“O POVO BRASILEIRO” – Série completa, em 10 episódios, baseada na obra de Darcy Ribeiro [1922 – 1997] (com Chico Buarque, Antonio Candido, Tom Zé, Aziz Ab’Saber, Paulo Vanzolini e outros…)

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“O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil”, Darcy Ribeiro (Cia das Letras, 1995) – ACESSE E BAIXE O EBOOK (PDF, 28 MB)

“Darcy Ribeiro é um dos maiores intelectuais que o Brasil já teve. Não apenas pela alta qualidade do seu trabalho e da sua produção de antropólogo, de educador e de escritor, mas também pela incrível capacidade de viver muitas vidas numa só, enquanto a maioria de nós mal consegue viver uma.” Antonio Candido, Folha de S.Paulo

Orelha: “Por que o Brasil ainda não deu certo? Darcy Ribeiro, ao chegar no exílio, no Uruguai, em abril de 1964, queria é responder a essa pergunta na forma de um livro-painel sobre a formação do povo brasileiro e sobre as configurações que ele foi tomando ao longo dos séculos. Viu logo, porém que essa era uma tarefa impossível, pois só havia o testemunho dos conquistadores. E sobretudo porque nos faltava uma teoria crítica que tornasse explicável o mundo ibérico de que saímos, mesclados com índios e negros. Afundou-se, desde então, na tarefa de produzir seus Estudos de antropologia da civilização, que pretendem ser essa teoria. A propósito deles, Anísio Teixeira observou que “embora um texto introdutório, uma iniciação, não é reprodução de saber convencional, mas visão geral, ousada e de longa perspectiva e alcance. Darcy Ribeiro é realmente uma inteligência-fonte e em livros desse tipo é que se sente à vontade. Considero Darcy a inteligência do Terceiro Mundo mais autônoma de que tenho conhecimento. Nunca lhe senti nada da clássica subordinação mental do subdesenvolvido.”

TODOS OS 10 EPISÓDIOS DA SÉRIE,
DIRIGIDA POR ISA GRINSPUM FERRAZ:

P.S. – Para comprar o BOX com 2 DVDs da série, dê um pulo no Submarino.

darcy.jpgDARCY RIBEIRO – UM BRASILEIRO
Documentário Completo

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“Ele se chama Sonho Americano pois é preciso estar dormindo pra acreditar nele.” (G. Carlin)

ROUBANDO DO FUTURO

Por JOHN STEINBECK (1902-1968)

 Prêmio Nobel de Literatura

“Já pensei muito sobre a selvageria e a insensatez com que nossos primeiros colonos chegaram a este rico continente. Vieram como se ele fosse um inimigo, o que era mesmo. Queimaram as florestas e mudaram as chuvas; varreram os búfalos das planícies, explodiram os rios, puseram fogo no capim e passaram uma foice impiedosa na madeira virgem e nobre. Talvez sentissem que o continente era ilimitado e jamais poderia se exaurir, e que um homem poderia mudar-se para novas maravilhas infinitamente. Com certeza há muitos exemplos do contrário, mas em boa parte os primeiros a chegar pilharam o país como se o odiassem, como se o mantivessem apenas por algum tempo e pudessem ser expulsos a qualquer instante.

 O impiedoso século XIX foi como uma expedição hostil de saque que parecia ilimitada. Incontáveis búfalos foram mortos, privados de seu couro e deixados para apodrecer – um reservatório de alimento permanente eliminado. Mais que isso, a terra das Grandes Planícies foi privada do esterco das manadas. Então os arados chegaram e arrancaram a proteção do capim. Sempre houvera desertos mais que suficientes na América; os novos colonos, como crianças mimadas, criaram ainda mais. As estradas de ferro trouxeram novas hordas de gente louca por terra e os novos americanos moveram-se como gafanhotos pelo continente até que o mar do Oeste impôs um limite a seus movimentos. Carvão, cobre e ouro atraíram-nos; atacaram violentamente a terra, dragaram os rios atrás de ouro até deixar o esqueleto de seixos e detritos.

 Esta tendência à irresponsabilidade persiste em muitíssimos de nós hoje em dia; nossos rios estão envenenados com o lançamento impensado de esgoto e lixo industrial; o ar de nossas cidades é imundo e perigoso de respirar com a emissão descontrolada de produtos da combustão do carvão, do petróleo, da gasolina. Nossas cidades estão cercadas dos detritos e destroços de nossos brinquedos – nossos automóveis e prazeres embalados. Ao pulverizar sem inibições um inimigo, destruímos o equilíbrio natural necessário à nossa sobrevivência. Todos esses males podem e devem ser superados se a América e os americanos quiserem sobreviver; mas muitos de nós ainda se comportam como nossos ancestrais, roubando do futuro para nosso lucro atual.

 Muitos, incapazes de enfrentar a disseminação universal e o perigo do tumor canceroso, isolam um fragmento do todo para preocupar-se com ele ou tentar curá-lo. Mas parece-me que devemos inspecionar a doença como um todo, porque se não pudermos desenraizá-la temos pouca chance de sobrevivência. (…) Talvez tenhamos de examinar a humanidade como espécie, não com nossa costumeira reverência à maravilha que somos, mas com a atitude fria e neutra que reservamos para todas as coisas exceto nós. A conquista mais exuberante do Homem talvez tenha sido sobreviver a seus paradoxos. O homem é agressivamente individualista, e a ainda assim enxameia e forma colméias no barulho e desconforto de suas moradias e cidades apinhadas; (…) é atraído para metrôs lotados, tráfego ululante e celas penais em prédios de apartamentos. E nos Estados Unidos esta tendência humana parece estar aumentando.

 Certa vez, num romance, escrevi sobre uma mulher que disse não querer um monte de dinheiro. Só queria o bastante. Ao que o marido retrucou que só o bastante não existe. Ou não se tem dinheiro ou não se tem dinheiro bastante. Um bilionário ainda não tem dinheiro bastante. Somos envenenados pelas coisas. Ter muitas coisas parece criar o desejo de mais coisas, mais roupas, casas e automóveis. Pensem no puro horror de nossos Natais, quando nossos filhos rasgam pacote após pacote e, quando o chão está coberto de papéis e presentes, dizem: “É só isso?” E dois dias depois, as coisas amassadas e abandonadas são acrescentadas à nossa pilha de lixo nacional e talvez a criança, ao se meter em encrencas, explique: “Eu não tinha nada pra fazer.”

 (Em “A América e Os Americanos“,

Ed. Record, pg. 433-453)

 Alguns clássicos de John Steinbeck @ Livraria Cultura:

 A IMPOSIÇÃO DO MODELO AMERICANO 
E SEUS EFEITOS 

por PIERRE BORDIEU (1930-2002)

in: “Contrafogos 2” (Ed. Jorge Zahar)

“As políticas econômicas aplicadas em todos os países da Europa, e que as grandes instâncias internacionais – Banco Mundial, OMC e FMI – impõe por toda a parte no mundo, invocam a autoridade da ciência econômica. De fato, elas se baseiam em um conjunto de pressupostos ético-políticos inscritos em uma tradição histórica particular, encarnada atualmente pelos Estados Unidos da América. (…) A economia que o discurso neoliberal constitui como modelo deve um certo número de suas características, pretensamente universais, ao fato de que está incrustada em uma sociedade particular.

 Não se pode criticar esse modelo [neoliberal] sem criticar os Estados Unidos, que são sua forma prototípica, paradigmática: [Os EUA é uma] sociedade paradoxal que, muito avançada econômica e cientificamente, é bastante atrasada social e politicamente. Mencionaria, entre outros indícios, um conjunto de fatos convergentes:

O monopólio da violência física é muito mal gerido em razão da ampla difusão de armas de fogo: a existência de um lobby dos defensores do direito a possuir armas, a National Rifle Association – NRA – assim como o contingente de detentores de armas de fogo – 70 milhões – e de mortos a bala – 30.000 por ano em média – são indícios de uma tolerância instituída da violência privada sem equivalente nos países avançados.

 O Estado desertou de qualquer função econômica, vendendo as empresas que possuía, convertendo seus bens públicos como a saúde, a habitação, a segurança, a educação e a cultura (livros, filmes, televisão e rádio) em bens comerciais, e os usuários em clientes, renunciando a seu poder de fazer a desigualdade recuar (ela tende a crescer de maneira descontrolada).

 Tudo isso em nome da velha tradição liberal de self help (herdada da crença calvinista de que Deus ajuda aqueles que ajudam a si próprios) e da exaltação conservadora da responsabilidade individual – que leva por exemplo a imputar o desemprego ou o fracasso econômico em primeiro lugar aos próprios indivíduos, e não à ordem social. Através da noção equívoca de employability, exige de cada agente individual, como observa Franz Schultheis, que se coloque ele próprio no mercado, fazendo-se de certa maneira empresário de si mesmo, tratado como capital humano, o que tem como consequência redobrar, por uma espécie de culpa, a miséria daqueles rejeitados pelo mercado…

 O culto do indivíduo e do “individualismo”, fundamento de todo o pensamento econômico neoliberal… não quer e não pode conhecer senão as ações ciente e conscientemente calculadas de agentes isolados, visandos fins individuais e egoístas. Quanto às ações coletivas, como as organizadas pelas instâncias de representação (partidos, sindicatos ou associações), e também pelo Estado, instância encarregada de elaborar e impor a consciência e a vontade coletivas e de contribuir para favorecer o fortalecimento da solidariedade, [a doutrina neoliberal] tende a reduzi-las a simples agregações de ações individuais isoladas. Ao fazer isso, ela exclui de fato a política, reduzida a uma soma de atos individuais que, realizados, como o voto, no isolamento e no segredo da cabine, são o equivalente exato do ato solitário da compra em um supermercado.”

 PIERRE BORDIEU (1930-2002),

sociólogo francês,

em “Contrafogos 2” (Ed. Jorge Zahar)

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