:: Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo… ::

Goya

Sábio é o que se contenta com o espectáculo do mundo,
E ao beber nem recorda

Que já bebeu na vida,

Para quem tudo é novo

E
imarcescível sempre.

Coroem-no pâmpanos, ou heras, ou rosas volúteis,
Ele sabe que a vida
Passa por ele e tanto
Corta à flor como a ele
De Átropos a tesoura.

Mas ele sabe fazer que a cor do vinho esconda isto,
Que o seu sabor orgíaco
Apague o gosto às horas,
Como a uma voz chorando
O passar das bacantes.

E ele espera, contente quase e bebedor tranquilo,
E apenas desejando
Num desejo mal tido
Que a abominável onda
O não molhe tão cedo.

RICARDO REIS
19/06/1914

Sobre www.acasadevidro.com

Ponto de cultura em Goiânia. Plugando consciências no amplificador. Encabeçado por Eduardo Carli de Moraes, professor de Filosofia no (IFG). Jornalista e Documentarista independente.

Um pensamento sobre “:: Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo… ::

  1. Gostei do imarcesível, darei um jeito de usá-la se me permite. Excelente blog. Já escrevi sobre as Moiras. Um abraço.

    Curtir

Deixe um comentário