SARCÓFAGO ESPACIAL: Em “Aniara”, sci-fi distópico sueco, o pesadelo do ‘modus operandi’ capitalista e consumista exportado para o espaço sideral

O filme sueco de ficção científica distópica Aniara (2018) revela o que ocorre quando grandes catástrofes sócio-ambientais – tsunamis, furacões e mega-incêndios – acabam com a aventura humana neste planeta. O que restou da Humanidade tenta emigrar para Marte deixando para trás uma Terra devastada.

Ao assisti-lo, fiquei pensando no quanto a Suécia, talvez pelo impacto duradouro de Ingmar Bergman sobre a Sétima Arte do país, consegue levar a depressão pós-apocalíptica a novos níveis de desespero sem saída. Na espaço-nave Aniara (do grego “aniarós”, que significa tristeza e desespero), uma viagem que deveria durar 23 dias acaba se estendendo por vários anos em que esperanças se convertem em miragens enquanto os índices de suicídios alçam vôo como foguetes. É a Suécia nos mostrando como se faz cinema esmagador de ingenuidades com este poderoso tema do Sarcófago Espacial.

À semelhança de “Melancolia” de Lars von Trier e de “Snowpiercer – O Expresso do Amanhã” de Bong Joon-ho, “Aniara” retrata o futuro humano com cores bem sombrias. Seu tema, no fundo, é a extinção da Humanidade, ou o retrato de nosso suicídio coletivo. Pode também ser descrito como um “Wall-E” (de Andrew Stanton) bem mais deprê.

Se na animação da Pixar já se retratava uma estação espacial onde os humanos gastavam seu tempo a alienar-se diante de uma torrente de entretenimentos a serem consumido com muita Coca-Cola e marshmallows por uma população obesa e emburrecida, em “Aniara” a espaçonave também está equipada com escadas rolantes que dão acesso a shopping centers, centrais de entretenimento digital e esportivo, entre outras distrações.

Deixamos pra trás um planeta todo fudido e sem vida, mas não se preocupe: jogue baseball com uma robô que atira bolas pra que você se delicie fingindo que o estádio inteiro comemora seu home run. Sente numa falsa motocicleta e dirija em alta velocidade diante de uma tela que te faz delirar que está ziguezagueando pelas estradas de asfalto de uma Terra cada vez mais distante. Encha o bucho com hambúrguer de alga produzido a bordo pela nova versão do McDonalds.

Dirigido por Pella Kagerman e Hugo Lilja, o filme é baseado em um longo poema épico homônimo, de 1956, do prêmio Nobel de Literatura Harry Martinson (1904 – 1978).

A atriz protagonista, Emelie Jonsson, trabalha muito bem no papel de gestora de uma interessante entidade, dentro da espaçonave, chamava MIMA. Trata-se de uma espécie de Fábrica de Sonhos, um equipamento de Simulação Onírica, que permite aos seus usuários, deitados de bruços no chão abaixo de uma nuvem catódica, terem acesso a imagens bucólicas e idílicas de uma Terra esverdejante, cheia de florestas e cachoeiras, com equilíbrio ecosistêmico preservado. Mima permite que a Humanidade, saudosa de seu habitat antigo, fissure-se em fantasias do que perdeu irremediavelmente.

Mima é um símbolo poderoso que o filme ergue para que nós, humanos, olhemos nele como num espelho de verdades intragáveis. Mima poderia estar dentro de um episódio da série Black Mirror. Através de Mima, a humanidade revela sua vontade indomável de enganar a si mesma e se enfiar de propósito numa simulação enganadora que nos console de um presente onde prepondera a sensação de estarmos “doomed”.

Platão, com a Alegoria da Caverna, no livro “A República”, já havia previsto que o filósofo que se libertasse das correntes e fosse em jornada de descoberta da verdade, uma vez retornado à obscuridade da Caverna, seria rechaçado e ridicularizado por aqueles que já estão acostumados com sua ilusão cotidiana, tão comum quanto o pão. Se tentasse libertar outras pessoas da Caverna, o filósofo seria espancado por aqueles que já adoram demais suas correntes para ver com bons olhos um suposto libertador.

A máquina Mima é cada vez mais solicitada pelas massas, cada vez mais ávidas, naquele cenário de isolamento cósmico desolador, por um pouco de enganação, por ao menos um simulacro da Terra agora destruída. Após a destruição da Teia da Vida e suas finas e refinadas tessituras, os humanos querem ficar delirando com um passado não reconstrutível, plugados na máquina de simulações Mima, máquina de sonhos também imperfeita, consumidora de energias que em Aniara são limitadas. E assim o resto da Humanidade se arrasta para cada vez mais longe de uma Casa que já destruímos.

Como escreveu o crítico no site Flickering Myth, até mesmo o consolo supremo oferecido aos passageiros de Aniara acaba entrando em colapso: “The increased pressure on the Mima – which itself begins to sicken and warp – is just the beginning of a tragic spiral that sees fake news spread, sex cults form and hope become rarer than a raindrop in the Sahara.” (Flickering Myth)

Como bem percebeu também o crítico Wilson Roberto Vieira Ferreira de Cinema Secreto: Cinegnose, ancorado numa reflexão sobre a obra de Daniel Boorstin:

“Aniara é um gigantesco shopping center espacial que leva para o espaço o mesmo ‘modus operandi’ que destruiu econômica e ambientalmente a Terra: a cultura do supérfluo, do consumismo e, principalmente, a necessidade da simulação – parques temáticos e mundos virtuais tecnologicamente desenvolvidos para embalar os passageiros de Aniara no marketing e propaganda. (…) A nave chamada Aniara leva para o espaço sideral, e depois para Marte, o estilo de vida que acabou destruindo o próprio planeta Terra: a dependência humana pelo artificial, supérfluo e o consumo de imagens que simulam uma vida que não mais existe. E o que os espera não é exatamente um paraíso: Marte é um planeta frio, árido e hostil. Mas certamente parques temáticos ao estilo Disneylândia criarão uma estrutura cenográfica de um mundo que deixou de existir.”

As atitudes do capitão da espaçonave, Chefone, revelam a recorrente demagogia de líderes políticos e religiosos em tempos de crise: ele vende esperanças falsas e, quando estas se frustram, tenta curar as frustrações com novas esperanças fraudulentas. Enquanto isso, os suicídios se disseminam. E a própria Inteligência Artificial de Mima, cansada de gerar alucinações idílicas e reconfortantes na mente semiadormecida de seus usuários, parece cometer uma espécie de suicídio maquínico, de auto-extinção amargurada.

Para cúmulo da ironia, a personagem principal, após o colapso de Mima, busca formular uma nova solução envolvendo o sacrossanto Simulacro: ela pensa em impedir que as pessoas olhem, através das janelas, a profunda escuridão cósmica que as rodeia, polvilhada pelo brilho pálido de estrelas distantes, um cenário desolador onde ninguém parece ouvir os gritos de desespero dos últimos humanos.

A solução para uma vida melhor no sarcófago espacial de Aniara seria fazer com que todas as janelas se transformassem em telas onde seriam projetadas imagens agradáveis dos lagos, cachoeiras e florestas biodiversas da Terra (uma Terra, é evidente, que já não existe mais).

Presos naquele espaço exíguo da nave, os humanos não são ameaçados por nenhum alien ou monstro. A monstruosidade é exclusividade nossa. Os inimigos somos nós mesmos, incapazes de romper com o ‘modus operandi’ que destruiu o equilíbrio dos ecosistemas planetários, carregando para o espaço sideral a insanidade auto-destrutiva do capitalismo consumista e perdulário.

Alguns podem argumentar que a “profecia” que o filme faz nunca vai se cumprir, que se trata apenas de uma obra-de-arte nascida de suecos maníaco-depressivos que leram demais as obras do movimento intelectual hoje conhecido como Catastrofismo Esclarecido. Talvez.

Eu responderia que “Aniara” decerto não quer que sua profecia fílmica se cumpra. O filme chega ao mundo com o intento de ser uma “cautionary tale”, um conto que ensina cautela aos ingênuos que hoje tentam lidar com a crise climática planetária com a fantasia perigosa de que seria possível migrarmos mais de 7 bilhões de humanos para outro planeta.

Através de sua sombria pedagogia, “Aniara” ensina que a destruição da biosfera é possível, ou pior: está em curso. O filme pinta um cenário futuro possível para nos conclamar a agir no presente para que pesadelos como este não se consumem. Assim, “Aniara” parece reforçar a mensagem daquela que se tornou, no fim desta década de 2010, uma das mais célebres suecas do planeta: Greta Thunberg, que nos conclama a perder toda a esperança e propõe um novo imperativo categórico: “ajam como se nossa casa estivesse em chamas – pois está.”


Eduardo Carli de Moraes, 14/11/2019, para A Casa de Vidro.

PSICOSES CORPORATIVAS NA ERA DOS SUPERPORCOS: O clash entre Carnivorismo Lucrativo e Libertação Animal no filme “Okja” (2017), do cineasta sulcoreano Bong Joon Ho

por Eduardo Carli de Moraes para A Casa de Vidro

Na era da bioengenharia genética e das corporações psicopatas, a ideologia carnista prossegue dominando mentes e estômagos com uma força descomunal e efeitos nefastos que incidem sobre nós e sobre as futuras gerações. O que é extremamente preocupante diante de uma crise climática planetária que coloca em chamas nossa casa comum (como vem denunciando Greta Thunberg). Enquanto isso, centenas de milhões de humanos continuam a devorar seus hambúrgueres na inconsciência dos alienados que não sabem nem querem saber sobre a pegada ecológica que sua predileção por uma dieta carnívora acarreta.

Se o cinema de não-ficção já soou muitos alarmes sobre esta grave situação através de obras como Cowspiracy, Meat the Truth, Terráqueos – EarthlingsFood Inc., Ser Tão Velho Cerrado, dentre outros, também o cinema de ficção mostrou serviço com Okja (2017), fábula fílmica forjada pelo cineasta sul-coreano Bong Joon Ho – vencedor da Palma de Ouro em Cannes com seu filme mais recente, Parasita (2019).

Bem-vindos à era dos Superporcos: criaturas fabricadas em laboratório pela corporação Mirando pra proporcionar aos consumidores os hot dogs mais baratos do pedaço (o imperativo deste agrobiz é que os animais geneticamente modificados tenham um sabor suculento – “they need to taste fucking good”, na expressão da CEO da empresa). Por seu tamanho gigante, mais parecidos com hipopótamos (ou com Dumbo, recentemente reativado em filme de Tim Burton), os Superporcos são organismos geneticamente modificados (OGMs) destinados a virarem carne barata produzida em massa.

Os Superporcos são também o carro-chefe da estratégia corporativa da Mirando Corp. para limpar sua imagem pública trucidada por seus crimes socioambientais anteriores. Corroída em sua reputação por um passado em que comercializou napalm, devastou direitos trabalhistas e aniquilou equilíbrios ecossistêmicos com a fúria inconsequente de um psicopata que tivesse escapado da camisa-de-força, a Mirando agora aposta todas as suas forças num marketing enganador sobre os benefícios da produção em massa de carne-de-porco geneticamente modificada.

Nas propagandas, é claro, não se revela o grau de degradação e sofrimento em que vivem e morrem os animais nas fábricas-da-carne que mais se parecem com uma espécie de Auschwitz para animais. O grande escritor Isaac Bashevis Singer, laureado com o prêmio Nobel de Literatura, dizia que nós, humanos, seríamos culpados do crime de condenar os animais cujos cadáveres devoramos a um “eterno Treblinka”.

Em suas cenas finais, Okja é um dos mais pungentes retratos desta realidade. Após construir, no princípio do filme, uma relação afetuosa de alta intensidade entre o Superporco Okja e a menina sulcoreana Mikhta, a narrativa nos lança nas entranhas do pesadelo real que é a Indústria da Carne (factory farming). Segundo o célebre dito do vegetariano Paul McCartney, caso os matadouros (slaughterhouses) tivessem paredes de vidro, isso geraria um imenso surto de migração comportamental dos humanos rumo à dieta vegetariana.

Após abordar o fim da humanidade na magistral distopia Snowpiercer – Expresso do Amanhã (2013), em que o homo sapiens tornou-se uma espécie reduzida a alguns passageiros de um trem que se locomove através de uma nova Era Glacial, o cineasta sul-coreano Bong Joon Ho resolveu abordar este fator importantíssimo do nosso pesadelo climatizado (para emprestar a expressão de Henry Miller): nossa relação com os animais, em especial com aqueles que foram modificados geneticamente.

Nesta produção da Netflix, somos confrontados com uma ácida sátira de um mundo tresloucado pelo poderio excessivo de mega-corporações que põe o lucro acima de tudo e as salsichas acima de todos. Em Okja, não estamos mais diante do cenário apocalíptico de Snowpiercer, mas sim numa espécie de pré-apocalipse numa civilização ocidental-industrializada que mergulha fundo no irracionalismo do carnismo. Não escapará aos mais atentos a similaridade entre os nomes Monsanto (hoje fundida com a Bayer) e Mirando: no filme, o que está em questão é justamente a insanidade das corporações que tratam a Natureza como objeto de manipulação na conquista de capitais a concentrar nas contas bancárias de acionistas e banqueiros.

Em um cenário de carnivorismo globalizado, a demanda dos consumidores por carne é o motor de um processo que conduz ao pavoroso cenário distópico que o filme descreve: nos matadouros do futuro, mais parecidos com campos de concentração para Superporcos mutantes, as engrenagens sombrias que estão por trás do processo produtivo dos bacons salsichas são expostos na telona através de uma fábula cativante, didática, problematizadora e frequentemente horripilante.

Nossa tendência a conceber a psicose como uma neurose individual cai por terra quando começamos a estudar mais a fundo as forças dominantes de nosso tempo. Aí fica claro que não se trata de uma doença mental que aflige certos indivíduos, mas algo muito mais pervasivo e epidêmico: a psicopatia é aquilo que subjaz a estruturas sociais hoje hegemônicas. Psicopatas são as atitudes de boa parte das mega-corporações capitalistas que hoje infestam o mundo com suas mercadorias e que lançam ao meio ambiente os tóxicos e poluentes classificados, nas planilhas de CEOs e acionistas, como meras “externalidades”.

A tese da corporação-psicopata foi exposta com contundência em The Corporation – A Corporaçãodocumentário canadense lançado em 2003, dirigido por Mark AchbarJennifer Abbott, baseado no livro de Joel Bakan. Ali, as características básicas do psicopata, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e seu Manual de Desordens Mentais (DSM-IV), são utilizadas para a análise das atitudes empresariais:

“If you did a psychological profile of the corporation, what would it look like? Self-interested, manipulative, avowedly asocial, self-aggrandising, unable to accept responsibility for its own actions or feel remorse – as a person, the corporation would probably qualify as a full-blown psychopath. (…) Behind its benevolent face, Joel Bakan argues, the most important institution of modern capitalism is a Frankenstein’s monster that has broken its chains and is now consuming the society that created it.” – The Guardian

No filme, a atriz Tilda Swinton encarna as duas irmãs gêmeas que disputam o domínio da empresa Mirando, tentando limpar a reputação corporativa manchada pelas atitudes psicopatas do pai das duas, um dos exemplares de psycho-CEO que Okja põe em tela. Um estudo recente do psicólogo australiano Nathan Brook revelou que 1 em cada 5 CEOs revelam traços de psicopatia, índice bem superior ao da população em geral (1 em 100). Outro estudo, da Universidade de Oxford, aponta que o presidente dos EUA, Donald Trump, ele próprio CEO da Trump Corporation, possui mais traços de psicopatia do que Adolf Hitler. No cinema e na teledramaturgia, o tela já ganhou representações icônicas em um filme como American Psycho – Psicopata Americano, de Mary Harron, e uma série como The Sopranos (HBO).

Em Okja, o que está em questão é o contraste brutal entre aquilo que a corporação apresenta de si através do marketing empresarial e aquilo que é sua prática cotidiana em suas fábricas (também conhecidas, vide caso Nike, como sweatshops). Há uma dissonância gigantesca entre a apresentação midiática e a realidade oculta. Oferece-se um showzinho espetaculoso e enganador aos consumidores desejosos de se empanturrar com carne suína barata, fazendo-os crer que não há nada de moralmente errado em financiar a indústria da carne e a ideologia do carnismo. A sátira do filme é certeira ao visar como alvos empresas e consumidores que lavam suas consciências na piscina suja do marketing mentiroso na tentativa de esquecer as brutalidades inerentes ao sistema de factory farming.

Em sua crítica para Omelete, Marcelo Hessel destacou:

Bong basicamente une Ocidente e Oriente ao referenciar Disney (o porco gigante geneticamente modificado tem as orelhas grandes e os olhos pequenos de Dumbo, e passa por altos e baixos emocionais que também evocam a animação clássica) e Hayao Miyazaki (em entrevistas a atriz Tilda Swinton conta que ela e Bong são fãs de Totoro, e mesmo as irmãs gêmeas que ela interpreta no filme são como uma releitura das irmãs de “A Viagem de Chihiro”), unidos por sua matriz fabular. Seu filme parte de uma premissa simples que não parece envelhecer: uma criança e seu bicho de estimação têm entre si a relação mais pura que pode haver num mundo onde deixar a infância significa perder a inocência. “Tirando ela e Okja todos os outros personagens são estúpidos”, brinca Bong.

(…) Nessa oscilação entre a caricatura e a gravidade (quando os ecoterroristas de “Okja” apanham da polícia, por exemplo, a câmera lenta tem ao mesmo tempo um efeito lúdico e agravante), ele encontra um meio termo que aos poucos se expande, e é por onde sua visão de mundo transita. Assim como em “O Expresso do Amanhã”, o filme anterior de Bong e o primeiro falado em inglês, esse meio termo inequivocamente toma a forma da sátira. A sátira é o meio de expressão mais caro a Bong, para dar conta de todos os absurdos que ele vê na relação entre capitalismo e geopolítica hoje, embora o discurso ambientalista-anarquista de “Okja” já pudesse ser sentido há anos desde “O Hospedeiro”, o blockbuster de monstro sul-coreano que colocou Bong em evidência mundial.

Em certo momento de “Okja”, o líder dos anarquistas vivido por Paul Dano, num acesso de fúria, diz aos seus companheiros globalizados que “tradução é sagrado”, e ao combinar uma variedade de registros e discursos fica claro que Bong Joon-ho está atrás de um esperanto próprio, um idioma capaz de resumir o desmanche e a fluidez de valores que presenciamos no mundo, capaz de capturar tanto a caricatura mais grotesca do homem quanto o gesto mais discreto de empatia.

Apesar da qualidade de seu comentário, o crítico Hessel falha ao se utilizar da expressão pejorativa “ecoterroristas” e ao não mencionar em nenhum momento a questão da Libertação Animal, central no filme. É explícito em Okja o desejo de debater sobre organizações como a Animal Liberation Front (ALF) (acessar verbete da Wikipedia em inglês), descrita na obra de Bong Joon Ho com certo sarcasmo mas também com boa dose de empatia.

O sarcasmo é devido às divisões internas do movimento e pelo radicalismo do ethos de certos ativistas, que correm o risco de prejudicarem suas saúdes e sobrevivências devido à alimentação vegana levada a extremos. O filme revela também certos desvios éticos que incluem a tradução mentirosa de um ativista, responsável pela interlocução entre a sul-coreana e os ativistas anglo-saxões, e o consequente espancamento punitivo cometido pelo personagem Jay (Paul Danno) contra seu tradutor-traidor. Apesar de comporem os quadros da mesma organização, os ativistas envolvem-se em rixas e conflitos graves.

Dizer que o filme problematiza o divisionismo interno e as ideologias abraçadas por membros da ALF não significa dizer que os ideais e práticas do grupo estejam sendo desprezados. Muito pelo contrário, Okja empresta seu vigor narrativo e a sua capacidade de gerar eletrizantes cenas de ação para uma espécie de captura pop da problemática da Libertação Animal – tema de célebre livro do filósofo australiano Peter Singer.

Na cena em que os ativistas sofrem com a truculência da repressão policial, o espectador é levado a sentir compaixão e empatia por aqueles corajosos defensores dos direitos e interesses dos animais. Estes anarco-ativistas colocam seus corpos em risco na defesa de um outro mundo possível e referi-los com a expressão “ecoterroristas” é equívoco e mentiroso, dado que o próprio filme enfatiza o caráter pacifista, não-violentocontrário a qualquer sofrimento imposto a quaisquer criaturas sencientes, das ações da ALF.

“The Animal Liberation Front (ALF) is an animal liberation group who engage in direct action on behalf of animals. These activities include removing animals from laboratories and fur farms, and sabotaging facilities. Any act that furthers the cause of animal liberation, where all reasonable precautions are taken not to harm human or non-human life, may be claimed as an ALF action. The ALF is not a group with a membership, but a leaderless resistance. ALF volunteers see themselves as similar to the Underground Railroad, the nineteenth-century antislavery network, with activists removing animals from laboratories and farms, arranging safe houses and veterinary care, and operating sanctuaries where the animals live out the rest of their lives. ALF activists believe that animals should not be viewed as property and that scientists and industry have no right to assume ownership of living beings. They reject the animal welfarist position that more human treatment is needed for animals; their aim is empty cages, not bigger ones.” – JUST SEEDS

De certo modo, teria razão quem fizesse a acusação de que Okja realiza uma espécie de caricatura tanto dos ativistas da A.L.F. quanto dos líderes corporativos da Mirando. O filme de fato adota um tom satírico, caricatural e fabuloso, despreocupado com o realismo e a informatividade (elementos que devem ser procurados em um documentário como o A.L.F. de Jérôme Lescure, lançado em 2012). Isso não o impede de ser uma obra importante para debater o tema, cada vez mais urgente e relevante diante da crise climática, daquilo que se conhece como carnismo ou especismo (expressões tornadas populares por Melanie Joy e Peter Singer, respectivamente).

Em sua resposta para a questão que dá nome a seu livro – “por que amamos cachorros, comemos porcos e vestimos vacas”? -, Melanie Joy aponta que os animais humanos não aderem ao carnismo por necessidade, mas sim por ideologia. Ou seja, é falso supor que apenas vegetarianos e veganos baseiam suas dietas e comportamentos em um sistema-de-crenças subjacente. Na verdade os carnívoros ou carnistas é que estão ideologicamente motivados de maneira muito mais tóxica e perigosa do que os veggies – pois o carnivorismo opera muitas vezes com base num belief system que é ideologia inculcada a operar de maneira sub ou inconsciente.

O carnismo seria uma ideologia, de pervasiva força cultural e de potência explicável pelos altos capitais investidos em brainwashing pelas corporações pecuaristas, que nos ensina a mentira de que é necessário comermos porcos, vacas e galinhas. Isto só é necessário para o lucro das corporações que vendem os cadáveres destes animais, mas nunca será verdade que é necessário para a nutrição humana.

No seguinte vídeo produzido pelo canal Like Stories of Old, destaca-se que os porcos são animais tão “inteligentes, sensíveis e sencientes quanto cães (se não forem mais)” – então o que explica que tratemos os cães como família e os porcos como propriedade e comida?

A crítica social envolvida no filme incide, de maneira pontiaguda, sobre a atitude dos psicopatas corporativos que lidam com seus consumidores como se não passassem de crianças tuteladas. Estas crianças consumistas que eles querem que sigamos sendo precisam ser protegidas a todo custo de se verem confrontadas com o dilema ético em que se apresenta a opção de deixarem suas posições como carnistas, indiferentes à ética e à práxis daqueles que combatem o especismo e criticam o carnismo. Mantendo os consumidores em estado de infantilismo, a ideologia carnista os enxergaria como crianças só interessadas em carne gostosa e barata, consumidores adestráveis através das palhaçadas de Ronald McDonald ou com a fantasia dos frangos sorridentes da Sadia.

O filme revela todo o investimento midiático das corporações psicopatas para ganhar as mentes dos consumidores, que são o epicentro da demanda por carne que as mega-corporações do ramo destinam-se a suprir mas também a pré-fabricar. Okja lida com a construção ideológica de um consumidor carnista a partir de instituições sociais como a mídia colonizada pela publicidade – parte de uma imensa engrenagem que acaba por naturalizar este construto sócio-cultural lucrativo-catastrófico que é o carnismo, perpetuando todos os males vinculados ao especismo (a presunção humana de que nossa espécie é superior às outras e por isso tem pleno direito ao predomínio e à opressão sobre outras espécies).

Problemático, porém, é o tratamento que o filme traz da Super-inteligência do Superporco, explícito naquela cena espetaculosa em que Okja salva Mikhta da morte quando a menina fica dependurada no precipício. Nesta cena revela-se um gosto duvidoso por cheap thrills cinematográficos conjugado com uma aposta quase supersticiosa na capacidade de inteligência prática do animal geneticamente fabricado.

É uma cena onde a Superporca pratica a salvação da heroína mirim que estava em perigo de morte, ou seja, onde se manifesta a velha tática conhecida como marmelada, mas este é o menor dos problemas. O maior problema  é a afirmação subjacente à cena de que a Superporca Okta teria uma inteligência descomunal, quase miraculosa para um animal, o que serviria como uma espécie de elogio lateral às proezas da bioengenharia genética.

O professor de Ética e Direito da Universidade de Harvard, Michael Sandel, problematiza estas questões em seu livro Contra a Perfeição – Ética na Era da Engenharia Genética:

MICHAEL SANDEL – “Contra a perfeição: ética na era da engenharia genética” (The Case Against Perfection: Ethics in the Age of Genetic Engineering) – 160 páginas, Editora Civilização Brasileira. SINOPSE: Os avanços da ciência genética nos apresentam uma promessa e um dilema. A promessa é que em breve poderemos ser capazes de tratar e prevenir uma série de doenças debilitantes. O dilema é que apesar destes e outros benefícios, nosso repertório moral ainda está mal equipado para enfrentar as perguntas mais complexas suscitadas pela engenharia genética. O livro explora este e outros dilemas morais relacionados com a busca por aperfeiçoar a nós mesmos e a nossos filhos. Michael Sandel argumenta, de forma brilhante, que a revolução genética vai mudar a forma como filósofos discutem a ética e vai colocar as questões espirituais de volta na agenda política.

No livro de Sandel, há vários exemplos de como a bioengenharia genética já se faz presente em nossas vidas, por exemplo através da clonagem de pets. Consumidores que amam seus gatinhos e cachorrinhos, e que sofrem por antecipação com a perspectiva de que os pets vão morrer um dia, podem enviar uma amostra genética acompanhada por U$50.000 à empresa californiana Genetic Savings & Clone para que fosse produzida uma Carbon Copy do amado kittie. A empresa funcionou entre 2004 e 2006 e fazia propaganda dizendo: “Caso você ache que seu gatinho não se parece o bastante com o doador genético, nós devolveremos seu dinheiro integralmente, sem fazer perguntas.” (SANDEL, p. 18)

Para além da clonagem de gatinhos e cãezinhos, serviço disponibilizado para os donos de pets que estão com dinheiro sobrando, o autor se manifesta muito preocupado também com a engenharia genética da mente humana. Ou seja, com intervenções de caráter eugenista ou farmacológico, destinadas a criar uma espécie de Übermensch de laboratório, um projeto fáustico também presente na indústria farmacêutica e sua busca insaciável por “melhoradores cognitivos” e por modificadores do ânimo (como antidepressivos e anfetaminas):

“O melhoramento genético é tão possível para o cérebro quanto para os músculos. Em meados da década de 1990, cientistas conseguiram manipular um gene das drosófilas ligado à memória e criaram moscas com memória fotográfica. Mais recentemente, pesquisadores produziram ratos inteligentes ao inserir em seus embriões cópias extras  de um gene relacionado à memória. Os ratos modificados aprendem mais depressa e se lembram das coisas por mais tempo do que os ratos normais. Empresas de biotecnologia com nomes como Memory Pharmaceuticals estão ensandecidas atrás de medicamentos para melhorar a memória, os chamados ‘melhoradores cognitivos‘, para uso em seres humanos.” (SANDEL, pg. 25)

Okja manifesta uma ansiedade diante deste cenário de OGMs e de eugenia, reafirmando a figura de Bong Joon Ho como um dos cineastas-pop de maior impacto da Aldeia Global, sempre pautando temas importantes através de filmes fabulosos, propulsionados por uma narrativa cinematográfica poderosa, repletos de sátiras e caricaturas, mas que falam sobre os cruciais problemas de nosso tempo. Ele conta que visitou vários matadouros antes de fazer o filme e os descreve como “incrivelmente chocantes”, lamentando que não conseguiu colocar nem 10% dos detalhes de um matadouro real em seu filme.

Ao projetar na relação entre a criança e seu pet aquele vínculo afetuoso que liga milhões de humanos a seus bichinhos de estimação, o filme serve como uma espécie de arma de conscientização em massa que levará muitos a se questionarem sobre suas condutas enquanto consumidores dos cadáveres de bichos mortos. Aproximando-se de teses anarcoprimitivistas, Okja parece propor que os animais foram feitos para viver soltos na Natureza, in the wild, e que encerrá-los nas Treblinkas da indústria carnista é uma das piores opressões que os humanos podem impor a outros seres sencientes.


SAIBA MAIS – Monbiot @ Ted Talks

Por isso, por mais que soe caricatural e altamente satírico, o filme funciona como uma espécie de panfleto fílmico de divulgação das causas da Libertação Animal e do Veganismo. Ao mesmo tempo, deixa soar o grito que conclama pelo processo de re-selvagizar o mundo, sintetizado por um dos grandes pensadores contemporâneos, George Monbiot, em uma palavra emblemática: REWILD!

O anarcoprimitismo não propõe o rewind, mas sim o rewild; não acredita ser possível voltar no tempo, mas quer um futuro onde a selvageria volte a recobrar seus direitos em face das atrocidades terrificantes da auto-proclamada Civilização Industrial. Esta, cujo carnismo e obsessão com lucros vem gerando um ethos da ganância e da hýbris que mostra-se cada vez mais insustentável. Por isso, mais que nunca, em coro com as criaturas sencientes da Terra, cantemos a plenos pulmões o clássico do rock’n’rolling Steppenwolfiano: “Like a true nature’s child / We were born, born to be wild!” 

Eduardo Carli de Moraes @ A Casa de Vidro, Goiânia, 14/10/2019


SIGA VIAGEM:

CONFERÊNCIA DE IMPRENSA – Cannes 2017

Breve Tratado Sobre o Sonambulismo Paulista

Cantareira

Breve tratado sobre o sonambulismo paulista

Paulistano é mesmo um bicho gozado… O grau de desinformação atinge tais alturas na Paulicéia Desvairada (belamente batizada assim por Mário de Andrade) que 200 mil vão à Paulista vociferar “fora Dilma” e pedir “intervenção militar”, e o Sr. Alckmin sai ileso, como se fosse santo, mesmo após ter muita culpa no cartório no que diz respeito à essa crise hídrica sem precedentes que assola SP depois de 20 anos de (des)governos tucanos. “Lázaro ou alguém, nos ajude a entender!” (Criolo)

Como apontam inúmeras pesquisas e reportagens – por exemplo, esta da BBC inglesaBrazil Drought: São Paulo Sleepwalking Into Water Crisis – São Paulo está indo rumo à desertificação. Está às beiras de mutar-se numa mescla caótica de Detroit (após o colapso da indústria automobilística) com Cochabamba (na época da privatização da água e dos mega-protestos que se seguiram). Sampa vai tornando-se um símbolo global das tragédias causadas pela poluição dos rios e da atmosfera, pela destruição das florestas, pelo aniquilamento de ecossistemas, pelas emissões de gases de efeito estufa. Prestes a encarar uma situação de calamidade humanitária onde 20 milhões de seres humanos vão vivenciar rodízios de água duma extrema austeridade, disputando por recursos escassos. E aí tem um bocado de gente que vai às ruas pedir “intervenção militar” (qualquer manifestação do Passe Livre São Paulo já tem de sobra isso que Vossas Senhorias estão demandando!) pois é “tudo culpa dos petralhas corruptos”. Uma pesquisa – divulgada pelo Blog da Cidadania – indicou que 53% dos paulistanos acreditam que a crise hídrica é culpa da Dilma e do Haddad, algo de uma desinformação tão crassa que realmente depõe contra a mídia de massas e o desserviço que ela nos presta.

A demonização simplória de um inimigo – o equivalente a pintar chifrinhos no retrato da Dilma como um adolescente metido a bully – parece uma medida de defesa contra a angústia descomunal que tomaria conta dos paulistas caso eles abrissem os olhos para a crise ecológica sem precedentes que já vivenciam – e que tende a piorar, já que o Brasil ainda vive num estágio de analfabetismo em relação ao aquecimento global e sua gravidade. A verdadeira crise é tão monumental que a maioria prefere o conforto duvidoso da ignorância voluntária, da cegueira auto-infligida: no reino de Fantasia onde muitos paulistas habitam, Alckmin é um santinho, idôneo, responsável, que nunca esteve metido em trensalões do Metrô nem na semi-privatização da Sabesp via Wall Street; São Alckmin, diante da desgraceira, tratará de pedir, através da Opus Dei, uma intervenção divina salvadora na forma de temporais replenificadores do Cantareira… São Pedro há de enfim revelar-se um tucano roxo… E a megalópole poderá então seguir no mesmo rumo, com engarrafamentos monstro margeando alguns dos rios mais tóxicos do planeta, enquanto a especulação imobiliária segue fazendo suas orgias de gentrificação e as empreiteiras seguem comprando eleições… Tudo na mais sacrossanta “lei e ordem” (defendida, é claro, por uma polícia militarizada que nos legou o maravilhoso regime de 64-85).

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PARA SABER MAIS, LEIA TAMBÉM: 

 

“O fundamentalismo de mercado sabota sistematicamente nossa resposta coletiva à crise climática”, afirma autora e ativista canadense Naomi Klein em seu novo livro, “This Changes Everythin”

Art by Evgeny Parfenov

“Time is tight, to be sure. But we could commit ourselves, tomorrow, to radically cutting our fossil fuel emissions and beginning the shift to zero-carbon sources of energy based on renewable technology, with a full-blown transition underway within the decade. We have the tools to do that. And if we did, the seas would still rise and the storms would still come, but we would stand a much greater chance of preventing truly catastrophic warming. Indeed, entire nations could be saved from the waves.

So my mind keeps coming back to the question: what is wrong with us? I think the answer is far more simple than many have led us to believe: we have not done the things that are necessary to lower emissions because those things fundamentally conflict with deregulated capitalism, the reigning ideology for the entire period we have been struggling to find a way out of this crisis. We are stuck because the actions that would give us the best chance of averting catastrophe – and would benefit the vast majority – are extremely threatening to an elite minority that has a stranglehold over our economy, our political process, and most of our major media outlets. That problem might not have been insurmountable had it presented itself at another point in our history. But it is our great collective misfortune that the scientific community made its decisive diagnosis of the climate threat at the precise moment when those elites were enjoying more unfettered political, cultural, and intellectual power than at any point since the 1920s. Indeed, governments and scientists began talking seriously about radical cuts to greenhouse gas emissions in 1988 – the exact year that marked the dawning of what came to be called “globalisation,” with the signing of the agreement representing the world’s largest bilateral trade relationship between Canada and the US, later to be expanded into the North American Free Trade Agreement (Nafta) with the inclusion of Mexico.

The three policy pillars of this new era are familiar to us all: privatisation of the public sphere, deregulation of the corporate sector, and lower corporate taxation, paid for with cuts to public spending. Much has been written about the real-world costs of these policies – the instability of financial markets, the excesses of the super-rich, and the desperation of the increasingly disposable poor, as well as the failing state of public infrastructure and services. Very little, however, has been written about how market fundamentalism has, from the very first moments, systematically sabotaged our collective response to climate change.”

Naomi Klein
This Changes Everything
@ The Guardian

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Naomi

“When you see the people on the streets of Rio and São Paulo fighting for affordable public transit, it doesn’t matter if they call themselves climate activists. They are climate activists. Because affordable public transit is central to any just transition.

My hope is that the labor movement, the anti-cuts movement, the climate movement will really come together in a coherent demand for a just transition away from fossil fuels, using [the oil] price shock as the catalyst.

(…) I feel like it almost needs to be simple enough to fit on a postcard: What is it that we’re fighting for? We’re fighting to leave it in the ground: no new fossil fuel frontiers. We’re fighting for societies powered by 100 percent renewable energy. We’re fighting for free public transit. We’re fighting for the principle that polluters should pay, that how we pay for the transition has to be justice-based. We’re fighting for the principle of frontlines first, that the people who got the worst deal in the old economy should be the first in line to benefit in the new economy. Those are some principles that we can all agree on and rally behind.

That’s my hope for 2015.”

Naomi Klein

READ AT GRIST

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A CÚPULA DO CLIMA EM 2015 OCORRE EM PARIS E BILL McKIBBEN COMENTA NO GUARDIAN:

“Pressure is growing. In fact, that relentless climate movement is starting to win big, unprecedented victories around the world, victories which are quickly reshaping the consensus view – including among investors – about how fast a clean energy future could come. It’s a movement grounded in the streets and reaching for the photovoltaic rooftops, and its thinking can be easily summarised in a mantra: Fossil freeze. Solar thaw. Keep it in the ground.

Triumph is not certain – in fact, as the steadily rising toll of floods and droughts and melting glaciers makes clear, major losses are guaranteed. But for the first time in the quarter-century since global warming became a major public issue the advantage in this struggle has begun to tilt away from the Exxons and the BPs and towards the ragtag and spread-out fossil fuel resistance, which is led by indigenous people, young people, people breathing the impossible air in front-line communities. The fight won’t wait for Paris – the fight is on every day, and on every continent.” Bill McKibben,The Guardian

(De fato, não dá pra esperar a salvação destas Cúpulas do Clima das Elites, que a portas fechadas pretendem definir novos rumos para a economia global, mas sempre fracassam retumbantemente com o quase-nada de diferença que fazem; quem fará a diferença em Paris, se alguém, serão as massas bradando nas ruas e as pressões dos cada vez mais fortes movimentos sociais “fossil free”, que demandam soluções imediatas para o caos climático global e as emissões tóxicas que prosseguem colocando-nos em marcha rumo a futuras catástrofes imensas e iminentes. 400.000 pessoas marcaram presença em 2014 na People’s Climate March em New York. Em 2015, o que esperar em matéria de mobilização popular na França?)

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