“O PODER DA COMUNIDADE – COMO CUBA SOBREVIVEU AO PICO PETROLÍFERO” (Um filme de Faith Morgan, 2006, 52 min) #HotDocs

The Power of Community

“Quando a União Soviética entrou em colapso em 1989, a economia cubana entrou em queda livre. Com as importações de petróleo cortadas em 50% e as importações de alimentos cortadas em 80%, as pessoas estavam desesperadas. Este filme encorajador e fascinante mostra como as comunidades reagiram juntas, criaram soluções e finalmente prosperaram, apesar da sua menor dependência de energia importada. No contexto das preocupações mundiais com o pico petrolifero, Cuba é uma visão inspiradora de esperança….”

Assista na íntegra, com legendas em português:
http://youtu.be/rr70FVoAXBo

The documentary, “The Power of Community – How Cuba Survived Peak Oil,” was inspired when Faith Morgan and Pat Murphy took a trip to Cuba through Global Exchange in August, 2003. That year Pat had begun studying and speaking about worldwide peak oil production. In May Pat and Faith attended the second meeting of The Association for the Study of Peak Oil and Gas, a European group of oil geologists and scientists, which predicted that mankind was perilously close to having used up half of the world’s oil resources. When they learned that Cuba underwent the loss of over half of its oil imports and survived, after the fall of the Soviet Union in 1990, the couple wanted to see for themselves how Cuba had done this. During their first trip to Cuba, in the summer of 2003, they traveled from Havana to Trinidad and through several other towns on their way back to Havana. They found what Cubans call “The Special Period” astounding and Cuban’s responses very moving. Faith found herself wanting to document on film Cuba’s successes so that what they had done wouldn’t be lost. Both of them wanted to learn more about Cuba’s transition from large farms or plantations and reliance on fossil-fuel-based pesticides and fertilizers, to small organic farms and urban gardens. Cuba was undergoing a transition from a highly industrial society to a sustainable one. Cuba became, for them, a living example of how a country can successfully traverse what we all will have to deal with sooner or later, the reduction and loss of finite fossil fuel resources. In the fall of 2003 Pat and Faith had the opportunity to return to Cuba to study its agriculture. It was a wonderful trip. They saw much of the island, met many farmers and urban gardeners, scientists and engineers – traveling more than 1700 miles, from one end of Cuba to the other. It was all they had hoped for and more. In 2004 Community Service, Inc. (CSI) began raising money and organizing a third trip (October), to film in Cuba. Greg Green, cinematographer and director of The End of Suburbia documentary, was the chief videographer. Faith Morgan shot the second camera, John Morgan did still photography and Megan Quinn, Outreach Director of CSI, was sound director. After their return from Cuba, they secured assistance and direction from Tom Blessing IV, producer, and Eric Johnson, post-production supervisor and editor. Together, they bring over 40 years combined experience in film and television production. The goals of this film are to give hope to the developed world as it wakes up to the consequences of being hooked on oil, and to lift American’s prejudice of Cuba by showing the Cuban people as they are. The filmmakers do this by having the people tell their story on film. It’s a story of their dedication to independence and triumph over adversity, and a story of cooperation and hope. Several Cubans expressed the belief that living on an island, with its natural boundaries, breeds awareness that there are limits to natural resources. Everyone who has worked on the documentary hopes that, seeing this film, people will also see the world on which we live, as another, much larger, island.

Visite também: “The Power Of Community, How Cuba Survived Peak Oil” (2006)
http://naturalheroes.org/videos/the-power-of-community-how-cuba-survived-peak-oil/

“O Ódio à Democracia” (por Matheus Pichonelli, com Jacques Rancière e Renato Janine Ribeiro) + A “novidade” da divisão do Brasil (por Jean Wyllys)

Esquerdalhada
“O ÓDIO À DEMOCRACIA”,
por Matheus Pichonelli, na CartaCapital

“Nordestino não sabe votar”. “Pobres merecem o que têm”. “Abaixo o Bolsa Esmola”. “Vão pra Cuba”. “Muda para Miami”. “Os empregados deveriam ser proibidos de participar”. “Paulista é uma raça egoísta”. “Deveríamos nos separar do resto do país”. Não, não é por acaso que as manifestações de ojeriza à política, ao contraditório e ao voto das populações mais pobres tenham se intensificado ao longo desta eleição, a sétima desde a reabertura democrática…

Sobram patadas sobre pobres, gays, lésbicas, negros, “comunistas”, mulheres. Um exemplo foram as manifestações de ódio contra a população nordestina, onde o PT conquistou muitos votos. A repulsa chega com todos os disfarces, mas pode ser identificada, por exemplo, quando um ex-presidente da República (o FHC) atribui um resultado adverso (para ele e os seus) à cegueira coletiva dos “menos instruídos”.

Ranciere
No livro Ódio à Democracia, recém-publicado no Brasil pela Boitempo Editorial, o filósofo franco-argelino Jacques Rancière deixa pistas para entender este fenômeno. Um fenômeno que, a se fiar pela experiência europeia e pelos últimos embates, será cada vez mais comum por esses lados.

A obra é uma crítica contundente à denúncia do “individualismo democrático” – que, segundo ele, cobre, com pouco esforço, duas teses: a clássica dos favorecidos (os pobres querem sempre mais) e das elites refinadas (há indivíduos demais, gente demais reivindicando o privilégio da individualidade).

“O discurso intelectual dominante une-se ao pensamento das elites censitárias e cultas do século XIX: a individualidade é uma coisa boa para as elites; torna-se um desastre para a civilização se a ela todos têm acesso”, escreve. Para o autor, não é o individualismo que esse discurso rejeita, mas a possibilidade de qualquer um partilhar de suas prerrogativas. “A crítica ao ‘individualismo democrático’ é simplesmente o ódio à igualdade pelo qual uma intelligentsia dominante confirma que é a elite qualificada para dirigir o cedo rebanho”.

No prefácio da mesma obra, o filósofo Renato Janine Ribeiro, professor de ética da USP, lembra que um número expressivo de membros da classe média ainda desqualifica os programas sociais consolidados nos últimos anos. “Para eles, o Brasil era bom quando pertencia a poucos. Assim, quando a multidão ocupa espaços antes reservados às pessoas ‘de boa aparência’, uma gritaria se alastra em sinal de protesto. O que é isso, senão o enorme mal-estar dos privilegiados?”, questiona. “A expansão da democracia incomoda. Daí um ódio que domina nossa política, tal como não se via desde as vésperas de um golpe de 1964, condenando as medidas que favoreciam os mais pobres como populistas e demagógicas”.

Em coro com Rancière, Janine Ribeiro lembra que a democracia não é um Estado acabado nem um estado acabado das coisas; ela vive constante e conflitiva expansão. “Porque a ideia de separação social continua presente e forte”.

A democracia, prossegue Rancière, longe de ser a forma de vida dos indivíduos empenhados em sua felicidade privada, é o processo de luta contra essa privatização, o processo de ampliação dessa esfera. “Ampliar a esfera pública não significa, como afirma o chamado discurso liberal, exigir a intervenção crescente do Estado na sociedade. Significa lutar contra a divisão do público e do privado que garante a dupla dominação da oligarquia no Estado e na sociedade”.

Matheus Pichonelli

Leia também: 

DIVISÃO

JEAN WYLLYS, A “novidade” da divisão do Brasil

“O Brasil está dividido. Em primeiro lugar, pela divisão de classes própria do capitalismo, que, em sua versão brasileira, está marcado pela herança escravocrata que nos dividiu – a princípio literalmente e, depois, metaforicamente – em “casa grande e a senzala”. Ora, segundo o censo do IBGE de 2010, os 10% mais ricos da população ganharam, nesse ano, 44,5% do total de rendimentos; enquanto os 10% mais pobres receberam menos de 1,1%. Esses números significam que quem está na faixa mais pobre precisaria poupar a totalidade de seus recursos durante três anos e três meses para acumular a renda média mensal dos brasileiros que pertencem à faixa mais rica.

E esses dois “brasis” – o da casa grande e o da senzala – correspondem também a outras divisões igualmente históricas: o país branco e o preto; o país do sul-sudeste e o do norte-nordeste; o país do asfalto e o da favela; o dos jardins e do periferia; o país da empregada doméstica e o da patroa. A geografia de nossas cidades — “cidades partidas”, para usar a expressão de Zuenir Ventura em livro nada recente e anterior à emergência do PT ao governo federal — está marcada por uma divisão tão evidente quanto naturalizada…” – LEIA TUDO AQUI

“A democracia depende de um aprofundamento da transferência de poder para instâncias de decisão popular que podem e devem ser convocadas de maneira contínua.” (Vladimir Safatle)


Vladimir PSOL

 

“Somos obrigados a ouvir compulsivamente que ‘a divisão esquerda/direita não faz mais sentido’. Essa conversa é utilizada para fornecer a impressão de que nenhuma ruptura radical está na pauta do campo político, ou de que não há mais nada a esperar da política a não ser discussões sobre a melhor maneira de administrar o modelo socioeconômico hegemônico nas sociedades ocidentais. (…) A função atual da esquerda é, por isso, mostrar que tal esvaziamento deliberado do campo político é feito para nos resignarmos ao pior, ou seja, para nos resignarmos a um modelo de vida social que há muito deveria ter sido ultrapassado e que evidencia sinais de profundo esgotamento.”

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“A política é, em seu fundamento, a decisão a respeito do que será visto como inegociável. (…) Este livro pretende falar, pois, do inegociável, isto é, a primeira coisa que a esquerda esquece quando assume o governo e começa a ficar fascinada por ser recebida em casas de escroques na Riviera Francesa, por ser convidada para vernissages de publicitários travestidos de artistas plásticos e por começar a ler mais sobre vinhos caros do que sobre a alienação do trabalho nas linhas de montagem da Ford.”

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“Com o governo Lula (2003-2010), continuamos obrigados a conviver com o bloqueio reiterado da reconstrução dos fundamentos gerais do campo do político, como se a imersão na “pior política” fosse uma fatalidade intransponível. A despeito de sua capacidade de colocar a questão social enfim no centro do embate político e de compreender o necessário caráter indutor do Estado brasileiro no nosso desenvolvimento socioeconômico, o governo Lula será lembrado, no plano político, por sua incapacidade de sair dos impasses de nosso presidencialismo de coalizão. Como se a governamentabilidade justificasse a acomodação final da esquerda nacional a uma semidemocracia imobilista, de baixa participação popular direta e com eleições que só se ganha mobilizando, de maneira espúria, a força financeira com seus corruptores de sempre.”

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“A democracia depende de um aprofundamento da transferência de poder para instâncias de decisão popular que podem e devem ser convocadas de maneira contínua. (…) Com o desenvolvimento das novas mídias, é cada vez mais viável, do ponto de vista material, certa “democracia digital” que permita a implementação constante de mecanismos de consulta popular. (…) O verdadeiro desafio democrático consiste em criar uma dinâmica plebiscitária de participação popular.

Tal dinâmica é desacreditada pelo pensamento conservador, pois ele procura vender a ideia inacreditável de que o aumento da participação popular seria um risco à democracia – como se as formas atuais de representação fossem tudo o que podemos esperar da vida democrática. Contra essa política que tenta nos resignar às imperfeições da nossa democracia parlamentar, devemos dizer que a criatividade política em direção à realização da democracia apenas começou. Há muito ainda por vir.”

VLADIMIR SAFATLE,
A Esquerda Que Não Teme Dizer Seu Nome

vlad

Eles sabem o preço de tudo e o valor de nada – Das lutas que transcendem as urnas

Wilde

A seca da Cantareira, infelizmente, é só o começo de um problemão que enfrentaremos, planeta afora, pelas próximas décadas: um relatório recente do Global Humanitarian Forum, chamado “Anatomy of a Silent Crisis” (Genebra, 2009), estima que hoje já são cerca de 325 milhões de pessoas afetadas diretamente pelo aquecimento global e que o número de mortes já é de mais de 500.000 todos os anos (1). É o mesmo número de mulheres que falecem anualmente por causa do câncer-de-mama (2). O caso de São Paulo é apenas uma das manifestações de uma crise global, que atualmente também devasta, por exemplo, o estado da Califórnia com a pior seca de sua história (3).

Em seu brilhante livro “The Value of Nothing”, Raj Patel – celebrado por Naomi Klein como um pensador essencial “para quem está faminto por um mundo mais justo” – estabelece o link entre a atual crise climática, que agrava-se a cada dia, e a história do colonialismo imposto pelos poderes capitalistas ocidentais, estes que há séculos impõe seus Impérios escravocratas, exploratórios e etnocidas lá onde não foram chamados. Estes poderes que se especializaram no genocídio de populações nativas, e no roubo em larga escala de recursos naturais, em nosso século 21 seguem agindo com métodos extrativistas ecocidas e índices obscenos de emissões tóxicas:

“A maioria das mortes que vão resultar das mudanças climáticas”, pondera Raj Patel, “irão ocorrer entre aqueles que são os menos responsáveis por causar a poluição, pessoas cujos países foram colonizados pelos mesmos poderes que causaram esta nova catástrofe.” (3)

Como seremos capazes de alimentar as 9 bilhões de pessoas que estima-se que o planeta acolherá em 2050? Hoje, com mais de 1 bilhão de famintos e a perspectiva de aumento das catástrofes climáticas no futuro, já que as emissões prosseguem crescendo e já estão muito além do limite seguro dos 350 ppm, como é que as autoridades políticas hoje no poder pretendem lidar com escassez de água e de alimentos? Vai ser com a barbárie descrita por Naomi Klein em “A Doutrina do Choque”, em que capitalistas invadem países devastados por tsunamis e furacões, aproveitando-se do colapso civilizacional para lucrar no ramo comercial super promissor das re-construções e das privatizações?

É esta a mentalidade hegemônica nos países que são ao mesmo tempo os mais ricos e os mais poluidores: vamos esperar as catástrofes chegarem e depois, sobre os cadáveres de milhares de mortos, nós construímos mundo afora as nossas maravilhosas “democracias de mercado”.

Sabemos o que está ocorrendo com a biosfera com o triunfo das doutrinas do crescimento infinito e da liberação dos mercados: China, Índia, Brasil, entre outros gigantes, entrando em peso no mundo do hiper-consumo, estão gerando situações absolutamente insustentáveis, desde as criancinhas de Xangai, que tem que vestir máscaras anti-poluição para irem à escola, ou o povo paulista, que está ameaçado de encarar anos e anos de rodízios no abastecimento hídrico devido à gestão incompetente e à falta de investimentos, já que capitalismo bandeirantista tucano preferiu, por décadas, encher de grana empresários e acionistas ao invés de oferecer um serviço público digno, de qualidade, administrado com sabedoria ecológica e capacidade de previsão. O fracasso de Alckmin é o símbolo mais forte do quão falido é este modelo do PSDB.

Com tão péssimas credenciais, chega a ser cômico que figuras como Geraldo Alckmin, José Serra e Aécio Neves queiram vender-se como “nova política”, como “salvação da pátria”; se o candidato à presidência pede-nos que não olhemos no retrovisor, é pois sabe que a história registra o quão incapazes e ignorantes foram os políticos tucanos para lidar com o commons. O PT, é claro, também deixa a desejar neste quesito, mais uma razão para que a sociedade civil comece a tomar o problema em suas próprias mãos. Somos parte do problema, ou parte da solução?

Aécio Neves, José Serra, Geraldo Alckmin, são a “velha” política que tenta travestir-se com a máscara retórica do novo. Eles são justamente as velharias que nos trouxeram à esta secura, tanto de água quanto de utopias. Eles são justamente os cérebros estreitos onde só entram valores monetários, aqueles que, para citar Oscar Wilde, “sabem o preço de tudo e o valor de nada” (4). Eles são justamente os sujeitos que deixam nossas ruas fedendo com as bombas de defeito moral, que fazem com que avancem sobre nós as tropas de choque com suas armas químicas (“chemical warfare, chemical warfare!”, para citar os Dead Kennedys…).

Se todo mundo neste planeta consumisse como faz o cidadão médio dos Estados Unidos ou do Canadá, seriam necessários 9 planetas Terra para absorver toda a poluição emitida. O caminho do hiperconsumo, que é também a estrada do extrativismo frenético, é uma escolha suicida, genocida e ecocida. Suicida, pois praticando o capitalismo insustentável hoje em predomínio, civilizações cavam seus próprios túmulos, abrem suas próprias covas, encaminham-se para colapsos repletos de barbáries. Genocida, pois quem mais polui vai ficar tranquilo na cobertura com ar condicionado, como os oil-men de Alberta ou os especuladores de Wall Street, enquanto na Índia e em Bangladesh o aquecimento global ceifa vidas às mancheias.

“As mudanças climáticas vão bater pesado na Índia, com aumentos de temperatura entre 3º e 5º C. Uma das principais fontes hídricas do país – o glacier do Himalaya que banha as plantações de arroz da Ásia – está previsto para desaparecer completamente em 2035.” (5)

Caso o mundo não faça nada, cenários de distopia sci-fi podem tornar-se triste realidade: Índia, Paquistão e Bangladesh, devido à guerra por recursos cada vez mais escassos, talvez façam uso de suas bombas atômicas, talvez uns contra os outros, talvez contra os poderes “imperiais” que recusaram-se a diminuir seus ecocídios e poluições…

Podem me chamar de pessimista, paranóico ou psicopatologicamente inclinado às especulações sombrias sobre o futuro; não posso evitar, porém, sentir-me aterrorizado com a perspectiva de que a grave crise ecológica global não é tema de nossas eleições, que a nossa sociedade civil não está mobilizada em relação a esta causa (Nova York pôs 400.000 nas ruas para a People’s Climate March; no Brasil, quantos estiveram na marcha no Rio de Janeiro?).

Essa luta, enfim, não cabe nas urnas. O que não quer dizer que ela não vá ter que ser lutada.

Sabesp

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NOTAS

1. Global Humanitarian Forum, “Anatomy of a Silent Crisis” (Genebra, 2009)

2. Raj Patel, “The Value of Nothing” (Toronto, 2009, Harper Collins).

3. “If hot thermometers actually exploded like they do in cartoons, there would be a lot of mercury to clean up in California right now. The California heat this year is like nothing ever seen, with records that go back to 1895. (…) The high temperatures have contributed to one of the worst droughts in California’s history. The water reserves in the state’s topsoil and subsoil are nearly depleted, and 70 percent of the state’s pastures are rated “very poor to poor,” according to the USDA. By one measure, which takes into account both rainfall and heat, this is the worst drought ever…” via SYSTEM CHANGE, NOT CLIMATE CHANGE (ECOSOCIALIST ALLIANCE)

4. OSCAR WILDE. O Retrato de Dorian Gray.

5. RAJ PATEL, op cit.

6. Idem.

Leia também:

Re-eleição de Dilma comentada por Jean Wyllys, Cynara Menezes, Fernando Haddad, The Guardian, Sakamoto, dentre outros [A CASA DE VIDRO.COM]

Dilma Muda Mais

É TETRA! PT É ELEITO PARA A PRESIDÊNCIA PELA 4ª VEZ CONSECUTIVA

Jean Wyllys comenta a re-eleição da presidenta Dilma Roussef: “Não passarão, a gente disse — e não passaram! (…) Tem momentos históricos em que a gente precisa se unir para impedir um retrocesso, para não perder o que conquistamos, mesmo que esteja aquém dos nossos sonhos e utopias”, declarou Wyllys.

“A eleição do Aécio Neves teria sido uma tragédia para o Brasil não apenas pelo que ele mesmo representa, com sua arrogância machista, seu macartismo vintage, seu neoliberalismo radical e seu udenismo, falso como todo udenismo, mas também pelo conteúdo que sua campanha representou”, completou. [Jornal GGN]

O Brasil barrou o retrocesso… agora é expandir os avanços, nas redes e nas ruas, na demanda e na luta, puxando o PT pra esquerda com as múltiplas vozes dos movimentos sociais… Avante, MST – Movimento dos Trabalhadores Sem TerraPasse Livre São PauloMovimento Xingu Vivo para SempreNINJAJornal A Nova DemocraciaMtst Trabalhadores Sem Teto, Marcha da Maconha, PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), Agência Pública, Mães de Maio, entre tantos outros corações valentes!

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EXISTE AMOR EM SP?

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Dilma Vitoria

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Fernando Haddad (o provável candidato do PT à presidência em 2018?), na Avenida Paulista, discursa frente à multidão que comemora a re-eleição de Dilma Rousseff. Haddad garante que a reforma política será prioridade, que os entulhos autoritários da sociedade brasileira precisam ser superados, e que o Brasil não deve se cindir em dois mas abraçar sua unidade. Ele aproveita também para alfinetar a sórdida campanha de Aécio Neves e do PSDB, em conluio com a imprensa burguesa golpista (vulgoP.I.G.), bradando: “Não se vence eleição no tapetão!” Não há dúvidas de que a revista Veja, da Abril, não escapará de punições na justiça e boicotes da população após seu crime eleitoral. Confira o vídeo de Haddad:

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Cynara

“A elite brasileira e a imprensa que a representa odeiam, em primeiro lugar, Lula. Não porque Lula despreza as famílias que são donas dos meios de comunicação. É o contrário: Lula despreza as famílias que são donas dos meios de comunicação porque sempre foi maltratado por seus jornais, TVs e revistas, porque foi vítima de seu enorme preconceito de classe. A elite e a imprensa que a representa não suportam que não seja um dos seus que esteja à frente do poder no Brasil. Dilma Rousseff achou que podia seduzir a imprensa, atraí-la para seu lado. Doce ilusão. Foi um dos maiores erros do primeiro mandato e espero que corrija no segundo.” Cynara Menezes, a Socialista Morena

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COMO VOTOU O BRASIL:

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AMERICA LATINA

Líderes da América Latina, relata a Carta Capital, também celebram a re-eleição de Dilma Rousseff: os presidentes da Venezuela (Nicolás Maduro), do Equador (Rafael Correa) e da Argentina (Cristina Kirchner) mandam suas saudações à presidenta re-eleita. O sucessor de Chávez na presidência venezuelana, Maduro, manifestou-se pelo twitter: “Dilma venceu a guerra suja e a mentira” (uma menção às calúnias golpistas a que o PSDB de Aécio Neves recorreu, em conluio com a imprensa burguesa?) “Pôde mais a verdade de um povo que mira o futuro com esperança.” Pelo jeito, a VEJA pode até esbravejar e a Rede Globo pode até espernear, mas nos próximos anos a reforma da mídia e a reforma política vão ser top-prioridade do governo federal e do PT, assim como a estreitação dos laços e dos intercâmbios latino-americanos, para horror dos paranóicos reacionários que tem pavor do “bolivarismo”… 

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REPERCUSSÃO INTERNACIONAL: THE GUARDIAN

Glenn Greenwald

Dilma Rousseff pledges unity after narrow Brazil election victory

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Leia também:

 

CARTA AOS AECISTAS, por GISELE TOASSA @ A CASA DE VIDRO.COM

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CARTA AOS AECISTAS
por Gisele Toassa

Caro parente, amigo, ou conhecido Aecista:

Talvez eu não devesse tomar a liberdade de falar consigo, pois, nesse momento, estamos em campos opostos. Mas aqui vou!

Admita comigo: você não está votando no Aécio por crer que o PT é quem rouba. Você já deve ter visto todas as histórias grotescas sobre os aeroportos que Aécio construiu nas terras da família; os vários outros casos de nepotismo; as fundamentadas acusações de censura à imprensa em Minas; as ligações suspeitas dele com o tráfico de drogas; seu desrespeito a uma lei elementar como a de não dirigir embriagado, e o fato, confirmado por Juca Kfouri (jornalista acima de qualquer suspeita), de que ele já espancou brutalmente uma de suas acompanhantes em público. A conduta pública e privada dele é grotesca, infinitamente pior que a de sua adversária – para não falar do PSDB, o campeão de nomes impugnados pela Lei de Ficha Limpa; o partido que mais engaveta processos de corrupção em nosso país e não se propõe a mudar em quase nada o sistema político.

Assim sendo, tenho que admitir: você votará em Aécio por outros motivos. Deve ser porque ele encarna as tradições políticas e a estrutura de classes mais antigas desse país. Você gosta da postura dominadora e altiva dele, tão superior à de sua gaguejante adversária. Você talvez sinta uma vaga excitação sexual ao vê-lo, porque ele encarna a dominação que você aprendeu ser correta. Essa excitação surge especialmente ao ouvi-lo explicar em termos simples a origem de todos os nossos males: a existência de marginais, corruptos e delinquentes, todos alojados em uma perigosa quadrilha vestida de vermelho.

Mas isso não deve ser à-toa. Talvez você tenha (como eu) uma história de brutalização psicológica que te ensinou, à força, que esse mundo só funciona se uns mandarem e outros obedecerem. Talvez, como eu, você seja de origem humilde e fez seu caminho com esforços e privações – e internalizou a ideia de que o sistema é bom; sendo injusto que outros tenham mais auxílio do Estado do que você teve. Tendo aprendido por meio da violência, agora você acredita que só a violência ensina – e por isso, devemos enjaular os menores que nos matam e assaltam. Admita que você não tem mais fé na natureza humana e gostava mais do tempo em que o presidente falava várias línguas e não fazia nada – porque o Brasil não tem jeito, e se pudesse, você o deixaria. Mas como não pode, quer se sentir próximo dos ricos e privilegiados, aqueles que mandam a polícia matar nos jovens o pouco de esperança que você já teve no peito.

Admita que seu voto não é ético, é estético; que os últimos 12 anos confundiram sua cabeça e agora você quer ver tudo voltar ao normal; preto-no-branco, tal como as capas da Veja. Admita que gosta dos jargões fáceis que emanam de Reinaldo Azevedo e das caras poderosas e ricas de Lauro Jardim e do Constantino. E que, talvez, queira viajar com o dólar a 1 por 1.

Se você conseguir admitir tudo isso sem piscar, por favor, vote no Aécio. Vivemos em um país democrático e ele é mesmo seu candidato. Talvez nos encontremos nas ruas. Não sou petista, mas sou de esquerda e resisto a tudo o que te faz votar nele. Mas, por favor, não me xingue como os aecistas fizeram com a presidente Dilma. Isso não é estético.

Dois Brasis Em Embate: #Eleições2014 @ A CASA DE VIDRO (http://www.acasadevidro.com)

Dilma Campanha

Campanha de Dilma Roussef, na foto acompanhada pelo ex-presidente Lula, o prefeito de São Paulo Fernando Haddad, e o deputado e liderança do PSOL Jean Wyllys.

“Ganhe ou perca Dilma Rousseff (e o Ibope e Datafolha repetem a vantagem dela sobre o adversário tucano Aécio Neves), o PT fez nesta empolgante jornada eleitoral do segundo turno a sua campanha mais autêntica desde 1989.

Em vez dos slogans limpinhos e brilhantes dos marqueteiros, o que se viu foi a multiplicidade de vozes, sotaques, reivindicações e cores.

Se, na campanha do primeiro turno, Dilma aparecia um dia em um templo evangélico – e no seguinte também –, nesta, ela surgiu em ato na periferia de São Paulo ladeada por representante devidamente paramentada de uma religião de matriz africana. E defendeu, ao lado do imprescindível Jean Wyllys, do PSOL, a criminalização da homofobia, para horror do fundamentalismo religioso de Marco Feliciano e Silas Malafaia.

Foi uma Dilma ativista dos Direitos Humanos a que se viu –comprometida com a luta “contra a discriminação da juventude negra deste país, contra os ‘autos de resistência’, contra esse morticínio”, disse ela em Itaquera, bairro da zona leste paulistana. (Os “autos de resistência” são instrumentos jurídicos que têm servido para mascarar os homicídios praticados pela Polícia Militar, acusando as vítimas de ter tentado resistir à abordagem policial.)

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“Achei foda a Dilma falar de ‘auto de resistência’… Foi bem bonito hoje. Tô emocionado e acho que isso aqui hoje é histórico. Nunca fui tão convicto para as urnas igual eu vou no dia 26. É 13 mesmo!”, declarou ao fim do ato o rapper Emicida, uma das maiores referências do hip hop nacional.

Saíram do proscênio os petistas amigos de banqueiros e do agronegócio e entraram outros tipos de dirigentes, mais ligados à militância das ruas, como o ex-ministro da Cultura Juca Ferreira e o ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social Franklin Martins –ambos escanteados durante o primeiro governo Dilma.

Eles ajudaram a campanha petista a desenvolver o encantamento da “continuidade que segue sonhando”, esvaziando o discurso meramente mudancista da oposicão.

Foi como transfundir sangue em paciente anêmico. “Em vez da medíocre e derrotista política do possível, a grandiosidade de lutar para tornar possível o impossível”, conforme descreveu um militante.

O resultado tem sido o reencontro do PT com a espontaneidade das ruas. Se, em outras campanhas abundavam as monótonas camisetas distribuídas gratuitamente pelos comitês eleitorais, nesta, são os militantes que fazem a moda-PT, usando o avatar que inunda as redes sociais, de uma Dilma guerrilheira, retratada ainda jovem e de óculos. Nos comícios petistas em Recife e São Paulo, garotos levavam suas camisetas para serem impressas com silk screen ali mesmo.

Do lado de Aécio Neves, uma militância também aguerrida tem disputado as ruas, com uma narrativa bem diferente. Na concentração realizada no largo da Batata, em Pinheiros, na quarta-feira, 22/outubro, colada ao centro fashion-financeiro da avenida Faria Lima, os tucanos (Fernando Henrique Cardoso presente) gritavam em uníssono “Fora PT! Viva a PM!”

Como se vê, da atual campanha pode-se dizer tudo. Menos que tenha sido despolitizada. Os dois projetos de Brasil estão expostos em toda a sua nudez. Que falem as urnas.

Laura Capiglione, publicada no Yahoo.
Via Mídia Ninja.

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11de setembro
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P.S.

O P.I.G. E SEU CANDIDATO, AÉCIO NEVER

Qualquer cidadão brasileiro que tenha ficado indignado com o #DesesperoDaVeja, que conduziu a revista da Abril a realizar crime eleitoral através da calúnia e da difamação mais desavergonhadas, faz um favor a todos a nós nesta ampla pátria que sonhamos como um futuro melhor para as comunicações no Brasil ao recusar-se a votar em Aécio Neves, o candidato do P.I.G. (o Partido da Imprensa Golpista). O modo como Aécio e a mídia corporativa agiram nesta reta final é mais um imenso argumento contra sua pretensão, cambaleante, de tornar-se presidente da República: Aécio age como Silvio Berlusconi, o tirano italiano hoje já afastado do cargo e condenado na justiça.

O Tucanato faz tempo que pensa na mídia como sua serviçal, sua putinha de luxo, que publicará tudo o que PSDB pagar de jabá. Geraldo Alckmin dá uma dinheirama de dinheiro público para a Veja, e quem sofre a infelicidade de ter que ler o panfletário hebdomadário tucano são as crianças paulistas do sistema público de ensino (pô, Geraldinho, não as exponha a tal tortura, a tal lavagem cerebral! Dê-lhes Júlio Verne, dê-lhes Ziraldo, mas não estraçalhe mentes com o jornalixo vejístico!).

A Rede Globo – que na última hora parece ter desistido de acompanhar Veja na tentativa de golpe – deve ter se contido por medo, de modo que Junho de 2013 até que serviu para alguma coisa: obrigado aos Black Blocs que expulsaram repórteres do P.I.G., e ativistas que pintaram com esterco a sede da TV Globo no Rio de Janeiro. Eles mereciam muito mais do que uma salva de vaias na lingagem da merda: nunca fomos devidamente informados pela Rede Globo da Privataria Tucana da Era FHC (comandada pela parentada de José Serra, como o livro de Amaury Jr. documenta com farto material comprobatório). A mesma Globo teria a cara-de-pau de ficar apontando o dedo para o PT como se ele fosse o mais sórdido e horrendo dos antros de corrupção, quando a própria Globo é acusada de tentar ludibriar o Fisco, furtando aos cofres públicos um valor que devia ser pago que ultrapassa os 500 milhões de reais?

Tanto Globo quanto Veja tem que responder na justiça e diante do povo brasileiro por seus crimes, pela sistemática desinformação que veiculam, pela perseguição política contra o PT que os torna bem assemelhados aos magnatas elitistas da imprensa venezuelana em sua campanha neurótica contra o “bolivarismo”.

Aécio Neves, que é notório censor da imprensa em MG, que pensa poder ser o caubói que “põe ordem na Internet” (através do ataque a blogueiros e jornalistas independentes), que é um empresário com capitais aplicados na imprensa corporativa mineira incapaz de respeitar a liberdade de imprensa e opinião, é uma péssima escolha para a democracia do Brasil que precisa urgentemente ser refrescada e renovada por projetos extraordinários e brilhantes como a Mídia Ninja, A Nova Democracia, Outras Palavras, Pública, dentre outras.

Avante, juntos, fiéis ao commons, não vamos permitir que a praga do P.I.G. prossiga. “Don’t hate the media… become the media!”

Eduardo Carli de Moraes

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Privataria Tucana. A gente nao ve por aqui

“Privatizações: A Distopia do Capital” (2014) Um filme de Silvio Tendler [assista na íntegra]

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(Brasil, 2014, 57 min. – Direção: Silvio Tendler)

Sinopse: “O novo filme de Silvio Tendler ilumina e esclarece a lógica da política em tempos marcados pelo crescente desmonte do Estado brasileiro. A visão do Estado mínimo; a venda de ativos públicos ao setor privado; o ônus decorrente das políticas de desestatização traduzidos em fatos e imagens que emocionam e se constituem em uma verdadeira aula sobre a história recente do Brasil. Assim é Privatizações: a Distopia do Capital. Realização do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ) e da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), com o apoio da CUT Nacional, o filme traz a assinatura da produtora Caliban e a força da filmografia de um dos mais respeitados nomes do cinema brasileiro.

Em 56 minutos de projeção, intelectuais, políticos, técnicos e educadores traçam, desde a era Vargas, o percurso de sentimentos e momentos dramáticos da vida nacional. A perspectiva da produtora e dos realizadores é promover o debate em todas as regiões do país como forma de avançar “na construção da consciência política e denunciar as verdades que se escondem por trás dos discursos hegemônicos”, afirma Silvio Tendler.

Vale registrar, ainda, o fato dos patrocinadores deste trabalho, fruto de ampla pesquisa, serem as entidades de classe dos engenheiros. Movido pelo permanente combate à perda da soberania em espaços estratégicos da economia, o movimento sindical tem a clareza de que “o processo de privatizações da década de 90 é a negação das premissas do projeto de desenvolvimento que sempre defendemos”.

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Leitura essencial para quem está faminto por um mundo mais justo: “Stuffed and Starved”, de Raj Patel (Leia um trecho e baixe o ebook:)

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“Today, when we produce more food than ever before, more than one in ten people on Earth are hungry. The hunger of 800 million happens at the same time as another historical first: that they are outnumbered by the one billion people on this planet who are overweight. Global hunger and obesity are symptoms of the same problem and, what’s more, the route to eradicating world hunger is also the way to prevent global epidemics of diabetes and heart disease, and to address a host of environmental and social ills. Overweight and hungry people are linked through the chains of production that bring food from fields to our plate. Guided by the profit motive, the corporations that sell our food shape and constrain how we eat, and how we think about food. The limitations are clearest at the fast food outlet, where the spectrum of choice runs from McMuffin to McNugget. But there are hidden and systemic constraints even when we feel we’re beyond the purview of Ronald McDonald.

Our choices are not entirely our own because, even in a supermarket, the menu is crafted not by our choices, nor by the seasons, nor where we find ourselves, nor by the full range of apples available, nor by the full spectrum of available nutrition and tastes, but by the power of food corporations.

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Raj Patel

Stuffed and Starved (by Raj Patel) is “an enquiry that uncovers the real reasons for famine in Asia and Africa, why there is a worldwide epidemic of farmer suicides, why we don’t know what’s in our food any more, why black people in the United States are more likely to be overweight than white, why there are cowboys in South Central Los Angeles, and how the world’s largest social movement is discovering ways, large and small, for us to think about, and live differently with, food.

India has, for example, destroyed millions of tons of grains, permitting food to rot in silos, while the quality of food eaten by India’s poorest is getting worse for the first time since Independence in 1947. In 1992, in the same towns and villages where malnutrition had begun to grip the poorest families, the Indian government admitted foreign soft drinks manufacturers and food multinationals to its previously protected economy. Within a decade, India has become home to the world’s largest concentration of diabetics: people – often children – whose bodies have fractured under the pressure of eating too much of the wrong kinds of food.

It’s easy to become inured to this contradiction; its daily version causes only mild discomfort, walking past the ‘homeless and hungry’ signs on the way to supermarkets bursting with food. There are moral emollients to balm a troubled conscience: the poor are hungry because they’re lazy, or perhaps the wealthy are fat because they eat too richly. This vein of folk wisdom has a long pedigree. Every culture has had, in some form or other, an understanding of our bodies as public ledgers on which is written the catalogue of our private vices. The language of condemnation doesn’t, however, help us understand why hunger, abundance and obesity are more compatible on our planet than they’ve ever been.

Raj Patel

The closer a Mexican family lives to its northern neighbours and to their sugar and fat-rich processed food habits, the more overweight the family’s children are likely to be. That geography matters so much rather overturns the idea that personal choice is the key to preventing obesity or, by the same token, preventing hunger. And it helps to renew the lament of Porfirio Diaz, one of Mexico’s late-nineteenth-century presidents and autocrats: ‘¡Pobre Mexico! Tan lejos de Dios; y tan cerca de los Estados Unidos’ (Poor Mexico: so far from God, so close to the United States). A perversity of the way our food comes to us is that it’s now possible for people who can’t afford enough to eat to be obese. Children growing up malnourished in the favelas of São Paulo, for instance, are at greater risk from obesity when they become adults. Their bodies, broken by childhood poverty, metabolize and store food poorly. As a result, they’re at greater risk of storing as fat the (poor-quality) food that they can access.

As consumers, we’re encouraged to think that an economic system based on individual choice will save us from the collective ills of hunger and obesity. Yet it is precisely ‘freedom of choice’ that has incubated these ills. Those of us able to head to the supermarket can boggle at the possibility of choosing from fifty brands of sugared cereals, from half a dozen kinds of milk that all taste like chalk, from shelves of bread so sopped in chemicals that they will never go off, from aisles of products in which the principal ingredient is sugar. British children are, for instance, able to select from twenty-eight branded breakfast cereals the marketing of which is aimed directly at them. The sugar content of twenty-seven of these exceeds the government’s recommendations. Nine of these children’s cereals are 40 per cent sugar.

There are, after all, no mom-and-pop international food distribution companies. The small fish have been devoured by the Leviathans of distribution and supply. And when the number of companies controlling the gateways from farmers to consumers is small, this gives them market power both over the people who grow the food and the people who eat it.

Governmental concerns about poverty, for example, have historically been driven by fear, not least because of their concerns of what large groups of politically organized, angry and hungry urban poor people might do to the urban rich. (…) In different ways, the countries of Europe and North America set their food policies in order to ensure that the cries of the urban hungry didn’t lead to civil war…

MST5MST – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra  || Brasil
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In Brazil, over one million landless people have organized and occupied disused farmland. As a result, they are living healthier, longer and better-educated lives than those in comparable schemes elsewhere. The members of this movement, the Brazilian Landless Rural Workers Movement, are part of arguably the world’s largest independent social movement organization – La Via Campesina (The Peasant Way), representing as many as 150 million people worldwide. Incorporating groups from the KRRS, with an estimated membership of twenty million in India, to the National Farmers Union in Canada, the Korean Women Farmers Association, the Confédération Paysanne in France and the União Nacional de Camponeses in Mozambique, it’s nearly as globalized as the forces against which it ranges itself. It’s a mixed bag of movements. Some of its members are landless, some own land and hire the landless; some are small producers, some are medium-sized.

As consumers we can shape the market, however slightly, by taking our wallets elsewhere. But the choice between Coke and Pepsi is a pop freedom – it’s choice lite.

In the course of this book, I look at some of the ways the food system is shaped by farming communities, corporations, governments, consumers, activists and movements. The sum of these choices has left many stuffed and many starved, with people at both ends of the food system obese and impoverished, and with a handful of the system’s architects extremely wealthy…”

Title: Stuffed and Starved
Author(s): Raj Patel
Harper Collins, 2008, 438 pgs
Download (epub)

Sabedoria na televisão, uma espécie em extinção? Assista David Suzuki e conclua que “não!”

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David Suzuki parece ser uma das figuras públicas mais admiradas aqui no Canadá, e com toda razão: é um cientista e comunicador social de sabedoria ampla, mensagem provocativa e não-dogmática, compartilhada em linguagem acessível mas ainda assim repleta de poesia e graça. Suzuki é âncora há décadas da TV canadense no programa da CBC “The Nature of Things” (batizado talvez em homenagem ao clássico poema-tratado de Lucrécio, que Michel Serres considera um texto-fundador da Física?).

Atualmente, junto com Neil DeGrasseTyson, Suzuki parece-me encarnar a função social que exercia uma figura carismática como Carl Sagan: pôr a TV à serviço da educação, do compartilhamento de informação, do debate público amplo e bem-informado. A TV explorando com audácia seu potencial de compartilhar conhecimento sobre o Cosmos, reflexão sobre a Ágora, aumento da consciência comum sobre a teia da vida que nos une não somente entre nós, em um tecido humano de radical interdependência, mas nós e a natureza que integramos, como elementos da Substância spinozista, como gotas no Niágara da existência…

Neste vídeo inspirador, “Suzuki Speaks”, legendado em português, ele oferece uma jornada místico-poética pelo mundo natural, suas interconexões e interdependências, seus mistérios já desvelados e os ainda envoltos na bruma do desconhecimento. Mas este vídeo serve também como contundente manifesto político, já que Suzuki fornece uma crítica devastadora do ideal do crescimento econômico infinito, que atualmente conduz boa parte de nossas elites à húbris do extrativismo frenético, quase sempre de recursos naturais não-renováveis, deixando um rastro de destruição ambiental que coloca-nos como uma das eras históricas de mais alto nível de disrupções climáticas e extinção de espécies.

Esse paradigma extrativista ecocida, que hoje reina na era da tirania dos mercados, é contestado por Suzuki a todo momento: esse é um “caminho suicida”, avalia este descendente de Japoneses, que cresceu em British Columbia (mora e trabalha hoje na CBC Vancouver), trilhou vida acadêmica nos EUA e no Canadá, e hoje é autor de uma dúzia de livros de circulação considerável.

No passado, Suzuki sentiu na pele o que significava ir para um campo de concentração durante a II Guerra: criança na era Pearl Harbor, Suzuki e sua família foram encarcerados nos campos construídos na América do Norte (EUA e Canadá) para encarcerar os “japs” (que os aliados “despachariam” de vez do conflito com os genocídios atômicos de Hiroshima e Nagasaki, em 1945).

Suzuki cresceu e oportunamente atingiu a idade da razão em meio à desrazão da guerra do Vietnã, enturmou-se com beatniks e hippies, fertilizou sua ciência com os entusiasmos da contracultura, soube ouvir as lições das experiências psicodélicas (cannábicas, ácidas, ayahuascaesques, e por aí vai…), e não parou por aí: aprendeu também um bocado do que sabe com as First Nations, as populações aqui enraizadas desde tempos imemoriais, em que ainda nenhuma caravela francesa ou britânica havia chegado à vastidão do Canadá.

Segue um trecho de seu livro “From Naked Ape to Superspecies: Humanity and the Global Eco-Crisis”:

David Suzuki

CHAPTER 1 – SHARING EACH OTHER’S SKIN
By David Suzuki

“There is enough for everybody’s need, but not enough for everybody’s greed.”

— MAHATMA GANDHI

When we began work on the first edition of this book at the very end of the twentieth century, it was becoming clear that the environmental goals put forth with so much hope at the focal point of decades of environmental activism, the Earth Summit in Rio de Janeiro back in 1992, were not only unable to keep up with increasing environmental degradation, they were under relentless assault by mainstream economic and political forces. “Globalization” was still a relatively new term that was being heralded as a social and economic salvation for the world, and most people were still unaware of the massive giveaway of national regulatory rights that had taken place under the world trade agreements signed the same year as the summit. Popular demonstrations and civil disobedience had not yet brought the actions of the World Trade Organization (WTO), the World Bank, the International Monetary Fund (IMF) and Chapter 11 of the North American Free Trade Agreement (NAFTA) to the attention of the average citizen, especially in North America.

Rio Earth summit illustration by Daniel Pudles

Most people were also blissfully ignorant of the fact that genetically engineered foods had entered their diets and that the biotechnology industry was releasing commercial products that were beginning to have frightening impacts on the environment, along with a growing potential for harm to human health. Creating genetically altered organisms to serve our own whims and purposes also raises some of the most serious ethical and social concerns our species has ever had to face. All through the late 1990s these growing threats to global environmental stability were largely ignored as the world’s media pursued stories of political sex and celebrity peccadilloes, dot-com proliferation and the exciting new Information Revolution. From Naked Ape to Superspecies was a book intended to address the serious threats our cultural obsessions posed to natural systems, and to remind readers that without clean water, air and viable soil, no cultural or economic life, even a virtual one, could exist for long on this planet.

Today, the continuing exponential growth in human numbers, consumptive demand, technological power and economic reach is putting increasingly unbearable pressures on the most basic commodities produced by the Earth. Global wars are being fought over oil, water is being rapidly privatized by multinational corporations all over the world, and there are so few intact natural systems left that entrepreneurs are now invading thousands of national parks as well as preserves set aside for indigenous peoples to dig for oil and gold, or to log and “develop” the area. These escalating activities have also placed many of the most basic, democratic rights that Westerners take for granted under serious threat

Ecologists tell us that once the complex, interlocking relationships that make up a natural environment, like a forest, a fishery, good agricultural land or a watershed, are undermined beyond a certain critical threshold, it will collapse, usually quite suddenly. If recovery of a forest or a fishery is possible at all, it may take thousands of years. With so much at stake in terms of the air we all breathe, the food we eat and the water we drink, convincing people that we need to reassess the direction in which we are headed has become even more urgent. Put simply, we must learn to live in other species’ skins, as well as in our own.”

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