SOMOS SEMENTE! Lançado video-clipe oficial da canção “Peles Negras, Máscaras Brancas” de VH & Luz Negra

SOMOS SEMENTE!

Está no ar o video-clipe oficial da canção “Peles Negras, Máscaras Brancas” de VH (Vitor Hugo Lemes) e Jordana Luz Negra, com produção de Saggaz Beats. Um videoclipe de Eduardo Carli de Moraes, assistido por Ramon Ataide. Um lançamento A Casa de Vidro e Confluências: Festival de Artes Integradas. Com participações de Bergkamp Magalhães, A Jay Ajhota, Hugor Henrique, Gabriel Uri, Daniel da Silva. Assista já:

SAIBA MAIS:

“Peles Negras, Máscaras Brancas” é a quinta faixa da mixtape homônima, primeiro trabalho autoral do MC “VH”, que compõe o grupo Caseiro. Canção e mixtape foram inspiradas no primeiro livro de Franz Fanon, filósofo do séc. XX que debateu a fundo os temas da descolonização e da libertação dos povos oprimidos, tendo dialogado também com o existencialismo francês, mas é raramente lembrado nos círculos intelectuais das grandes academias mundo à fora senão por aqueles que têm um interesse genuíno por essas questões.

Este trabalho de VH & Luz Negra leva em seu cerne a proposta de discutir temas como o racismo, a resistência e a marginalidade, tanto no âmbito das expressões culturais como na perspectiva da construção dos saberes. Saberes esses tantas vezes reprimidos por uma estrutura colonizadora, eurocêntrica e imperialista, que de certo modo buscou sempre legitimar a hegemonia branca numa sociedade construída pela pluralidade, mas nunca em prol desta. Nesse sentido, a chamada Expressão Negra se viu forçada a sucumbir cada vez mais ao “embranquecimento” e as “máscaras” não eram outras senão um modo de ser aceito, um meio de sobrevivência, numa estrutura que exclui e assassina estéticas e modos-de-existência que incomodam.

Por outro lado, houve sempre a resistência, uma resistência que de modo algum se separa da vida e da própria existência do povo preto. Da cultura da oralidade às expressões culturais e religiosas, “pretos e pretas fazem da arte a sua trincheira”. Ou seja, o Samba, o Funk, o Rap, o Jazz e tantos outros estilos cumprem uma função maior que a meramente estética, ainda que esta seja inquestionável: além disso, propagam a vida, a existência e o grito daqueles que nunca puderam ser ouvidos.

O vídeo-clipe, apostando na confluência das diferentes linguagens artísticas, visa recuperar o radicalismo originário do Movimento Hip Hop, que une as expressões do MC, do DJ, do breakdancer e do grafiteiro, tendo o Conhecimento como o “quinto elemento”, na expressão de Afrika Bambaata, que dá liga a tudo.

Filmado em lugares representativos da capital de Goiás, o petardo audiovisual convida à ocupação criativa e ousada dos espaços públicos, registra intervenções diretas no cenário urbano e re-significa de modo crítico alguns dos monumentos da cidade, como a Estátua ao Bandeirante Anhanguera e o Monumento das Três Raças da Praça Cívica.

Além disso, coloca os artistas em interação com grafites, pixos e outras irrupções artísticas no cenário goianiense, com destaque para um mural em homenagem a Marielle Franco, símbolo da luta interseccional por direitos humanos para mulheres, negros e LGBTs, brutalmente assassinada no Rio de Janeiro por denunciar os descaminhos da Intervenção Militar, mulher-guerreira cuja morte, em Março de 2018, comoveu o Brasil e o mundo, merecendo aqui ser rememorada e ter a potência de sua vida resistente re-ativada.

Tentaram nos enterrar, mas não sabiam que éramos semente!

Suba o volume, abra bem os olhos, dê o play e boa viagem!

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FICHA TÉCNICA:

Participantes: VH & Luz Negra
Instrumental / Mix / Master: Saggaz Beats
Captação: Estúdio NEO Pub
Colagens: Allan da Rosa & Provocações (o bloco do negro)
Audiovisual: Eduardo Carli de Moraes
Assistente de Produção: Ramon Ataide
Elenco: Luz Negra, A Jay Ajhota, Bergkamp Magalhães, Hugor Henrique, Gabriel Uri, Dam Caseiro e VH.
Poesia citada no clipe: “Ações afirmativas” de Paulo Manoel

Contato: caseirorapgyn@gmail.com #pelenegramascarasbrancas #vh

Um agradecimento especial a todos os envolvidos!

ASSISTA JÁ: https://goo.gl/SnHahi.

LETRA – Por Vitor Hugo Lemes

Máscaras brancas em peles negras
Pretos e pretas
Fazem da arte sua trincheira
O Rio Vermelho num é só em Matrinchã
Se duas das três raças descem à praça
O bandeirante leva péia.
Na santa ceia das acusações
Coronéis e capatazes inda tem suas funções
Na política e nos batalhões
Inda há brasões, inda a brasa
Que acendem essas fogueiras da inquisição
Do genocídio de milhões, nas invasões
Senhores de engenho e sinhás lucraram milhões
Minha ancestralidade é nunca ser Camões
Contra os canhões meu povo investiu com as próprias mãos
Negro igual Machado de Assis ou de Xangô
Dom Casmurro, com as mãos, com os murro, o beat eu surro
E vou mostra pra vocês o que é que rap sujo
Sou livre, me aflige chamar porcos de ‘sinhô’.

Peles Negras, Máscaras Brancas
Se eu li os franceses onde Franz Fanon tá?
No alto escalão são mais caras brancas
Meus irmão são preto e nós vamo tomar

Velhos decrépitos da colonial aristocracia caduca
Caminham tranquilamente pelas ruas do centro.
Oeste à dentro madames tão à vontade em meio a art déco
que aos anos 50 já era declínio.
A estátua de um implacável genocida escravocrata
Segue intacta no ponto alto da cidade.
‘Diabo velho’ atrás de ouro e prata. (A prata foi com os frades)
Hoje herói, mas não mais.
São rude boys, marginais
Que resgatam dos destroços do tempo
O genocídio, os assassinatos e o holocausto
De todos os dias em becos e esquinas.
Caminhando sob o sol ardente, ou fumando sentados,
escrevem na torrente “3”
e esperam outra vez o serviço inacabado.
O velho preconceito nada velado dos velhos que
Quando não encaram, faltam quase cruzar a rua pelo outro lado.
E o caso é que há sempre espaço pro novo,
contesta-se o consolidado, como Belchior,
tomemos de assalto seus palcos montados para outras intervenções.
Chega de óbitos dos nossos. (Cadê o Sabotinha?)
Numa utopia de moldes distópicos alguém sonhou
Com um escritor negro, vagando pelas ruas da cidade,
um cigarro nos dedos e um sorriso doentio nos lábios.
Escrevendo versos sádicos, sádicos…

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PROGENITORES DO HIP HOP: Afrika Bambaataa

PROGENITORES DO HIP HOP: Afrika Bambaataa
(Ilustração no início do post por Paul Insect)

Nascido em 1957, o lendário DJ Afrika Bambaataa começou a atuar nos anos 1970 no Bronx (NYC). No começo dos anos 1980 lançou uma bomba no cenário cultural estadunidense: “Planet Rock”, de 1982, um clássico do hip hop em seus primórdios. Ali, ele levava os beats futuristas típicos do Kraftwerk – a canção sampleava “Trans-Europe Express”, dos krautrockers alemães – mas levava o tecno para uma nova aventura cultural. Ouça:


Fundindo a música eletrônica experimental com a experiência afroamericana e diaspórica nos EUA, que começava a ser “rappeada” pelos MCs, figuras seminais como Bambataa, The Last Poets e Grandmaster Flash deram o primeiro boost no que viria a ser o movimento cultural hoje globalmente disseminado, o Hip Hop.

Africa Bambaataa é considerado também o criador do conceito que propõe o Hip Hop como um movimento multi-linguístico que reúne 4 elementos essenciais: o DJ, o MC, a Breakdance, o Grafite. Somado às pick-ups, aos mics, aos bboys/bgirls e aos grafiteiros, há um 5º elemento, aquele que dá liga em tudo: o Conhecimento – eis o que ensinava também o Bambaataa.

Este bombou tanto nos anos 1980 que conseguiu tecer parcerias com ninguém menos que o Mr. Dynamite James Brown (“Unity”) e com John Lydon Official (“World Destruction”), o espevitado esgoelador dos Sex Pistols e do PiL (Public Image Ltd).


Ele foi também o visionário fundador do coletivo Zulu Nation, que congregou artistas como De La SoulQueen LatifahA Tribe Called Quest e Jungle Brothers.

Saiba mais: https://www.allmusic.com/…/afrika-bambaataa-mn000…/biography

Veja mais vídeos:

Siga viagem: Ouça “The Message” do Grandmaster Flash, outro progenitor do Hip Hop:

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