Filosofia e Eco-Anarquia em Tempos de Pandemia (Webdebate: A Casa de Vidro e Monstro dos Mares)

No dia 08 de Maio de 2020, sexta-feira, A Casa de Vidro, em parceria com a Editora Monstro dos Mares e o Grupo de Estudos em Complexidade, realizaram o webdebate “Filosofia e Eco-Anarquia em Tempos de Pandemia” – com Janos Biro Marques Leite, Pedro Tabio, Renato Costa e Eduardo Carli de Moraes. Assista na íntegra (2h36min):


Introdução

Combinando a crítica anarquista ao Estado e ao Capital com uma perspectiva ecocêntrica vinda do veganismo, do primitivismo, da crítica à sociedade industrial ou da ecologia profunda, a filosofia eco-anarquista tem se mostrado uma fonte valiosa de reflexões e provocações para o contínuo desenvolvimento das teorias e práticas anarquistas, desafiando os paradigmas das escolas de pensamento mais tradicionais.

São consideradas como ligadas ao eco-anarquismo as seguintes tendências: o anarco-naturismo (inspirado por Thoreau, Tolstoi e Élisée Reclus), a ecologia social (que não se limita ao movimento iniciado por Bookchin), o anarcoprimitivismo (representado por John Zerzan e os autores da revista Green Anarchy) e o veganarquismo (movimento anarquista e vegano).

O anarcoprimitivismo e o veganarquismo se destacam em tempos de pandemia pela crítica que já faziam há muito tempo à sociedade de massas e à domesticação de animais como fatores da produção de pandemias e novas doenças. (Janos Biro)

CONHEÇA OS DEBATEDORES:

PEDRO TABIO é urbanista, bioconstrutor, agricultor, inpermacultor libertário, eco-anarquista e editor na Monstro dos Mares.

JANOS BIRO é formado em filosofia pela UFG e membro do coletivo eco-anarquista Contra a civilização (contraciv.noblogs.org). Criador do site Contrafatual (contrafatual.com).

RENATO COSTA é chef vegano e estudante de jornalismo na UFG.

EDUARDO CARLI é jornalista, filósofo, mestre em Ética e Filosofia Política pela UFG, professor do IFG, fundador d’A Casa de Vidro, onde atua como agitador cultural.

ASSISTA:

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PAUTA TEMÁTICA

I) E O LOCKDOWN, ANARQUISTAS? Se observarmos as crises econômicas e políticas, os alertas climáticos, e agora a crise epidemiológica, muito do que um suposto alarmismo radical anunciava vem se concretizando. Hoje os bolsonaristas acusam a pauta do isolamento de alarmismo. Entretanto subjaz o problema da condução das medidas de isolamento por parte do Estado, amparado pelas recomendações dos organismos internacionais de saúde. Na visão de vocês, a possibilidade de isolamento total, obrigatório, conhecido como lockdown, contraria o princípio libertário defendido pelo anarquismo? O fator de controle sanitário, e consequentemente, a necessidade compulsória de isolamento legitimado pela ciência, em “defesa de vida”, contrariam as liberdades individuais e os princípios da auto-gestão coletiva? Quero dizer, o lockdown atenta, por princípio, contra a organização autônoma das comunidades? Ou seria manipulável apenas em caso de qualquer tipo de autoritarismo se valer da pandemia como álibi da repressão, no oportunismo da condução da crise em favor do Estado e do Capital?


II) TECNOFOBIA vs TECNOFILIA

Os ativistas eco-anarquistas, no que diz respeito às táticas de enfrentamento das forças sociais que causam as catástrofes ecológicas, aceitam de bom grado o uso das tecnologias digitais e das mídias sociais como ferramentas de mobilização? Percebem pautas em comum com movimentos como o Software Livre e certas vertentes do circuito hacker? Ou vocês consideram que a anarquia verde aproxima-se mais do anarco-primitivismo, da recusa diante de um cenário cibernético dominado por empresas como Facebook, Google, Apple etc.? Digo isso pois uma publicação do Comitê Invisível, Foda-se o Google (faccaoficticia.noblog.org), coloca em foco a diferença entre movimentos caracterizados por tecnofilia ou por tecnofobia, arriscando também a seguinte caracterização:

“O grosso dos marxistas e pós-marxistas juntam à sua propensão atávica para a hegemonia um certo vínculo à técnica-que-liberta-o-homem, enquanto uma boa parte dos anarquistas e pós-anarquistas se acomodam sem dificuldade numa confortável posição de minoria, ou mesmo de minoria oprimida, acantonando-se geralmente em posições hostis à ‘técnica’. Cada tendência dispõe até da sua caricatura: aos partidários negristas do ciborgue, da revolução eletrônica pela multidão conectada, respondem os anti-industriais que fizeram da crítica do progresso e do ‘desastre da civilização tecnicista’ um gênero literário bem rentável, feitas as contas, e uma ideologia de nicho onde nos mantemos quentes e aconchegados, à falta de entrever uma qualquer possibilidade revolucionária. Tecnofilia e tecnofobia formam um par diabólico unido por essa mentira central: que uma coisa como a técnica existe.” (Cap. 4)

w.capaGOOGLE-web.cleanedFoda-se o Google [Baixar PDF]

Fragmento do livro Aos Nossos Amigos do Comitê Invisível que trata da expansão tecnológica e política sobre as formas de governo e controle social. “Uma empresa que mapeia todo o planeta, enviando equipes para fotografar cada rua de cada cidade não pode ter interesses apenas comerciais. Ninguém mapeia um território sem intenções de dominá-lo. ‘Don ́t be evil’”.

1. Não existem “Revoluções de Facebook” mas uma nova “Ciência de Governo”, a Cibernética. 2. Guerra a tudo que for Smart! 3. Miséria cibernética. 4. Técnicas contra tecnologia.


III) INTEGRAÇÃO COMUNITÁRIA EM TEMPOS DE CONSUMISMO PREDATÓRIO

Considerando mais especificamente o sujeito político contemporâneo, em relação com a coletividade massificada pelas formas de consumo predatórias, estimuladas em grande parte pela hegemonia neoliberal do culto ao mercado, quais seriam as dinâmicas entre o papel do indivíduo e sua integração comunitária para fixarmos uma agenda de transformações ambientais e sócio históricas, desejáveis no futuro próximo? Mais especificamente ainda, de acordo com os aspectos sociais da atual crise do Coronavírus, interpretados pelo crítica eco-anarquista ao capitalismo em geral, quais as estratégias eco-anarquistas que permitiriam a cada um e cada uma de nós influir numa conjuntura de luta contra as opressões coletivas e a degradação ambiental? Ou seja, minha pergunta vai no sentido de buscar saber como equacionar indivíduo e sociedade, do ponto de vista da filosofia anarquista, no contexto da crise ecológica e sanitária!


IV) A BADERNA ORGANIZADA?

A coleção de livros Baderna, originalmente publicada pela ed. Conrad, depois relançada pela Veneta, trouxe ao público brasileiro a oportunidade de conhecer mais sobre grupos anarquistas e similares, como Luther Blissett, organizados mundo afora, além de propiciar contato com pensadores como Hakim Bey e Raoul Vaneigem. Qual seria, para vocês, a importância de organizações coletivas de ativistas eco-anarquistas? Quais os exemplos destas que vocês poderiam citar? O que pensam sobre certas experiências no mundo atual, citadas por Camila Jourdan e Acácio Augusto, de regiões “liberadas” onde princípios anarquistas estão presentes na prática? Os autores se referem sobretudo “À experiência zapatista no México, cujos territórios autônomos se organizam de maneira federalista libertária, sem Estado e de modo comunal, e o confederalismo libertário de Rojava, no território de ocupação majoritariamente curdo que derrotou o Daesh (Estado Islâmico) e hoje está sob ameaça militar do Estado turco.” (pg. 9)


V) CARNISMO INFECCIOSO – UMA OUTRA ALIMENTAÇÃO ANARCOVEGANA É POSSÍVEL? Em relatório da OMS, Ben Embarek, especialista em segurança alimentar, atesta-se que o novo coronavírus veio do morcego, provavelmente mediado por um outro animal “criado para fornecer alimento”. Além disso, confirmou o que Manuais Epidemiológicos chineses já atestavam: a doença pode circular entre gatos, furões e cachorros. Estes fatos colocam em destaque o risco sanitário envolvido no consumo de carne e no morticínio de animais. O Vegan-arquismo vem denunciando há muito o abandono e a domesticação dos animais – uma sendo condicionante da outra. Pergunto: como vocês trata dessas urgências éticas e ecológicas, a exemplo da necessidade de se adotar uma dieta vegetariana, ou de se representar o veganismo como orientação ao consumo, e também como filosofia em si? Como vocês vêem o papel do veganismo na crise ecológica e na crise sanitária?


VI) A ABOLIÇÃO DO ESTADO: AINDA É O CENTRO DA PROPOSTA ANARCO?

Em Marx Selvagem, Jean Tible busca um “diálogo entre as concepções marxiana de abolição do Estado” com a noção de Pierre Clastres de uma “sociedade contra o Estado”. Sabemos que Marx polemizou com grandes anarquistas de sua época – Bakunin, Proudhon e Max Stirner – a respeito do processo de abolição do estado, visto como fim tanto pelo anarquismo quanto pelo comunismo. A diferença essencial estaria na reivindicação anarquista de extinção súbita do Estado em contraste com um processo mais gradual no âmbito do marxismo que prevê uma transição – a ditadura do proletariado servindo-se do Estado como “instituição transitória, da qual nos servimos na luta durante a revolução para reprimir à força os adversários” (ENGELS, citado por Tible, pg. 192). Para Lênin, o Estado burguês é sucedido pelo Estado proletário no pós-revolução de modo a “reprimir a resistência dos exploradores” (ou seja, combater a reação contra-revolucionária) mas também para “dirigir a grande massa da população na efetivação da economia socialista” (Lenin, 1918, citado por Tible, p. 194). Como compreendem os eco-anarquistas esta questão? É preciso abolir o Estado imediatamente ou gradualmente? De que modo a preocupação com as questões ambientais, ecológicas, de sustentabilidade, justifica práticas e movimentos que visam esmagar o Estado? E como ficam os Mercados e Corporações nesta luta, considerando-se que os Estados neoliberais atuais são basicamente lacaios das mega-empresas e seus financiadores, seus banqueiros, a classe rentista?


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O Planeta dos Humanos em Transição Energética || Por André Baleeiro para A Casa de Vidro

Na ocasião do 50º Dia da Terra, em 22 de Abril de 2020, foi lançado o documentário “O Planeta dos Humanos”, dirigido por Jeff Gibbs e produzido pelo famoso documentarista Michael Moore. O doc levanta a temática dos movimentos ambientalistas norte-americanos que colocam a alteração da matriz energética como uma de suas principais bandeiras.

Ao investigar a questão das energias renováveis, o documentário questiona se essas fontes são realmente “limpas” ou se o ambientalismo norte-americano estaria se iludindo, ou nos iludindo, com pseudo-soluções enquanto corremos contra o relógio na luta para minimizar as mudanças climáticas.

Este artigo tem o objetivo de aprofundar as questões levantadas pelo documentário em relação à necessária transição energética global dialogando com o Webiseminário realizado pelo Grupo de Estudos em Complexidade de Goiás e pel’A Casa de Vidro sobre o tema. Polêmicas com relação ao movimento ambientalista dos EUA serão deixados de lado.

A matriz energética norte-americana é profundamente dependente de combustíveis fósseis, em especial petróleo, gás natural e carvão mineral. Essas formas de energia, não-renováveis, são apontadas como grandes geradoras de gases de efeito estufa por serem reservas de carbono acumuladas em outras eras geológicas que são reemitidas na atmosfera.

Apesar de existirem avisos sobre mudanças climáticas da Terra desde a década de 50, a matriz de energia primária dos EUA ainda é de apenas 11% de Energias Renováveis1 e a sua Energia Elétrica é gerada a partir da queima desses combustíveis fósseis numa fatia de 63%2.

O documentário questiona a urgência e a efetividade de aumentar a participação das Energias Renováveis como uma solução para a crise ecológica. Eu resumo as linhas argumentativas desse discurso em 5 pontos que serão destrinchados a seguir.

1º A eficiência e sazonalidade das Energias Eólica e Solar inviabilizam sua ampla utilização.

Ao visitar usinas fotovoltaicas nos EUA, Jeff Gibbs testemunha bonitos discursos, mas ao questionar sobre como é produzido energia em dias nublados, chuvosos ou à noite, a resposta é: Temos que recorrer à rede elétrica ou a um sistema de baterias, que são muito impactantes e pouco eficientes. Para tratar da eficiência, Jeff filma uma usina que utiliza uma placa fotovoltáica de baixo custo que tem eficiência energética de apenas 8%.

De fato o armazenamento energético por baterias ainda é um limitação tecnológica, mas desqualificar a tecnologia de placas fotovoltaicas, que ainda é uma “criança” em termos de desenvolvimento, por causa das baterias, é um erro. O argumento da baixa eficiência das placas também, pois até as plantas, que a meu ver são exemplo de perfeição na tradução de energia solar, tem 27% de eficiência3.

Gerar energia diretamente a partir da nossa maior e mais abundante fonte, o sol, nunca é uma má ideia, seja por plantas ou por placas fotovoltaicas. Sobre a eficiência dessas transformações teríamos que nos esgueirar pela temática da Entropia e da dinâmica energética planetária, que será tema de outro artigo e outro webinário.

Os questionamentos do documentário deveriam ser direcionados muito mais à erros de projeto de engenharia, do que à “ilusão das energias renováveis”. Uma usina fotovoltaica não deve ser implantada em um local com baixa radiação solar nem uma usina eólica deve ser implantada em local com poucos ventos.

2º A baixa vida útil das Energias Eólica e Solar não compensam a pegada ecológica dessas tecnologias.

Esse questionamento é um pouco mais difícil de responder, visto que existem diversas formas de contabilizar o impacto do ciclo de vida de uma tecnologia. A meu ver esse é um gargalo para o amadurecimento da discussão sobre sustentabilidade. Pegada Ecológica, Análise do Ciclo de Vida, Análise de Energia Incorporada, Metodologia Emergética são alguns desses métodos. Todos eles têm prós e contras.

Portanto, argumentar que não compensa gerar energia por placas fotovoltáicas simplesmente por ser necessário fundir quartzo com carvão em fornos de 1800ºC é uma falácia. O cálculo básico que deveria ser feito é quanto de energia uma placa fotovoltáica pode gerar em 20 anos de vida útil. Se esse cálculo mostrar que é mais sustentável a placa do que 20 anos de queima de combustíveis fósseis para gerar a mesma energia, então compensa a energia solar.

Apenas em uma ocasião eu concordaria com Jeff sobre essa crítica da insustentabilidade das energias solar e eólica. Se ele defendesse um projeto de abandono dos confortos da sociedade industrial. Nesse caso a perspectiva passa a ser outra e a coerência dos dois primeiros argumentos aumenta.

3º Empreendimentos que se julgam “100% energias renováveis” se mantém conectados á rede elétrica.

A meu ver, o foco da crítica deveria ter sido à prática de greenwashing 4 das empresas, que adotam “práticas sustentáveis” para aumentar o valor inerente às suas marcas sem que as ações sejam representativas diante dos grandes impactos negativos provocados pelas mesmas.

Mas essa abordagem acabou sendo periférica. Optou-se ao invés disso por tentar provar que as empresas que alegam funcionar 100% com energias renováveis não a fazem de fato e a prova é que se mantém ligados à rede elétrica ou fazem uso de geradores à diesel.

Por tal escolha de roteiro, o documentário perde força. Ele escolhe trilhar uma abordagem sensacionalista com cenas de contradição entre discurso e prática ao invés de se aprofundar na necessidade de robustez de abastecimento ou na complexidade de uma rede multidirecional onde os geradores e os consumidores se misturam, como podemos ver abaixo.

Fonte: PDE 2029 (EPE, 2019)

4º A energia chamada Biomassa não passa de árvores cortadas para serem queimadas (nos EUA)

O documentário não se propõe a mergulhar no cálculo energético-ecológico de comparação entre a queima de biomassa e a queima de combustíveis fósseis. Ao invés disso, mostra gigantes usinas de energia que utilizam pinus plantados.

Nesse ponto, o documentário dá uma passada por outras formas de biomassa, como a cana-de-açucar no Brasil e óleos obtidos de animais, como vacas e até jacarés, o que acaba sendo um argumento de reductio ad absurdum (uma deixa para mostrar trituradores de animais).

Em termos de efeito estufa é menos prejudicial produzir energia a partir de biomassa, que foi plantada e que absorveu carbono, antes de ser extraída e queimada. De fato não deve ser o substituto aos combustíveis fósseis, mas pode ser um intermediário até a transição para uma energia de baixo carbono.

Novamente, acredito que o foco aqui deveria ser outro. A escala das usinas mostradas e a forma como são plantadas essa biomassa. Esta última argumentação é mais desenvolvida pelo documentário, colocando-o em um melhor caminho, como veremos a seguir.

5º A produção de Biomassa é feita a partir do agronegócio altamente dependente de combustíveis fósseis e de subsídios.

Essa constatação é a mais sistêmica em comparação às demais. De que adianta trocar combustíveis fósseis por biomassa na geração de energia se para a produção da biomassa é necessário uma agricultura industrial que desmata vegetações nativas, se baseia em manejos altamente insustentávias, que resultam em grande perda de solo e biodiversidade, e que são altamente dependentes de combustíveis fósseis?

Esse questionamento toca na realidade do campo brasileiro e de tantos outros países subdesenvolvidos que tem como principais causas de emissão de gases de efeito estufa o desmatamento de florestas nativas e os enormes gastos de combustíveis com logística de transporte de commodities.

O documentário ainda retrata a situação indígena no Brasil, que sofrem diariamente com esse agronegócio genocida. A situação dos Guarani-Kaiowá [5] que não têm suas terras demarcadas e que são cercados e mortos pelos latifundiários coronelistas pulverizadores de veneno é um custo muito alto e não contabilizado do agronegócio e do setor sucroenergético.

As conclusões d’O Planeta dos Humanos

As 5 linhas argumentativas são obtidas a partir da cobertura jornalística de situações que sustentam esses pontos, mas que não dão profundidade requerida pelo tema. Ao fim dessas argumentações, o documentário indica que estamos nos desviando das reais questões que deveríamos abordar, que segundo eles são três:

  1. A super população planetária:

Essa defesa é facilmente apropriada por interesses eugenistas e intervencionistas. A QUESTÃO NÃO É A SUPER POPULAÇÃO. Se tivéssemos 7 bilhões de pessoas com hábitos de consumo dos africanos, o planeta não estaria nem de perto tão fudido. O problema é que um norte-americano consome o equivalente a dezenas de africanos! Se tivéssemos hábitos mais sustentáveis, uma economia circular e cadeias de consumo mais curtas, poderíamos ter 10 bilhões de habitantes. A questão é produzir o necessário de forma a permitir a regeneração dos ecossistemas.

  1. A crença da economia no crescimento infinito em um planeta finito é suicídio;

Desfazer esse mito é fundamental, e diversos economistas formados em importantes academias do mundo tentaram desfazer essa crença desde os anos 706 e comunidades tradicionais colonizadas falam isso desde que tiveram contato com a ganância mercantilista/capitalista7.

  1. A fusão entre o ambientalismo norte-americano e o capitalismo se fez completa.

Essa é a mensagem que recebe maior ênfase, talvez pela necessidade pessoal do diretor de expor a cooptação dos movimentos ambientalistas por empresários bilionários que ocorreu na conjuntura norte-americana. É interessante que a única gota de confiança é dada ao movimento ambientalista popular representado pela Vandana Shiva, o que dá uma breve perspectiva de esperança na luta ambiental organizada.

Balanço do documentário e perspectivas

No frigir dos ovos, O Planeta dos Humanos, apesar de levantar temas importantes e contradições que os setores de pesquisa e desenvolvimento das energias renováveis devem encarar de frente, acaba optando por recursos sensacionalistas.

Ele cria no espectador a ideia de que as energias renováveis são uma farsa e foca na contradição dos movimentos ambientalistas norte-americanos que as utilizam como panacéia para a crise ecológica planetária que nossa civilização vive.

Energias renováveis não são A solução, mas são parte da solução. Temos que ter um projeto energético para que os estados-nação substituam urgentemente suas fontes não-renováveis enquanto construímos simultaneamente experiências comunitárias de tecnologias sociais que gerem autonomia e soberania energética e alimentar.

As questões cruciais continuam sendo “Energia pra Quê” e “Energia pra Quem”. Os subsídios energéticos aos setores eletrointensivos para exportarem matéria-prima, a imensa queima de combustíveis devido à escolha por uma malha rodoviária de transporte de mercadorias e a ineficiente mobilidade urbana por automóveis individuais são apenas alguns problemas que devemos enfrentar na realidade brasileira.

É por isso que o Grupo de Estudos em Complexidade de Goiás discutiu no dia 28 de março de 2020 a necessária Transição Energética, que significa basicamente construir uma economia de baixo carbono. Essa é uma transformação sistêmica que exige mudanças em todos os níveis, do individual ao global, de forma simultânea. A velocidade com que as nações e as comunidades perceberem isso dirá se essa transição será mais sutil ou mais traumática.

Confira o Webinário Diálogos Transdisciplinares sobre Transição Energética: https://wp.me/pNVMz-6p5

“Há apenas uma liberdade: chegar em acordo com a morte.”
Albert Camus, citado no documentário O Planeta dos Humanos. [8]

REFERÊNCIAS

1 https://www.eia.gov/energyexplained/us-energy-facts/

2 https://www.eia.gov/tools/faqs/faq.php?id=427&t=3

3 Albarrán-zavala, E., & Angulo-brown, F. (2007). A Simple Thermodynamic Analysis of Photosynthesis, 152–168.

4 Greenwashing é um termo para significar uma estratégia anti-ética de marketing de empresas que querem se passar por “amigas do meio ambiente” sem serem de fato. Um manual do IDEC ajuda a identificar essas práticas: https://idec.org.br/greenwashing

5 Um lindo curta-metragem sobre a subjetividade da sobrevivência dos Guarani-Kaiowá a partir da ótica infantil é “A Cordilheira de Amoras II”

6 https://pt.wikipedia.org/wiki/Economia_ecol%C3%B3gica

7 “Quando o último rio secar, a última árvore for cortada e o último peixe pescado, eles vão entender, que dinheiro não se come.” Cacique Seattle.

8 “There is only one liberty: in coming to terms with death.”

André Baleeiro
A Casa de Vidro
Goiânia, Maio de 2020

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA: Webinário Diálogos Transdisciplinares – Terça, 28/04/2020, 19h. Transmissão: A Casa de Vidro.

O Grupo de Estudos em Complexidade, em parceria com A Casa de Vidro Ponto de Cultura, realizaram mais uma edição do Webinário Diálogos Transdisciplinares com o tema “Transição Energética”, transmitido ao vivo na terça, dia 28/04, às 19h. Nossos convidados foram: o Físico Moacir Lacerda, estudioso das descargas atmosféricas, sistemas complexos, física quântica e professor do módulo de energia de cursos de design em permacultura; a Engenheira Química Amanda Ohara, expert em transição energética, integrante do É Mais Energia (http://www.emaisenergia.org/). Para mediação do debate, convidamos também André Baleeiro e João Pedro Aguiar. Acompanhe: http://www.acasadevidro.com.

Assista as nossas lives pelo Youtube d’A Casa de Vidro:
https://www.youtube.com/channel/UCrs5xa4CQkJob9A78rnq6rA

CONFIRA A TRANSMISSÃO NA ÍNTEGRA:

Acessar apresentação de slides de Moacir Lacerda

Desafios para a Popularização da Permacultura (Webseminário / A Casa de Vidro Ponto de Cultura, 20/03)

A Casa de Vidro Ponto de Cultura realizou o Webseminário Internacional “Desafios para a Popularização da Permacultura” na Sexta (20/03/2020, às 19h), com a participação de Eurico Vianna (Austrália), Sérgio Pamplona (DF), Adriana Galbiati (Mato Grosso do Sul), Djalma Nery (São Paulo), com mediação de André Baleeiro (Goiânia). Uma produção do Grupo de Estudos em Complexidade (EMA). Saiba mais: https://wp.me/pNVMz-6cW. ASSISTA AO VÍDEO DA TRANSMISSÃO COMPLETA (3h11min):


Temas abordados:

– O que é Permacultura? Um compilado de conhecimentos? Uma filosofia de vida? Uma escola de agricultura alternativa? Um movimento?

– Avanços da Permacultura: Histórico de estruturação, papel dos institutos, balanço dos PDCs, exposição de bons exemplos.

– Contradições da Permacultura: Nicho, influência na sociedade, apropriações indevidas.

– Benefícios para o planeta: A busca por uma vida regenerativa, importância em cenários disruptivos, de crise e distópicos.

– O que atravanca o crescimento e popularização da Permacultura? Limites e Potencialidades.

Palestrantes:

* Eurico Vianna (Austrália)

Doutor em desenvolvimento comunitário pela Griffith University na Austrália, autor, ativista socioambiental engajado com o planejamento de sistemas e propriedades regenerativas. Siga: Impacto Positivo com Eurico Vianna.


* Sérgio Pamplona (Distrito Federal)

Sérgio Pamplona tem formação em arquitetura e urbanismo pela UnB (1989). Conheceu a permacultura em 1995 e fez seu primeiro PDC em 1996. Desde então vem aprendendo e praticando permacultura. Editou a revista Permacultura Brasil (2000/04) e dá PDCs desde 2006. Vive no Sítio Nós na Teia, em Brasília, uma estação de permacultura com 22 anos de existência.


* Adriana Galbiati (Mato Grosso do Sul)

Adriana Galbiati é Engenheira Ambiental e professora de Permacultura. Pesquisadora na área de Saneamento Focado em Recursos, tem mestrado em Tecnologias Ambientais pela UFMS e é coautora do Catálogo de Soluções Sustentáveis de Saneamento, publicado pela FUNASA, em 2018. Atualmente trabalha principalmente coordenando e ministrando PDCs e outros cursos de Permacultura pelo Brasil.


* Djalma Nery (São Paulo)

Professor da rede pública estadual de ensino em São Carlos (SP), fundador da Associação Veracidade (entidade ambientalista do terceiro setor), permacultor, sociólogo graduado pela UNESP, mestre pelo programa de Ecologia Aplicada da USP, escritor e influenciador digital. Autor do livro independente “Uma alternativa para a sociedade: caminhos e perspectivas da permacultura no Brasil”, fruto de sua dissertação de mestrado, que debate a popularização da permacultura em nosso país.

Ao pensar no título deste livro, “Uma alternativa para a sociedade”, de que exatamente estamos falando? De que alternativa? Alternativa à que? Para quê?

Vivemos uma era que ameaça o planeta e todas as suas formas de vida por meio da exploração desmedida da natureza; uma sociedade que banaliza a violência e a miséria, explora os seres humanos e propaga aos quatro cantos a desigualdade e a injustiça. Tal cenário apresenta-se completamente insustentável, estando fadado a nos lançar ao caos e ao extermínio ainda que seja na busca de uma sobrevida para esse sistema que não dá valor a vida, mas sim vida ao valor.

O que a permacultura propõe para superar esses desafios, na prática, é uma revolução. É a busca de uma cultura da permanência em um contexto regido pelo imediatismo, individualismo e sem preocupação com nada nem ninguém que nos suceda; permacultura é a busca por um modo de vida e de organização humana que possa ser mais duradouro e sustentável de fato, e não apenas na retórica. Em outras palavras: essa é uma obra sobre possibilidades concretas de mudança.

Espero ser possível, durante a leitura deste livro, vislumbrar e contagiar-se com novas possibilidades, exatamente como aconteceu comigo durante a sua escrita: ao longo do processo, reforcei minha convicção de que é preciso experimentar outra maneira de existir e de estar no mundo, diferente desta que nos é oferecida a priori. Esperança e felicidade é o que sinto ao saber que não são poucas as pessoas dedicadas à construção destas e de outras tantas alternativas. – AUTONOMIA LITERÁRIA


* Grupo de Estudos em Complexidade (EMA): Grupo criado em Março de 2019 para estudar questões complexas a partir de múltiplas perspectivas, de forma a abranger o tema pelas diversas esferas que as envolvem. Este ano estamos focando na construção da Práxis Transdisciplinar, ou seja, na construção metodológica de um ser, fazer, pensar, conhecer e sentir reintegrado. Estamos basicamente dialogando a superação da “teoria + prática = técnica” com o campo epistêmico ampliado da transdisciplinaridade. ACESSE NOSSO MANIFESTO.

Mora em Goiás e quer participar do grupo? Mande e-mail para complexity.group.goiania@gmail.com ou entre em contato diretamente com Jardineiro Agroecológico @jardim.agroeco (instagram) – André Gepeto.

Possibilidades de participar:

Participação ativa no dia 20/03/2020, às 19h n’A Casa de Vidro (Goiânia-GO) – 1ª Av. 974 no Universitário.

Streaming (link será disponibilizado na véspera neste evento). Gravado via podcast Impacto Positivo e canal A Casa de Vidro no Youtube.

Marcha Popular do Clima: a Revolução começa aqui (por Ricken Patel, publicado no periódico britânico “The Guardian”)

Criar um mundo movido a energia limpa para nos salvar da catástrofe climática é um desafio central do nosso tempo, e requer uma transição revolucionária nas nossas economias. Não podemos esperar por nossos líderes pela solução deste problema; a menos que sintam uma forte pressão pública, eles nunca irão longe o suficiente, ou rápido o suficiente. As revoluções começam com as pessoas, e não com políticos.

Para sobreviver no século 21, temos de descobrir o sentido de propósito comum que tem impulsionado mudanças revolucionárias através da história, a construção de um movimento de massa para ir além do que os nossos políticos acreditam que seja o possível. Temos de estar à frente, não seguir atrás, e arrastar os líderes conosco.

Líderes Mundiais Discutindo a Catástrofe Ecológica...

Líderes Mundiais Discutindo a Catástrofe Ecológica…

Nos anos que antecederam a 2014, com a diferença entre o que a ciência exige e o que nossos políticos fizeram tendo se alargado, um fatalismo começou a se espalhar em parte do movimento climático. Em seguida, um punhado de organizadores fez uma aposta importante no poder das pessoas – chamando a maior mobilização climática na história para mudar a dinâmica política.

E Uau! Isso funcionou. No ano passado, a Marcha Popular do Clima em setembro foi, sem qualquer dúvida, um divisor de águas. Quase 700.000 de nós tomaram as ruas, de longe a maior mobilização climática já realizada. As marchas foram esperançosas, positivas inclusive. Por incrível que pareça, ao redor do mundo, sequer uma única pessoa foi presa. Milhares de organizações, desde ativistas ambientais até grupos religiosos e sindicatos, reuniram-se, mostrando que a mudança climática não é mais uma questão dos ‘verdes’; é um problema de todos agora.

O impacto sobre os políticos foi palpável. Dezenas de ministros de diferentes países terminaram se juntando à marcha, bem como o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Com o rugido da multidão a arrastá-los, vi em seus rostos a percepção de que eles estavam testemunhando a história. Na Cúpula das Nações Unidas no dia seguinte, um líder após o outro citou as marchas e sua intenção de ser mais ambicioso.

As ruas de NYC durante a Marcha Popular do Clima (People's Climate March) 2014

As ruas de NYC durante a Marcha Popular do Clima (People’s Climate March) 2014

Nos meses que se seguiram, os especialistas disseram-nos que não havia nenhuma saída que não fosse a Europa adotar uma meta de redução de emissões de carbono “de pelo menos 40%” até 2030. Com uma campanha constante e a liderança de alguns desses ministros que participaram da marcha, isso foi feito. Em seguida, EUA e China apareceram com compromissos de emissões surpreendentemente fortes, com a China prometendo um pico em suas emissões até 2030 – um passo enorme. O impulso continuou, com um movimento de desinvestimento constrangendo a indústria de combustíveis fósseis, grandes corporações abraçando energia limpa e o Papa trazendo sua enorme credibilidade moral para apoiar a causa. E o movimento tem-se desenvolvido, com milhares de novas flores desabrochando, e um crescente ativismo de ação direta aumentando a urgência moral da questão.

A cúpula climática da ONU em Paris em dezembro será a maior cúpula do clima mundial desta década. Os estágios nacionais e globais trabalham em conjunto, seja arrastando o outro para cima em termos de ambição, seja numa espiral descendente. Devemos fazer de Paris um momento para dar o impulso e aumentá-lo. Uma poderosa forma de fazer isso seria o mundo inteiro, pela primeira vez, concordar com o objetivo de uma economia global descarbonizada, alimentada por energia limpa. Isso serviria como um sinal imediato para os que investem ao mesmo tempo em energia limpa e suja, em todos os lugares, para acelerarem a transição energética que já está em andamento.

A esperança está se ampliando, a iniciativa está conosco, mas nós já estivemos aqui antes. Desde a Cúpula da Terra em 1992 até o Protocolo de Quioto em 1997, o mundo avançou no passado, apenas para retroceder pela política tóxica do lobby de combustíveis fósseis, com sua ciência-lixo e negacionismo climático bem financiados. A cada momento, a diferença entre a ação que está sendo adotada e a ação necessária à nossa sobrevivência se alarga. Precisamos de um movimento que seja construído para durar, construído para vencer e continuar vencendo, ao longo de décadas por vir.

É por isso que, em 29 de novembro, um dia antes de os líderes mundiais convergirem em Paris, as pessoas vão se reunir novamente nas ruas para as uma Marcha Popular do Clima global – para quebrar o recorde do ano passado de maior mobilização mudança climática na história. Em milhares de cidades e vilas em todo o planeta, nós vamos nos reunir ou marchar pelas nossas comunidades e por aqueles já em risco pelas mudanças climáticas, pelo futuro dos nossos filhos e netos, e por um mundo mais seguro alimentado por energia limpa. Vamos mostrar aos políticos que este é um movimento que chegou para ficar e está crescendo rapidamente. E vamos inspirar outros a aderirem a este movimento aberto e sem porteiras, para o qual não há é preciso convite – todos são convidados, não só a participar, mas para organizar e liderar. Porque, para uma revolução climática que mude tudo, precisamos de todos.

RICKEN PATEL
People’s Climate March: The Revolution Starts Here
The Guardian (UK), 29 de Julho de 2015

LEIA O ARTIGO ORIGINAL EM INGLÊS:

Este texto foi reblogado do “O Que Você Faria Seu Eu Soubesse O Que Sei”, blog crucial do Alexandre Costa, que é insurgente do PSOL e um dos mais relevantes militantes ecosocialistas do Brasil

P.S. – Em 2014, ano de andanças pelo norte do continente, nós – eu e a Gi Toassa – participamos da Marcha Popular do Clima, lá em Toronto, e foi uma impressionante experiência cívica (além de inesquecível vivência humana!). Eram cerca de 10.000 pessoas que tomaram as ruas da metrópole canadense bradando por energia limpa, pelo fim dos combustíveis fósseis, pelo diminuição radical das emissões de CO2 etc. Nos cartazes e nos gritos, manifestaram preocupações, demandas, revoltas – além de ofensas (legítimas!) dirigidas ao presidente Stephen Harper, ecocida de carteirinha e amicíssimo dos donos de petrodollars em Alberta. O Canadá tem razões de sobra para marchar contra o status quo – a exploração do petróleo dos “tar sands” já é amplamente reconhecido como um dos projetos energéticos mais obscenamente poluidores do planeta, um verdadeiro crime contra a humanidade no atual cenário de agravamento do aquecimento global. Alberta é o nome de um lugar onde os netos de nós, os mortais hoje vivos, estão sendo assassinados por antecipação.

Apesar de pequena em comparação com a marcha de Nova York (que levou cerca de 400.000 manifestantes às ruas), a marcha em Toronto mostrou aos participantes a força deste movimento social nascente. Na próxima década, os destinos políticos globais vão começar a ser diretamente impactados por estas mobilizações que vão ganhando momentum e que talvez impressionem os desavisados em Paris, 2015.

Outro sinal dos tempos estava nas livrarias do Canadá, por todo lado, em 2014 – justo nesta época da Marcha do Clima estava sendo lançado, com alta tiragem e estardalhaço midiático (a revista Now!, publicação gratuita que circula em Toronto, fez um ótimo trabalho neste sentido) de um livro seminal, que li com grande gosto e admiração em 2014, de uma das figuras públicas mais lúcidas e influentes do país, Naomi Klein. Após Doutrina do Choque Sem Logo, Naomi Klein, com seu This Changes Everything, deu à luz uma obra-prima do jornalismo e do ativismo em nosso tempo – e leitura obrigatória para entender o presente e o futuro das “lutas climáticas” (que já começaram a raiar com mais força). O que me estarrece é que no Brasil este livro ainda não foi lançado, o que é um crime contra o brasileiro, que necessita urgentemente ter acesso à informação que Klein ali compartilha.

O vídeo que compartilho a seguir é o documentário de 15 minutos que nasceu daquele dia, em que, excitados e alvoroçados, fomos um casal enamorado e um tanto embriagado com a folia da participação cívica que “esverdejou” as ruas, em meio à impressionante maré humana que tomou conta de Toronto. A todo momento, por trás das câmeras, eu filmava tendo em mente que estava no seio de algo que acontecia simultaneamente mundo afora, em dúzias de outras cidades – foi o primeiro protesto autenticamente global que vivenciei. Filmei Toronto tendo na imaginação imagens do que poderia estar rolando durante as manifestações da Cúpula do Clima da ONU, em Nova York, que sentia o impacto de meio milhão de vozes, nas ruas ruidosas, ensurdecedoramente clamando por soluções para a catástrofe ambiental que se agrava a cada dia.

Confesso ainda – para desenvolver o argumento mais tarde, em outra ocasião… – que sinto que estou cada vez mais entre aqueles que considera, baseado no pequeno e sempre expansível conhecimento que tenho da realidade sócio-ambiental do planeta, que aqueles que mais próximos estão de oferecer uma solução  plausível para nossos dilemas globais são os ecosocialistas. Trata-se de realizar – urgente! – uma system change, not climate change, pra citar o nome de uma das organizações mais significativas do ecosocialismo canadense, e cujo discurso muito me agradou – e digo isso após ter ouvido pessoalmente a uma conferência de Brad Hornick, ativista de Vancouver, no Forum Social de Peuples  2014, em Ottawa. Atualmente estudo o livro de Michael Löwy, “O Que É o Ecosocialismo”, e em breve pinta por aqui um ensaio… Quem se interessar pelo tema, fique de olho na Casa de Vidro!…

GREEN POWER:
The People’s Climate March in Toronto / 2014

NÃO HÁ AMANHÃ – There’s No Tomorrow (2012) >>> DOC ANIMADO COMPLETO

Tomorrow

NÃO HÁ AMANHÃ
There’s No Tomorrow (2012)
Direção: Dermot O’ Connor

DOCUMENTÁRIO ANIMADO COMPLETO:

Sinopse por Docprimus: “Documentário animado, de 34 minutos, que aborda a situação alarmante que vivemos enquanto civilização. Entre outras ameaças, a demanda e a exploração crescentes de energia e recursos preciosos como o petróleo, carvão e gás natural, são das mais importantes. É preciso realizar uma transição da economia baseada nos hidrocarbonetos para outra baseada em energia e recursos renováveis.

Assim, o filme apresenta conceitos básicos e informações importantes na análise da viabilidade de fontes de energia alternativas como a eólica, hidráulica e solar, por exemplo, considerando os prós e os contras de cada uma. Mas os resultados não são positivos.

O desenvolvimento da nossa civilização nos últimos 150 anos está relacionado em muitos aspectos com a história da exploração e uso do petróleo e seus derivados, e sua continuidade está ameaçada pela desconsideração de uma transição gradual para um modelo sustentável, e principalmente pela impossibilidade de um crescimento econômico infinito em um planeta finito e que já apresenta sinais de esgotamento.”

Saiba mais: Consciência.blog.br – Papo de Homem

“O PODER DA COMUNIDADE – COMO CUBA SOBREVIVEU AO PICO PETROLÍFERO” (Um filme de Faith Morgan, 2006, 52 min) #HotDocs

The Power of Community

“Quando a União Soviética entrou em colapso em 1989, a economia cubana entrou em queda livre. Com as importações de petróleo cortadas em 50% e as importações de alimentos cortadas em 80%, as pessoas estavam desesperadas. Este filme encorajador e fascinante mostra como as comunidades reagiram juntas, criaram soluções e finalmente prosperaram, apesar da sua menor dependência de energia importada. No contexto das preocupações mundiais com o pico petrolifero, Cuba é uma visão inspiradora de esperança….”

Assista na íntegra, com legendas em português:
http://youtu.be/rr70FVoAXBo

The documentary, “The Power of Community – How Cuba Survived Peak Oil,” was inspired when Faith Morgan and Pat Murphy took a trip to Cuba through Global Exchange in August, 2003. That year Pat had begun studying and speaking about worldwide peak oil production. In May Pat and Faith attended the second meeting of The Association for the Study of Peak Oil and Gas, a European group of oil geologists and scientists, which predicted that mankind was perilously close to having used up half of the world’s oil resources. When they learned that Cuba underwent the loss of over half of its oil imports and survived, after the fall of the Soviet Union in 1990, the couple wanted to see for themselves how Cuba had done this. During their first trip to Cuba, in the summer of 2003, they traveled from Havana to Trinidad and through several other towns on their way back to Havana. They found what Cubans call “The Special Period” astounding and Cuban’s responses very moving. Faith found herself wanting to document on film Cuba’s successes so that what they had done wouldn’t be lost. Both of them wanted to learn more about Cuba’s transition from large farms or plantations and reliance on fossil-fuel-based pesticides and fertilizers, to small organic farms and urban gardens. Cuba was undergoing a transition from a highly industrial society to a sustainable one. Cuba became, for them, a living example of how a country can successfully traverse what we all will have to deal with sooner or later, the reduction and loss of finite fossil fuel resources. In the fall of 2003 Pat and Faith had the opportunity to return to Cuba to study its agriculture. It was a wonderful trip. They saw much of the island, met many farmers and urban gardeners, scientists and engineers – traveling more than 1700 miles, from one end of Cuba to the other. It was all they had hoped for and more. In 2004 Community Service, Inc. (CSI) began raising money and organizing a third trip (October), to film in Cuba. Greg Green, cinematographer and director of The End of Suburbia documentary, was the chief videographer. Faith Morgan shot the second camera, John Morgan did still photography and Megan Quinn, Outreach Director of CSI, was sound director. After their return from Cuba, they secured assistance and direction from Tom Blessing IV, producer, and Eric Johnson, post-production supervisor and editor. Together, they bring over 40 years combined experience in film and television production. The goals of this film are to give hope to the developed world as it wakes up to the consequences of being hooked on oil, and to lift American’s prejudice of Cuba by showing the Cuban people as they are. The filmmakers do this by having the people tell their story on film. It’s a story of their dedication to independence and triumph over adversity, and a story of cooperation and hope. Several Cubans expressed the belief that living on an island, with its natural boundaries, breeds awareness that there are limits to natural resources. Everyone who has worked on the documentary hopes that, seeing this film, people will also see the world on which we live, as another, much larger, island.

Visite também: “The Power Of Community, How Cuba Survived Peak Oil” (2006)
http://naturalheroes.org/videos/the-power-of-community-how-cuba-survived-peak-oil/