A POESIA EFERVESCE EM GOIÂNIA – Saiba mais sobre o atual cenário de poesia, literatura e artes integradas neste documentário curta-metragem realizado por A Casa de Vidro (2018, 9 min). Um filme de Eduardo Carli de Moraes.
Ultimamente, novas iniciativas vem contribuindo pra aumentar as doses de lirismo e criatividade verbal que circulam nas veias da capital de Goiás. Para sondar estas efervescências poéticas, ontem documentamos alguns destes agitos em vídeos filmados com esta trupe bacaníssima: Mazinho Souza, Raissa Pagalday, Rosa Neves e Gabi Rodrigues, galera que vem participando ativamente deste cenário.
Este curta-metragem, de 9 minutos e pouco, ainda serve para contrabandear versos do Bruno Brogio (declamado por Mazinho), de Maha Iza (declamada por Raissa), de Paulo Manoel, de Rosa Neves, de Pio Vargas.
COM CATUPIRY
Já se pensou que o homem comum poderia
mudar tudo
que o homem comum não é um
é um milhão
e que da força dessa união se formaria uma
muralha
com corpos de sonho e margarida
mas o homem comum tá distraído
pela bola rolando
a novela passando
o pastor que não é santo
e de vez em quando
pela própria vida
os amores, os terrores
a dificuldade, a delícia
a falta de perspectiva
e de um salário justo
o homem comum tá preocupado demais pra pensar
o homem comum gosta mesmo é de coxinha de frango.
Bruno Brogio
Já pra trilha sonora convidei meu queridíssimo Sergio Moraes Sampaio, com “Cada Lugar na Sua Coisa”:
Um livro de poesia na gaveta não adianta nada
Lugar de poesia na calçada
Lugar de quadro é na exposição
Lugar de música é no rádio
Ator se vê no palco e na televisão
O peixe é no mar
Lugar de samba enredo é no asfalto
Lugar de samba enredo é no asfalto
Aonde vai o pé arrasta o salto,
Lugar de samba enredo é no asfato
Aonde a pé vai se gasta a sola
Lugar de samba enredo é na escola
A Poesia, pra quem está antenado ao que vem rolando no cenário artístico underground, vem marcando presença cada vez mais forte em Goiânia, tomando conta de festivais como o já tradicional Juriti – Festival de Música e Poesia Encenada e o novo-em-folha Goiânia Clandestina (que já realizou 2 edições e ainda realizará mais 3 até Dezembro).
Espaços como Evoé Café com Livros, Livraria Palavrear e a nova Casa Liberté são alguns dos points onde você corre o sério de risco de ser atropelado, de repente, por um caminhão de poesia. Apesar dos percalços, a Poesia mostra-se resiliente em propostas culturais louváveis como o Sarau das Minas GO, organizado pela Carol Schmid, ou a Feira E-cêntrica da Larissa Mundim & Rico Lopes.
Em saraus e slams, em feiras de economia alternativa ou em batalhas de MCs, a Poesia, vibrante e multiforme, toma conta dos espaços e praças da cidade. Está colada nos lambes pelos muros, gritando nos pixos, multicor e psicodélica na poesia visual dos muros (como expusemos no filme Gastrite, lindo trampo dirigido pelo Hugo Brandão, uma obra essencial para pensar o presente e o futuro das poéticas visuais na nossa urbe).
A Poesia, indomável, vem circulando também em zines punk (que o digam Matheus Germano e Gil Célio) e em antologias de poetas goianos, como é o caso “Antologia Clandestina” – que já esgotou suas 500 cópias iniciais e está com inscrições abertas para a 2ª Edição.
Ffiquem atentos, escritores locais: as inscrições encerram em 03 de Outubro; envie já seus versos para
curadoriagoianiaclandestina@gmail.com
e corra o risco de ir parar na coletânea mais chocantemente poética que será lançada neste ano cá na Goiânia véia do Cerrado.
Na antologia #1, 22 poetas inéditos dividem as páginas deste poderoso artefato literário clandestino. É o caso de poetas como Paulo Manoel, que manda versos direto no queixo, nos levando quase a um nocaute estético, como estes:
AÇÕES AFIRMATIVAS
Quando não tem ninguém olhando
Os três malucos das três raças
Saem da Praça, sobem a Goiás
E dão uma surra no bandeirante
A Poesia, irreverente e incansável, está também nos livros publicados recentemente por Walacy Neto, pela Nega Lilu Editora, pelo Adérito Schneider e a galera do Cidade Sombria…
E não poderíamos deixar de mencionar as letras de música, em que a Poesia também hoje efervesce lindamente no caldeirão da arte goianiense. A Poesia, sempre tornando a vida mais doce e tragável apesar de suas muitas amarguras, vem usando como seu veículo as canções maravilhosas de Salma Jô, Diego De Moraes, Kleuber Divino Garcez, Diego W’ander, Camilo Luiza, Adriel Vinícius, Vitor Hugo Lemes, Flávia Carolina Almeida, Paula de Paula, Dinho Fernando Almeida Filho, Bruno Brogio, Jordana LuzNegra, Carlos Brandão, Nina Soldera, A Jay Ajhota, dentre muitos outros.
Poucas cenas musicais alternativas no Brasilk atual, creio eu, possuem tanto alimento a proporcionar aos que tem fome de poesia, ânsia de beleza, sede de lirismo, vontade de criatividade e colaboratividade. É fenomenal que coexistam no mesmo-espaço tempo sócio-cultural estes fenômenos, sincrônicos e complementares, que fazem de Goiânia um dos maiores centros latino-americanos para a música alternativa: Boogarins, Carne Doce, Diego Mascate, Chá de Gim, AveEva, @Cambriana, Pó de SerBanda, Shotgun Wives, Terra Cabula, Banda Mundhumano etc. Porra, QUE CENA!
É poesia pra dar com o pau. É poesia que ameaça em breve pôr em estado de delírio lírico toda essa metrópole. E não tenham medo de overdose… pois de Poesia em excesso nunca se morre.
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P.S. – Evocações de Pio Vargas (fantasma de poeta defunto-vivo, pretérito-presente), para quem “o acaso é uma empresa para a qual tudo conspira”:
“considerações necessárias
é preciso tirar a poesia da clausura dos concursos, das gaiolas do acaso, do exílio das gavetas, trazê-la para o sabor do consumo rápido e fácil, envolvê-la de popularidade, sem o vulgarismo perigoso do que é descartável, mas também sem a absurda pretensão do que se quer eterno.
poesia para fazer rir e refletir, evoluir e incomodar, propor e decompor. poesia para os botecos, para os gabinetes, para as praças, para os salões de festas, para os mocambos, para as favelas, estúdios, vídeo clipes e palanques.
poesia sem medo, poesia sem trauma, poesia-pão, poesia-sim, poesia-não. pois ia ousar um dia popularizar a poesia.
viva a poesia viva!”
https://acasadevidro.com/?s=Pio+Vargas
Pio Vargas (1964-1991)
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ASSISTA:
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Aproveito o gancho e convido vocês a assistirem também meus outros filmes recentes:
“Afinando o Coro dos Descontentes”: PLAY >>> https://bit.ly/2NmELK9
“O Futuro nos Frutos: As Semeaduras do Encontro de Culturas”: PLAY >>> https://bit.ly/2pihvib.
Valeu a todos os artistas que estiveram colaborando e somando com meu trabalho. A gratidão não cabe em palavras. Sigamos adiante, contando com as benesses do Acaso, aquela empresa para a qual tudo conspira.
Por Eduardo Carli de Moraes / Goiânia, Setembro de 2018