende violar a lei e usar da truculência para forçar a queda de um governo, quando não existe nenhuma evidência, fato ou escândalo que dê base sólida a um impeachment legítimo de Dilma Rousseff. O repúdio ao impeachment já é uma força social de magnitude gigantesca – como se viu nas ruas em 18 de Março de 2016 – e é referendada pela maioria dos governadores estaduais. Os 9 governadores do Nordeste brasileiro já publicaram um manifesto em que repudiaram a intentona golpista e desqualificaram o processo de impedimento da presidenta re-eleita, em 2014, com 54 milhões e 501 mil votos:

Eleilçoes 2014
9 GOVERNADORES DO NORDESTE PUBLICAM MANIFESTO EM QUE REPUDIAM A INTENTONA GOLPISTA E O IMPEACHMENT:http://bit.ly/1pz7knz

“Diante da decisão do Presidente da Câmara dos Deputados – Eduardo Cunha – de abrir processo de impeachment contra a Exma Presidenta da República, Dilma Roussef, os Governadores do Nordeste manifestam seu repúdio a essa absurda tentativa de jogar a Nação em tumultos derivados de um indesejado retrocesso institucional. Gerações lutaram para que tivéssemos plena democracia política, com eleições livres e periódicas, que devem ser respeitadas. O processo de impeachment, por sua excepcionalidade, depende da caracterização de crime de responsabilidade tipificado na Constituição, praticado dolosamente pelo Presidente da República. Isso inexiste no atual momento brasileiro. Na verdade, a decisão de abrir o tal processo de impeachment decorreu de propósitos puramente pessoais, em claro e evidente desvio de finalidade. Diante desse panorama, os Governadores do Nordeste anunciam sua posição contrária ao impeachment nos termos apresentados, e estarão mobilizados para que a serenidade e o bom senso prevaleçam. Em vez de golpismos, o Brasil precisa de união, diálogo e de decisões capazes de retomar o crescimento econômico, com distribuição de renda.”

ASSINAM:
Robinson Farias (PSD – Rio Grande do Norte)
Flavio Dino (PCdoB – Maranhão)
Ricardo Coutinho (PSB – Paraiba)
Camilo Santana (PT – Ceara)
Rui Costa (PT – Bahia)
Paulo Câmara (PSB – Pernambuco)
Wellington Dias (PT – Piaui)
Jackson Barreto ( PMDB – Sergipe)
Renan Filho (PMDB – Alagoas)

Basta olhar tanto para a “linha sucessória” da presidenta Dilma – Michel Temer, Eduardo Cunha, Renan Calheiros… – quanto a comissão do impeachment para ficar evidente que não se trata, no caso do “Fora Dilma!”, de qualquer legítimo movimento anti-corrupção, e isso pelo simples fato de que o processo que quer destituir Dilma está sendo diretamente capitaneado por réus em crimes de desvio de dinheiro público. O Brasil encontra-se na posição bizarra em que bandidões não param de apontar o dedo acusador e de gritar “pega ladrão!”, no intento óbvio de serem brindados com a impunidade das pizzas que a grana sabe comprar.

 Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva estão sendo estigmatizados como bandidos e corruptos, merecedores de prisão, “petralhas” e coisa pior, mas é preciso muita cegueira midiática e indignação seletiva para não perceber que os acusadores são figuras cheias de fichas sujas, e cuja impunidade, após tantos crimes cometidos, beira o inacreditável:

BR IMPEACH

Jornal GGN – De acordo com as prestações de contas entregues ao Tribunal Superior Eleitoral, 40 dos 65 deputados federais que foram indicados para integrar a comissão do pedido de impeachment receberam um total de R$ 8,9 milhões em doações de empresas investigadas pela Operação Lava Jato durante a campanha eleitoral de 2014.

Calma

Imagine 3

“Ignorar desvio da merenda é exemplo da seletividade da mídia”, diz Boulos. “Escândalos como o desvio de verbas para a merenda escolar pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) não são tratados com a mesma cobrança como acusações sem provas envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Operação Lava Jato.” (BOULOS, Brasil de Fato. )

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Imagine 1
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Cunha
A blindagem midiática, a indignação seletiva, a cruzada de caça às bruxas, a rubrofobia e outros fanatismos, tudo parece deixar o Brasil em situação de barril de pólvora – e sem escassez de fagulhas. O futuro – e não apenas o climático – será repleto de incêndios. Neste labirinto, Eliane Brum é uma das vozes que mais vale a pena ouvir com atenção e cuja lucidez é preciosa para que pesemos bem escolhas e ações nesta encruzilhada histórica.

Em 14/06/2016, em seu artigo para o El País, ele mais uma vez tematizou a crise de representação política que têm nos conduzido às beiras da convulsão social e das conflagrações civis de uma guerra cotidianizada:

“Há uma enorme descrença nos políticos e nos partidos tradicionais, este já é um lugar comum. Mas é importante perceber que a esta descrença se contrapõe não mais razão, mas uma vontade feroz de crença. Quando os dias, as vozes e as imagens soam falsas, e a isso ainda se soma um cotidiano corroído, há que se agarrar em algo. Quando se elege um culpado, um que simboliza todo o mal, também se elege um salvador, um que simboliza todo o bem. A adesão pela fé, manifeste-se ela pelo ódio ou pelo amor, elimina complexidade e nuances, reduz tudo a uma luta do bem contra o mal. E isso, que me parece ser o que o Brasil vive hoje, pode ser perigoso. Não só para uma ditadura, como é o medo de alguns, mas para que se instale uma democracia de fachada, como já vivemos em alguns aspectos.

Uma democracia demanda cidadãos autônomos, adultos emancipados, capazes de se responsabilizar pelas suas escolhas e se mover pela razão. O que se vê hoje é uma vontade de destruição que atravessa a sociedade e assinala mesmo pequenos atos do cotidiano. O linchamento, que marca a história do país e a perpassa, é um ato de fé. Não passa pela lei nem pela razão. Ao contrário, elimina-as, ao substituí-las pelo ódio. É o ódio que justifica a destruição daquele que naquele momento encarna o mal. Isso está sendo exercido no Brasil atual não apenas na guerra das redes sociais, mas de formas bem mais sofisticadas. Isso tem sido estimulado. Quem acha que controla linchadores, não sabe nada.

Talvez o mais importante, neste momento tão delicado, seja resistir. Resistir a aderir pela fé ao que pertence ao mundo da política. Fincar-se na razão, no pensamento, no conhecimento que se revela pelo exercício persistente da dúvida. É mais difícil, é mais lento, é menos certo e sem garantias. Mas é o que pode permitir a construção de um projeto para o Brasil que não seja o da destruição. Quem sofre primeiro e sofre mais com a dissolução em curso são os mais pobres e os mais frágeis. É preciso resistir também como um imperativo ético.

Na política, mesmo os crentes precisam ser ateus.” (ELIANE BRUM)

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Concordo plenamente com a Eliane que é perigoso o fanatismo: “a adesão pela fé, manifeste-se ela pelo ódio ou pelo amor, elimina complexidade e nuances, reduz tudo a uma luta do bem contra o mal.” Em situações de tamanha polarização, é um perigo para qualquer um de nós que passemos a acreditar no reducionismo estúpido do maniqueísmo, elegendo de modo absoluto, para além das eleições, nossos “salvadores-da-pátria” e nossos demonizados “inimigos públicos”. É preocupante que tanta gente enxerguem soluções sociais e políticas legítimas em sua submissão a líderes populistas, em especial quando se trata de figuras abominavelmente racistas, machistas, homofóbicas e autoritárias como Jair Bolsonaro, Marco Feliciano, Silas Malafaia e outros.

Porém, também precisamos pôr o dedo na ferida e falar também dos fanatismos midiáticos, da fé que as elites insuflavam em certos heróis da vez, como o “Super-Homem” Moro, pronto a ser adorado por aqueles que acham que foi um magnum opus da filosofia política a analogia que Kataguiri estabeleceu entre o “Fora Dilma” e os Power Rangers… Talvez Eliane Brum dissesse que não precisamos de submissão acéfala a herói algum, que Dilma e Lula também estão aí para serem criticados, que os ídolos da direita, do centro e da esquerda merecem ser todos expostos à luz do dia quando tiverem pés de barro…

O problema é aceitar passivamente – o que sou cada vez mais incapaz de fazer, tamanha a revolta perante a truculência e a estupidez dos ataques ao PT – a lógica do estigma e da perseguição exterminadora, de teor fascista, que tem ganhado terreno entre nós. Contra o golpe midiático-jurídico e sua intentona de forçar, na marra, aqueles que não foram eleitos pelo povo, defendo o direito pleno, conquistado nas urnas, de Dilma Rousseff seguir governando como presidente eleita – pois nada justifica seu impeachment. Nisto, concordo com André Singer e de José Ribamar Bessa Freire:

Singer

“No seu tratado clássico “A Arte da Guerra” (séc.IV a.C.), Sun Tzu diz que todas as guerras são sempre de conquista, mas os soldados que estão na linha de frente não podem saber disso. Os senhores da guerra camuflam seus interesses privados e buscam elevar o moral da tropa, convencendo os combatentes de que a batalha é por nobres ideais coletivos.

A invasão do Iraque em 2003 é um bom exemplo ilustrativo. Um soldadinho americano jamais se arriscaria em assassinar muçulmanos e bombardear cidades e alvos civis correndo o risco de morrer, se soubesse que estava defendendo interesses privados do complexo industrial-militar. Por isso, os senhores da guerra tem de convencê-los de que lutam pela liberdade, pela democracia, contra o terrorismo e não pelo lucro de empresas de petróleo e da indústria armamentista.

No caso do Brasil, muitos manifestantes engajados sinceramente na luta contra a corrupção jamais sairiam às ruas se soubessem que a verdadeira guerra não é contra a corrupção, é pelo poder. O jogo se dá no campo político, não no da moralidade e da justiça.

Corrupção rotativa

Muitos manifestantes bem intencionados acreditam, em sua maioria, que estão lutando para sanear o país, quando involuntariamente fazem o jogo de quem não quer acabar com a corrupção, mas ocupar o executivo para exercitá-la. Temos a corrupção do PSDB ontem no poder federal e presente em alguns estados importantes, a neocorrupção de agentes do PT hoje no poder, e a corrupção do PMDB sempre no poder. Todas elas devem ser investigadas, punidas e combatidas e foi essa a esperança criada pela Operação Lava-Jato, comandada pelo juiz Sérgio Moro.

Ele começou, como era de se esperar, investigando com muita competência as propinas que envolveram os neocorruptos, que estavam em plena atividade. Pela primeira vez na história do Brasil, megaempresários foram presos, ex-ministros, senadores, deputados, com aplausos de toda a população. No entanto, a Lava-Jato avançava seletivamente, criando a desconfiança de que o alvo era o impeachment da presidente eleita, exigido pelos que querem ocupar o seu lugar antes de novas eleições, muitos deles com fichas sujas.

Moro, que parecia isento e sensato, tomou duas medidas, que evidenciaram a politização partidária do Judiciário: decretou a condução coercitiva do ex-presidente Lula com a mídia previamente notificada e divulgou as gravações de áudios de telefonemas interceptados pela Policia Federal.

Nos dois casos, Moro jogou para a mídia, que deu ampla divulgação e reproduziu conversas em imagens repetidas à saciedade pela tv, turbinando assim as manifestações de rua. Os vazamentos seletivos se concentraram na presidente Dilma, que sequer é investigada, e em Lula, contra quem nada foi até agora comprovado, divulgados com destaque pela mídia, que silenciou nos demais casos. E os outros? Alguém bateu panela contra Cunha?  Por quem os sinos dobram? Por quem as panelas batem?

Qual a contribuição à luta contra a corrupção a revelação de conversas privadas, recheadas de palavrões usados por qualquer leitor, que soam como fofocas, são retiradas de seu contexto e reinterpretadas com fins escusos? Serve apenas para acirrar o ódio e jogar lenha na fogueira. O JM – Jornal da Matraca – dedicou quase dois terços do espaço para satanizar Lula e Dilma.” (Nem Tudo Que Reluz É Moro @ Combate Racismo Ambiental)

Ainda que ciente do perigo que há em todo processo de “heroicização”, defendo também o direito, totalmente legítimo, de Lula de assumir o cargo de Ministro da Casa Civil. Lula goza de plenos direitos políticos e não foi condenado na Justiça por nenhum tipo de dano ao bem público que tenha causado. Em momentos de estúpida caça-às-bruxas e de “satanização”, é preciso lembrar o óbvio e fazer o resgate histórico que reconduza os amnésicos à plena lucidez: é fato, por exemplo, que Lula, após 8 anos na presidência da república, deixou o cargo consagrado por um índice da aprovação popular sem precedentes históricos no período pós-Ditadura. Mundo afora, Lula é reconhecido por muitas lideranças como um estadista magistral, sendo que programas sociais como o Fome Zero e Bolsa Família são amplamente reconhecidos pelos imensos avanços humanitários com que beneficiaram o Brasil, país que pela primeira vez deixou o “Mapa da Fome” da ONU e foi elogiado publicada pela FAO por sua política de combate à desnutrição.

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Sobre este tema, Celso Amorim, na Carta Capital, escreveu alto notável, que demonstra o impacto revolucionário do “lulismo” no cenário global:

“O Programa Mundial de Alimentos (PMA), órgão das Nações Unidas, com sede na capital italiana Roma, é dedicado a suprir carências alimentares, na maior parte das vezes em caráter emergencial. No passado, e ainda hoje, creio, o PMA tem servido para escoar excedentes agrícolas dos países ricos, principalmente dos Estados Unidos. Assim, além dos objetivos humanitários, as doações ao programa constituíam uma maneira de subsidiar os agricultores dos países desenvolvidos, criando uma forma sutil de concorrência desleal com as nações mais pobres, produtoras de gêneros alimentícios. 

O fato é, porém, que o PMA, até aqui sempre dirigido por uma personalidade norte-americana, transformou-se em um órgão atuante, com impressionante capacidade logística, da qual a ONU se vale para outras atividades (emergências de saúde, desastres naturais). No Haiti, logo após o terremoto de 2010, pude testemunhar a eficiência e a dedicação dos seus funcionários e dirigentes. A publicidade atual do PMA chamou-me a atenção pelo o lema criado para atrair doações: “Zero Hunger” ou, em italiano, muito próximo do português, “Fame Zero”.  

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Minha primeira reação foi de indignação pela apropriação do nome do nosso programa, sem crédito ao original. Mas, ao pensar melhor, considerei que o mais importante era o fato de uma ideia, nascida em nosso país e levada aos quatro cantos do mundo pelo presidente Lula (e imitada em muitos lugares), tivesse penetrado tão profundamente na mente de políticos, ativistas e acadêmicos planeta afora, a ponto de se tornar lema de uma campanha de um organismo internacional dirigido por uma norte-americana. Assim, antes de indignar-me, deveria rejubilar-me com aquele plágio não confessado. 

Este é apenas um exemplo de como as nossas atitudes no campo externo, lideradas pelo ex-presidente, deixaram marcas profundas.

Ao lembrar-me desses episódios, ao ver o homem que mais batalhou pela igualdade no Brasil e no mundo e que inspirou nossas políticas ser humilhado por meio de procedimentos truculentos desnecessários e ser vítima de um verdadeiro cerco, minha tristeza cresce ainda mais. 

Ao fim de sua peça intitulada Galileu Galilei, Bertolt Brecht põe na boca do jovem assistente do sábio, Andrea Sarti, a exclamação “Pobre da nação que não tem heróis”, à qual Galileu responde com uma afirmação dura e penetrante: “Não Andrea, pobre da nação que precisa de heróis”. Ao ver o operário metalúrgico, que alçado à condição de líder político, diminuiu a desigualdade em nosso país e colocou o Brasil no mundo, pensei que Brecht poderia ter complementado seu pensamento: “Mais pobre ainda, Andrea, é o país que vilipendia seus heróis.” (CELSO AMORIM, Carta Capital)

Burgues

Pobre da nação que precisa de heróis! Mais pobre ainda a nação que encontra seus heróis Moro-alistas e hipócritas entre uma elite, encarniçada defensora de seus interesses privados, plutocracia encastelada em seus privilégios injustos. O mesmo Brecht foi lapidar quando disse que “nada se parece mais com um fascista do que um burguês assustado”. Porém, não sei se teríamos algum benefício em transformar todos os heróis em párias, punkmente declarando um no more heroes! de sabor anarquista. O papel de “líder de massas” não me parece abandonável, no palco histórico, e mesmo a esquerda radical não se solidariza sem uma liderança como a de Che ou Fidel, na Revolução Cubana, Lênin e Trotsky, no revolucionário Outubro de 1917 russo, assim como os Zapatistas mexicanos da FZNL não é sequer imaginável na ausência do Subcomandante Marcos… Tudo bem se não quisermos ter em Lula nosso líder ou nosso herói, mas gostaria que este neoBrechtianismo fosse considerado digno: não sejamos o país que vilipendia seus heróis.

E talvez neste nosso Brasil real – e exponho-me aqui às pedradas dos detratores – não existe talvez nenhum “líder de massas” com o potencial libertário que ainda me parece existir em Lula. Talvez ele ainda não tenha finalizado sua missão histórica; talvez possa haver ainda muito chão pela frente na vida política deste brasileiro de obstinada força vital e que, não à toa, tornou-se um dos líderes políticos mais amados pela população do Brasil. Alinho-me, nas barricadas do presente, à defesa de Lula, ao seu direito de ser ministro, e para que sejam punidos aqueles que estão a lei para escorraçá-lo e caluniá-lo, em uma campanha de apedrejamento, de linchamento, de massacre midiático, que é uma vergonha e um acinte. E que talvez seja a manifestação desesperada daquelas elites decadentes que já pressentem que, em 2018, não há Marina, Aécio, Alckmin ou Moro que dê conta de vencê-lo.

O nosso maior perigo – sintetizado na palavra golpe – é a sordidez possível das elites que percebem de antemão que vão perder nas urnas, mais uma vez. Quem sabe que vai perder as próximas eleições tende a flertar de modo fascista com o plano de subir ao poder pela força, seja das armas e dos tanques, seja dos golpes midiáticos-jurídicos. Por enquanto, ainda há uma abismo de dissimilaridade entre o quadro de 1964 e 2016. Porém, o perigo persiste: e também pois a mídia corporativa parece ser incorrigível em sua imoralidade recorrente, em sua parcialidade desleal, assassinando quaisquer ideais republicanos de uma imprensa múltipla e polifônica. É triste, Brasil, este P.I.G. em nossas salas-de-estar e quartos-de-dormir, fabricando vidiotas, manipulando massas-de-manobra, cooptando e comandando manifestações, elevando corruptos a anjos, desenhando auras de santidade em Aécios, santificando justiceiros truculentos à la Moro, blindando Cunhas e Alckmins, recebendo propinas de Samarcos e Vale (mesmo após a hecatombe do Rio Doce!). Diante disso, é preciso bradar: abaixo os vidiotas! 

Globo4

Na Revista Cult, Márcia Tiburi dispara suas farpas – está conversando com um fascista: “Morto há tempos diante da tela, transformado em um zumbi que não pensa, não sente e não age em nome de mais nada que não seja a ordem teleguiada recebida, você será chamado de “vidiota” por alguém que, por algum motivo, ficou longe disso tudo. Mas porque já não consegue entender nada, você parte pra cima dele com a única coisa que restou na sua vida subjetiva, ódio barato e agressividade sem fim.” (TIBURI, M. Revista Cult)
Tiburi
Tiburi

Concordo com Márcia Tiburi que precisamos aprender a “conversar com os fascistas”, e que não podemos prescindir das armas da crítica, mas jamais respondê-los na mesma moeda de fúria. Já que olho por olho – Gandhi ensina – acaberemos todos cegos. Diálogo e democracia são consubstanciais – e é preciso resistir àqueles que não querem dialogar, contrapondo ao golpismo deles nosso obstinado democratismo popular, que não se deixará varrer tão fácil da história após os 21 anos de trevas que vivemos. Para barrar o golpe, porém, é urgente fazer a crítica – que Tiburi também empreende com muita graça e talento, além de contundência e coragem… – da manipulação e desinformação perpetradas pela mídia empresarial, este antro reacionário que choca o ovo da serpente dos fascismos cotidianizados e da banalidade do mal sempre renascente.

Eduardo Carli de Moraes
Goiânia, 20/03/2016
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