UM ÚTERO É DO TAMANHO DE UM PUNHO – Um livro de poesia de Angélica Freitas (Cosac Naify, 2013, 96 pgs) @ Livraria A Casa de Vidro

UM ÚTERO É DO TAMANHO DE UM PUNHO
Um livro de poesia de Angélica Freitas (Cosac Naify, 2013, 96 pgs)
COMPRE @ Livraria A Casa de Vidro
Eleito o melhor livro de poesia pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) em 2012

CARLITO AZEVEDO: “Angélica consegue criar. Já nos primeiros versos de qualquer poema seu, há uma atmosfera feliz e profanadora que nos convida a relativizar o gigantismo de certos sentimentos solenes que por muito tempo quiseram, e ainda hoje querem, se fazer passar pela poesia mais autêntica, pela mais sensível forma de se viver um estado poético. Com ela não tem autor sagrado, não tem sentimento hierarquicamente superior (ela mesma já se definiu certa vez como a “patinha sem pathos”), o que tem é a força do poema nascendo do contato furioso da existência, como uma sonda enviada para investigar todos os sentimentos que ainda não vivemos, como uma transparência através da qual se quer ver as pessoas de agora, nas ruas de agora, falando a língua de agora, sentindo os sentimentos de agora. Nesse sentido, ela se inscreve numa esplêndida tradição da poesia universal: a tradição da antipoesia de um Nicanor Parra, o maior poeta chileno do século, de uma Susana Thénon, o segredo mais bem guardado da poesia argentina, e de  uma Adília Lopes, a portuguesa mais brasileira desde Carmem Miranda. Para os poetas dessa tradição, o poema é a arma mais potente para desmontar as armadilhas que o tempo dispõe à nossa frente o tempo todo. Penso que a armadilha da identidade (sexual, política, nacional etc.), que nos quer sempre idênticos a nós mesmos, sem possibilidade de metamorfose, é aquela que, até agora, mais mereceu os disparos certeiros de Angélica.”

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LEIA ALGUNS POEMAS DE
UM ÚTERO É DO TAMANHO DE UM PUNHO

a mulher quer

a mulher quer ser amada

a mulher quer um cara rico

a mulher quer conquistar um homem

a mulher quer um homem

a mulher quer sexo

a mulher quer tanto sexo quanto o homem

a mulher quer que a preparação para o sexo aconteça lentamente

a mulher quer ser possuída

a mulher quer um macho que a lidere

a mulher quer casar

a mulher quer que o marido seja seu companheiro

a mulher quer um cavalheiro que cuide dela

a mulher quer amar os filhos,  o homem e o lar

a mulher quer conversar pra discutir a relação

a mulher quer conversa e o botafogo quer  ganhar do flamengo

a mulher quer apenas que você escute

a mulher quer algo mais do que isso, quer amor, carinho

a mulher quer segurança

a mulher quer mexer no seu e-mail

a mulher quer ter estabilidade

a mulher quer nextel

a mulher quer ter um cartão de crédito

a mulher quer tudo

a mulher quer ser valorizada e respeitada

a mulher quer se separar

a mulher quer ganhar, decidir e consumir mais

a mulher quer se suicidar

uma canção popular (séx. XIX-XX):

uma mulher incomoda

é interditada

levada para o depósito

das mulheres que incomodam

loucas louquinhas

tantãs da cabeça

ataduras banhos frios

descargas elétricas

são porcas permanentes

mas como descobrem os maridos

enriquecidos subitamente

as porcas loucas trancafiadas

são muito convenientes

interna, enterra

angie2

era uma vez uma mulher que não perdia

a chance de enfiar o dedo no ânus

no próprio ou no dos outros

o polegar, o indicador, o médio

o anular ou o mindinho

sentia-se bem com o mindinho

nos outros, era sempre o médio

por ela, enviava logo o polegar

não, nenhuma consequência.

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LEIA A SÉRIE DE POEMAS “UMA MULHER LIMPA”

LEIA “MICRO-ONDAS”

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ASSISTA:
Noite Literária # Angélica Freitas – agosto de 2016

Em Berlim (2007)

Angélica Freitas e Antônio Cícero

EXPLORE ALÉM: MusaRara – Ovelha

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