A ESTUPIDEZ PIROMANÍACA DO NECROGOVERNO – No Brasil pós-Golpe, o neofascismo reduz a cinzas nossas florestas e direitos

EXTERMINADORES DO FUTURO – A extrema-direita brasileira promove alguns dos piores crimes de ecocídio do século 21 na maior floresta tropical do planeta. Favorecidos pela política do desgoverno ilegítimo e oni-nefasto, bípedes irresponsáveis do agronegócio e do “ruralismo” predatório, os pecuaristas e latifundiários mais endoidecidos pela selvageria do capitalismo, avançam com fúria sobre a Amazônia. O clamor da Terra não é escutado por estes insensatos adoradores do vil metal, apaixonados pelas próprias polpudas contas bancárias, propulsionadas à riqueza mesmo que ao custo de ilegalidades e atrocidades.

Vão derrubando uma das áreas mais biodiversas da Terra para sobre as cinzas espalhar o gado e a monocultura – quando não o deserto. As arminhas que o fascista fã-de-torturador fazia no palanque estavam apontadas também para a cabeça da natureza – e agora elas estão atirando na cabeça de todos nós, terráqueos humanóides insanizados por uma doença chamada capitalismo.

Ao atentar contra direitos trabalhistas, salário mínimo ou aposentadoria digna, o governo destroçava “apenas” direitos de cidadãos brasileiros. Agora, em sua ofensiva contra Gaia, ao incinerar em ritmo acelerado a maior e mais biodiversa floresta tropical do planeta, avança sobre todos os cidadãos do planeta. O caráter necro e mortífero do desvario Bolsonarista, esta psicose de massas, manifesta-se ainda mais fortemente, com florestas virando cinzas e biodiversidade aniquilada irresponsavelmente. Tudo contribuindo para a intensificação de uma necropolítica, de um desgoverno da morte, de um reinado insano dos exterminadores do futuro.

Foto de Araquém Alcântara, 2019.

O Bolsonarismo é o triunfo da pulsão de morte, é uma espécie de estupidez piromaníaca, niilista e insensata, usando a máscara antiga da defesa de valores “tradicionais”. Um projeto político que diz ser “a favor da família tradicional brasileira”, mas que aniquila as condições de vida digna de centenas de povos que compõe a teia viva da brasilidade concreta, enquanto pratica o nepotismo oportunista mais grosseiro.

Neste Agosto turbulento, em nosso país obscurecido e adoecido pelo neofascismo, chegou a cair uma noite súbita sobre São Paulo às 15h da tarde. Não era um eclipse, nem nuvem pesada de tempestade, era a fumaça da floresta morta, a cinza de milhares de árvores chegando ao invés dos salutares rios voadores. Era a apocalíptica Queda do Céu anunciando-se, como na profecia xamânica de Davi Kopenawa, o sábio Yanomami.

A QUEDA DO CÉU. O céu está escuro às três da tarde. Não é preto, não é cinza. É uma mescla estranha de cores. É escuro. Há uma floresta queimada sobre São Paulo. Vai cair sobre a cidade a cinza de milhares de árvores. Assim se dá o encontro entre o Brasil que se julga civilizado e o Brasil que queimamos para civilizar. O Brasil que matamos cai sobre o Brasil que se acha vivo, esperto, moderno. A floresta vem visitar, vem avisar. Vai cair o céu. – Tarso de Melo

Em Brasília, onde mais de 100.000 mulheres manifestaram-se recentemente na Marcha das Margaridas e na Marcha das Mulheres Indígenas, o centro do poder federal era também chaqualhado pela potência popular no território também devastado do Cerrado. Brasília, se depender de nós, jamais será o bunker da Elite do Atraso como sonham os que se pretendem donos do poder em uma era pós-democrática.

A Amazônia em chamas fez Brasília acusar o golpe que começou a vir de todos os lados da Aldeia Global. O “mundo civilizado” enfim acordando para o flagelo terrível que é o necrogoverno neofascista brasileiro, #PrayForAmazonia ascendendo a trending topic, e muita gente se radicalizando e querendo ir muito além da oração. Afinal, orar é um modo de estar passivo e inativo, o que necessita-se de fato é de ação coletiva, como a que foi proposta de imediato por ecosocialistas, anarcoprimitivistas e neohippies: QUEIME FASCISTAS, NÃO FLORESTAS!

A Amazônia fica, Bolsonaro cai. Good deal, dudes. Pois precisamos muito mais de presidentes à la Evo Morales, que ascendeu de suas raízes como indígena Aymará e sindicalista cocalero à posição suprema do executivo Boliviano prometendo e cumprindo a proteção à Pachamama, do que de facínoras irresponsáveis como Jair Messias, este “projetinho de Hitler tropical” como diz Mário Magalhães. E é melhor já ir se acostumando com o total descrédito global desta figura que o mundo todo não compreende como pôde “hipnotizar” 57 milhões de cidadãos a ponto de concederem a ele seu voto. Tendo sido obviamente, nos últimos 30 anos, apenas um ricaço oportunista de opções morais retrógradas e práticas políticas truculentas, capaz de diarréias verbais em prol da ditadura e da tortura, e que nada fez em 30 anos enquanto deputado federal senão destruir a conta-gotas. Agora lhe foi dado o poder para destruir em larga escala.

Florestas e direitos vão sendo incineradas em velocidade recorde, a ponto de alguns movimentos sociais internacionalistas como o Extinction Rebellion estarem propondo um novo imperativo categórico para nossa época: percam toda a esperança e ajam como se a casa estivesse pegando fogo! Pois está. (Como bem expressou a jovem ativista Greta Thunberg)

 

“De acordo com o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), somente em junho deste ano, foram destruídos 920,2 km² de floresta na Amazônia, um aumento de 88% em comparação com o mesmo mês do ano passado. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) havia alertado que a devastação aumentou 88% junho e 278% julho na comparação com iguais períodos de 2018.”

O Sr. BolsoNero Motoserra, principal responsável pela catástrofe ambiental em curso, um ecocídio de vastas proporções que estarrece e preocupa a todo o planeta, colocando a Amazônia no centro do mundo, indicou para o Ministério do Meio Ambiente o Sr. Ricardo Salles.

Ninguém ainda soube explicar a contento como as instituições do país permitiram que tomasse posse como ministro de Estado o sr. Salles, uma vez que ele tinha sido condenado na justiça, em Dezembro de 2018, por improbidade administrativa e teve seus direitos políticos suspensos por três anos.

“Salles ocupava então o cargo de secretário estadual do Meio Ambiente do governo de Geraldo Alckmin (PSDB). A ação diz respeito à elaboração do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental da Várzea do Rio Tietê, em 2016, área de proteção ambiental que contém 7.400 hectares. A área foi criada em 1987 e abrange 12 municípios da Grande São Paulo.” – Veja mais em UOL: https://bit.ly/2R7p0I5

A demagogia eleitoral engana-trouxas de Bolsonaro continha o promessa de que não indicaria para Ministro ninguém que tivesse sido condenado por corrupção – e eis o Brasil de 2019, com um condenado no MMA, um réu confesso de Caixa 2 (Onyx) na Casa Civil e um juiz ladrão que fraudou a eleição no super-ministério da Justiça e da Segurança Pública (Moro).

Derrotado nas eleições de 2018, em que concorreu para deputado federal pelo Novo, o Sr. Salles presidia o Movimento Endireita Brasil e sua campanha eleitoral teve vários momentos criminosos – como exemplificado pela imagem anexa. Reportagem do The Intercept Brasil, em Agosto de 2018, pede com ironia que “apreciemos um dos santinhos de Ricardo Salles”:

 

“Não sei se incitação ao crime contra adversários políticos pode ser considerada uma novidade na política. Salles escolheu o número 3006, uma referência ao calibre da bala que aparece no santinho, o que também não chega a ser uma novidade. O então candidato a deputado federal Delegado Waldir (PSDB) apresentava o número 4500, e seu slogan era “45 do calibre, 00 da algema”. O partido Novo rechaçou publicamente o candidato logo após a publicação da imagem, que claramente possui conteúdo ilegal. Se o partido desaprova e “diverge totalmente” dessa aberração, como é que aceitou que o criador dela se tornasse um dos seus principais candidatos a deputado federal?” – JOÃO FILHO. Veja mais: https://bit.ly/2nTcuf4.

O Sr. Salles nunca foi eleito para nada por ninguém. Mas como estes políticos estão cagando e andando para a democracia, isto não o impediu de ascender ao poder:

“Se o povo não lhe concedeu nenhum cargo público, Geraldo Alckmin resolveu esse problema. E não foi qualquer carguinho. Em 2013, Salles foi nomeado secretário particular do governador, uma função importante dentro do governo. Nessa época, o Movimento Endireita Brasil estava de vento em popa, e a página do grupo no Facebook já era uma referência para os reacionários brasileiros. Lá, eles faziam uma oposição radical aos governos petistas, se posicionavam radicalmente contra o casamento gay e defendiam, entre outros absurdos, a ditadura militar. O nível do Endireita Brasil é tão rasteiro que o grupo chegou a oferecer R$ 1000,00 para quem hostilizasse Ciro Gomes em um restaurante de São Paulo. Salles também chama o golpe de 64 de “movimento de 31 de março” e considera que “felizmente tivemos uma ditadura de direita no Brasil”. – THE INTERCEPT BRASIL (op cit)

Recentemente, em programa da Globo News, o Sr. Salles confrontou em debate Ricardo Galvão, ex-diretor do INPE (assista: https://www.youtube.com/watch?v=IpRUIvKbl0E), logo após o lamentável episódio em que, de modo autoritário e ditatorial, o sr. Jair Messias demitiu Galvão de seu cargo. A “falha” de Galvão, merecedora de demissão, havia sido divulgar dados verídicos e irrefutáveis sobre a escalada dos incêndios criminosos e do desmatamento ilegal na Amazônia. Como era de se esperar, Salles agiu diante de Galvão (professor titular de física da USP) como um rottweiller de seu patrão e um ardoroso defensor do facínora fascista que hoje ocupa a presidência da República.

É uma das primeiras vezes em nossa História que um idiota irresponsável age, na presidência da república, em prol da destruição insana das riquezas naturais e da biodiversidade do país que deveria governar, escalando um anti-ambientalista para o MMA, um aniquilador da educação pública para o MEC, uma pastora evangélica fundamentalista para o Ministério da Família e dos Direitos Humanos, um ex-juiz golpista para o Ministério da Justiça, um banqueiro Pinochetista com função de Privatizador Geral de Tudo no Ministério da Economia, uma dondoca agrotóxica conhecida como Musa do Veneno no Ministério da Agricultura,  dentre outros absurdos surreais. Tá tudo de ponta-cabeça nestes tempos obscuros! Eis mais sobre o Ministro Salles:

“Ex-militante do DEM, incentivador do assassinato de sem-terras e defensor dos latifundiários, o ministro do Meio Ambiente que mente no currículo e foi condenado por fraude ambiental, tenta se esquivar da responsabilidade pelo aumento exponencial das queimadas que estão destruindo a Amazônia. Saiba mais sobre o ministro que, inclusive, tentou processar a Revista Fórum e perdeu” – saiba mais: https://bit.ly/2Hn7DgA.


Uma charge famosa que circula nas redes e que voltou a viralizar mostra o planeta Terra adoecido, todo esculhambado, cheio de esparadrapos e hematomas, sendo atendido por um médico que lhe diz: “Sinto muito, a sua doença é grave: você tem humanos.” A piada é afiada e certeira, mas acreditamos que o nome da doença, de fato, não é Humanidade mas sim Capitalismo.

Bolsonaro e Salles são monstros atrozes pois só enxergam a grana: obcecados pela insânia da ambição, agem de maneira completamente contrária ao que se espera de agentes públicos que tem por missão zelar pelo bem comum. Eles só querem saber do próprio ganho e do favorecimento de fazendeiros, latifundiários, pecuaristas e outros endinheirados. Bolsonaro e Salles são exemplos nefastos de gente desqualificada, irresponsável e brutal que entra na política com um único fim: o enriquecimento próprio e de seu círculo familiar:

“Em julho deste ano, o Ministério Público de São Paulo abriu um inquérito para investigar suposto enriquecimento ilícito de Salles. De acordo com o MP, o ministro teve um enriquecimento atípico entre 2012 e 2017. Em 2012, quando foi candidato a vereador pelo PSDB, ele declarou à Justiça Eleitoral R$ 1,4 milhão em bens. Na última eleição, quando foi candidato a deputado federal pelo Novo, declarou R$ 8,8 milhões, um estranho aumento de 335%.” – REVISTA FÓRUM

(https://revistaforum.com.br/politica/quem-e-ricardo-salles-o-ministro-do-novo-que-esta-destruindo-a-amazonia/)

Enquanto cresce no mundo todo uma tsunami de revolta e indignação diante dos crimes de ecocídio cometidos com a conivência do governo de extrema-direita brasileiro, que realizou a Festa da Desregulação Ambiental para favorecer pecuaristas, garimpeiros, madeireiros, latifundários etc., a Amazônia vai tendo altas porções de seu território reduzida a cinzas. Enquanto isso boa parte dos 57 milhões de eleitores do Coiso seguem passando pano pra fascista ou mantendo-se em silêncio conivente e cúmplice diante de crimes brutais contra o Brasil, contra o Planeta e contra as futuras gerações.

A imprensa internacional, com TeleSur, The Guardian e Democracy Now! na vanguarda, já repercute pelo globo o fato de que “os incêndios são sintomáticos das políticas mais amplas que estamos vendo do governo Bolsonaro”. Ou melhor, BolsoNero, o piromaníaco, o exterminador do futuro. O que nos empurra prum rolê Mad Max – não mais nos cinemas mas na distopia do real.

Se você acha que grana é mais importante que ambiente, tente segurar a respiração enquanto conta suas cédulas. O Brasil, que se rachou e se apartou por causa da polarização política em tempos de Golpes de Estado e Guerras Híbridas, não encontrou ainda o caminho à consciência coletiva da nossa interdependência: sem a Amazônia e seus “rios voadores”, o Cerrado e o Sudeste seriam lançados à desertificação. Ao colapso de um ecosistema biofílico. O Necrogoverno nos conduz a este abismo.

Estamos com 84 mil bolsas de estudo e pesquisa cortadas, 6.000.000.000 de reais bloqueados no orçamento da rede de educação federal, uma hecatombe ecológica na Amazônia e no Pantanal, e a festa do agrotóxico atingindo o auge (o veneno está na mesa, o veneno está no corpo…). Eis alguns dos efeitos do suicídio coletivo que o Brasil pratica ao permitir o prosseguimento do desgoverno neofascista, ilegítimo e oni-nefasto, ovo parido pela serpente do golpe de Estado.

O crime de etnocídio e de genocídio já estão bem tipificados no direito internacional, e possuem várias entidades de defesa de direitos humanos que buscam defender as populações contras estas atrocidades de extermínio. Mas o crime de ECOCÍDIO ainda é pouco conhecido – agora Bolsonaro e as hordas que se sentem por ele representadas e autorizadas servem como o sangrento emblema de um novo paradigma global de ecocídio. Boa parte da mídia progressista internacional, com o The Guardian e o The Intercept à frente, já perceberam que o mundo enxerga cada vez mais Bolsonaro como “exterminador do futuro”, como um estadista-demente que atinge o auge de insânia no trato com o meio ambiente.

Alguns podem pensar que o crime de ecocídio é menos grave que etnocídio ou genocídio, mas creio que estes três conceitos estão interligados de formas muito intensas pois quem destrói um ecosistema pratica de fato um genocídio e vários etnocídios caso consiga de fato aniquilar as condições para que a condição humana prossiga existindo em tal território.

O ecocídio, que é um gravíssimo atentado contra as condições da vida florescente, talvez deveria ser tipificado não como “crime contra a humanidade”, o que seria limitante pois confinaria o escopo do conceito à influência sobre os humanos, mas sim como “crime contra a Teia da Vida” (Fritjof Capra), pois implica agir como carrasco de uma fauna e flora que transcende o humano e constitui a pluridiversa Teia da Vida. A filosofia contemporânea, com Michel Serres e Hans Jonas, argumentou que a Teia da Vida deveria ser objeto de um Contrato Natural ou de um Pacto de Responsabilidade firmado entre os humanos e todo o restante da vida-em-teia-que-integramos.

O Bolsonarismo, para além da psicopatia de sua “política de costumes” (racista, machista, heterosexista, elitista, armamentista, sectária, sádico-perversa até os ossos), funciona concretamente sobre o planeta como mais uma mega-máquina exterminadora de Gaia, aniquiladora de diversidade. Um fascismo ecocida full throttle.

A Amazônia é de fato o centro do mundo, como disse Eliane Brum, mas no centro do mundo está uma distopia em chamas e uma floresta atrozmente devastada. E a necessidade inadiável de um planeta que se una em Resistência e que salve-nos – pela ação coletiva, nunca por preces inúteis à Providência Divina – da catástrofe ecocida-genocida conexa ao desgoverno bolsonarista.

 

Carli
A Casa de Vidro – 24/8/19

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A Casa de Vidro – www.acasadevidro.com

INSURGÊNCIA FEMINISTA – Milhares de mulheres, mobilizadas em repúdio à #CulturaDoEstupro e ao Machistério do Golpe, fazem raiar um Junho potencialmente libertário


Bennett

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 UM NOVO JUNHO RAIOU

Não é para contestar o ineditismo deste Junho que agora nasce que é vale a pena estabelecer as devidas analogias com as Jornadas de Junho de 2013 (confiram as análises de Ruy Braga e Marcos Nobre): estes dois Junhos, separados por 3 anos de turbulentas ocorrências, entrarão para a história recente do país como épocas de efervescência da democracia direta, da participação social turbulenta, do tsunamis anarco-democráticos que pegam as instituições de surpresa pela magnitude que tomam. Como escreveu Eliane Brum no El País em 06/06/2016:

“O levante das mulheres contra a cultura do estupro no país governado pelo interino Michel Temer (PMDB) e pelo Congresso mais retrógrado desde a redemocratização forma o retrato mais preciso desse momento histórico tão particular do Brasil. A oposição atual não é entre um governo chamado de ‘golpista’ e um governo que já foi apresentado como “popular”. Ou entre a presidente afastada pelo processo de impeachment e o vice que conspirou para afastá-la. O embate é entre o Brasil que emergiu das manifestações de junho de 2013 e o Brasil que se agarra aos privilégios de classe, de raça e de gênero. É esse o confronto político mais amplo que determina o curso dos dias.”

Se Junho de 2013 pareceu colocar o Brasil no mapa global das mega-mobilizações cidadãs, que puseram a democracia direta  e digitalmente turbinada no epicentro do mapa geopolítico, com fenômenos como a Primavera Árabe, o Occupy Wall Street, os Indignados espanhóis ou os conflitos na Maidan da Ucrânia, 2016 já nasce com cara de mês onde as ruas e redes, no Brasil, não cessarão de estar animadas pelo ethos e pelo ímpeto das experimentações cívicas de radicalização das mobilizações democráticas e insurgentes, com muita pela desobediência civil e contestação organizada de um governo considerado ilegítimo e golpista por uma vasta proporção da população.

A Resistência Ao Golpe de 2016 analisada pelos mais de 100 artigos reunidos em livro recém-lançado, que contou com a presença de Dilma Rousseff em seu lançamento na UnB – já ganha corpo e força com a insurgência feminista, as ocupações dos estudantes, as greves universitárias, os atos das frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular; em comícios e passeatas, em assembléias e aulas públicas, nas redes e fora delas, ferve de indignação o asfalto e o morro, o litoral e o sertão… Segundo a Ninja, neste dia Primeiro de Junho,

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“cerca de 16 estados realizaram manifestações com o tema “Por Todas Elas” em mais de 50 cidades. (…) A cada 11 minutos uma mulher é estuprada no Brasil – os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Porém, como apenas de 30% a 35% dos casos são registrados, é possível que a relação seja de um estupro a cada minuto”. – NINJA

(ASSISTA O VÍDEO DE JORNALISTAS LIVRES REGISTRANDO O ATO FEMINISTA EM SAMPA)

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São Paulo, Primeiro de Junho, Av. Paulista

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Aqui em Goiânia, estive em dois atos cívicos recentes, não só expressando minha solidariedade a esta bela maré montante de mulheres #BelasLibertáriasEDaLuta, mas também para documentar em vídeo um pouco do que rolou: os vídeos Caraca – A Mulherada Chegou Forte Transmutando Dor em Luta fornecem algumas janelas de acesso a este agito democrático que vem confrontando o poderio do Patriarcado e demandando uma transformação radical nos nossos enraizados modos de convívio, ainda tão brutais e cruéis em razão da dominação masculina ainda vigente (sobre isso, recomendo Pierre Bourdieu e seu Dominação Masculina, além das obras listadas ao fim deste post).


Aos que teimam com o discurso de que feministas são “cheias de mimimi”, talvez não haja melhor argumento do que este: “o machismo mata todos os dias,  o feminismo nunca matou ninguém.”  Alguns podem contestar a hipérbole de “o feminismo nunca matou ninguém” (Valerie Solanas, autora do Scum Manifesto, chegou perto de assassinar Andy Warhol…); já quanto ao machismo ser mortífero (além de estúpido…), isto beira o incontestável: é fato comprovado por estatísticas (obscenas) às mancheias como aquelas que, no blog da Boitempo, Flávia Biroli – co-autora do livro Feminismo e Política – oferece, dando as dimensões estarrecedoras do problema:

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Biroli

MACHISMO MATA – Precisamos falar sobre feminicídio

“A lei do feminicídio foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff em 9 de março de 2015. O feminicídio corresponde ao assassinato de mulheres pelo fato de serem muheres. No Brasil, esse tipo de assassinato tem aumentado. Segundo os dados do Mapa da Violência de 2012, em sua atualização dos dados específicos sobre homicídio de mulheres no Brasil, há registro do assassinato de 92.100 mulheres no país entre 1980 e 2010. Em 2010, esse registro foi de 4.465 mulheres assassinadas. Um estudo mais recente do IPEA fala em 5,82 mortes a cada 100 mil mulheres entre 2009 e 2011 – reproduzindo o destaque do relatório, uma média de 5.664 mortes por ano, 472 a cada mês, 15,52 a cada dia, uma a cada hora e meia. Segundo dados presentes no Mapa da Violência, um número inferior, de 4,4 mulheres a cada 100 mil habitantes no ano de 2009, deu ao Brasil a quinta posição entre 84 países que tiveram seus índices de homicídios contra mulheres comparados pela Organização Mundial de Saúde.

A maior parte dessas mulheres é jovem e tem baixa escolaridade. Segundo o estudo do IPEA, 61% delas são negras. Dados apresentados pelo Mapa da Violência mostram que em 71,8% dos registros de atendimento, a violência ocorreu na casa das mulheres. Trata-se de um padrão fundamental para o entendimento do feminicídio: mulheres de diferentes faixas etárias são agredidas no espaço doméstico, por pessoas que lhes são próximas – pais, tios, namorados, companheiros. E apesar da enorme importância da Lei Maria da Penha, de 2006, os estudos disponíveis indicam que houve pouco avanço na prevenção do homicídio de mulheres por homens que lhes são próximos.

Não são dados novos para quem está atenta ao tema. O Brasil é uma sociedade na qual mulheres são violentadas e assassinadas rotineiramente.” (BIROLI. Leia o artigo completo)

É um muito bem-vindo sopro de vida e renovação que as mulheres brasileiras estejam se empoderando tanto e articulando esta ‪#‎InsurgênciaFeminista‬ contra o Machistério do golpe, numa “Primavera Feminista” prenunciada por Marchas das Vadias e das Margaridas, mas promete neste ‪#‎Junho2016‬ escrever páginas notáveis para a história do feminismo no país. Mobilizadas em repúdio à ‪#‎CulturaDoEstupro‬ e contra o regime ilegítimo de Michel Temer e sua corja de machos, velhos, corruptos, branquelos, destroçadores de direitos sociais, que só sabem governar para o 1% da cúpula (empresarial, midiática, jurídica etc.), as ruas em coro garantem: “machistas, golpistas, não passarão!” 

Emma Goldman, Rosa Luxemburgo e Simone Weil estariam orgulhosas de nossas “guerreiras” (não no sentido bélico e macho man, mas muito mais na vibe Clara Nunes!).

“Canto pelos sete cantos
Não temo quebrantos
Porque eu sou guerreira…”

Neste Domingo (29/05), estive no Lago das Rosas, filmando o ato cívico que ficou registrado em Transmutando Dor Em Luta (22 min): ao som dos tambores afro e com muita capoeira rolando no coreto, elas manifestaram toda a repulsa pelo (des)governo do Mr. Biônico, pai de Michel Laranjinha e da Srta Bela Recatada & do Lar. Michel Temer cuspiu na cara de mais de metade da população do país, depois do afastamento de Dilma pelo Senado, ao nomear seu Ministério da Testosterona. O #ForaTemer virou palavra-de-ordem entoada em altos brados pelas mulheres, mas também pelos movimentos negros, estudantis, LGBT, indígenas – já que nenhum deles se sente minimamente representado pelos “recém-chegados” (aqueles que jamais venceriam as eleições, com tal projeto neoliberal fundamentalista, e que chegaram ao poder só pelo atalho do golpeachment).

E que ninguém diga que o feminismo é só falação: a desobediência civil feminista já se manifestou ultimamente em episódios notáveis de ação direta. Por exemplo: em Maio, ao início da interinidade de Temer, elas acorrentaram-se às grades do Palácio do Planalto, impedindo a passagem do traíra, que teve que entrar, como bom usurpador, pela porta dos fundos. Dias depois, rolou “invasão” (com o perdão do uso deste termo maculado pelas patas do P.I.G.) do STF (cúmplice, se não co-partícipe, do golpe parlamentar-midiático).

Uma interessante reportagem do El País, A Justiça no Brasil não é divina, é feminina (de Carla Jiménez), também aponta um raiar alentador de insurgência feminista em meio à perseverante barbárie do patriarcado belicista e autoritário – simbolizado, melhor que ninguém, por Dudu Cunha, o crápula teocrático que chefiou o complô golpista e agora está recebendo a bolsa-bandido para ser nosso presidente oculto, e por Bolsonazi, o apologista da tortura (a guy who has shit for brains):

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“Há um dado alentador no meio desta barbárie. À medida que a incompetência na condução das investigações no Rio [sobre o estupro perpetrado por 33 homens] foi exposta, cresceu a coragem das mulheres de se manifestar. Nas redes sociais, e até na sede do Supremo, onde calcinhas manchadas de vermelho foram exibidas e flores depositadas na estátua que representa a Justiça. As mulheres deste país já não suportam mais. Neste exato momento em que algum tarado está assistindo a cenas de estupros clandestinas no Whatsapp, há mulheres criando grupos de apoio, buscando inspiração em exemplos de ações conjuntas contra o estupro em outros países, e organizando manifestações para repudiar esta cultura selvagem.” – El País

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Marcha das Vadias 2013, São Paulo, SP. Foto: Rony Marques.

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Rio de Janeiro, 2 de Junho de 2016

Rio 03Saiba mais sobre a #CulturaDoEstupro

MV5BMjA1OTkwMjg3MF5BMl5BanBnXkFtZTgwODI4NDAwNjE@._V1_SY1000_CR0,0,713,1000_AL_O cinema e a música ajudam a pôr o cenário em chamas: Sufraggette – As Sufragistas, de Sarah Gavron, apesar de focado no movimento britânico pelo voto feminino de mais de um século atrás, é um dos filmes mais memoráveis dos últimos tempos e ainda tem muito a nos ensinar sobre a desobediência civil não-violenta – que para além de Gandhi, Luther King ou Thoreau, também tem ilustres praticantes nos movimentos feministas.

Na Rússia, o “caso Pussy Riot” revelou também possibilidades estéticas de um radicalismo louvável, excitante, como na ocasião em que as “Sex Pistols do Putin” fizeram uma desbocada performance na catedral de Moscou e depois foram em cana (tema do delicioso doc A Punk Prayer), revelando todo o autoritarismo do Estado Policial putinesco. Outro documentário que está dentre os mais excelentes dos últimos anos, Je Suis Femen (Eu Sou Femen), de Alain Margot, é um retrato cheio de empatia e verve do coletivo ucraniano-francês [FEMEN], que também pode muito bem inspirar ações das ativistas latino-americanas.

Aqui no Brasil destaco também a relevância atual da teoria-e-práxis de intelectuais orgânicas como a filósofa Márcia Tiburi, uma das idealizadoras do #PartidADjamila Ribeiro, colunista de Carta Capitalsecretária-adjunta da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo; Ivana Bentes, exonerada do cargo de Secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura do Brasil no Golpe de 2016, que escreveu um belo relato sobre a mobilização feminista, no Rio, em 02 de Junho; dentre outras figuras que vale a pena acompanhar. Nas redes sociais, recomendo: Geledés | Instituto da Mulher Negra; Não Me Kahlo; Juntas.

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CONFIRA TAMBÉM:

LIVRARIA FEMINISTA – ALGUMAS OBRAS RECOMENDADAS
PELA EDITORA VERSO BOOKS

“A landmark manifesto” — Susan Faludi, New Yorker

An international bestseller, originally published in 1970, when Shulamith Firestone was just twenty-five years old, The Dialectic of Sex was the first book of the women’s liberation movement to put forth a feminist theory of politics.

Beginning with a look at the radical and grassroots history of the first wave (with its foundation in the abolition movement of the time), Firestone documents its major victory, the expansion of the franchise in 1920, and the fifty years of ridicule that followed. She goes on to deftly synthesize the work of Freud, Marx, de Beauvoir, and Engels to create a cogent argument for feminist revolution.

Ultimately she presents feminism as the key radical ideology, the missing link between Marx and Freud, uniting their visions of the political and the personal.The Dialectic of Sex remains remarkably relevant today—a testament to Firestone’s startlingly prescient vision. The author died in 2012, but her ideas live on through this extraordinary book.

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An examination of how mainstream feminism has been mobilized in support of racist measures

Feminist Christine Delphy co-founded the journal Nouvelles questions féministes with Simone de Beauvoir in the 1970s and became one of the most influential figures in French feminism. Today, Delphy remains a prominent and controversial feminist thinker, a rare public voice denouncing the racist motivations of the government’s 2011 ban of the Muslim veil. Castigating humanitarian liberals for demanding the cultural assimilation of the women they are purporting to “save,” Delphy shows how criminalizing Islam in the name of feminism is fundamentally paradoxical.

Separate and Dominate is Delphy’s manifesto, lambasting liberal hypocrisy and calling for a fluid understanding of political identity that does not place different political struggles in a false opposition. She dismantles the absurd claim that Afghanistan was invaded to save women, and that homosexuals and immigrants alike should reserve their self-expression for private settings. She calls for a true universalism that sacrifices no one at the expense of others. In the aftermath of the Charlie Hebdo massacre, her arguments appear more prescient and pressing than ever.

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Barrett - Womens Oppression Today - PRINT

Women’s Oppression Today: The Marxist/Feminist Encounter

Women’s Oppression Today is a classic text in the debate about Marxism and feminism, exploring how gender, sexuality and the “family-household system” operate in relation to contemporary capitalism. In this updated edition, Michèle Barrett surveys the social and intellectual changes that have taken place since the book’s original publication, and looks back at the political climate in which the book was written. In a major new essay, she defends the central arguments of the book, at the same time addressing the way such an engagement would play out differently today, over thirty years later.

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Livro5

Fortunes of Feminism: From State-Managed Capitalism to Neoliberal Crisis

During the ferment of the New Left, “Second Wave” feminism emerged as a struggle for women’s liberation and took its place alongside other radical movements that were questioning core features of capitalist society. But feminism’s subsequent immersion in identity politics coincided with a decline in its utopian energies and the rise of neoliberalism. Now, foreseeing a revival in the movement, Fraser argues for a reinvigorated feminist radicalism able to address the global economic crisis. Feminism can be a force working in concert with other egalitarian movements in the struggle to bring the economy under democratic control, while building on the visionary potential of the earlier waves of women’s liberation. This powerful new account is set to become a landmark of feminist thought.

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OUÇA TAMBÉM:

Cobain

“O estupro é um dos mais terríveis crimes na terra e isso acontece a cada poucos minutos. O problema com os grupos que lidam com o estupro é que eles tentam educar as mulheres sobre como se defender. O que realmente precisa ser feito é ensinar os homens a não violar. Vá à fonte e comece por aí.” – Kurt Cobain @ Nirvana


ESCUTA TAMBÉM NA JUKEBOX:

RIOT GIRLS & GRUNGY CHICKS – 25 músicas poderosas do “rock’n’roll das minas”