A MÚSICA DE CÉSAR GUERRA-PEIXE (1914 – 1993): OUÇA 8 PEÇAS DO COMPOSITOR BRASILEIRO

César Guerra Peixe (1914 - 1993)

César Guerra Peixe (1914 – 1993)
[Wikipédia] [PQP Bach][Enciclopédia Itaú Cultural]

Suite Sinfônica n.1 “Paulista” (1955)

Sinfonia n.2 “Brasilia” (1960)

Trio per violino, violoncello e pianoforte (1960)

A Retirada da Laguna (1971)

Museu da Inconfidência (1972)

Tributo a Portinari (1991)

Chico Buarque por Guerra-Peixe
Série ‘A Grande Música Do Brasil’ Vol. 1 (1978)

Arranjo – Afrosambas de Vinícius de Moraes e Baden Powell

CACHOEIRAS DE CRIATIVIDADE – Concerto magistral da Filarmônica de Goiás revive Tchaikovsky, Smetana e Dvorak

Gyn Classic

Chovia a cântaros. O que não impediu o público goianiense amante da boa música de preencher as centenas de cadeiras do Teatro Goiânia, nesta última Quinta-Feira, 27 de Novembro, para um concerto de lavar a alma. Não faltaram experiências estéticas sublimes jorrando como temporal sobre a platéia: sob a batuta do maestro israelense Yishai Stekler, regendo a afinadíssima Orquestra Filarmônica de Goiás, ouvimos interpretações magistrais de Smertana, Tchaikovsky e Dvorak. A tempestade lá fora era tão intensa que cheguei a suspeitar que o evento teria que ser cancelado: uma pequena cachoeira de garoa, antes do começo de espetáculo, chovia do teto do teatro justo sobre o spot destinado ao maestro. Com um pouco de improviso, no calor da hora, tudo se arranjou para que o concerto prosseguisse a contento, iniciando com uma impactante interpretação da abertura da ópera “A Noiva Vendida”, do compositor tcheco Smetana (1824-1884).

Apesar da ausência de relâmpagos e trovões lá fora, a presença da chuva fazia-se presente, cúmplice da orquestra, não chegando porém a constituir concorrência à sonoridade poderosa do conjunto de músicos impecavelmente entrosados. A tensão que pairava no ar estava mais alta do que é corriqueiro nos tão solenes e regrados eventos de música erudita, já que a intempérie trouxe a Natureza para dentro do teatro de um modo incomum, exigindo dos músicos que adaptassem-se velozmente a um contexto novo, a que não estão acostumados. O violoncelista alemão Johannes Gramsch, nascido em Düsseldorf, mas radicado no Brasil desde 2003, quando assumiu seu posto na OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), solou um Tchaikovsky com muita graça, tirando de letra, para júbilo geral, as “Variações Sobre Um Tema Rococó Op. 33”. Foi tão aclamado que teve que voltar pro bis.


Tchaikovsky, “Variações Sobre Um Tema Rococó Op. 33”
com Orquestra Sinfônica da UNICAMP, 2012

Foi também sensacional e inesquecível ter testemunhado a Orquestra Filarmônica de Goiás tocando a Nona do Dvorak – “Sinfonia Novo Mundo” – no Teatro Goiás fustigado pela chuvarada. Sempre sonhei em um dia poder conferir ao vivo e a cores em minhas retinas estarrecidas esta peça de uma sublimidade e uma violência que não cessam de me espantar mesmo depois de anos de convivência. Para o meu paladar sônico Dvorak foi nada menos que um gênio do porte de Tchaikovsky, Schubert, Mozart, Beethoven e Bártok. Os “bravos!” ecoaram fortes e autênticos depois da última nota, a platéia transbordante de gratidão depois de tanta potência e graça. Oscar Wilde é que estava certo: “a música é o tipo de arte mais perfeita: nunca revela seu último segredo.”

E enquanto o Dvorak, o Tchaikovsky e o Smetana eram tocados à perfeição, a cachoeira no palco foi uma espécie de participação cenográfica imprevista, gerando um efeito estético inolvidável, pingando belamente sobre os suores dos músicos. Ao invés de empecilho, pedra no caminho, a Cachoeira de Garoa acabou tornando este um dos concertos mais memoráveis que já presenciei. Nesta noite, a OFG, o maestro israelense e o violoncelista alemão fizeram por merecer os aplausos efusivos da platéia: mandaram muito bem na atividade coletiva fantasticamente complexa que é reavivar, com tanta verve, uma obra-prima da história da Música. Parabéns a todos os envolvidos nesta noite musical em que nossos corações e mentes banharam-se em uma tempestade relampejante de belezas sem número!

Relembrem a peça de Dvorak, com Herbert Von Karajan e a Filarmônica de Viena:

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Veja também:

2 horas de B. Smetana (1824-1884), compositor tcheco, em concerto realizado em Praga com a Orchestre Philharmonique de Radio France em 2013. Peça: “Má Vlast”.