O OCULTAMENTO DOS MASSACRES NEOLIBERAIS: A Necropolítica do burgofascismo não só mata, ela oculta de nossa consciência suas atrocidades

NA ERA DOS MASSACRES NEOLIBERAIS

“Nem mesmo os mortos estarão a salvo do inimigo caso ele ganhe, e esse inimigo não cessou de ser vitorioso.”
WALTER BENJAMIN, Teses Sobre o Conceito de História

Ilusões ingênuas sobre o “capitalismo com rosto humano” vão colapsando no continente: o capitalismo desumano se desnuda. O Chile insurgente obriga o que resta do sistema Pinochetista a conceder a Constituinte, e o país passará em breve pelo duro processo de parto da Constituição nova em 2020; a Colômbia realiza as maiores greves gerais das últimas décadas, na esteira da vitória do movimento cívico do Equador, que obrigou Lênin Moreno a recuar de seu pacto com o FMI; na Bolívia, após a derrubada do governo do MAS, proliferam as atrocidades cometidas pela “Direita Gospel” que “pôs a Bíblia de novo no Palácio Quemado”.

A derrota eleitoral de Macri na Argentina é outro sinal de que as políticas neoliberais não encontram mais tanto respaldo nas urnas. No Brasil, assim como se deu no Chile a partir do golpe de 1973, após o Golpe de 2016 vimos o exacerbamento das núpcias sinistras entre neoliberalismo e fascismo (tema explorado no novo livro de Wendy Brown). E assim o neoliberalismo vai se mostrando pelo que é: as convulsões de agonia de um sistema moribundo e massacrante.

Os massacres na Bolívia, que a mídia burguesa tenta encobrir, afundam ainda mais na impossibilidade a manutenção da ilusão de que estaríamos lidando com “capitalistas humanitários” – nós estamos é lidando com a barbárie mesmo. Com a selvageria fascista abraçada ao fundamentalismo dos mercados de capitais. Como diria Rosa Luxemburgo, a alternativa básica, nossa encruzilhada elementar, é mesmo a escolha entre Socialismo e Barbárie. Mas como disse depois Daniel Bensaïd, “na luta secular entre o socialismo e a barbárie, a barbárie ganha de longe.” [1]

A palavra Resistência, hoje, só faz sentido se for aquele “freio de emergência” que Walter Benjamin usava como metáfora da revolução. Resistência à barbárie que começa por não permitirmos, por nada, que os tiranos possam nos massacrar impunemente e abafando a própria notícia de seus crimes. Os mortos nos massacres na Bolívia, tanto quanto os mortos nos massacres de Paraisópolis ou dos morros do Rio de Janeiro, precisam ser salvos do esquecimento, do eclipse, do ocultamento debaixo dos tapetes da tirania. Sobre o Massacre em El Alto, no bairro Senkata, em 19 de Novembro de 2019, relata uma reportagem:

Naquele dia, “em que havia muita fumaça e helicópteros” em El Alto, a autoproclamada presidenta Jeanine Áñez determinou uma megaoperação policial-militar para retomar a unidade da Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), ocupada por manifestantes contrários ao golpe. Nacionalizada pelo governo de Evo Morales, a estatal é um dos símbolos maiores do orgulho e da autoestima bolivianas, e tem sido central no aporte ao desenvolvimento soberano e à redistribuição de renda. (Fonte: Carta Maior / Outras Palavras).

(…) [Durante o massacre] havia um ódio dirigido especialmente contra as senhoras de pollera (as saias indígenas), que os soldados faziam com que se ajoelhassem. Um senhor mais velho se ajoelhou e abriu os braços suplicando para que o matassem, mas poupassem os seus filhos, os jovens, que tinham muito ainda para viver. Mas os militares os mataram a sangue frio. E foram muitos”. Pergunto sobre os números de vítimas, completamente destoantes das cifras oficiais. Ao que ela responde: “são tantos os desaparecidos, corpos jogados no monte Ilimany, no vale Achocalla e no monte de Villa Ingenio”. “O fato é que todos têm medo de falar, por nada no mundo querem se arriscar, mas o fato é que há muito mais mortos…” [2]

SAIBA MAIS:

Poucos dias antes, o Massacre de Cochabamba, em 15 de novembro, já havia deixado explícito o caráter dos que se apossaram do poder após o golpe de Estado que “pôs a Bíblia de volta no Palácio Quemado” com a posse de uma presidenta auto-proclamada diante de um congresso sem quórum, ungida pelas forças armadas e pelos latifundiários de Santa Cruz de La Sierra. Foram 9 manifestantes assassinados pela repressão brutal de um estado terrorista já apelidado por alguns de Ditadura Gospel, um “recado” escrito em sangue para os que resistem ao golpe.

O massacre, ainda que moralmente repugnante, é utilizado como meio aceitável por uma elite apegada a seus privilégios e temerosa dos movimentos igualitários; o massacre então funciona como estratégia para apavorar a população resistente e submetê-la assim ao pseudo-consentimento dos apavorados. No Democracy Now, encabeçado pela jornalista Amy Goodman, temos uma janela de acesso às notícias sobre a conjuntura na Bolívia após a deposição do governo de Evo Morales e Garcia Linera. Pachamama sangra enquanto aumenta a criminalização das populações indígenas e dos ativistas do MAS. Signos de que estão de novo sangrando aos borbotões as veias abertas da América Latina.

“In Bolivia, at least 23 people have died amid escalating violence since President Evo Morales, the country’s first indigenous president, resigned at the demand of the military last week. Growing unrest quickly turned to violent chaos on Friday outside Cochabamba when military forces opened fire on indigenous pro-Morales demonstrators, killing at least nine people and injuring more than 100. The violence began soon after thousands of protesters — many indigenous coca leaf growers — gathered for a peaceful march in the town of Sacaba and then attempted to cross a military checkpoint into Cochabamba. Amid this escalating violence and reports of widespread anti-indigenous racism, protesters are demanding self-declared interim President Jeanine Áñez step down. Áñez is a right-wing Bolivian legislator who named herself president at a legislative session without quorum last week. She said that exiled socialist President Morales, who fled to Mexico after he was deposed by the military on November 10, would not be allowed to compete in a new round of elections and would face prosecution if he returned to Bolivia, which has a majority indigenous population.” [3]

No Chile, apesar das diferenças em relação à Bolívia no que tange à conjuntura política, as mega-manifestações contra o governo Piñera também sofreram com uma brutal repressão análoga àquela que se derrubou sobre os defensores do governo deposto de Evo Morales e Garcia Linera. Os mortos, feridos e cegados se multiplicam sem que esta estratégia estatal terrorista logre de fato calar os protestos. Em 16 de Novembro de 2019, dados oficiais divulgados pelo governo estimavam 23 mortos nos protestos, um número de feridos acima de 2000 e de presos acima de 6000. São números que indicam bem o tamanho do amor do neoliberalismo pela democracia: zero.

No caso das mobilizações feministas, houve um efeito de viralização internacional do “hit das ruas” que acusa: “O Estado opressor é um macho violador”. Para além das fronteiras chilenas, mulheres de todo o planeta estão replicando a performance-protesto e dizendo aos violadores: “E a culpa não era minha, nem onde estava, nem como me vestia”.

Um detalhe cruel do processo repressivo perpetrado pelos carabineros chilenos são as balas de borracha disparadas contra os olhos dos manifestantes: calcula-se em mais de 200 pessoas que perderam a visão nos protestos de 2019. Qualquer justificativa de autoridades deste governo que visasse apontar os olhos explodidos como episódios isolados colapsa diante de um número que prova que tais atrocidades são propositais e recorrentes. Segundo o Correio Brasiliense, pelo menos 285 pessoas “sofreram traumas oculares graves, inclusive com a perda de visão, atingidos pelo disparo de balas de borracha e granadas de gás lacrimogêneo.”

Uma das histórias ocultadas e recalcadas pelos neoliberais hoje empoderados diz respeito ao verdadeiro “laboratório” da economia política neoliberal: o Chile de Pinochet. Em seu artigo mais recente em El País, o filósofo Vladimir Safatle rompe com este ocultamento e diz claramente que o neoliberalismo não começa com Reagan e Tatcher, mas sim sob os escombros ensanguentados do governo Allende, deposto num violento golpe militar que trouxe ao poder os milicos amigados com os Chicago Boys. Naomi Klein já contou esta história em minúcias no indispensável A Doutrina do Choque. Safatle, diante da figura pavorosa de Paulo Guedes, ministro da Economia que é fã do Pinochetismo Neoliberal, recupera o vínculo umbilical entre ditadura militar e instalação do neoliberalismo na América Latina:

“A liberdade do mercado só pode ser implementada calando todos os que não acreditam nela, todos os que contestam seus resultados e sua lógica. Para isto, é necessário um estado forte e sem limites em sua sanha para silenciar a sociedade da forma mais violenta. O que nos explica porque o neoliberalismo é, na verdade, o triunfo do estado, e não sua redução ao mínimo.

Que lembrem disso aqueles que ouviram o sr. Paulo Guedes falar em AI-5 nos últimos dias. Isso não foi uma bravata, mas a consequência inelutável e necessária de sua política econômica. Como se costuma dizer, quem quer as causas, quer as consequências. Quem apoia tal política, apoia também as condições ditatoriais para sua implementação. O neoliberalismo não é uma forma de liberdade, mas a expressão de um regime autoritário disposto a utilizar todos os métodos para não ser contestado. Ele não é o coroamento da liberdade, só uma forma mais cínica de tirania.” SAFATLE (El País, 2019) [4]

A cínica tirania Bolsonarista tem em Moro e Guedes duas de suas lideranças mais brutais, que querem o silenciamento pleno do dissenso e da discórdia: que ninguém ouse protestar se não quiser que se instaure um AI-5 versão 2019, e que ninguém ouse lembrar que o Sr. Ministro da Justiça, que influiu criminosamente no processo eleitoral de 2018 ao prender injustamente aquele que seria eleito presidente, está querendo aprovar os “excludentes de ilicitude” que são carta branca para a PM matar geral nas favelas e nos protestos. O ideal desta gente nefasta é mesmo o Chile de Pinochet.

Na ocasião em que o governo da União Popular, eleito em 1970, foi brutalmente golpeado pelas atrocidades militares que marcaram o 11 de Setembro de 1973, para a instalação da ditadura capitalista encabeçada por Pinochet, com seus últimos alentos o presidente socialista Salvador Allende, ciente de estar entrando no panteão dos mártires, pronunciou frases que os chilenos jamais esqueceriam: “Antes do que se pensa, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre para construir uma sociedade melhor.”

Afundando na morte mas não no esquecimento, Allende tentava incentivar, em seu último ato, os que ficavam entre os vivos a permanecerem na luta por tempos menos sórdidos, encarando todos os horrores de uma Santiago ensanguentada. Um ano depois, as últimas palavras de Allende inspirariam uma das mais belas canções do cantor e compositor cubano Pablo Milanés, “Yo pisaré las calles nuevamente” (letra abaixo). Neste videoclipe, as insurreições populares no Chile, em 2019, contra o governo neoliberal e direitista de Piñera, as imagens de Santiago fervilhante de inquietação cívica são acompanhadas pela música de Milanés, evocatórias de Allende, numa bela obra que mescla as conturbações do presente com a lembrança fecunda do passado:

“Yo pisaré las calles nuevamente
de lo que fue Santiago ensangrentada,
y en una hermosa plaza liberada
me detendré a llorar por los ausentes.

Yo vendré del desierto calcinante
y saldré de los bosques y los lagos,
y evocaré en un cerro de Santiago
a mis hermanos que murieron antes.

Yo unido al que hizo mucho y poco
al que quiere la patria liberada
dispararé las primeras balas
más temprano que tarde, sin reposo.

Retornarán los libros, las canciones
que quemaron las manos asesinas.
Renacerá mi pueblo de su ruina
y pagarán su culpa los traidores.

Un niño jugará en una alameda
y cantará con sus amigos nuevos,
y ese canto será el canto del suelo
a una vida segada en La Moneda.

Yo pisaré las calles nuevamente
de lo que fue Santiago ensangrentada,
y en una hermosa plaza liberada
me detendré a llorar por los ausentes.”
Pablo Milanés

A sangrenta repressão que o autoritarismo estatal vem impondo na Bolívia e no Chile evocam episódios históricos semelhantes e que demonstram a constância da brutalidade reacionária. O exemplo mais emblemático disso segue sendo, talvez, a Comuna de Paris, que em 1871 foi brutalmente massacrada pelas forças reacionárias que tinham se exilado em Versalhes, preparando a carnificina contra os communards parisienses. As elites, destronadas, não costumam ter escrúpulos morais em relação ao emprego da violência assassina para que recuperem um poder de que estão sendo alijadas:

“A Comuna de Paris terminou em massacre. Durante a chamada Semana Sangrenta, 35 mil pessoas foram executadas nas ruas da capital francesa, numa repressão sistemática que se configurou em extermínio de massa. Além disso, 10 mil comunardos foram deportados para a Nova Caledônia…” (TRAVERSO, Enzo, 2019, p. 93) [5]

O sangue das 35.000 vítimas da Comuna de Paris não pode ser esquecido por ninguém que queira manter a lucidez em suas decisões de natureza política: logo após a massacrante repressão de maio de 1871, que encerrou o experimento revolucionário comunista em Paris, Marx escreveria, em A Guerra Civil na França, palavras que não permitiam, diante da derrota, o desânimo:

“A sociedade moderna é o solo onde cresce o socialismo, que não pode ser estancado por nenhum massacre, não importa de que dimensão. […] A Paris operária, com sua Comuna, será eternamente lembrada e celebrada como o arauto de uma nova sociedade. Seus mártires estarão consagrados no coração das classes trabalhadoras. A história de seus exterminadores já foi cravada no pelourinho eterno de onde todas as rezas de seus padres não conseguirão jamais redimi-los.” – KARL MARX [6]

Nas ruas de La Paz, em Novembro de 2019, a barbárie ganhou um novo emblema: os caixões dos manifestantes mortos em El Alto foram envolvidos pelas nuvens de gás lacrimogêneo e pelo corre-corre da multidão em dispersão. Não, o capitalismo neoliberal massacrante não quer nem mesmo permitir que choremos nossos mortos. Se deixarmos, enfiarão de novo um monte de esqueletos nos armários. E nos mandarão, aos chutes, para os shopping centers e hipermercados para que continuemos comprando, bestificados e catatônicos.

Sinal da banalidade do mal que ainda é nossa contemporânea, o ocultamento e a normalização dos massacres neoliberais indica que a desumanidade humana ainda tem muito futuro – e que à Resistência antifascista não faltará trabalho nem mártires a chorar. A mídia burguesa irá seguir ocultando, o quanto puder, os massacres de El Alto e de Cochabamba, ou os crimes contra a humanidade cometidos pelos carabineiros chilenos, ou a grave situação humanitária em Altamira, na Amazônia brasileira, onde em 2019 ocorreu o pior massacre carcerário desde o Carandiru.

Se permitirmos, nem mesmo os que morreram ou perderam os olhos na luta contra o Mammon neoliberal estarão a salvo da boçalidade do mal que se manifesta em Bolsonaros, Trumps e Piñeras. A Necropolítica do burgofascismo não só mata, ela oculta de nossa consciência suas atrocidades. É também nossa tarefa, enquanto cidadãos que podem hoje também agir como mídia independente, sacar seus celulares e blogs, mobilizar seus feeds e redes, para impedir que as carnificinas perpetradas pelas classes dominantes – que hoje mesclam neofascismo e neoliberalismo – possa cair na indiferença e no esquecimento.

Carli, Dez. 2019

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] BENSAÏD, D. apud TRAVERSO, Melancolia de Esquerda: Marxismo, História e Memória, 2019, pg. 27.

[2] SEVERO, Leonardo Wexell. Bolívia: o massacre que os neoliberais tentam encobrir. 2019.

[3] DEMOCRACY NOW! Massacre in Cochabamba: Anti-Indigenous Violence Escalates as Mass Protests Denounce Coup in Bolivia. 15/11/2019.

[4] SAFATLE, VladimirA Ditadura do Sr. Guedes. El País, Dez. 2019.

[5] TRAVERSO, Enzo, Melancolia de Esquerda: Marxismo, História e Memória, 2019, p. 93.

[6] MARX, Karl. A Guerra Civil na França, trad. Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2011. Apud #1, p. 93.

* * * *

SAIBA MAIS:

VIVIR BIEN: ¿PARADIGMA NO CAPITALISTA? – Ebook completo, Prólogo por Evo Morales

VIVIR BIEN: ¿PARADIGMA NO CAPITALISTA?

Acesse ebook completo

PRÓLOGO – por Evo Morales Ayma (Presidente da Bolívia desde 2005)

He recibido muy honrado la invitación para prologar el libro “Vivir Bien: ¿Paradigma no Capitalista?”. Con ese sentimiento escribo estas líneas, consciente de que las reflexiones que contiene aparecen en un momento crucial en la defensa de los derechos de la Madre Tierra y en la construcción o recuperación de paradigmas en la lucha de los pueblos.Quiero saludar y felicitar el esfuerzo intelectual de pensadores americanos y europeos que proponen una sistematización imprescindible de la doctrina y práctica del Vivir Bien. Los aportes desde distintas miradas, desde distintas latitudes, desde varias disciplinas de las ciencias sociales, políticas y económicas nos permiten tener una visión muy avanzada de nuestros desafíos, de nuestros obstáculos, de nuestros logros y de nuestras fortalezas.

El Vivir Bien como una forma de vida, de relacionamiento con la naturaleza, de complementariedad entre los pueblos es parte de la filosofía y la práctica de los Pueblos Indígenas. Asimismo, no sólo desnuda las causas estructurales de las crisis (alimenticia, climática, económica, energética) que vive nuestro planeta, sino que plantea una profunda crítica al sistema que está devorando a seres humanos y a la naturaleza: el sistema capitalista mundial.

Mientras los Pueblos Indígenas proponen para el mundo el “Vivir Bien”, el capitalismo se basa en el “Vivir Mejor”. Las diferencias son claras: El vivir mejor significa vivir a costa del otro, explotando al otro, saqueando los recursos naturales, violando a la Madre Tierra, privatizando los servicios básicos; en cambio el Vivir Bien es vivir en solidaridad, en igualdad, en armonía, en complementariedad, en reciprocidad. En términos científicos, desde el marxismo, desde el leninismo dice: socialismo-capitalismo; y nosotros sencillamente decimos: el vivir bien y el vivir mejor.

Es la lógica del sistema capitalista la que está destrozando el planeta, es la ganancia, la obtención de más y más ganancia por sobre todas las cosas. Es la lógica de las empresas transnacionales a las que sólo les importa aumentar las utilidades y bajar los costos. Es la lógica del consumo sinfín, de la guerra como instrumento para adueñarse de mercados y recursos naturales, y no importa si para conseguir más mercados y más ganancia se tiene que destruir los bosques, explotar y despedir trabajadores y privatizar los servicios esenciales para la vida
humana. El Vivir Bien está reñido con el lujo, la opulencia y el derroche, está reñido con el consumismo.

Esto implica la contraposición de dos culturas, la cultura de la vida, del respeto entre todos los seres vivos, del equilibrio en contra de la cultura de la muerte, de la destrucción, de la avaricia, de la guerra, de la competencia sin fin. Nuestros ojos y corazones lo ven y sienten, nuestros hijos e hijas lo están viviendo: el capitalismo es el peor enemigo de la humanidad.

Decimos Vivir Bien porque no aspiramos a vivir mejor que los otros. No creemos en la concepción lineal y acumulativa del progreso y el desarrollo ilimitado a costa del otro y de la naturaleza. Tenemos que complementarnos y no competir. Debemos compartir y no aprovecharnos del vecino. Vivir Bien es pensar no sólo en términos de ingreso per-cápita, sino de identidad cultural, de comunidad, de armonía entre nosotros y con nuestra Madre Tierra.

El “Vivir Bien” es un sistema que supera al capitalista, pero que además plantea un desafío que también pone en jaque algunos preceptos clásicos de la izquierda que en un ánimo desarrollista se planteaba el dominio de la naturaleza por el ser humano.

Pero además del desafío teórico, estamos ante el desafío práctico de la lucha. Hemos librado juntos varias batallas y gracias a la fuerza de los pueblos hemos derrotado políticas como la del ALCA. Solamente con la lucha los pueblos del mundo vamos a derrotar al capitalismo para salvar a la humanidad. Mis años de experiencia en la lucha sindical y política me han enseñado reiteradamente que debemos someternos al pueblo, que solamente organizados venceremos el desafío de salvar a la humanidad, conscientes que lograremos ese propósito salvando a la Madre Tierra del sistema capitalista.

En los días en que es publicado el libro que la lectora y el lector tienen entre sus manos, la humanidad se encuentra en la encrucijada definitiva, si ahora y en los años que vendrán nosotros nos organizamos y luchamos, las niñas y niños de la Madre Tierra disfrutarán de los bosques, de las playas, del cantar de los pájaros; si no luchamos, si no vencemos al miedo, dejaremos que el capitalismo nos aniquile, si nosotros no entregamos la vida en esta lucha, entonces quienes pagan ejércitos para invadir países, quienes fabrican bombas, los señores de la muerte habrán triunfado.

Que este libro sirva para el debate, para la discusión fraterna, pero sobre todo que sirva para la lucha.



ÁGUAS EM CRISE – Livros e documentários para conhecer mais sobre o futuro da água no Planeta Azul

damnation

ÁGUAS EM CRISE

“Água é vida” – isto não é uma hipérbole poética. A bioquímica dos corpos humanos, desvelada em minúcia pela ciência, indica quão visceralmente a água nos é essencial: somos compostos por 2/3 de H2O. Um organismo como o nosso é constituído por maior quantidade de água do que de carbono (normalmente descrito como o “bloco” fundamental no edifício químico da vida).

Não há como construir os edifícios da vida, as esculturas vivas que desfilam sua multiplicidade pelo pluri-colorido teatro terrestre, sem água. O sangue que flui em nossas veias, indispensável às funções da vida, é descrito pelo embaixador de Bolívia na ONU, Pablo Solón, como um “network” de rios que transportam nutrientes e energia através de nossos corpos. Há, pois, os rios de dentro e os rios de fora.

 A água é a procriadora de vida, o elemento ambiental sine que non para o nascimento e a sustentação de gerações de seres vivos. E ninguém de nós sobrevive sem bebê-la – sem água, a morte horrenda dos sedentos no deserto ceifa-nos a vida em poucos dias. Perguntem aos esqueletos do deserto do Atacama se vale a pena uma vida sem água. As caveiras vos responderão, silentes, que não.

Em nosso mundo previsto para em breve abrigar 9 bilhões de seres humanos, especialistas prevêem que a demanda por água em 2030 será 40% superior à oferta: em outras palavras, o futuro será repleto de sedentos. O grau de horror deste pesadelo depende muito de como seremos capazes de lidar, coletiva e globalmente, com a tarefa hercúlea de reduzir as emissões de gases-de-efeito-estufa e de proteger os cursos-d’água ainda límpidos das garras dos poluidores profissionais, esses tipos meio Wall Street, meio Cosmópolis do Cronenberg/DeLillo, que lidam com a Natureza como se ela fosse um imenso cassino… eles jogam com o futuro da vida detrás de seus bunkers, protegidos pelas polícias e pelos exércitos, e quem sofre é sempre alguém à distância… No linguajar corporativo: o sofrimento humano em massa é mera “exterioridade”…

Águas contaminadas por pesticidas e elementos químicos radioativos pioram ainda mais o cenário – e não sabemos, no porvir, quantas catástrofes semelhantes à ocorrida na usina nuclear japonesa de Fukushima, após o tsunami, ou o derramamento imenso de petróleo no Golfo do México em 2010, irão ainda acontecer. As águas estão em crise. O futuro da teia-da-vida, às águas umbilicalmente conectada, também vê-se ameaçada. Vozes erguem-se pedindo louvor à Gaia, devoção à Pachamama, mas na prática os lords do capitalismo extrativista global lucram ao pregar Gaia na cruz e usar Pachamama como uma puta estuprável.

Água de várias faces, presente na nuvem e no furacão, no oceano e na urina, em cataratas despencantes e em vapores decorrentes de ebulições, é também peça-chave em nossas civilizações – na escassez de água, não tarda o colapso civilizacional, o retrocesso em barbárie, o risco de extinção (como aponta, entre outros, Jared Diamond). O século 21 já é descrito pelos estudiosos como aquele em que a água se transformará no NOVO PETRÓLEO. “Subitamente tornou-se límpido”, escreve Maude Barlow em seu livro “Ouro Azul: A Batalha Contra O Roubo Corporativo Da Água”, “the world is running out of fresh water”:

Barlow 3

“As water became the oil of the twenty-first century, we predicted, a water cartel would emerge to lay claim to the planet’s freshwater resources. This has come true.  But so has our prediction that a global water justice movement would emerge to challenge the “lords of water”. […] The amazing work of the environmentalists, human rights activists, indigenous and women’s groups, small farmers, peasants, and thousands of grassroots communities that make up the global water justice movement, fighting for the right to water and to keep water and to keep water under public and democratic control.” (BARLOW, Maude. Blue Future)

Talvez o acontecimento histórico recente mais significativo deste movimento global pela “justiça hídrica” seja a Batalha de Cochabamba, na Bolívia pré-Evo Morales, quando o país levantou-se em uma onda fortíssima de protestos e manifestações de rua depois da decisão governamental de privatizar a água. A corporação que abocanhou o sistema público boliviano, a Bechtel, havia tomado, como uma de suas primeiras medidas no poder, um aumento dos preços da água, o que acarretou de imediato a sede em massa para uma vasta fatia da população da Bolívia.

 As manifestações foram tão bem-sucedidas que quase se pode falar em uma revolução anti-corporativa bem-sucedida, já que a Bechtel foi expulsa do país e nas próximas eleições o primeiro presidente indígena já eleito em eleições democráticas assumiu o poder. Hoje, com Evo Morales chegando a seu terceiro termo, a Bolívia vai muito bem economicamente, solidária ao socialismo bolivarista e “chavista”, que triunfou e subsiste na Venezuela, estes regimes representam talvez a maior concentração latino-americana de “Espírito Zapatista” ao sul de Chiapas.

Oscar-De-Olivera 2

Oscar-De-Olivera-300dpiOscar Olivera, um dos ativistas que liderou a batalha de Cochabamba contra a privatização da água

* * * * *

damnationposter-final-lowres
http://damnationfilm.com

Em um documentário recente, DamNation (2014), assistimos às águas sendo expostas à sanha de dominação desenfreada do homo sapiens quando em delírio neurótico capitalista (aquilo que os moralistas das antigas chamavam de ganância). A Natureza tratada como escrava daquele que se auto-proclama o ápice da Criação, topo da Cadeia Alimentar, filho predileto de Deus. Só nos EUA, são mais de 75.ooo dams, construídas por mais de um século, que representam no território um exército de tentáculos da sociedade-do-controle, que se põe como missão “subjugar” a Natureza e extrair dela, à força, o que nos convem. Os esforços punk de monkeywrenchers como Edward Abbey ou a militância roots em prol da wild life (Thoreau, John Muir, e hoje em dia George Monbiot…) não foram suficientes para barrar os avanços dos supremacistas ecocidas.

Mas Naomi Klein dá-nos esperança, nas páginas brilhantes de seu indispensável This Changes Everything, que os últimos anos emerge globalmente e com mais cabeças que a Medusa a Global Blockadia que, em 2014, realizou eventos notáveis como a People’s Climate March e o Flood Wall Street. Control freaks e extrativistas ganaciosos, com poderio financeiro em mãos mas aparentemente desprovidos de quaisquer conhecimentos de ecologia o sustentabilidade, julgam que a Natureza deve ser olhada como súdita, ou mesmo como prostituta explorável e depois largada na sarjeta, com umas esmolas lançadas por cima… Trata-se de fazer triunfar uma obra visão-de-mundo, uma sociedade alternativa à esta que nos trouxe à esta situação de crise, de disrupção climática, de futuro ameaçado para as gerações de seres vivos ainda por nascer:

image

“The task is to articulate not just an alternative set of policy proposals but an alternative worldview to rival the one at the heart of the ecological crisis—embedded in interdependence rather than hyper-individualism, reciprocity rather than dominance, and cooperation rather than hierarchy.

This is required not only to create a political context to dramatically lower emissions, but also to help us cope with the disasters we can no longer to avoid. Because in the hot and stormy future we have already made inevitable through our past emissions, an unshakable belief in the equal rights of all people and a capacity for deep compassion will be the only things standing between civilization and barbarism.

We will not win the battle for a stable climate by trying to beat the bean counters at their own game—arguing, for instance, that it is more cost-effective to invest in emission reduction now than disaster response later. We will win by asserting that such calculations are morally monstrous, since they imply that there is an acceptable price for allowing entire countries to disappear, for leaving untold millions to die on parched land, for depriving today’s children of their right to live in a world teeming with the wonders and beauties of creation.”

Naomi Klein

Já vivemos em sociedades altamente Orwellianas: o Grande Irmão passa bem, e adora cagar os subprodutos tóxicos de sua sociedade insana no fluxo dos rios e na dança de ares e líquidos da atmosfera. Segundo a Organização Mundial de Saúde, em um estudo publicado sobre a diarréia, a cada TRÊS SEGUNDOS, no mundo dito “em desenvolvimento”, UMA CRIANÇA MORRE de doença relacionada à água [waterborne diseases]. Em tempos de Fukushimas e oil spills, de planos da Shell de drillar o Ártico e planos da Nestlé para “monopolizar” o mercado da água privatizada, a contestação em massa da atual ordem global é essencial. A contaminação dos cursos hídricos globais equivale a genocídio e crime contra a humanidade, que as elites globais, os big shots do capitalismo, não dão conta de remediar ou aliviar senão invocando sua divindade predileta, a “mão invisível do Mercado”.

* * * * *

Trilogia

Caros leitores d’A Casa de Vidro,

Compartilhamos a sequência, para quem quiser aprofundar-se no tema (mergulhe de cabeça!), três livros essenciais da Maude Barlow. A trilogia pode ser baixada em e-book, formato epub, nos seguintes links:


“Blue Gold: The Fight to Stop the Corporate Theft of the World’s Water” 
[DOWNLOAD: http://bit.ly/1vnjj6G]

In this “chilling, in-depth examination of a rapidly emerging global crisis” (In These Times), Maude Barlow and Tony Clarke, two of the most active opponents to the privatization of water, show how, contrary to received wisdom, water mainly flows uphill to the wealthy. Our most basic resource may one day be limited: our consumption doubles every twenty yearstwice the rate of population increase. At the same time, increasingly transnational corporations are plotting to control the world’s dwindling water supply. In England and France, where water has already been privatized, rates have soared, and water shortages have been severe. The major bottled-water producers Perrier, Evian, Naya, and now Coca-Cola and PepsiCo, are part of one of the fastest-growing and least-regulated industries, buying up freshwater rights and drying up crucial supplies. A truly shocking exposé that is a call to arms to people around the world, Blue Gold shows in frightening detail why, as the vice president of the World Bank has pronounced, “The wars of the next century will be about water.”

Barlow 2

“Blue Covenant: The Global Water Crisis and the Coming Battle for the Right to Water” [DOWNLOAD: http://bit.ly/1Cwdcgk]

“You will not turn on the tap in the same way after reading this book.”
Robert Redford

“Blue Covenant is the most important book that’s ever been written on the global water crisis.”
Wenonah Hauter, executive director, Food & Water Watch

Maude Barlow has for decades been a leading voice arguing that access to safe drinking water should be a basic human right. Called the “Al Gore of water,” Barlow is the very best kind of advocate–deeply informed, articulate, and persuasive. Essential reading for anyone interested in the emerging international movement for water justice, Blue Covenant is one of the most important books of our time.

Barlow
“Blue Future: Protecting Water for People and the Planet Forever” 
[DOWNLOAD: http://bit.ly/1wPQJct]

In her bestselling books Blue Gold and Blue Covenant, world-renowned water activist Maude Barlow exposed the battle for ownership of our dwindling water supply and the emergence of an international, grassroots-led movement to reclaim water as a public good. Since then, the United Nations has recognized access to water as a basic human right—but there is still much work to be done to stem this growing crisis.

In this major new book, Barlow draws on her extensive experience and insight to lay out a set of key principles that show the way forward to what she calls “a water-secure and water-just world.” Not only does she reveal the powerful players even now impeding the recognition of the human right to water, she argues that water must not become a commodity to be bought and sold on the open market. Focusing on solutions, she includes stories of struggle and resistance from marginalized communities, as well as government policies that work for both people and the planet.

At a time when climate change has moved to the top of the national agenda and when the stage is being set for unprecedented drought, mass starvation, and the migration of millions of refugees in search of water, Blue Future is an urgent call to preserve our most valuable resource for generations to come.

* *  * * * *

DOCUMENTÁRIOS, PALESTRAS E REPORTAGENS RECOMENDADOS: