O GRUNGE QUE SE MEDE EM GIGATONS: Pearl Jam mostra vitalidade e sintonia com nossa época em “Gigaton” (2020), seu 11º disco

A música, quando entra em sintonia fina com o tempo histórico e consegue expressar o zeitgeistatinge aquele estado raro em que ultrapassa os modismos e consumismos, transcendendo a condição que tentam lhe impor, a de mercadoria consumível e rapidamente descartável, para transformar-se em obra-de-arte de interesse perene, inclusive para futuras gerações que queiram entrar em contato com uma obra que seja um sign of the times.

Obviamente, nada impede que uma obra musical seja simultaneamente um marco histórico e uma mercadoria altamente lucrativa (é só pensar no fascinante paradoxo da Beatlemania ou nos rios de dinheiro gerados pela cataclísmica eclosão do Nevermind do Nirvana). São raros, mas existem os “queridinhos dos críticos” que são simultaneamente um estouro nas paradas. Na corda-bamba entre a margem da indústria cultural e a margem da aventura artística, as melhores bandas do mainstream mass-mediático são aquelas que, a exemplo do Pearl Jam, não se rendem a serem meros serviçais do sistema a serem achincalhados como sell-outs, prosseguindo sempre com este alvo no horizonte: criar uma arte que esteja à altura de expressar nossa existência coletiva no tempo atual.

Quando a arte tem esta umbilical ligação com a atualidade e esta capacidade de captar o aqui-e-agora, ela é menos evanescente do que o seu banal hit toppin’ the charts (o sucesso que dura pelo verão e depois é semi-esquecido para venham os próximos na fila da fama…). “O dever do artista” é ser um espelho onde se reflete o tempo em que o artista vive, como propunha Nina Simone. Mas a arte serve também, como queria Brecht (citando Maiakóvski), não apenas como um espelho que reflete o mundo (deixando-o subsistir tal qual é) mas muito mais como um “martelo para forjá-lo”. Como um escultor que trabalha a pedra bruta para dê-la extrair O Pensador ou o Laoconteo artista martela sua matéria-prima, dando forma a algo novo ao invés de ser apenas espelho ou prisma.

Na música, às vezes o artista martela canções nos tímpanos dos ouvintes até que elas entrem para um tesouro cultural comum que a coletividade enxerga como seu repositório de clássicos, ou seja, aquilo que merece ser salvo do naufrágio do tempo. Na da sucessão de gerações, os clássicos são aquilo que consideramos digno de ser transmitido pelos contemporâneos aos vindouros. O exemplo mais emblemático que consigo pensar é deste ethos Brechtiano alçando-se à condição de clássico, na história do rock, é o The Clash.

Uma banda tão espetacularmente bem-sucedida em sua capacidade de entrar sintonia com o tempo histórico, tão supimpa em sua expressão entusiasmada de um ímpeto ativista e transformador, que fazia com que todas as outras parecessem desimportantes. O The Clash, para nós seus fãs, é descrito com a hipérbole: A Única Banda Que Importa. Pois Joe Strummer, Mick Jones e cia não faziam apenas a expressão da época do mundo, além disso explodiam nos amplificadores a fúria criativa de quem quer modificar o que há pois descobriu que a realidade social é co-criável por nós. É um pouco deste ethos, crucial por suas ressonâncias posteriores em bandas cruciais como o Fugazi ou o Rancid, que fez de London Calling uma das maiores obras-primas da história da arte (e fodam-se quem, por preconceito acadêmico ou elitismo estético, pré-julga o movimento punk como se fosse incapaz de alçar-se às nuvens elevadas das Belas Artes…).

É que a arte, criando a si mesma, recria o mundo, refaz os outros, no que poderíamos chamar, sob a inspiração de Gênio Gil, de uma refazenda de tudo – a começar pelas nossas percepções de nós mesmos e do próprio mundo. Isto é, a arte é uma criação do engenho criativo humano que entra na História como uma novidade, expressando o que antes não tinha sido expressado, expandindo a paleta de cores, de dramas, de sinfonias etc. do mundo-em-fluxo onde estamos embarcados.

Tendo atravessado toda a Era Grunge, do começo dos anos 1990 até a aurora dos 2020, resilientes como ninguém daquele movimento, o Pearl Jam é hoje uma destas instituições que já virou clássica. O quinteto formado por Eddie Vedder, Jeff Ament, Mike McCready, Stone Gossard e Matt Cameron, nascido em 1990 das trágicas ruínas do Mother Love Bone (banda de Seattle que foi a pique com a overdose fatal que acometeu seu líder Andy Wood, o que deu ensejo para a criação do Temple of the Dog), adentra a década de 2020 com muita vitalidade.

Após o colapso do Nirvana, do Soundgarden, do Stone Temple Pilots, do Hole, dos Screaming Trees, além da reinvenção com novo vocalista do Alice in Chains, alguns se apressaram a decretar a morte do grunge após tantas bandas já terem encerrado suas atividades (muitas vezes de maneira trágica, devido a suicídios e overdoses fatais). Mas o Pearl Jam sobreviveu a tudo, mantendo pulsante o Som de Seattle – e está vivinho para cravar em 2020 um dos álbuns mais significativos desta entrada de década.

Em meio à pandemia de covid-2019, no primeiro semestre de 2020, foi lançado “Gigaton”, novo álbum das lendas vivas do Grunge: Pearl Jam ressurge após um hiato de 7 anos desde “Lightning Bolt” (disco de 2013). A banda de Seattle entrega ao mundo seu 11º álbum de estúdio, com 12 canções inéditas, sem perder o pique mesmo após 3 décadas de carreira (os 20 primeiros deles já celebrados em livro e documentário através do magistral projeto PJ20 de Cameron Crowe).

 

Os caras do Pearl Jam – liderados por um incansável Eddie Vedder, um dos grandes poetas líricos e um dos mais expressivos cantores de nossa geração – encaram o desafio gigatônico de expressar musicalmente os dilemas mais urgentes de nossa época:

“O clima é uma preocupação estimulante [galvanizing] em ‘Gigaton’, com o Pearl Jam estruturando seu décimo álbum em torno da crise climática iminente. Há pouca sutileza a esse respeito: o título se refere à quantidade de gelo perdido nos pólos árticos, a capa do álbum mostra uma geleira derretida, e as letras estão sujas com imagens apocalípticas, ainda que nem todas derivadas do clima.” Stephen Thomas Erlewine, AMG All Music Guide (https://bit.ly/3dDV92m)

Aderindo ao catastrofismo esclarecido, o Pearl Jam evoca a ciência climática atual que mede em gigatons a quantidade de gelo derretido na Antártida ou na Groenlândia em nossa era de Efeito Estufa – segundo um Tweet da banda, 1 gigaton equivale ao peso de 100 milhões de elefantes ou 6 milhões de baleias azuis.

Em uma das obras-primas do álbum, “Retrograde”, a banda utiliza um vídeo-clipe sensacional para evocar grandes metrópoles sendo afundadas debaixo de dilúvios causados pelas mudanças climáticas. Menciona figuras contemporâneas que estão na vanguarda da luta ecológica, como Greta Thunberg e o movimento grevista #FridaysForFuture. Conclama ainda que “será preciso muito mais que amor ordinário” para nos erguer para cima diante deste contexto que ameaça nos submergir (o que lembra do ethos de Neil Young em canções como “Lotta Love”).

Outra das obras-primas do “Gigaton” (2020), novo álbum do Pearl Jam, “Quick Scape” (Fuga Rápida) revela Vedder, um dos melhores letristas vivos, aderindo ao eu lírico de um nômade das catástrofes sócio-ambientais. “Cruzei a fronteira para o Marrocos”, canta a certo ponto. “Quantas distâncias tive que cruzar / Até encontrar um lugar que o Trump ainda não tinha fodido!”.

A vida dura do refugiado, condenado a “levantar pedras por um salário”, evoca a trágica punição imposta por Zeus a Sísifo, na mitologia grega. O que não impede que o eu-lírico seja também o veículo daquela Sabedoria que Vedder expressou na trilha-sonora que compôs para Into The Wild – Na Natureza Selvagem: “Atento a todo pôr-do-sol / Nenhuma noite estrelada desperdiçada…”. Siga a letra na íntegra e aprecie o videoclipe das lendas vivas do grunge:

Reconnaissance on the corner
In the old world not so far
First we took an aeroplane
Then a boat to Zanzibar
Queen cracking on the blaster
And Mercury did rise
Came along where we all belonged
You were yours and I was mineeah, yeah

Had to quick escape
Had to quick escape
Had to quick escape
Had

Crossed the border to Morocco
Kashmir then Marrakech
The lengths we had to go to then
To find a place Trump hadn’t f*cked up yet
Living life on the back porch
Lifting rocks to make a wage
Every sunset paid attention to
Not a starry night went to waste

Had to quick escape
Had to quick escape
Had to quick escape

And here we are, the red planet
Craters across the skyline
A sleep sack in a bivouac
And a Kerouac sense of time
And we think about the old days
Of green grass, sky and red wine
Should’ve known so fragile
And avoided this one-way flight

Had to quick escape…

O Pearl Jam tornou-se uma das bandas atuais que melhor conseguiu, em suas mutações, seguir sintônica com o que rolava de mais urgente no globo. Rebeldes e dissidentes, as canções de Vedder e cia explodem nos amplificadores com a ousadia de tematizar os descaminhos da evolução humana (“Do The Evolution”), as tendências suicidas da civilização capitalista-ocidental (“World Wide Suicide”), a angústia juvenil e as engrenagens de um massacre escolar (“Jeremy”), dentre outros temas cabeludíssimos.


Em 2020, o Pearl Jam segue honrando a sonoridade e a atitude das bandas do passado que mais inspiram a caminhada do mamute grunge: penso no The Who, em Neil Young e Crazy Horse, em Bruce Springsteen, mas também nos Ramones. O processo de amadurecimento de Vedder, que parecia conduzi-lo a se tornar um ícone folk, o Dylan ou Young de sua geração, como mostra sua criação solo mais genial, Into the Wild, e como sugere também sua faceta mais suave e tranquila que se expressa no projeto Ukulele Songs, não foi uma maturação que o tenha feito esquecer suas raízes punk grunge. 

Canções como “Quick Scape”, “Superblood Wolfmoon” ou “Never Destination” revelam um Vedder que nunca cessou de amar os Ramones. Além de uma instituição da história do movimento punk, acredito que os Ramones tem uma significação mais ampla, para o rock’n’roll como um todo, entendido não como estilo musical mas também como subcultura. Em outros termos, tão importantes quanto Chuck Berry, Little Richard, Elvis Presley, Jerry Lee Lewis ou Bo Didley para  história do rock’n’roll, os Ramones são uma espécie de condensação daquilo que o punk propôs: o back to basics, o foco na energia rítmica, na entrega emocional, na eletricidade exuberante, na ausência de firulas para que pudesse melhor brilhar o essencial.

Joey Ramone, enquanto vivia, serviu como uma espécie de mentor para o cantor e compositor do Pearl Jam de muitas maneiras, sobretudo conduzindo o Pearl Jam e seu líder a estarem sempre engajados com os “elementos fundamentais do rock’n’roll”, como o próprio Vedder relata no livro Pearl Jam 20 (p. 314): “Munição extra [para Vedder] veio do falecido Johnny Ramone, que não apenas inspirou a letra de “Life Wasted”, mas desafiou Vedder a estudar os elementos fundamentais do rock’n’roll” – e sabe-se do impacto emocional que a vida e a morte de Joey tiveram sobre Vedder:

– Há essa energia fúnebre, quando você literalmente se senta ali com a morte de seu amigo e percebe como a vida é preciosa – diz Vedder sobre a morte de Joey Ramone. Funerais e casamentos são bons para isso. Você tem essa sensação renovada de viver a vida ao máximo quando você vê como ela evapora rápido. Você não dá o devido valor… ‘Life Wasted’ veio disso: ‘Já passei por isso, uma vida desperdiçada, nunca voltarei’. Viva a vida ao máximo. Eu não ia deixar essa perda profunda passar sem reconhecimento.”

O reconhecimento que Vedder quis expressar por seu ídolo e amigo passou inclusive por cantar com os Ramones no show de despedida em 1996 (lançado no álbum We’re Outta Here) e pelo papel que ele teve como anfitrião da consagração Ramônica no Rock’n’roll Hall of Fame em 2002. Um bootleg interessante revela Vedder cantando Ramones:

É bem verdade que o Pearl Jam transcendeu aquela simplicidade dos Ramones que alguns confundem com tosquice, mas que não é senão a arte do foco energético concentrado que torna tão pulsante a maquinaria sônica rock’n’roller ramônica. O Pearl Jam se complexificou, explorou muitas sonoridades e afetos, tornou-se capaz de soar às vezes como o Jethro Tull ou o Pink Floyd, bandas nas antípodas dos Ramones. Mas algo de ramônico sempre permaneceu lá, no âmago do Pearl Jam, e ouso afirmar que está aí um dos segredos para a vitalidade do grupo.

É verdade que, como Gigaton mostra, a concepção de álbum que move o Pearl Jam difere bastante daquela que norteava bandas como os Ramones, o AC/DC, o Motörhead ou o Nirvana – para estas bandas, com o perdão de uma generalização que corre o risco de uma certa injustiça, um bom álbum retira sua coerência do fato de que as canções soam parecidas umas com as outras, seguem-se numa acachapante fileira de riffs matadores e refrões-chiclete, gerando um daqueles objetos que os fãs adoram pois está inteiramente repleto de thrills (e nenhum filler). 

O Pearl Jam, em contraste, pensa um álbum como um “épico” onde a diferenciação é valor: o disco deve ter muitos contrastes, mesclando as pedradas pesadas mas também as baladonas mais atmosféricas. Deve ter aquele frio na barriga e aquela taquicardia de uma viagem de montanha-russa, mas pode e deve conter também um momento mais contemplativo, como flutuar num lago sobre um caiaque sob a luz de uma lua cheia enquanto lobos uivam para a lua. Grandes álbuns do Pearl Jam, como Vs, Yield, Binaural, Riot Act, tem esta abordam do álbum multi-colorido e excêntrico, que viaja de momentos punky e explosivos em direção a experimentalismos menos palatáveis, para depois voltar à quebradeira catártica.

O Pearl Jam chegou em 2020 com uma single que mostra a banda querendo brincar com sonoridades meio funky, em “Dance of the Clairvoyants”, que parece uma homenagem a David Byrne e os Talking Heads, mas que também dialoga com as obras-primas do Gang of Four nos anos 1970 e 1980 (Entertainment, Solid Gold…). 

Esta ousada sonoridade, com sabor de excentricidade, que o primeiro single de “Gigaton” traz, mostra não só que o Pearl Jam curte e idolatra os caras que fizeram obras-primas como Fear of Music Remain in Light: é verdade que os Talking Heads re-vivem através do prisma grungy-funky de “Dance of the Clairvoyants”, mas isso se dá sem que o Pearl Jam perca o bonde do contemporâneo. A música dialoga perfeitamente com a obra de algumas das melhores bandas atuais, como o s maravilhosos Dirty Projectors e TV On The Radio.

Já em “Seven O’Clock”, uma power-baladona que honra como heróis os xamãs nativo-ameríndios Sitting Bull e Crazy Horse, o Mr. Trump toma na testa um petardo: é xingado de “Sitting Bullshit”, “our sitting president”. A música é um tratado sobre as ações tresloucadas de húbris dos seres humanos diante da natureza, exemplificada pela atitude de alguém que agarra uma borboleta, quebra suas asas e a põe numa vitrine, desprovida de toda a sua beleza desde o momento em não pôde mais voar livre:

“Caught the butterfly, broke its wings then put it on display
Stripped of all its beauty once it could not fly high away
Oh, still alive like a passerby overdosed on gamma rays
Another god’s creation destined to be thrown away
Sitting Bull and Crazy Horse, they forged the north and west
Then you got Sitting Bullshit as our sitting president
Oh, talking to his mirror, what’s he say, what’s it say back?
A tragedy of errors, who’ll be the last to have a laugh?”

É 2020 e talvez não haja em atividade nos EUA nenhuma banda tão capaz quanto o Pearl Jam de denunciar a “tragédia de erros” que domina um virulento zeitgeist, ao mesmo tempo que prova, por sua própria resiliência, a possibilidade de uma trajetória de acertos. O ethos pearljâmmico, aquilo que segue animando esta lenda viva do rock global, tem ainda muita relevância em nosso mundo, mostrando que as duas visões sobre as funções da arte que mencionamos a pouco – a de Nina Simone, a de Brecht / Maiakóvski – não são mutuamente excludentes mas sim conjugáveis. O artista tem sim o dever de refletir em sua obra o tempo histórico, mas sua obra é também um martelo com o qual forjar o novo. O élan vital que atravessa a obra do Pearl Jam, banda incansável e que não quer ir dormir na auto-satisfação, é um salutar contágio nestes tempos em que viralizam desgraças.

Eduardo Carli de Moraes
Abril de 2020
http://www.acasadevidro.com

 

OUÇA TAMBÉM, DE “GIGATON”:

DISCOGRAFIA DO PEARL JAM:

01. Ten (1991)
02. Vs. (1993)
03. Vitalogy (1994)
04. No Code (1996)
05. Yield (1998)
06. Binaural (2000)
07. Riot Act (2002)
08. Pearl Jam (2006)
09. Backspacer (2009)
10. Lightning Bolt (2013)
11. Gigaton (2020)

 

ACESSE TAMBÉM / COMPARTILHE:

SENTIMENTOS GRUNGY NA ERA TRUMP – O suicídio de Chris Cornell, a Renascença do Stone Temple Pilots, e a redescoberta do Hole

Como a mítica Fênix, que não cessa de renascer das cinzas, o GRUNGE renasce de suas tragédias. Sua maré no mainstream já passou, mas os sentimentos grungy sejam vivos na Era Trump. Fazendo frente ao baque tremendo que foi para este cenário pós-grunge o suicídio de Chris Cornell (Soundgarden / Audioslave), o cenário tenta se reinventar.
Stone Temple Pilots renasce agora após duas outras mortes: a de Scott Weiland (vocalista dos 6 primeiros álbuns) e a de Chester Charles Bennington (do Linkin Park, que gravou apenas 1 EP como cantor do STP, em 2013, tendo se suicidado em 2017). São os corações ensombrecidos pelas tragédias reais, que recolocam tudo em clima de “Hunger Strike”:

“I don’t mind stealing bread
From the mouths of decadence
But I can’t feed on the powerless
When my cup’s already overfilled…”

Temple Of The Dog (1991) – Com Eddie VedderChris Cornell, Jeff Ament, Mike McCready, Jeff Ament, Matt Cameron.

Somando-se neste caldo as mortes trágicas de Kurt Cobain e Layne Stanley, pra não falar na overdose fatal de Andrew Wood (do Mother Love Bone) nos primórdios da saga Pearl Jam), temos um microcosmo cultural assombrado pela recorrência de fins-da-vida violentos, de pungente tragicidade, o que também se expressa nas sombrias e intensas paisagens sônicas que marcaram para sempre a estética contemporânea com as obras de Screaming Trees, Mudhoney, Nirvana, The Gits, dentre tantas outras bandaças.

“Roll Me Under” traz todo o peso e intensidade dos grandes dias do grungy noventista de novo ao primeiro plano, ilustrando sua mensagem sônica impactante com um clipe meio Into the Wild, evocando a vertente Steppenwolfiana que sempre nutriu o estilo grunge, este ethos do rock’n’roll que tão bem entremesclou o punk, o heavy metal e o indie-garage, reinventando para sempre a estética musical dos anos 1990.

Quem assume os vocais neste retorno do STP em 2018 é Jeff Gutt, que vem sendo chamado por alguns críticos de “um Scott Weiland bem-comportado”: “He nails how the late singer could slide from a snarl to a sigh, conjuring a bit of a snaky sexuality while still seeming a bit safe”, escreveu Stephen Thomas Erlewine em sua crítica para a AllMusic.

As 12 músicas novas demonstram uma banda ainda vigorosa e re-colocam o Stone Temple Pilots no epicentro do rock mainstream global para disputar as atenções com as mega-bandas Foo Fighters, em que Dave Grohl decolou após o naufrágio do Nirvana, e o Pearl Jam, já uma instituição consagrada da música global, que em breve completa 30 verões, merecendo um lugar de honra na História do Rock na companhia de um Neil Young & Crazy Horse ou de um Grateful Dead.

Já o STP, que sempre soou mais despretensioso e menos grandiloquente que o Pearl Jam, retorna para mostrar que um dos caminhos mais interessantes para a evolução do estilo grunge estava na tentativa de mesclá-lo com a new wave, o punk rock 77, o glam à la T.Rex. O poderio guitarrístico da banda sempre foi impressionante, desde os estupendos álbuns iniciais “Core” e “Purple”, e em 2018 eles não demonstram nenhum desejo de se aquietar. Os amps continuam no talo, o batera continua batendo forte, os riffs continuam te enganchando pelo queixo e batendo contigo nas paredes até tirar sangue.

O STP é uma daquelas raras bandas que pode soar alegremente subversiva como atos punk seminais como Johnny Thunders and the heartbreakers ou Richard Hell & The Voidoids, e na próxima faixa já se transmutar num denso e desesperador propagador de um estilo de rock grave e angustiante, à maneira das bandas históricas do movimento como Screaming TreesSoundgarden e Alice in Chains.
É um álbum que agrada e empolga por mostrar artistas grunge em plena forma, e prometendo ainda muito futuro. O grunge resiste! Ainda que o melhor álbum lançado ultimamente na estética grunge não tenha sido feito por uma banda que assim se rotule, ou que a este cenário cultural se vincule: me refiro ao “Wilderness Heart”, do Black Mountain, que fez neste álbum uma obra-prima do gênero, com canções magníficas como “Rollercoaster” e “The Hair Song”.

Com muito gosto ouvi este comeback do STP, um disco tão agradável de ouvir, tão lindamente executado, tão “radiofônico” (até mesmo no sentido Bon Joviano do termo), que quase nos convida a abandonar qualquer pose de crítico musical e simplesmente recomendar aos amigos: “ouve lá, é um discaço da porra!” A música fala bem em sua própria defesa e até nos desarma da iniciativa inglória de perguntar pelos interesses econômicos que possam estar envolvidos nesta empreitada, certamente acusável pelos críticos mais “cricos” de ser um “caça-níqueis”.

A indústria da música é de fato uma mina de ouro e não está fora de cogitação que o STP se enxergue como uma empresa, e das mais lucrativas. Mas isto não significa que estes caras não tenham algo a dizer artisticamente. Seria bem injusto, aliás, taxar de “comercial” uma banda que nunca abriu as pernas para o Sistemão do Rock Mainstream como fizeram os Creeds e Nickelbacks. O Stone Temple Pilots seguiu com seus fios elétricos plugados nas tomadas do Grunge noventista, soando como banda independente que teve acesso aos estúdios de gravação do Big Business – e soube se aproveitar disso.

Se o cérebro coloca estas questões, questionando se há vontade de grana alta por trás da nova encarnação do STP, os tímpanos e o coração simplesmente embarcam no rollercoaster deste álbum pulsante e cheios de belos thrills. Fazia tempo que um álbum de estilo grungy chegava com tamanho estrondo – que o Queens of the Stone Age  se cuide, pois tem rival forte de volta na cena!

Saudamos a chegada deste álbum como uma bela anfetamina musical para nossos tempos em que o Grunge segue tendo muitas razões para existir. Pois temos direito à divergência e a dissonância. E queremos nossa fúria tomando de assalto as ondas do rádio!

A alucinógena borboleta que estampa a capa do disco, e que parece a obra de algum artista das HQs que tomou um peiote, indica de modo simbólico o poder desta banda: dentro da borboleta, há uma teia de aranha.

A aparência mais englobante, da bela butterfly, é atraente e sedutora, mas na essência mais interna esconde-se o perigo, o aracnídeo.

Entre as asas desta borboleta, parece caber todo o caos e maravilha do mundo – e o som que fazem estas asas ao voar indica que, por mais agradável que seja esta rock-sinfonia, propulsionada pelos músicos como um foguete, pulsa aqui também algo de perigoso.

Algo que morde, que devora, como um aranha faz com o inseto que cai em sua teia.

As reações iniciais da imprensa musical parecem ser muito positivas, com reviews que destacam o quanto o álbum traz “a banda lidando emocionalmente com suas tragédias”:

The album comes after STP’s tragic last few years which saw the deaths of Scott Weiland and Chester Bennington. Losing two singers in such a short period is really one of the biggest tragedies in rock history, to see STP come back with a new album with some really triumphant sounding songs is powerful especially on the first few listens. Scott and Chester’s spirits are definitely felt throughout the album.” – Alternative Nation

Chester e Scott, dois mortos precoces do rock contemporâneo, somados à ausência monumental de Chris Cornell, também recentemente suicidado, mostram que a Era Trump, nos EUA, está sendo também a de uma maré cultural de redescoberta do grunge, em tudo aquilo que ele tem de problemático e obscuro. A Geração X ainda está entre nós, assim como o Fantasma de Kurt Cobain, assombrando com sua poesia atormentada a propaganda do cartão postal chamado American Dream, aquele em que só acreditam os que estão dormindo.

O grunge parece passar pela história da cultura humana como uma espécie de híbrido entre tragédia e resiliência. Um movimento cultural que sobrevive a todas as suas tragédias, que se reinventa na mudança: Mark Lanegan cantando com o QOTSA, Josh Homme e Dave Grohl (dos Foo Fighters) flertando com o que restou do Led Zeppelin (Them Crooked Vultures), Alice In Chains seguindo em frente com novo vocal após a morte de Layne Stanley… Para não falar da farta colheita que foram as passagens de Cornell e Weiland pelo mundo, já que eles também povoaram nosso horizonte artístico com as criações de Audioslave e Velvet Revolver, além dos respectivos álbuns-solo…

Enquanto seus heróis vão caindo mortos, o grunge segue em frente como pode, aos trancos e barrancos. E no epicentro deste drama, segue queimando supremo o inesgotável Nirvana: Cobain não precisou de mais que 27 anos de idade para causar um terremoto cultural que não dá sinais de que irá simplesmente desaparecer, e em pleno 2018 aquele som que smells like teen spirit está por aí, pulsando no coração do Império decadente!
O retorno, em tão boa forma, do Stone Temple Pilots nos mostra isso: o ímpeto nirvânico está sendo re-acendido. A Fênix grunge alça vôo outra vez. E ela vem enraizada no passado, atenta ao novo e disposta a ser ouvida em toda sua dissonância e dissidência.

Eduardo Carli de Moraes || A Casa de Vidro

* * * * *

OUÇA O ÁLBUM COMPLETO:


LEIA TAMBÉM:

O Queens of the Stone Age​ acaba de lançar seu oitavo álbum de estúdio: “Villains” (2017, 48 min). Ouça já!

Difícil contestar que o Josh Homme seja uma das grandes figuras em atividade no rock’n’roll global. Um maluco fantasticamente prolífico e criativo. Um maverick das 6 cordas que pilota uma guitarra com uma maestria raríssima de se encontrar e sem cair na maioria dos equívocos dos virtuoses exibicionistas. Também vem se mostrando como um cantor e compositor versátil, com sua marca pessoal inimitável. Ele e sua trupe lançam agora o 8º álbum de estúdio do Queens of the Stone Age, “Villains” (2017).

Eis um cara que trampa incansável e sua a camisa por sua arte. Que se envolve em vários projetos: desde tenra idade fez história na gênese do Stoner Rock através dos 4 primeiros álbuns do Kyuss e soltou inúmeras viagens turbulentas e ruidosas pelo Desert Sessions. Já consagrado com o Q.O.T.S.A., formou o mega power-trio Them Crooked Vultures juntando Dave Grohl (Foo Fighters & Nirvana) e o baixista do Led Zeppelin, que lançou um álbum de estréia que está entre as melhores coisas realizadas no reino do rock pauleira neste século. Pra não falar na recente colaboração com o monstro sagrado do punk Iggy Pop em seu mais recente disco sem os Stooges.

Só o que não entendo é isso: porque Josh e sua esposa, a vulcânica Brody Dalle, uma das vozes femininas mais poderosas e comoventes que já lideraram uma banda de punk rock flamejante – o genial The Distillers – não criaram ainda um projeto em parceria. A voz de Brody Dalle sobre as guitarras de Josh Homme são aquele tipo de união que só de imaginá-la a gente fica pogando de entusiasmo.

Taí o oitavo álbum de estúdio do Queens, “Villains” (2017, 48 min); ouça já na íntegra:

01) Feet Don’t Fail Me

02) The Way You Used to Do

03) Domesticated Animals

04) Fortress

05) Head Like a Haunted House

06) Un-Reborn Again

07) Hideaway

08) The Evil Has Landed

09) Villains of Circumstance

* * * *

Confira o review de Stephen Thomas Erlewine em AllMusic​:

It takes nearly a minute for Villains to begin its slow ascent from the murk and even longer before the clenched funk of “Feet Don’t Fail Me Now” clicks in, a deliberateness that suggests Josh Homme has supreme confidence in the seventh album from Queens of the Stone Age. Perhaps some of this swagger flows in Homme’s blood, perhaps it stems from QOTSA finally reaching Billboard’s pole position with 2013’s …Like Clockwork, but there’s an undeniable assurance to Villains that surely has something to do with the band — or specifically Homme, who is the only constant in QOTSA’s career — knowing precisely who they are as they close out their second decade. To that end, the hiring of Mark Ronson — the man whose star rose with Amy Winehouse and who’s sustained his fame through Bruno Mars — as producer feels like the move of a group who knows no outside influence will dilute their music, and Villains proves this to be true. QOTSA doesn’t come to Ronson, Ronson comes QOTSA, sharpening their attack and adding spooky grace notes to the margins. On these asides, QOTSA conjures the dark magic that’s been their calling card since the start, but where …Like Clockwork gained strength from its foreboding, Villains feels designed to lift spirits. For one, it’s filled with ravers and boogies, alternating between taut vamps and louche glam grooves. Homme goes so far as to tip his stove pipe hat to Marc Bolan on “Un-Reborn Again,” one of a few classic rock nods scattered throughout the album. As classic as Villains can sound — and there’s no doubting that Homme and company pledge allegiance to the sounds and styles patented in the ’70s — it feels fresh due to execution. At this stage, Queens of the Stone Age don’t have many new tricks in their bag, but their consummate skill — accentuated by the fact that this is the first QOTSA album that features just the band alone, not even augmented by Mark Lanegan — means they know when to ratchet up the tempo, when to slide into a mechanical grind, and when to sharpen hooks so they puncture cleanly. All that makes Villains a dark joy, a record that offers visceral pleasure in its winking menace.

* * * * *

Ouça também os outros projetos do líder Josh Homme​: Kyuss​, Them Crooked Vultures​, Desert Sessions

* * * * * *

Compartilhe & Dissemine:

R.I.P. CHESTER BENNINGTON – Suicídio do vocalista do Linkin Park e Stone Temple Pilots pouco tempo depois de Chris Cornell

R.I.P. CHESTER BENNINGTON (Nascimento: 20 de março de 1976, Falecimento: 20 de julho de 2017)

 

“Even if you are able to make a map out of your grief and trauma with the chart of a generous mapmaker, it doesn’t mean the mapmaker has figured their own way out of whatever maze their trauma has trapped them in. There is a difference between the work of not wanting others to die and the work that comes with keeping yourself alive.” – Hanif Abdurraqib

 


Nestes últimos tempos, dois suicídios por enforcamento foram praticados por duas das vozes mais impressionantes que atuavam no Rock global: Chris Cornell (Soundgarden, Audioslave, Temple Of The Dog)Chester Bennington. (Linkin ParkStone Temple Pilots).

Em biografia escrita para a AllMusic, Corey Apar lembra que Chester Bennington foi uma “vítima de abuso sexual e que teve uma infância que esteve longe da perfeição”; “quando seus pais divorciaram-se quando ele tinha 11 anos, ele apelou para as drogas para suportar seu sofrimento. Chegando à adolescência, Bennington tinha caído fundo na cocaína e nas meta-anfetaminas, alimentando seu vício com um trampo no Burger King…” (Leia a bio completa)

Em 20 de Julho de 2017, o vocalista do Linkin Park seguiu a trilha fatal aberta por Cornell e encerrou sua estadia entre os vivos. Calou-se aquela voz potente e arrebatada, capaz de atingir notas agudas e sustentá-las com gritos impressionantes. Uma voz que no Linkin Park, com sua melodiosidade e emocionalidade, contrastava com os vocais rappeados de Mike Shinoda. F

enômeno de público que despontou no ano 2000 e que foi um dos principais representantes do cenário de metal alternativo e pós-grunge neste jovem século XXI, o Linkin Park, em 2000, despontou com o álbum de estréia “Hybrid Theory” e hits como “Numb”. Explodiu nos EUA e vendeu milhões de cópias com seu som híbrido, mescla de rap, metal e grunge. Se não era nada imensamente original, já que esta senda já havia sido muito explorada pelo Rage Against The Machine e por outras bandas do new-metal (como Korn e Slipknot), o Linkin Park se distinguiu da manada principalmente pela exuberância das performances vocais de Bennington – que se tornariam também uma referência para tudo o que se faria depois no emocore.

Entre 2000 e 2017, a banda lançou uma vasta discografia que soma 11 álbuns, entre os de estúdio e os ao vivo (acesse discografia). Os inúmeros fãs da banda – que somam bem mais de um milhão! – fazem circular na Internet um mega-torrent com 69 lançamentos do Linkin Part reunidos do período entre 1997 e 2013 – é tudo o que você precisa baixar se quer conhecer a carreira da banda principal do falecido Chester. Após a morte de Scott Weiland, vocalista do Stone Temple Pilots, Bennington assumiu os vocais também do STP por um tempo e lançou com a banda um interessante EP ,”High Rise”, que serve como sua principal incursão na história do Grunge.

Chester Bennington tinha 41 anos de idade.


 Na sequência, trechos do texto de Hanif Abdurraqib para Buzzfeed:

“I’ve been thinking a lot lately about the artist who chooses to make themselves a mirror. It is brave work, and it should be hailed as such. The work of allowing people to see bits of their pain in your own pain is often thankless but needed labor — labor that takes on a heavier weight as the platform of an artist grows. But even if you are able to make a map out of your grief and trauma with the chart of a generous mapmaker, it doesn’t mean the mapmaker has figured their own way out of whatever maze their trauma has trapped them in. There is a difference between the work of not wanting others to die and the work that comes with keeping yourself alive.

I want to say that I hate the thing we do where we talk about suicide in terms of winning and losing: a person either beating their demons or losing to them. It boils down an ongoing struggle into a simple binary, to be celebrated and mourned — as if every day survived on the edge of anything isn’t simply gearing up for another day to survive and another day after that. And Chester Bennington was a survivor, of many things: sexual abuse as a child, violent bullying as a skinny high school student — things that he said pushed him to years of drug and alcohol addiction. And I believe survival of this — no matter how long — is a type of heroism.

I believe that any of us who faces trauma and still survives is heroic, even if we aren’t keeping anyone else alive but ourselves. But I don’t like to think of anyone who gives in to whatever they imagine waits on the other side of suffering as someone who has lost. We have lost them, sure. But who does it serve to create a narrative where there is a scoreboard for our pain and how we navigate the vastness of it? Death is the action — the end result, of course. But I have known people who didn’t want to die as much as they wanted to stop feeling a desire for death. A world without that always-hovering cloud. And I don’t think of those who are departed as people who lost, and when we frame these grand and nuanced battles as absolutes — with the “strong” people surviving and sometimes suffering and the “weak” people falling into the arms of absence — it does an injustice to the true machinery of the brain, of the body, of the heart, of anything responsible for keeping us here on the days we don’t want to be.

Chester Bennington is gone and I’m really fucked up about it because I could have been gone. Because people I love could have been gone if not for what he offered up about himself and his survival. There is no good way to talk about a person who kept you alive dying from what they could no longer endure. I have not wanted to die for a long time, but years ago, when I did, I looked for anyone who could offer me a lifeline out, and Bennington was one of the many arms reaching into that dark well, not to pull me out, but perhaps to hold my hand for a while.

I was alerted to the news because suicide hotline numbers were filling social media again. That’s how I knew something was wrong. I understand this action: Someone dies of something and people want to prevent it in their own corners of the world. After a high-profile suicide, I have, in my own circles, promised people that I would be there to talk to them if they needed to talk, or be there for them in the yawning mouth of their own darkness. And I don’t doubt that this helps, and is needed. But I am also thinking about how there is no one thing that will keep a person alive when they no longer want to be. Whatever engine pushes a person towards death is made up of a lot of parts that are not always singing to each other, or not always singing at the same pitch or volume. Chester Bennington was a whole, brilliant, successful person and a survivor. But that which he survived still sat on top of and underneath his skin. There is no fix for that, no matter how many of us want to see one…” – READ ON

 

Relembre alguns dos destaques de seu legado:

>>> Video-clipes:

* “Numb”

* “In The End”:

* “Crawling”:

* “Somewhere I Belong”:

* “Castle of Glass”:

>>> Álbuns

Stone Temple Pilots, “High Rise”:

Linkin Park, “Hybrid Theory” (2000)

“The Hunting Party”:

“Living Things”:

“Meteora”:

“One More Light” (2017):

CONFLUÊNCIAS.RECs – 50 CANÇÕES CANNÁBICAS: Download gratuito da coletânea discotecada durante o “Confluências – Festival de Artes Integradas”, 4ª Edição

50 CANÇÕES CANNÁBICAS
[COMPARTILHAR]

O Confluências #4 – Festival de Artes Integradas contou com uma discotecagem só com a fina flor das músicas, nacionais e internacionais, devotadas à cannabis sativa ou que exploram lisergias e brisas conexas ao consumo da ganja. As 50 canções foram escolhidas – naturalmente, sob o efeito – tendo em vista seja as canções que mencionam e/ou celebram explicitamente a erva, seja as que são cheias de indiretas ou referências cifradas, seja as que causam na mente do ouvinte um efeito sensorial semelhante ao dum bom beck…

O Confluências #4 rolou na Sexta, 23/6, na Trip, logo após a realização em Goiânia da Marcha da Maconha 2017, organizada pelo Coletivo Antiproibicionista Mente Sativa. No caderno de cultura do jornal Diário da Manhã, saiu nosso release. Agradecemos ao parceiro Heitor Vilela por estar sempre antenado às empreitadas de produção cultural independente da cidade e colocar-nos neste seu Roteiro!  

No Conflu rolaram shows de Chá de Gim, Distoppia, Tião Locomotiva e Veneno, Orquestra de Laptops de Brasília; exposição fotográfica e poética O Caminho do Cerrado, projeto de Mel Melissa Maurer (com a presença da modelo Mohara); além da discotecage-fumacê que aqui compartilhamos. Quem quiser baixar a coletânea na íntegra, em MP3 de qualidade (320kps), estamos disponibilizando o ZIPão de 350 MB para download:


DOWNLOAD – 50 CANÇÕES MACONHEIRAS QUE O POVO PEDE (CANNA)BIS
http://www.mediafire.com/file/8981uy24bvkag4o/50_CANÇÕES_CANNÁBICAS_-_CONFLUÊNCIAS_SATIVA.rar

Aí vai a playlist:

  1. Amy Winehouse – Addicted (2:45)
  2. BNegão & Seletores De Frequência – Nova Visão (5:42)
  3. BNegão & Os Seletores De Frequência – Proceder/Caminhar (3:26)
  4. The Beatles – Got To Get You Into My Life (2:31)
  5. Bezerra da Silva & Marcelo D2 – Erva proibida (2:56)
  6. Bezerra da Silva – A semente (3:08)
  7. Bezerra da Silva – Maladragem dá um tempo (3:50)
  8. Big Bad Voodoo Daddy – Reefer Man (2:54)
  9. Black Sabbath – Sweet Leaf (5:05)
  10. Black Uhuru – Sinsemilla (5:11)
  11. Bob Dylan – Rainy Day Women #12 & 35 (4:36)
  12. Boogarins – Doce (4:57)
  13. Cab Calloway – Reefer Man (3:00)
  14. Criolo – Pé de Breque (4:05)
  15. Curtis Mayfield – Pusherman (5:04)
  16. Marcelo D2 – A Maldição Do Samba (2:31)
  17. Marcelo D2 – Kush (3:16)
  18. Marcelo D2 – Sessão (2:33)
  19. De Menos Crime – Fogo Na Bomba (4:55)
  20. Erasmo Carlos – Maria Joana (3:44)
  21. Gabriel O Pensador – Maresia (5:37)
  22. Gilberto Gil – Eleve-se Alto ao Céu (Lively Up Yourself).wmv (4:24)
  23. Golden Boys – fumacê (2:34)
  24. Method Man & Redman – Redman / How To Roll A Blunt (3:21)
  25. Muddy Waters – Champagne & Reefer (4:38)
  26. Neil Young – Roll Another Number (for the Road) (3:04)
  27. Neil Young LIVE – Roll Another Number (5:21)
  28. Nirvana – Moist Vagina (2013 Mix) (3:33)
  29. O Rappa – A Feira (3:57)
  30. Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Os Mutantes and Gal Costa – Panis Et Circensis (3:35)
  31. Paulinho da Viola – Chico Brito (3:12)
  32. Peter Tosh – Legalize It (4:41)
  33. Planet Hemp – Contexto (3:45)
  34. Planet Hemp – Fazendo A Cabeça (3:19)
  35. Planet Hemp – Legalize Já (3:00)
  36. Planet Hemp – Queimando Tudo (2:52)
  37. Primal Scream – Movin’ on Up (3:50)
  38. Queens Of The Stone Age – Feel Good Hit Of The Summer (2:43)
  39. Quique Neira ftt Alborosie – Yo Planto (4:52)
  40. Raimundos – Nega Jurema (1:53)
  41. Raul Seixas – Como Vovó já Dizia (3:25)
  42. Ray Charles – Let’s Go Get Stoned (3:03)
  43. Rick James – Mary Jane (10:39)
  44. Steppenwolf – Don’t Step On The Grass, Sam (5:42)
  45. Sublime – Smoke Two Joints (2:53)
  46. Tagore – Vagabundo Iluminado (3:24)
  47. Tom Zé – Botaram Tanta Fumaça (2:48)
  48. Tukley – Vampiro Doidão (4:00)
  49. Weezer – Hash Pipe (3:06)
  50. Willie Nelson – Roll Me Up and Smoke Me When I Die (4:52)

[COMPARTILHAR LINK]

Acenando adeus a Chris Cornell, ícone da Geração Grunge – In Memoriam [1964 – 2017]

Uma das vozes mais extraordinárias do rock global nas últimas décadas calou-se para sempre, aos 52 anos, deixando como legado algumas canções imorredouras e um rastro indelével na história do Grunge.

Chris Cornell (1964 – 2017), que encantou e comoveu cantando no Soundgarden, no Audioslave, no Temple Of The Dog e em sua carreira solo, agora adentra o panteão de mortos ilustres da revolução sônica noventista, nascida e explodida deste Seattle, onde já estavam Kurt Cobain (Nirvana), Layne Stanley (Alice in Chains), Mia Zapata (The Gits), Andy Wood (Mother Love Bone), Scott Weiland (Stone Temple Pilots), dentre tantos outros mortos precoces do hypado cenário musical da terra natal de Jimi Hendrix.


“Words you say never seem
To live up to the ones
Inside your head

The lives we make
Never seem to ever get us anywhere
But dead

The day I tried to live
I wallowed in the blood and mud with
All the other pigs…”
The Day I Tried To Live

Ao enforcar-se em um banheiro de hotel, Chris Cornell põe um ponto final em sua existência em carne-e-osso de modo a lançar uma luz de crepúsculo sobre toda a sua obra anterior, como que sublinhando que seus lamentos musicados e seus berros de angústia impregnados não eram mera dramaturgia e jogo-de-cena. Eram a expressão genuína de um coração dilacerado pelos fardos que tinha em suas mãos e pela lida louca de tentar viver nesta estrepitosa estrada – “cheia de som e fúria e que não significa nada”? (Macbeth) – que ele batizou de Superunkown.


Chris matou-se e nos deixou chafurdando numa lama de porquês, meditando sobre vários “talvez”. Talvez, sem nenhuma intencionalidade consciente, Chris Cornell tenha partido do mundo deixando-nos uma série de emblemas.

Acenou adeus ao mundo enforcando-se na metrópolis que é uma encarnação da distopia Yankee, a outrora próspera capital-mundial-do-automóvel Detroit, hoje uma autêntica Devastolândia. Uma terra histórica para a música estadunidense (Motown, MC5, Stooges, White Stripes…), hoje reduzida a escombros do que foi outrora, prova viva da insanidade do american way of capitalism.

Ali Cornell rompeu com as grades desta jaula enferrujada que para ele tinha se tornado a vida.


Ele quis, talvez, com este ato derradeiro e fatal, demitir-se da Era Trump, que afinal não permite esperanças róseas de futuro erguendo-se no peito de ninguém (o que se ergue é o pavor da hecatombe nuclear e da estupidez da guerra devastadora on repeat). Quis afastar-se de vez do “pesadelo climatizado” de que falava Henry Miller, para enfim dar entrada naquele Trágico Olimpo onde habitam figuras que o mesmerizavam – como Kurt Cobain, Ian Curtis, Jeff Buckley, Mia Zapata † R.I.P etc.

Demitiu-se da vida, talvez, sonhando que valia a pena acabar de uma vez por toda com todo o sofrimento – também com toda felicidade – e ganhar de brinde, ainda que jamais sorvível por sua consciência, enfim uma consagração ao panteão dos deuses da música, dos mestres da voz? Não: talvez ele não estivesse pensando em fama póstuma, talvez estivesse simplesmente cansado de tudo, solitário mesmo ao cantar diante de multidões, sentindo-se como uma minoria de um, uma fading light, “The Disappearing One”.

Tudo o que ele mais temia veio à vida, tudo o que havia buscado construir como ninho mostrou-se no fundo como um túmulo disfarçado. À questão que, em O Mito de Sísifo, Albert Camus julga ser a mais fundamental das fundamentais, Cornell respondeu em ato, como antes havia feito Cobain: à pergunta “a vida vale a pena ser vivida?”, ele respondeu: “não mais”. Talvez ele apenas tenha caído em dias sombrios, mas sem ter tido mais a paciência ou a persistência para atravessá-los.


Talvez Chris Cornell sentisse que estava ficando pra trás, que o Audioslave já tinha sido sepultado e que seus ex-companheiros de banda já seguiam jornada, sem ele, sem precisar dele, sem ligar pra ele, profetas da raiva na nova empreitada de thrash metal hip hopper dos Prophets of Rage.

Chris, talvez, não sentisse mais em si queimando a chama vivaz da rebeldia, só o demônio malfazejo da depressão. A depressão, aliás, contra a qual ele parece ter lutado por toda a vida, e que enfim venceu a batalha, fatal demônio do meio-dia, sugador de vidas criativas em profusão, como mostram os casos de figuras como Sylvia Plath e Virginia Woolf, dentre tantas outras (Cf. ALVAREZ, O Deus Selvagem)


Talvez o Soundgarden fosse pra Chris já um jardim arrasado, um mamute lendário cuja força titânica já havia ficado no passado, envelhecido T-Rex perdendo seu vigor e que já não seria capaz de fazer jus, em seu futuro, aos clássicos Sabbáthicos do grunge que foram discaços como Badmotorfinger ou Superunkown. Não deve ser fácil conviver com uma relativa obscuridade, com uma sensação de decadência, quando em tempos idos já tivemos um grau de reconhecimento tão maior do que o atual.

Talvez aquele que lastimou-se ruidosamente por sentir-se “Outshined” estava sentindo-se obscurecido por um eclipse íntimo duradouro, uma noite que não passava, um “Black Hole Sun” que ele foi descobrindo tratar-se de um buraco negro devorador de toda luz.


Ah, Chris, que sedução estranha e irresistível veio exercer seu fascínio de Tânatos sobre ti, neste Maio de 2017, quando contavas 52 anos de idade, para que tenhas decidido encerrar sua estadia entre os vivos? Você foi com fé ou foi totalmente ateu? Foi com a esperança de que, lá do outro lado, beberia um vinho com Jeff Buckley e vocês cantariam em dueto as lindíssimas melancolias musicadas de “Grace”?

Talvez, quem sabe, Chris tenha pensado em Andy Wood, morto por overdose antes de tornar-se o rock-star que todo mundo esperava que se tornasse. Talvez Chris tenha se lembrado de que, sobre o cadáver do Mother Love Bone, ergueram-se monumentos da música estadunidense: o álbum de estréia do Temple Of The Dog e as sementes do Pearl Jam.

Terá morrido com o reconfortante consolo de que algo musicalmente esplendoroso seria erguido em sua homenagem, depois de sua partida? Que nova “Hunger Strike”, cantada em dueto com Eddie Vedder, virá para celebrar a vida e a morte de Cornell?



Chris, você deixa-nos lotados de perguntas e perplexidades. O fim da tua vida faz emanar algo semelhante à tua arte: a sensação de que, como diz Albert Camus, “a angústia é o habitat perpétuo do homem lúcido”. Teus wails eram o lamento de um homem cujo fardo eram enxergar bem demais as agruras do mundo. Tua alma atormentada era grungy como a garganta abissalmente profunda de Mark Lanegan. Alguns de teus berros são tão viscerais quanto Cobain dando uma de blueseiro e rasgando um Leadbelly ao fim do Acústico MTV.

Chris Cornell: em ti eu encontrava, comovido, um artista capaz de catarse e de expressão emocional impressionantes, conjugadas com um domínio técnico de seu métier de cantor que o tornam, sem dúvida, um dos gênios-da-voz no rock contemporâneo.O grunge, afinal de contas, tinha um pé fincado na lama do blues e outro pé saltando no lodo do punk; Chris Cornell, que também tinha algo de headbanger e foi muito celebrado por metaleiros como uma espécie de Dio de Seattle, tinha uma tamanha capacidade de musicar seus tormentos íntimos de modo hiperbólico e teatral, que pode até considerado uma das figuras prefiguradoras do emocore (tal como se manifesta no At The Drive-In ou no Linkin Park, por exemplo).

Assisti Chris Cornell em ação sobre o palco duas vezes, ambas muito impressionantes: um show de sua carreira solo em São Paulo e um show recente do Soundgarden no Festival d’Été de Québec. Aquela voz era de fato merecedora de ressoar por um vasto espaço, ecoando pela arena, pois carregava uma imensidão de sentimentos e de nuances, nos seus melhores momentos evocando O Grito de Munch. Se aquela pintura cantasse, talvez soasse como Chris Cornell no auge de suas catarses?

Sua vida e sua obra não serão esquecidos – com o perdão deste clichê de necrológios que é aqui mais uma vez tão válido. Seu organismo esfacelou-se, seu gogó calou-se para sempre, mas sua música fica entre nós, legado imorrível que não cessará de nos emocionar e nos empolgar. Que essa morte seja uma semente, que a plantemos em nossos campos e que dela sigam crescendo as Screaming Trees de nossa sublime e dilacerada grungidade.

Em “Wave Goodbye”, do seu disco-solo de estréia Euphoria Morning, o homenageado era o talentosíssimo Jeff Buckley, que afogou-se aos 30 anos tendo lançado apenas um álbum, “Grace”, uma das obras-primas da música global no fim do século XX. Agora é nossa vez de cantar, com a voz embargada, um “Wave Goodbye” para Chris Cornell, recém-embarcado numa estrada da qual nenhum viajante jamais retornou: a Superunkown que vai ao Hades e é uma via de mão única. Para aquele que criou e extroverteu tanta música cheia de alma, it’s just the end of the world.

E se alguém ainda nutre dúvidas de que perdemos um baita dum Poeta Grunge, antena de seu tempo e geração, relembro uma canção obscura de “Euphoria Morning” (1999), chamada “O Travesseiro Dos Teus Ossos” (“Pillow of Your Bones”). Ela ganha hoje uma nova camada de densidade enquanto a carne que recobria os ossos do cantor do Soundgarden e do Audioslave vai se desintegrando no seio da Phýsis e ele prepara-se para a sina sem dores de esqueleto.

Aí, nesta canção impressionante, Chris Cornell – que neste álbum já havia evocado nada menos que um fim do mundo, testemunhado e compartilhado por um eu-lírico “Radioheadiano” – segue explorando uma escrita hiperbólica, que deve ter lá suas similaridades com as tempestades psíquicas de poetas como um Rimbaud, um Lautréamont, um Poe… Cornell destila um lirismo sombrio através de sua pictórica poiésis, escancara paradoxos verbalmente cheios de wit (“the rising of my low”), e prova que é um letrista ainda muito sub-estimado e sub-apreciado.

Eis um compositor merecedor de mais estudo até mesmo por nós filósofos, que muitas vezes ficamos discutindo o conceito de catarse em Aristóteles, não avançando além dele, o que nos deixa desagradavelmente antiquados, pois poderíamos muito bem discutir catarse – e Estética – também, por exemplo, através da Geração Grunge e das obras de Cobain, Vedder, Cornell, Stanley, Lanegan (por uma sala de aula com mais Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden, Alice in Chains e Screaming Trees!). Ladies and germs, listen to an awesome grungy poet:

PILLOW OF YOUR BONES

The embers of the saint inside of you
Are growing as I’m bathing in your glow
I’m swallowing the poison of your flower
And hanging on the rising of my low
Colorful and falling from your mouth
Like a painted fever in recoil
Like a lie without the pain

On a pillow of your bones
I will lay across the stones
Of your shore until the tide comes crawling back

A waning hand on silver granite ways
Will mend my broken limbs and bend my haze
I’m sleeping in the silence of your voice
I’m cradling the peril of my only choice
Colorful and falling from your mouth
Like a painted fever in recoil
Like a lie without the pain

On a pillow of your bones
I will lay across the stone
Of your shore until the tide comes crawling back
Throw my pillow on the fire
Make my bed under the eye
Of your moon until the tide comes crawling back

Even though the truth can burn inside or fall behind
I will wander through your open mind
And you will find no lie can hide
Until the tide comes crawling…

COMPARTILHAR NO FACEBOOK

– Uma homenagem a Chris Cornell (1964 – 2017), in memoriam.
Por Eduardo Carli de Moraes para A Casa de Vidro.

NIRVANA: MTV Live And Loud – Seattle, 1993 (Show Completo, 1h 16 min)

nirvana-live-and-loudNirvana – MTV Live And Loud – Seattle, 1993 (Full Concert) DVD

0:00 Radio Friendly Unit Shifter
4:47 Drain You
8:30 Breed
11:46 Serve the Servants
15:09 Rape Me
17:49 Sliver
20:08 Pennyroyal Tea
24:47 Scentless Apprentice
28:41 All Apologies
32:38 Heart-Shaped Box
38:42 Blew
43:05 The Man Who Sold the World
47:40 School
50:31 Come As You Are
54:16 Lithium
59:14 About a Girl
1:02:03 Endless, Nameless
1:10:12 (stage destruction begins)

 P.S. Confiram também um artigo que escrevi aos 20 anos do suicídio de Kurt Cobain, de nariz afundado em livros sobre o cara e sobre a banda que encontrei na Toronto Public Library, em 2014: It’s better to burn out than to fade away (em inglês)Em breve, pretendo traduzi-lo, aprimorá-lo e republicá-lo por aqui. Um trecho:

He violently departed from us, 20 years ago, in April 1994, by blowing his brains out with a shotgun on his 1-million-dollar mansion, chez lui on Trigger-Happy America. When he chose suicide as a way-out-of-the-Samsarian-mess, his daughter Frances was 20 months old and couldn’t possibly understand anything about the struggles of a heroin addict with his condition as an international pop-superstar. Singing as if he was a tree rooted in dark angry soil, his voice seemed to arise from an abyss of suffering, especially located in an intense point of pain inside his belly. That invisible wound made tremendously audible by his music rang so true and filled with authenticity, in an era of poseurs and fakers and hair-metal yuppie cowshit. Lester Bangs once wrote that “expression of passion was why music was invented in the first place”, and Cobain also seemed to believe in this – and he wasn’t ashamed to put his “dark” emotional side, from depression and paranoia to sociophobia and alienation, to craft the punk-rock hymns that turned him unwillingly into The Spokesman Of A Generation. Extraordinarily capable of expressing his feelings, Cobain’s heart poured out of himself like lava from a volcano, letting us peek through a sonic keyhole into the labyrinths of an anguished life seeking release and craving for pain to end.

#CYBERJUKEBOX (001) – DISCOS PARA DOWNLOAD >>> Poets of Rhythm, Cold Blood, Stephane Grappelli, Cécile McLorin Salvant

* * * * *

* * * * *

* * * * *

Grandes álbuns da música canadense: Neil Young, Arcade Fire, Leonard Cohen, Joni Mitchell, The Band, Guess Who…

THE BAND - "Music From  The Big Pink"

THE BAND – “Music From The Big Pink” (1968) LISTEN or DOWNLOAD (AMG REVIEW)

* * * * *

NEIL YOUNG - "Harvest" (1972)

NEIL YOUNG – “Harvest” (1972) LISTEN or DOWNLOAD

* * * * *

JONI MITCHELL - "Blue" (1971)

JONI MITCHELL – “Blue” (1971) LISTEN or DOWNLOAD

* * * * *

LEONARD COHEN - "Songs" (1968)

LEONARD COHEN – “Songs” (1968) LISTEN or DOWNLOAD

* * * * *

ARCADE FIRE - "Funeral" (2004)

ARCADE FIRE – “Funeral” (2004) – LISTEN or DOWNLOAD

* * * * *

GUESS WHO - "American Woman" (1970)

GUESS WHO – “American Woman” (1970) LISTEN or DOWNLOAD

 TO BE CONTINUED…

Um oferecimento:

AWESTRUCK WANDERER
http://awestruckwanderer.wordpress.com/

Trip on: